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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

As heresias de Bento XVI sobre os judeus


“Com base na Escritura e Tradição, a Igreja Católica ensina infalivelmente que para salvar-se uma pessoa precisa crer em Jesus Cristo e na fé católica.
João 8:24: “... porque se não crerdes em quem eu sou, morrereis no vosso pecado.”
Papa Eugênio IV, Concílio de Florença, 1439, ex cathedra: “Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé católica. (…) é necessário para a eterna salvação crer também fielmente na encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo… o Filho de Deus é Deus e homem...”
A Igreja Católica também ensina infalivelmente que a Antiga Aliança cessou com a vinda de Cristo, e foi substituída pela Nova Aliança. O Concílio de Florença ensina que aqueles que praticam a Antiga Lei e a religião judaica pecam mortalmente, e os declara como “estranhos à fé de Cristo” afirmando que “eles não podem alcançar a salvação eterna, a não ser que um dia se arrependam desses erros.”
Em 2001, porém, a Pontifícia Comissão Bíblica publicou um livro intitulado O povo judeu e as suas Sagradas Escrituras na Bíblia cristã. Este livro rejeita o dogma de que a Antiga Aliança cessou. Este ensina que a Antiga Aliança ainda é válida e que a espera dos judeus pela vinda do Messias (que formou parte da Antiga Aliança) também continua a ser válida. Este diz que Jesus não tem de ser visto como o Messias que foi profetizado; que é possível vê-Lo, como os judeus o fazem, não como o Messias e não como Filho de Deus.
Na seção II, A, 5, O povo judeu e suas Sagradas Escrituras na Bíblia cristã, afirma:
“A espera messiânica dos judeus não é vã…”
Na seção II, A, 7, O povo judeu e suas Sagradas Escrituras na Bíblia cristã, afirma:
“… ler a Bíblia como o faz o judaísmo envolve necessariamente uma implícita aceitação de todos os seus pressupostos, isto é, a plena aceitação de que o judaísmo é, em particular, a autoridade dos seus escritos e tradições rabínicas, os quais excluem a fé em Jesus como Messias e Filho de Deus. (…) os cristãos podem e devem admitir que a leitura judaica da Bíblia é possível…”
Então, de acordo com este livro do Vaticano, os cristãos podem e devem admitir que a posição judaica de que Jesus não é o Filho de Deus e o Messias profetizado é válida! O prefácio deste livro totalmente herético foi escrito por não outro que Joseph Ratzinger, o atual Bento XVI.
Isto é anticristo!
1 João 2:22: “Quem é mentiroso, senão aquele que nega que Jesus seja o Cristo? Este tal é um Anticristo…”
Heresia é uma rejeição de um dogma da fé católica; apostasia é uma rejeição total da fé cristã. Este livro contém heresia e apostasia, com a plena aprovação de Bento XVI.
Bento XVI ensina que Jesus Cristo não tem de ser visto como o Messias
Bento XVI ensina a mesma negação de Jesus Cristo em vários de seus livros:
Bento XVI, Deus e o Mundo, 2000, pág. 209: “É claro que é possível ler o Antigo Testamento de maneira que esse não seja direcionado para Jesus; esse não aponta de forma suficientemente inequívoca para Cristo. E se os judeus não conseguem ver n'Ele o cumprimento das promessas, isso não é apenas má vontade da parte deles, mas uma posição genuína por causa da obscuridade dos textos... Existem razões perfeitamente aceitáveis para negar que o Antigo Testamento refere-se a Cristo e para dizer ‘não, não foi isso que ele disse.’ E existem também boas razões para dizer que refere-se a Ele. É nisto que se baseia toda a disputa entre judeus e cristãos.”
Bento XVI disse que há razões perfeitamente aceitáveis para não crer que o Antigo Testamento se refere a Cristo como o Messias profetizado. Ele disse que o Antigo Testamento não aponta de maneira inequívoca para o Nosso Senhor como o Messias. Esta é outra negação total da fé cristã.
O que faz esta apostasia ser ainda mais monstruosa é o fato de que o Novo Testamento está repleto de passagens que declaram que o Nosso Senhor é o cumprimento das profecias sobre o Messias contidas no Antigo Testamento. Citando apenas uma passagem de muitas, em João 5, Nosso Senhor diz especificamente aos judeus que o que está escrito no Antigo Testamento a respeito d'Ele, irá condená-los.
João 5:39, 45-46: “Examinai as escrituras, pois julgais ter nelas a vida eterna, e elas mesmas são as que dão testemunho de mim… o mesmo Moisés, em quem vós tendes as esperanças, é o que vos acusa. Porque se vós crêsseis em Moisés, certamente me creríeis também em mim; porque ele escreveu de mim.”
Mas, de acordo com o apóstata Bento XVI, todas estas declarações bíblicas que dizem que o Nosso Senhor é o cumprimento das profecias contidas no Antigo Testamento, incluindo as próprias palavras de Nosso Senhor, podem ser falsas. Para Bento XVI, a interpretação judaica de que o Nosso Senhor não é o Messias, que não é o Filho de Deus, e que não é profetizado no Antigo Testamento, é possível e válida. Isto é totalmente herético, apóstata e anticristo.
Bento XVI também nega a Jesus Cristo no seu livro A minha Vida:
Bento XVI, A minha Vida, 1998, pp. 51-52: “Fui compreendendo progressivamente que o judaísmo… e a fé cristã tal como é descrita no Novo Testamento, são dois modos de apropriação da Sagrada Escritura de Israel, que em definitivo depende da posição assumida para com Jesus de Nazaré. A Escritura Sagrada que nós hoje chamamos Antigo Testamento está aberta a ambas as perspectivas…”
Bento XVI declara mais uma vez que as Escrituras estão abertas para a interpretação judaica de Jesus: que Jesus não é o Filho de Deus. É precisamente por isso que Bento XVI repete frequentemente a heresia de que judeus não precisam acreditar em Cristo para se salvarem.
Bento XVI, Zenit notícias, 5 de Setembro de 2000: “Estamos de acordo que um judeu, e isto é verdadeiro para crentes de outras religiões, não necessariamente tem de reconhecer Cristo como Filho de Deus para salvar-se…”
Bento XVI, Deus e o Mundo, 2000, pp. 150-151: “... [os judeus] ao dizerem ‘Não’ a Cristo põem os israelitas em conflito com os atos posteriores de Deus, mas ao mesmo tempo sabemos que lhes é assegurada a fidelidade de Deus. Não estão excluídos da salvação…”
Isto é uma rejeição total do dogma católico.
O ato público de apostasia de Bento XVI na sinagoga alemã
Tudo isto explica o porquê de, em 19 de Agosto de 2005 ― uma sexta-feira ao meio-dia, o mesmo dia e hora em que Jesus foi crucificado ―, Bento XVI ter chegado à sinagoga judaica em Colônia, Alemanha, e ter participado ativamente nos ofícios religiosos judaicos. Participar ativamente num culto não-católico é um pecado contra a Lei Divina e contra o Primeiro Mandamento, como foi sempre ensinado antes do Vaticano II.
Santo Ambrósio, Sermão 37, As Duas Barcas: “A infidelidade da Sinagoga é um insulto ao Salvador. Por isso, Ele escolheu a barca de Pedro, e abandonou a de Moisés, isto é, Ele rejeitou a Sinagoga infiel, e adotou a Igreja crente.”
Ao fazer parte de um ofício de culto judaico, Bento XVI cometeu um ato público de apostasia. Na sinagoga, Bento XVI estava proeminentemente sentado perto do frontal do altar. A sinagoga estava cheia de judeus que lá estavam para o ver. Bento XVI não foi apenas uma parte integral do ofício de culto judaico, ele foi a figura principal. Isto é, sem dúvida alguma, uma participação ativa na religião judaica.
De muito perto de Bento XVI, o chantre da sinagoga recitou e cantou orações com toda a força dos seus pulmões. Bento XVI fez gestos, tais como curvar a cabeça e bater palmas, para mostrar a sua aprovação e participação no ofício judaico. Ele juntou-se aos judeus na reza Kaddish, e música Yiddish soava ao fundo.
Quando Bento XVI levantou-se para falar (e eventualmente para rezar) na sinagoga, a sinagoga inteira pôs-se de pé e aplaudiu-o; aplaudiu-o pela sua aceitação da religião judaica. Toda a gente no mundo que viu esse evento sabe que esse teve apenas um significado: Bento XVI não tem problemas com judeus que rejeitam Jesus Cristo, e (de acordo com ele) eles não têm qualquer obrigação de aceitar Jesus Cristo para serem salvos.
Papa Eugênio IV, Concílio de Florença, “Cantate Domino,” 1441, ex cathedra: “A Santa Igreja Romana crê firmemente, professa e prega que nenhum dos que estão fora da Igreja Católica, não só pagãos como também judeus, heréticos e cismáticos, poderá participar na vida eterna; mas que irão para o fogo eterno que foi preparado para o demônio e os seus anjos, a não ser que a Ela se unam antes de morrer…”
Bento XVI encoraja o rabino-chefe de Roma em sua “missão”
Bento XVI, Discurso ao Rabino-Chefe de Roma, 16 de Janeiro de 2006: “Ilustre Senhor Rabino-Chefe, a guia espiritual da comunidade hebraica romana foi-lhe confiada há pouco tempo; Vossa Excelência assumiu esta responsabilidade, alicerçado na sua experiência de estudioso e de médico, que compartilhou alegrias e sofrimentos de muita gente. Formulo-lhe de coração os meus votos ardentes pela sua missão e asseguro-lhe a estima e a amizade cordial, tanto minha como dos meus colaboradores.”
Isto é apostasia. Bento XVI encoraja o rabino-chefe em sua “missão”! Ele também expressa a sua estima pelo Rabino e pelo seu apostolado de rejeição a Cristo.
Bento XVI, Audiência Geral, 17 de Janeiro de 2007: “Desde há quase dois decênios a Conferência Episcopal italiana dedica este Dia ao judaísmo com a finalidade de promover o seu conhecimento e estima e para incrementar a relação de amizade recíproca entre a comunidade cristã e a judaica, relação que se desenvolveu positivamente depois do Concílio Vaticano II e depois da histórica visita do Servo de Deus João Paulo II à Sinagoga Maior de Roma. (…) Convido portanto todos a dirigir hoje uma invocação insistente ao Senhor para que judeus e cristãos se respeitem, se estimem…”
Ele fala positivamente de um dia dedicado ao judaísmo. Esse dia, segundo Bento XVI, é para promover a estima pelo judaísmo (uma religião falsa que rejeita a Cristo). Isto é uma rejeição absoluta da fé católica e de Jesus Cristo.”

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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Modernistas contraditórios e modernistas coerentes


“A seita modernista assemelha-se ao famoso labirinto habitado pelo monstro Minotauro e construído engenhosamente por Dédalo, à maneira do rio Meandro, cuja correnteza obedecia à lei do fluxo e refluxo, de modo que não tinha começo nem fim. Como se sabe, quem entrava no labirinto não encontrava mais a saída, ficava perdido, a menos que tivesse o novelo de linha de Ariadne, e acabava devorado pelo Minotauro.
Assim também, em geral, quem entra para a seita modernista não percebe suas infinitas contradições, fica desorientado, e acaba tendo devoradas a fé e a razão. Entretanto, na seita modernista há quem queira conservar a fé apesar de enredado por contradições doutrinárias, e há também os que, percebendo as contradições, renegam a fé como adesão da inteligência à verdade revelada, aderem ao imanentismo religioso, ficam subjetivistas e rebaixam a razão a uma função pragmática, interessados apenas em resolver problemas concretos e imediatos.
Segundo o filósofo italiano Michele Federico Sciacca em seu belo estudo sobre O idealismo moderno, publicado no volume Heresias do nosso tempo (Porto, 1956), o filósofo idealista Giovanni Gentili teve o mérito de pôr em evidência as contradições dos modernistas: “o vosso princípio é intelectualista (Deus transcendente); o vosso método subjetivista (Deus imanente). Permaneceis católicos porque o princípio opõe-se ao vosso método, mas, na realidade, este método, julgado à luz desse princípio, leva ao ateísmo”. O modernismo, digamos assim, é duplamente herético: relativamente ao Cristianismo, porque o seu método leva ao ateísmo; relativamente ao próprio idealismo, de que é filho, porque o seu princípio (a transcendência) contradiz a imanência idealista.
Com efeito, o referido ensaio de Sciacca pode servir como um novelo de linha de Ariadne ajudando as pessoas que entraram no labirinto do modernismo a encontrar a saída e o retorno à integridade da fé católica.
Sciacca demonstra as raízes idealistas da seita modernista, apontando a sucessão histórica dos diversos autores modernistas, todos eles filiados de alguma forma à filosofia hegeliana. Diz ele: “É inegável a sucessão histórica (que significa também filiação intelectual) Hegel – Feuerbach – Strauss – Renan – Loisy; e Loisy é a expressão mais genuína do modernismo, enquanto das premissas tira as conclusões e sai do equívoco e da contradição dos outros seus companheiros de heresia. Com efeito, o modernismo, em muitos modernistas, foi, essencialmente, uma contradição entre o princípio (a transcendência de Deus e a revelação) e o método historicista ou pragmatista, que leva direito à imanência, à doutrina da formação histórica do dogma e, por conseguinte, à negação da Revelação, da divindade de Cristo e da divindade da Igreja Católica.” (o. c. p. 57)
Esta contradição do modernismo é muito bem ilustrada por Mons. Francesco Spadafora em sua obra La nuova esegesi (Albano, 1996), na qual o exímio exegeta mostra as devastadoras consequências da utilização do método histórico-crítico ou a “história das formas” de matriz racionalista-idealista sobre a exegese católica. Diz ele que tal método contrasta claramente com as três verdades reveladas que estão na base da exegese católica: a inspiração divina da Sagrada Escritura, sua inerrância absoluta, a historicidade dos nossos quatro Santos Evangelhos.
Conta também Mons. Spadafora suas várias tentativas vãs de convencer o cardeal Ratzinger sobre a situação catastrófica do Instituto Bíblico onde o método histórico-crítico era praticado pelos sequazes do famigerado cardeal Carlo Martini. Porém, o mais interessante que nos informa mons. Spadafora é que o documento da Pontifícia Comissão Bíblica, sob o título Interpretação da Bíblia na Igreja, tem um prefácio assinado pelo cardeal Ratzinger no qual o purpurado diz: “Na história da interpretação, o uso do método histórico-crítico assinalou o início de uma nova era. Graças a este método apareceram novas possibilidades de compreender o texto bíblico no seu sentido original.” (o.c. p. 15).
Monsenhor Spadafora conta que protestou vivamente junto ao cardeal Ratzinger contra a publicação do livro Exegese cristã hoje, de autoria do mesmo cardeal juntamente com o jesuíta Ignace de la Poterie, no qual o referido jesuíta repete suas teses errôneas sobre a inerrância bíblica. E comenta: “Sua Eminência o cardeal, participando do livro com seu estudo sobre a Formengeschichte de Bultmann, deu a impressão lógica de partilhar das heresias de Ignace de la Poterie.” E na página 129 conclui categoricamente:
“Efetivamente eu não vejo – e a exegese de hoje me dá a maior confirmação – como um exegeta católico possa adotar os sistemas racionalistas chamados pelo cardeal Ratzinger “método histórico-crítico” (formengeschichte e redaktionsgeschichte), sem renegar os dogmas quando não as verdades de fé divina e católica que devem estar no fundamento da exegese católica, as quais foram reiteradas ininterruptamente pelos romanos pontífices contra a agressão do modernismo (…) Por ora, basta citar Simon-Dorado: a formengeschichte contra o dogma católico notiones inspirationis, inerrantiae, traditionis apostolicae pervertit.”
E mais adiante, na página 207, Mons. Spadafora evidencia a contradição do ilustre cardeal: “No seu estudo, o cardeal alterna luzes e sombras em um crepúsculo humanamente sem esperança: admissões, reconhecimentos também exatos sobre a crise da exegese católica, juízos substancialmente negativos sobre o sistema Bultmann-Dibelius (a formegeschichte), mas também afirmações que contradizem as precedentes, como, por exemplo: “a Dei Verbum sublinhou a legitimidade e também a necessidade do método histórico”!
Como se vê, é muito procedente a observação do filósofo Giovanni Gentili reportada acima. A contradição da maioria dos modernistas é uma constante ao longo da história dessa heresia.
Mas voltemos à análise de Michele Federico Sciacca sobre as diversas implicações teológicas do idealismo. Explica o filósofo que, conforme a dialética hegeliana, há uma negação do ser e de cada ser, que se conserva “destruindo-se”. De maneira que a religião, segundo momento do Espírito Absoluto, conserva-se na filosofia, onde precisamente se nega. Isto significa que o momento religioso está contido no filosófico e que é por ele superado; mas o momento filosófico é o da plena racionalidade, é consciência reflexa do conteúdo religioso que, como tal, ainda é puramente “representativo”; a religião, portanto, fica absorvida e dissolvida na filosofia. E isto é mais que uma heresia: é a negação da religião como tal, quer enquanto se nega que ela tenha a sua autonomia na vida do espírito, quer enquanto se exclui radicalmente qualquer forma de saber revelado (…) Daqui a conclusão de alguns pensadores da chamada “esquerda” hegeliana: a religião, antes de o seu conteúdo ser reduzido à racionalidade do momento filosófico ou reflexo, é um “mito”, uma ficção poética.
Hoje pode-se dizer que assistimos ao esforço mundial de reduzir a religião à filosofia social, despojando-a de qualquer dogma e pondo-a a serviço de um grande projeto político. Realmente, para a consolidação da Nova Ordem Mundial, não vemos hoje a instrumentalização de todas as religiões, a promoção do sincretismo, um esforço de criar uma nova religião mundial que ajude a dar coesão a uma nova organização das nações? E mais não vemos tentativas de dar uma explicação meramente sociológica da origem da religião? A meu ver, tudo isto se filia à filosofia idealista, conforme a explicação de Sciacca.
Para remate destas considerações, desejaria assinalar que a imagem do labirinto de fato se adapta perfeitamente aos antros modernistas. O labirinto foi construído à maneira do rio Meandro que tinha fluxo e refluxo. Ora, sob o pontificado de João Paulo II e Bento XVI, houve um refluxo depois da violenta correnteza dos tempos de João XXIII e Paulo VI. Hoje temos um forte fluxo do modernismo sob o pontificado de Francisco I. Mas devo dizer que prefiro o clima de anarquia e plena liberdade promovido por Francisco àquela falsa ordem ou ditadura da nouvelle theologie vivida sob os reinados de João Paulo II e Bento XVI em que os teólogos condenados por Pio XII na Humani generis foram elevados à categoria de doutores da Igreja.
Prefiro o papa Francisco que, com toda franqueza, acolhe a Fraternidade São Pio X sem exigir nenhuma declaração doutrinária (porque sabe honestamente quanta contradição há no modernismo) a Bento XVI que tentava encobrir tudo com o manto da hermenêutica da continuidade. Prefiro o papa Francisco porque sabe que o seu irmão de ordem religiosa o Pe. Jacques Dupuis SJ tinha razão quando recusou retratar-se diante do cardeal Ratzinger, afirmando com plena coerência sua teoria do salto qualitativo da teologia católica das religiões como fruto do Vaticano II.”
(Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa, Modernistas Contraditórios e Modernistas Coerentes)

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domingo, 31 de março de 2019

Uma triste efeméride: a reforma litúrgica de Paulo VI


"No dia 3 de abril p.f. transcorrerá uma triste efeméride: o cinquentenário da promulgação do missal de Paulo VI, uma obra que representa a criação de um rito litúrgico novo, composto ao sabor da mentalidade moderna, sob a influência da heresia modernista e da maçonaria, feito para agradar aos “irmãos separados” e, consequentemente, em flagrante contradição com a tradição bimilenar da Igreja.
Como se sabe, há uma vasta e douta literatura sobre a reforma litúrgica de Montini, que provocou uma indignação e um clamor, não só entre os católicos, mas também entre os intelectuais em geral, ao menos entre os que reconheciam o altíssimo valor cultural da tradição litúrgica romana que influenciou os costumes e padrões estéticos da mais fina civilização.
No que concerne ao problema teológico gerado pelo rito moderno da missa promulgado por Paulo VI, que suscitou um drama de consciência para os católicos, especialmente para os sacerdotes (um falecido bispo uma vez me disse: “Eu queria continuar com o missal antigo, mas Paulo VI impôs o novo missal a ferro e fogo e, depois, a obediência…), cumpre recordar algumas obras que apontaram os erros e ambiguidades do novus ordo missae, como, por exemplo, o Breve Exame Crítico dos cardeais Ottaviani e Bacci (no qual os autores dizem que o novo rito representa um impressionante afastamento da teologia católica da Santa Missa tal como definida pelo Concílio de Trento), o interessantíssimo estudo Le mouvement liturgique, do Pe. Bonneterre, La reforme liturgique en question, de mons. Gamber, que diz que a reforma de Paulo VI foi mais radical que a de Lutero (a referida obra conta com um prefácio do cardeal Ratzinger), O problema da reforma litúrgica, publicado pela Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que examina o problema da influência da teologia do mistério pascal sobre o novo rito (a qual teologia empanou o caráter sacrificial da missa no rito moderno). Citaria ainda Temoignage d’un expert au Concile, coletânea de conferências do cardeal Stickler, bem como a trilogia de Michael Davies. Há ainda muitas outras obras excelentes sobre o tema.
Salta aos olhos de qualquer católico que conheça o catecismo que a reforma litúrgica de Paulo VI representa um desastre completo para a preservação da fé. Seria fastidioso mencionar aqui as profanações e sacrilégios perpetrados diariamente na celebração da Santa Missa segundo o rito moderno. Basta pensar na intercomunhão ecumênica promovida na Alemanha, com aval da conferência episcopal daquele país, onde pastores evangélicos e padres católicos “concelebram a Eucaristia” lado a lado, diante da mesa da “ceia” e a comunhão é distribuída entre luteranos e católicos, levando-se em conta apenas a crença de cada um no mistério eucarístico. Aqui no Brasil, como se sabe, houve algo semelhante há alguns meses, no Rio Grande do Sul. E não consta que tenha havido nenhuma censura canônica dirigida aos responsáveis por tamanho sacrilégio. Com efeito, seria uma ingenuidade esperar uma pena, uma advertência que fosse, uma vez que o próprio bispo de Roma, durante uma visita a uma igreja evangélica na Cidade Eterna, de forma sutil, defendeu a intercomunhão. Declarou na mesma oportunidade que no Norte da Argentina, em um território de missão junto aos indígenas, católicos e protestantes se alternam no serviço religioso aos domingos, quando faltam ministros. E com aprovação da Congregação para a Doutrina da Fé.
Entretanto, é preciso reconhecer que a reforma litúrgica é um sucesso absoluto, se considerado o fim que se propôs ao fazê-la. Com efeito, Paulo VI disse a seu amigo Jean Guitton que era seu desejo reformar a liturgia católica expurgando-a de todos elementos, orações e sinais, que não fossem palatáveis aos protestantes. Dito e feito. Por exemplo, as orações do ofertório da missa que Lutero considerava abomináveis foram retiradas e substituídas pela oração da apresentação das oferendas (o fruto da terra e do trabalho do homem, que, segundo eruditos, tem origem na Cabala judaica). Tudo isto sem dizer que o famoso ponto 7 da Institutio generalis do novus ordo dá uma definição protestante da missa, definição que foi remendada, mas não corrigida, diante das críticas que levantou. Tudo só para tranquilizar os católicos que se sentiam angustiados; tudo só para neutralizar qualquer resistência à missa nova.
Considerado apenas o objetivo dos seus autores, a reforma litúrgica de 1969 foi um sucesso, porque logo após a promulgação do novo missal, houve uma declaração da parte dos protestantes dizendo que um dos frutos da “benfazeja” reforma era que os pastores evangélicos poderiam utilizar-se do novus ordo para celebrar a “ceia do Senhor”.
Sabe-se que uma das razões alegadas em defesa da reforma litúrgica era uma suposta necessidade de adaptar os ritos sagrados à mentalidade moderna. Aqui reside o sofisma. Ninguém contesta que o rito da missa conheceu um desenvolvimento orgânico ao longo dos séculos. À medida que surgiam os erros e heresias, a Igreja os debelava por meio da liturgia que expressava a verdade impugnada pelos inovadores. Acontece que na reforma de Paulo VI foi justamente o contrário que se verificou; foi uma reforma para incorporar à vida da Igreja, à sua doutrina, as novidades heterodoxas. Uma reforma feita, na verdade, para agradar aos protestantes, como o confidenciou Paulo VI a seu amigo Guitton.
No século XIX, o padre Roca, sacerdote apóstata e satanista, provavelmente filiado a uma seita maçônica, declarou:
“Creio que o culto divino tal como o regulam a liturgia, o cerimonial, o ritual e os preceitos da Igreja romana, sofrerá proximamente, em um concílio ecumênico, uma transformação que, ao mesmo tempo que lhe devolverá a venerável simplicidade da idade de ouro apostólica, o porá em harmonia com o novo estado da consciência e da civilização moderna.”
“O que quer construir a cristandade não é um pagode, é um culto universal onde estarão englobados todos os cultos.”
Transcorridos 50 anos da reforma litúrgica de Paulo VI, muita coisa mudou na Igreja e no mundo.
Para o bem da Igreja e das almas Deus serve-se de causas segundas. Permitiu que seus servos bons e fiéis como Dom Lefèbvre e Dom Mayer levassem o labéu de uma excomunhão, proferida por um papa que, provavelmente, morreu angustiado por tamanha injustiça que tinha cometido. Tudo isto, certamente, teve um peso enorme para que Bento XVI publicasse o motu proprio Summorum pontificum que, apesar daquela expressão inaceitável ”forma extraordinária do rito romano”, acabou incentivando muitos sacerdotes a abraçar o rito romano de sempre. Com isso, Bento XVI foi obrigado a reconhecer, ainda que implicitamente, que Paulo VI cometia um abuso de poder proibindo o uso do chamado missal de São Pio V e perseguindo os católicos que o queriam seguir. E agora, mais recentemente, Francisco suprime a Comissão Ecclesia Dei Adflicta, que, além de recordar a iníqua condenação de Dom Lefèbvre, tinha o único escopo de trabalhar para promover o sincretismo entre o rito romano tradicional e o rito moderno da igreja ecumenista. Algum bem Deus há de tirar desse enorme desastre que se abateu sobre a Igreja. Um desses possíveis bens seja, talvez, um aprofundamento da teologia católica sobre o magistério da Igreja, como, por exemplo, toda a questão da infalibilidade pontifícia no que diz respeito às leis universais da Igreja.
Passados 50 anos da reforma litúrgica de Paulo VI, a mentalidade moderna e mundana que Montini queria afagar invadiu a Igreja e mudou muito. O feminismo, por exemplo, recrudesceu até mesmo dentro da Igreja. As candidatas a diaconisas que o digam. As mulheres que querem “presidir a eucaristia”, como se viu em recente documento do Regional Norte da CNBB, em preparação para o Sínodo da Amazônia, que o confirmem. E Francisco pregando a diversidade e o pluralismo religioso nas pegadas de seu ilustre predecessor João Paulo II que inaugurou o espírito de Assis, cumpre as palavras do padre apóstata Roca e nos convence da clarividência de Mons. Henri de Lassus em sua obra A conjuração anticristã.
Contudo, non prevalebunt."

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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Cai em Roma o teto da igreja titular do Cardeal Coccopalmerio


"Se tens duvidado de nossa tese de que a Igreja do Vaticano II está implodindo, agora podemos oferecer uma confirmação literal disso. Informa-se na mídia italiana e internacional que o teto da igreja de São José Artesão (San Giuseppe dei Falegnami), em Roma, caiu. Esta igreja foi construída sobre a chamada Prisão Mamertina, onde os Santos Pedro e Paulo estiveram encarcerados antes de seus respectivos martírios. Mais interessante ainda é que esta é a igreja titular do Cardeal Francesco Coccopalmerio.
Um artigo inicial da Reuters afirma: "O teto de uma igreja construída sobre uma antiga prisão na qual se diz que esteve preso São Pedro antes de sua crucificação caiu na quinta-feira em Roma. Não há notícia de feridos." A foto mostrada acima foi publicada pelo site italiano askanews.it. (...)
O Pe. Cocopalmerio, agora com 80 anos, foi criado cardeal Novus Ordo por Bento XVI em 2012 e se aposentou no princípio deste ano como presidente do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos. Coccopalmerio é um notório defensor de Amoris Lætitia, sugeriu que os sacramentos não deveriam ser considerados válidos ou inválidos, e foi notícia em 2017 quando seu secretário, um tal Mons. Luigi Capozzi, foi preso pela polícia do Vaticano por "organizar uma orgia homossexual na qual se consumiu cocaína em um apartamento dentro de um edifício exatamente ao lado da Basílica de São Pedro". Ontem mesmo foi revelado que o Papa Francisco "havia sido informado com antecedência por alguém sobre os problemas de Luigi Capozzi", mas de qualquer modo permitiu-lhe ter o apartamento próximo a São Pedro."

https://caballerodelainmaculada.blogspot.com

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

A culpa de Bento XVI


"Não é a primeira vez que leio como o "pobre" Bento está sendo vítima de uma situação que ele mesmo contribuiu para criar. Permitam-me abrir os olhos grandes e azuis de algumas pessoas à realidade.
Bento, sempre o homem de meias medidas, ordena que McCarrick se aposente para uma vida de oração e penitência, mas não é homem o bastante para divulgar amplamente este fato. É difícil tanto se aposentar para uma vida de penitência em segredo, como fazer cumprir uma ordem tão estranha. Também não surpreende que tais "ordens" sejam então regularmente desobedecidas, pois não pode haver muita disciplina quando a pessoa no comando não tem a coragem de fazê-las cumprir. Mas sério: aquele que ordena uma punição da qual não quer que o mundo saiba está claramente não ordenando, mas miando. Especialmente quando se sabe como o homem é fraco em fazer cumprir qualquer coisa, do Summorum Pontificum à lealdade de seus próprios subordinados.
Bento também é, embora sem a intenção maldosa de um Francisco, parte do problema. O próprio pensamento de que um cardeal com uma longa história de décadas de comportamento homossexual não seja usado como exemplo diante do mundo inteiro, dando o tom de como as coisas devam ser feitas, dá idéia da falta de efetividade – não; completa falta de virilidade – desse homem.
Também se quisermos falar dos que "sabiam e não fizeram nada", reflitamos sobre isto: quando Bento recebeu o famoso relatório de 300 páginas sobre homossexualidade – um relatório cuja importância só agora começamos a perceber – ele era basicamente o homem mais informado na Igreja inteira sobre o flagelo homossexual que a está devastando.
O que ele fez então foi, na verdade, pior do que não ter feito nada: fugiu do seu posto sabendo – porque leu o relatório e estava muito mais informado que qualquer um de nós – que seu sucessor seria provavelmente ou um dos membros da máfia homossexual ou uma de suas marionetes. Depois elogiou o homem que elegeram.
Por favor, parem de defender esse homem apenas porque ele parece tão indefeso e não é um sujeito de mau caráter: os eventos que agora se desenrolam sob nossos olhos tornam perfeitamente claro que Bento sabia do tamanho do mal homossexual ao seu redor, e a única coisa que ele foi capaz de opor foram "punições secretas" ou a deserção absoluta.
Bento é indefensável, e o único aspecto positivo de sua situação é que, tendo validamente resignado, não pode ser reinstalado no trono papal, permitindo-o assim fazer mais dano por completa fraqueza e espírito gregário alemão.
Bento, também, deveria usar o tempo que lhe resta para se afastar para uma vida de oração e penitência, e evitar qualquer entrevista elogiadora de Francisco; refletindo sobre o enorme mal que sua covardia infligiu em todos nós e na Igreja de Cristo."

https://mundabor.wordpress.com

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Pe. Kramer: Por que a renúncia de Bento XVI foi inválida


“Bento XVI explica:
O múnus do ofício petrino é duplo – ativo e passivo. O ministério ativo “agendo et loquendo” e o ministério passivo “patiendo et orando” ambos pertencem essencialmente ao múnus papal: "Bene conscius sum hoc munus secundum suam essentiam spiritualem non solum agendo et loquendo exsequi debere, sed non minus patiendo et orando."
Ele expressamente retém o exercício passivo do múnus, i.e o serviço passivo do ofício petrino: "Non porto più la potestà dell’officio per il governo della Chiesa, ma nel servizio della preghiera resto, per così dire, nel recinto di san Pietro."
Em 19 de abril de 2005, Bento assumiu o múnus, i.e o serviço do ofício petrino que é “para sempre”: "La gravità della decisione è stata proprio anche nel fatto che da quel momento in poi ero impegnato sempre e per sempre"; e sua decisão de renunciar ao exercício ativo do ministério não revoga aquele: "La mia decisione di rinunciare all’esercizio attivo del ministero, non revoca questo."
É impossível para o papa renunciar apenas ao exercício ativo do ministério petrino e entregá-lo a um sucessor, pois seria o mesmo que tentar dividir um ofício que é indivisível. Daí que a tentativa do Papa Bento de dividir o papado, de acordo com a fórmula proposta por Karl Rahner de dividi-lo entre dois ou mais indivíduos, necessariamente resulta em um ato juridicamente inválido, pois o ofício do sumo pontífice não pode ser dividido da mesma maneira que o ofício episcopal é às vezes dividido em outra diocese entre o ordinário da diocese e um coadjutor com poder de governança.
O motivo por que isso é impossível é que o papa, em virtude da plenitudo potestatis de seu ofício, pode privar um ordinário de sua jurisdição e entregá-la a um coadjutor; ao passo que o ofício papal é indivisível – e portanto o ofício e seu poder de governança só podem residir totalmente em um sujeito que é o Pontífice Romano. A questão da indivisibilidade do ofício papal está resolvida na doutrina católica desde que Domenico Gravina deu a última palavra sobre a questão em 1610, que tem sido unânime e indisputada desde então.
“Ao Pontífice, enquanto uma e única pessoa, foi dado ser a cabeça” e “O Pontífice Romano por enquanto é um, portanto ele sozinho detém a infalibilidade.” – Domenico Gravina, O.P em De supremo Judice controv. Fidei et de Papae Infallib. em Decret. Fidei, Morum, etc, quaest. 1, apud Rocaberti, Bibliotheca Maxima Pontificia, 1695-99, tom viii, 392.”
(Pe. Paul Kramer, em postagem no Facebook)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A crise atual

I) TRAIÇÃO DOUTRINÁRIA
CONSIDERANDO
1) a) Que Dom Lefebvre disse que o maior perigo para os tradicionalistas era o de colocar-se nas mãos da Roma modernista e b) que Dom Fellay, ainda recentenmente, disse que os que querem o bem da Igreja querem que a Fraternidade São Pio X seja reconhecida oficialmente pela Roma modernista (o que é o mesmo que colocar-se nas suas mãos);
2) a) Que Dom Lefebvre disse que o que Roma está nos preparando é uma armadilha ao ofertar-nos todas as vantagens que poderíamos desejar para a regularização de nossa situação e b) que Dom Fellay disse que pensar assim atualmente é falta de realismo e de espírito sobrenatural;
3) a) Que Dom Lefebvre disse que Bento XVI (na época ainda Cardeal) procurava descristianizar o mundo e b) que Dom Fellay disse que Bento XVI leva muito a sério a situação e a vida da Igreja;
4) a) Que Dom Lefebvre disse que não podia entender-se com Bento XVI (na época ainda Cardeal) e b) que Dom Fellay está entendendo-se bastante bem com Bento XVI;
5) a) Que Dom Lefebvre disse que não devíamos colocar-nos sob a autoridade daqueles que não professam a integridade da Fé e b) que Dom Fellay disse que não querer colocarmo-nos sob a autoridade de Bento XVI (que não professa a integridade da Fé) é ter espírito cismático e sedevacantista;
6) a) Que Dom Lefebvre disse que há uma conjuração da maçonaria contra a Santa Igreja, a qual foi infiltrada por essa seita até nos mais altos graus da hierarquia e em Roma mesmo e b) que Dom Fellay não acredita ou não leva bastante a sério essas conjurações, dizendo que isso é ter uma visão da Igreja humana demais e, também, fatalista; enxergando apenas os perigos, os complôs e as dificuldades;
7) a) Que Dom Lefebvre fez um manifesto público de repúdio à reunião ecumênica de Assis, como um grave pecado do Papa contra o primeiro Mandamento de Deus e b) que Dom Fellay não fez o mesmo quando o atual Papa repetiu esse pecado em “Assis III”;
8) a) Que Dom Lefebvre disse que a liberdade religiosa patrocinada pelo Vaticano II é o auge da impiedade, o equivalente ao princípio do laicismo do Estado, significando o ateísmo do Estado e não levando em conta a diferença entre a verdade e o erro e b) que Dom Fellay disse que o Vaticano II apresenta uma liberdade religiosa que é muito limitada;
9) a) Que Dom Lefebvre disse que os documentos do Vaticano II constituem uma perversão total do espírito e que esse Concílio foi o maior desastre de todos os séculos, desde a fundação da Igreja e b) que Dom Fellay disse que na Fraternidade se estavam exagerando as heresias do Vaticano II;
10) a) Que Dom Lefebvre, em vista de sua experiência com os contatos com os membros do Vaticano, tomou a partir de 1988 uma posição mais intransigente no que se refere a um possível reconhecimento canônico da Fraternidade e b) que Dom Fellay ao citar Dom Lefebvre vem calando essa sua última posição, dando a entender que o pensamento de Dom Lefebvre sempre foi o de seus pronunciamentos anteriores a 1988.
JULGAMOS
Que o modo de falar e de agir de Dom Fellay constitui uma traição para com o legado doutrinal de Dom Lefebvre no que se refere à atitude a tomar diante da crise atual na Santa Igreja, e uma recusa de reconhecer, aceitar e assimilar a experiência de Dom Lefebvre em seus contatos com Roma.
NO ENTANTO
Alguns dirão que Dom Fellay se retratou dizendo que se havia enganado.
NÓS RESPONDEMOS
Dom Fellay não deixou muito claro em que ele se enganou e sua atitude para com os que não se enganaram nem o enganaram deixa-nos pensar que ele mantém, essencialmente, as mesmas posições que antes.
II) UM ESPÍRITO QUE NÃO É DEUS
CONSIDERANDO
1) Que se tem constatado que em mais de uma ocasião (como dissemos na resposta à objeção, no tópico acima) Dom Fellay tem falado e agido de maneira contraditória para alcançar seus intentos;
2) Que essa maneira de se portar com duplicidade faz perder o direito ao crédito que se deve a quem assim se porta.
JULGAMOS
1) Que o espírito que está animando a Dom Fellay não é o espírito de Deus, tanto quanto podemos e devemos julgar antes de pôr nossa confiança e nossa salvação (de certo modo) nas mãos de alguém;
2) Que ele está desmerecendo esta confiança que normalmente deveríamos ter para com ele, como sendo a maior autoridade dentro da Tradição.
III) O GOLPE DE MESTRE DE SATANÁS
CONSIDERANDO
a) Que Dom Lefebvre disse que o golpe de mestre de Satanás foi lançar todos os católicos na desobediência (à Igreja, à Tradição e, em definitivo, a Nosso Senhor) pela obediência (aos Papas conciliares) e b) que Dom Fellay está conduzindo todos os ligados à Fraternidade São Pio X à desobediência a Dom Lefebvre (e, em definitivo, à Santa Igreja, à Tradição e a Nosso Senhor) por obediência a si.
JULGAMOS
Que se lhe deve resistir e, ademais, denunciar publicamente seus desvios doutrinais, a fim de que as pessoas não continuem, enganadas, a seguirem o falso caminho pelo qual ele está conduzindo a Fraternidade: um espírito de simpatia para com o atual Papa; de diminuição da aversão ao Vaticano II; de desejo de unir-se à “Igreja Conciliar”, identificando-a com a Santa Igreja Católica; de diminuição do combate aos progressistas.
IV) REBELDIA NÃO, JUSTA RESISTÊNCIA SIM
CONSIDERANDO
1) Que os membros da Fraternidade que se opõem publicamente à nova orientação e às novas doutrinas de Dom Fellay estão sendo, por isso mesmo, expulsos da Fraternidade;
2) Que sendo essa a causa, a dita expulsão é injusta, pelo fato de ser justa a atitude desses membros;
3) Que sendo injusta, essa expulsão é inválida;
4) Que sendo inválida essa expulsão, eles continuam a ser, de direito, diante de Deus, verdadeiros membros da Fraternidade São Pio X.
JULGAMOS
Que esses membros da Fraternidade não devem ser considerados como rebeldes, mas antes, pelo contrário, como fiéis filhos de Dom Lefebvre, que diante dos Papas conciliares teve a mesma atitude que eles agora estão tendo para com Dom Fellay.
V) GRAVÍSSIMA SITUAÇÃO ATUAL DA SANTA IGREJA
CONSIDERANDO
1) Que ultimamente, nos colóquios doutrinais, viu-se a incompatibilidade da doutrina da Igreja com a doutrina dos atuais detentores da autoridade em Roma;
2) Que Bento XVI renovou em 2011 a reunião ecumênica de Assis;
3) Que Bento XVI beatificou João Paulo II;
4) Que Bento XVI em 2012 disse que toda renovação na Igreja deve ser baseada no aprofundamento dos documentos do Vaticano II;
5) Que Bento XVI assinou em 2012 o decreto das “virtudes heróicas” (?!) de Paulo VI;
6) Que o Principado de Liechtenstein no final de 2012 estava em vias de deixar de ser um Estado oficialmente católico sob pressão da doutrina do Concílio sobre a Liberdade Religiosa;
7) Que os dois sinais nos quais Dom Lefebvre reconheceu que deveria sagrar bispos mesmo sem a autorização do Papa foram a reunião ecumênica de Assis e a reafirmação, por parte de Roma, dos erros do Vaticano II acerca da liberdade religiosa.
JULGAMOS
Que a atual situação da Igreja é gravíssima, semelhante (ou pior) à em que se encontrava em 1988, diversamente do que afirma Dom Fellay.
VI) UM REMÉDIO DRÁSTICO PARA UM MAL DRÁSTICO
CONSIDERANDO
1) Que os que permanecem na Fraternidade estão na tremenda necessidade de escolher entre calarem-se ou serem dela expulsos por se oporem à atual direção nela impressa por Dom Fellay;
2) Que a obra de Dom Lefebvre não deve se extinguir por causa dessa nova direção;
3) Que Dom Williamson, sozinho, não tem condições de atender a todos os apelos dos padres e fiéis em todo o mundo, para lhes administrar os Sacramentos e transmitir-lhes a sã doutrina, conforme recebeu de Dom Lefebvre;
4) Que os mesmos motivos que levaram Dom Lefebvre a fazer as sagrações de 1988 existem hoje e, portanto, justificam atualmente novas sagrações episcopais na Tradição sem autorização do Papa.
JULGAMOS
Que é da máxima conveniência que Dom Williamson proceda no momento oportuno a essas sagrações, para o bem da Santa Igreja, esperando dias melhores, em que as coisas se normalizem.
Caberá a ele definir o momento mais conveniente de o fazer.”
(Arsenius, A Crise Atual)

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quinta-feira, 7 de março de 2013

Um bispo vestido de branco

“Na parte do Terceiro Segredo revelada pelo Vaticano no ano de 2000, há uma visão do Santo Padre “atravessando uma grande cidade meio em ruínas”, que é depois “morto por um grupo de soldados que nele disparavam vários tiros de armas de fogo e flechas, e do mesmo modo morriam um atrás do outro os demais Bispos, Padres, religiosos e religiosas de várias classes e posições”. Antes, nessa mesma visão, a Irmã Lúcia também afirmou ter visto alguém que ela identificou como “um Bispo vestido de branco”. Curiosamente, ela não se referiu ao Bispo de branco como sendo o Santo Padre, mas disse apenas que “tivemos a impressão de que ele era o Santo Padre”.
Ao contrário do que se noticiou no Vaticano em 2000, a visão do Papa sendo morto muito obviamente não se refere à fracassada tentativa de assassinato de João Paulo II, que não foi “morto por um grupo de soldados que nele disparavam vários tiros de armas de fogo e flechas”, mas em vez disso sobreviveu ao disparo de um único atirador. Nem a fracassada tentativa de assassinato de João Paulo II viu outros “Bispos, Padres, religiosos e religiosas de várias classes e posições” sendo mortos pelo mesmo “grupo de soldados”. É óbvio que a visão estava se referindo a outro evento.
Mas a questão que tem intrigado muitos é por que a Irmã Lúcia usou o termo “Bispo vestido de branco” na primeira parte da visão, ao invés do nome “Santo Padre”, a quem ela depois identificou como sendo assassinado. Refere-se essa visão a dois homens diferentes, um que é o Papa e outro que está apenas vestido como um papa? Profecias geralmente são obscuras até que se cumpram, mas eventos recentes podem lançar uma nova luz sobre essa estranha frase usada pela Irmã Lúcia.
Em 11 de fevereiro de 2013, o Papa Bento XVI espantou o mundo ao anunciar que abdicaria de seu cargo como Papa em 28 de fevereiro de 2013. Essa notícia chocante colocou a mídia em polvorosa, não apenas com a reação dos católicos, mas também com muitas perguntas que o inesperado anúncio fez surgir. Por exemplo, um artigo da Reuters, datado de 13 de fevereiro, reportava que “autoridades da Igreja Católica, ainda atordoadas com a decisão, precisam decidir ainda qual será seu título e se ele vai continuar a usar o branco de um papa, o vermelho de um cardeal ou o preto de um sacerdote comum.”
Em 20 de fevereiro, uma dessas perguntas foi respondida pelo Pe. Georg Ratzinger, irmão do Papa Bento XVI, dizendo que o Pontífice continuará a usar branco após a abdicação. Dois dias depois, em 22 de fevereiro, o Vaticano respondeu outra pergunta quando noticiou que Bento XVI manterá seu nome papal: após a renúncia, o ex-Papa será chamado de Sua Santidade Bento XVI, Bispo Emérito de Roma.
Em 1º de março, não só Bento XVI será um ex-Papa que manteve seu nome papal, mas será também “um Bispo vestido de branco”. Será o futuro “Sua Santidade Bento XVI, Bispo Emérito de Roma”, o bispo vestido de branco a quem a Irmã Lúcia estava se referindo? Em caso afirmativo, é ele que é morto pelo grupo de soldados, como aparece na Visão? Ou estará a Visão talvez se referindo a um futuro papa – o que a Irmã Lúcia chama de “Santo Padre” - que estará reinando enquanto Bento XVI ainda estiver vivo?
É interessante notar que o Papa São Pio X teve duas visões que foram semelhantes à Visão de Fátima da Irmã Lúcia. Em 1909, durante uma audiência com membros da Ordem Franciscana, São Pio X teve uma visão de um futuro papa fugindo de Roma. Ele disse:
“O que vi é estarrecedor! Serei eu, ou será um meu sucessor? O certo é que o Papa deixará Roma e, ao sair do Vaticano, ele terá que passar sobre os cadáveres de seus sacerdotes!”
Pouco antes de morrer, o Papa São Pio X teve uma outra visão parecida, na qual ele viu um futuro papa de mesmo nome fugindo sobre os corpos de seus irmãos, antes de ser ele mesmo assassinado.
“Vi um dos meus sucessores, de mesmo nome, que estava fugindo sobre os corpos de seus irmãos. Ele terá refúgio em um esconderijo, mas, após um breve descanso, sofrerá uma morte cruel.”
À luz dessa visão, será muito interessante se o próximo papa escolher o nome de Pio XIII - “o mesmo nome” de Pio X. Só o tempo irá dizer como os eventos vão se desenrolar, mas o que parece certo é que estamos progredindo rapidamente para os eventos previstos em Fátima. Renovemos nossa coragem e zelo pela Fé, lembrando-nos sempre das palavras de Nossa Senhora de Fátima: No final, meu Imaculado Coração triunfará.”
(Robert J. Siscoe, A Bishop Dressed in White?)

sexta-feira, 1 de março de 2013

Três aspectos perturbadores da renúncia de Bento XVI

“Entre outras preocupações, existem três aspectos perturbadores da renúncia de Bento XVI.
1) Ela contradiz o aspecto de paternidade que é a natureza do cargo. Nos anos 80, os bispos dos Ritos Orientais não ficaram felizes quando o Vaticano os forçou a adotarem a aposentadoria compulsória aos 75 anos. Como um deles me explicou, “um pai de família não se aposenta”.
2) Ela se parece com o afastamento para se aposentar de um diretor executivo de uma empresa, dando a impressão de que mais uma característica secular foi adotada pela Igreja.
3) Ela abre a porta ao abuso. Mesmo que acreditemos nas palavras de Bento XVI de que ele renuncia por acreditar realmente que não tem mais forças para continuar, o precedente foi estabelecido para que um bom Papa seja pressionado a se aposentar sob o pretexto de saúde precária.
A Preocupação de de Mattei
Parece claro que o Papa Bento já estava pensando em se aposentar faz algum tempo. Em 29 de abril de 2009, ele parou para visitar o túmulo do Papa São Celestino V, o Papa que abdicou do cargo em 1296. Bento orou junto ao túmulo e deixou seu palium, símbolo de sua autoridade como Bispo de Roma, sobre o túmulo de Celestino. Em 4 de julho de 2010, ele visitou a Catedral de Sulmona, perto de Roma, e orou diante das relíquias de Celestino V.
A página de Chiesa na internet relata que o historiador da Igreja Roberto de Mattei expressa seu profundo incômodo com a renúncia de Bento XVI. Embora aceite sua “legalidade”, de Mattei ressalta que de um ponto de vista histórico a renúncia do Papa Bento “parece estar em absoluta descontinuidade com a tradição e a práxis da Igreja”.
“Não se pode comparar nem com Celestino V, que desistiu depois de ser arrastado para longe de sua cela de eremita à força, nem com Gregório XII, que foi forçado a renunciar a fim de resolver a questão gravíssima do Grande Cisma do Ocidente. Esses foram casos excepcionais. Mas qual é a exceção no ato de Bento XVI? A razão oficial, gravada em suas palavras de 11 de fevereiro, expressa, mais do que a exceção, a regra.”
É a “regra” que coincidiria simplesmente com “vigor tanto de corpo, como de alma”. Mas então “surge a pergunta”:
“Por mais de dois mil anos de história, quantos Papas reinaram em boa saúde e não testemunharam o declínio de suas faculdades e não sofreram de doenças e provações morais de todo tipo? O bem-estar físico jamais foi um critério de governança da Igreja. Tornar-se-á a partir de Bento XVI?”
Se tal for o caso, escreve de Mattei, o ato de Bento XVI causa um impacto “não apenas inovador, mas revolucionário”.
“A imagem da instituição pontifícia, aos olhos da opinião pública no mundo inteiro, seria de fato despida de sua sacralidade para ser entregue aos critérios de julgamento da modernidade.”
De Mattei ressalta que isso atingiria o objetivo repetidamente proposto por Hans Küng e outros teólogos progressistas: o de reduzir o Papa a “presidente de um conselho de administração, a um papel apenas arbitral, acompanhado de um sínodo permanente de bispos com poderes deliberativos.””
(John Vennari, Three Troubling Aspects of Benedict's Resignation)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Pe. Ratzinger foi um dos que destruíram o Santo Ofício

“Que se me permita por fim evocar uma lembrança. Joseph Ratzinger, perito no Concílio, era também o secretário particular do cardeal Frings, arcebispo de Colônia. Cego, o velho cardeal utilizava-o largamente para a redação de suas intervenções. Pois bem, uma delas tornou-se memorável: foi uma crítica radical dos métodos do Santo Ofício. Apesar de uma réplica do cardeal Ottaviani, Frings manteve sua crítica. Não é exagerado dizer que o antigo Santo Ofício, tal como se apresentava, foi destruído naquele dia por Ratzinger, em união com seu arcebispo. O cardeal Seper, homem pleno de bondade, começou a renovação. Ratzinger, que não mudou, a continua. Seria bom não esquecer esse episódio.”
(Henri de Lubac, Entretien autour de Vatican II)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Dom Tomás de Aquino e os argumentos dos acordistas

“Duas correntes se manifestam hoje na Tradição. Uns querem um acordo. Outros não.
Uns dizem:
– É preciso entrar na Igreja.
Outros respondem:
– Quem já está dentro não precisa entrar.
– Mas nós precisamos da legalidade – retrucam os primeiros.
– Foi assim que caíram o Barroux, Campos e tantos outros – respondem os segundos.
– Mas nós não cairemos, não é possível que Deus permita que tal coisa aconteça.
– “Quem está de pé, cuidado para que não caia” – adverte São Paulo (I Cor. 10, 12).
As mesmas causas produzem os mesmos efeitos. Se Bento XVI beatifica quem excomungou Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer, se Bento XVI celebra o jubileu de prata da reunião de Assis, se Bento XVI defende o Concílio Vaticano II como sendo a Tradição, então os males que vimos no pontificado de João Paulo II se repetirão no de Bento XVI.
Enquanto a Roma liberal dominar a Roma eterna, enquanto o maior desastre da história da Igreja desde a sua fundação, ou seja, o Concílio Vaticano II, for a referência privilegiada dos Bispos, dos Cardeais e do Santo Padre, não haverá solução.
– Mas Roma está mudando – retomam os defensores dos acordos.
– Mudando em quê?
– Roma liberou a missa e retirou as excomunhões – respondem os primeiros.
– Mas de que serve liberar a missa de sempre se Roma deixa coexistir as duas missas? Lemos no Antigo Testamento que Abraão expulsou a escrava Agar e Ismael seu filho para que Isaac não ficasse com o filho da escrava, pois diz São Paulo: “Aquele que tinha nascido segundo a carne perseguia o que tinha nascido segundo o espírito”, e São Paulo acrescenta: “assim também agora” (Gal. V, 29). Abraão fez isto atendendo, a contragosto, a um pedido de Sara, e Deus deu razão a Sara, pois a que é livre não devia ser equiparada à escrava. A missa nova é Agar. Ela não tem direitos. Ela tem de ser suprimida. Quanto ao levantamento das excomunhões, de que serve retirá-las se se beatifica quem as fulminou? Apesar de certo benefício jurídico desses dois atos, “liberação” da missa (que nunca fora proibida) e “levantamento” das excomunhões (que nunca tiveram validade), o benefício espiritual de cada um deles ficou bem comprometido pelo contexto contraditório em que foram realizados. Ou é João Paulo II que tem razão, ou é Dom Lefebvre. Não se pode exaltar João Paulo II e retirar, se é que retiraram, a excomunhão de Dom Lefebvre. Os dois não podem ter razão ao mesmo tempo. Isso é puro modernismo. Quanto à missa, dá-se o mesmo. Se se permitem as duas, o resultado é a contradição. É um princípio de dissolução. É um princípio de corrupção da fé católica.
– Mas – dirão os acordistas – Roma não pode pôr fim a esta crise de uma só vez. As coisas humanas não se resolvem de um só golpe. Para pôr ordem no caos atual, será necessário muito tempo.
– Sim. Não há a menor dúvida. Mas o começo desta ordem só virá quando o Papa tiver a intenção de instaurar esta ordem. E aqui uma questão se impõe. Bento XVI deseja pôr ordem na Igreja?
– Certamente – dirão alguns dentre os acordistas.
– Nada é menos certo do que isso – respondemos nós. – Pôr ordem na Igreja não é imitar Napoleão, que estruturou a Revolução e, desta forma, a perpetuou. Para semear a desordem, é necessário um pouco de ordem, dizia Corção. Bento XVI é um homem de ordem, mas a ordem que ele deseja não é a trazida pela Realeza Social de Nosso Senhor Jesus Cristo: para ele “o problema do Concílio foi assimilar dois séculos de cultura liberal”. É isto o que Bento XVI dá sinais de querer fazer com sua hermenêutica da continuidade.
– Mas – insistem os outros – aos poucos Bento XVI tomará cada vez mais a defesa da Tradição. Ele precisa de nós. Ele quer a nossa ajuda para combater o modernismo.
– Campos também falava assim. Como Bento XVI pode querer nossa ajuda para combater o modernismo se ele mesmo é modernista? Ele pode combater certos modernistas, mas combater o modernismo, ele só poderá fazê-lo depois de deixar de ser modernista.
– Mas dessa forma não se chegará nunca a uma solução.
– Não sei. O que sei é que Santo Anselmo dizia que Deus não ama nada tanto neste mundo como a liberdade da sua Igreja. Pôr a Tradição sob a autoridade de homens que não professam a integridade da Fé católica é fazer exatamente o contrário do que Deus mais ama.
– Mas nesse caso o senhor está identificando a Tradição e a Igreja?
– Perfeitamente, já que a Igreja é essencialmente tradicional e não pode deixar de sê-lo.
– Mas então quem é Bento XVI, se ele não é tradicionalista?
– É um Papa liberal que escraviza a Igreja. Pôr-se sob sua autoridade sem que ele renegue os erros por ele professados é pôr Sara sob o jugo de Agar, Isaac sob o jugo de Ismael. Ora, nós somos filhos da livre e não da escrava cujo filho é Vaticano II, escravo de dois séculos de cultura liberal.
– Qual é então a solução?
– A conversão do Papa.
– Mas como obtê-la?
– Rezando e combatendo. Deus não nos pede a vitória, mas sim o combate. Como dizia Santa Joana d’Arc, “os soldados batalharão e Deus dará a vitória”, pelo Imaculado Coração de Maria. Eis aí toda a nossa esperança.”
(Dom Tomás de Aquino, O.S.B, Duas Correntes)

http://www.arautoveritatis.com/2012/02/duas-correntes.html

sábado, 10 de novembro de 2012

Bento XVI nega a ressurreição dos corpos

“Não vamos estudar aqui os inúmeros problemas históricos e filosóficos que isso traz consigo; basta-nos afirmar que tanto para João (6,63) como para Paulo (1Cor 15,50) a ressurreição da carne é a ressurreição das pessoas, não dos corpos. Segundo o pensamento moderno, o modelo paulino é muito menos ingênuo que a tardia erudição teológica com suas idéias sutis sobre o problema de serem ou não possíveis os corpos eternos. Em poucas palavras, Paulo não ensina a ressurreição dos corpos, mas das pessoas; isso não se realiza no retorno do corpo carnal, quer dizer, do sujeito biológico, que para ele é impossível (“o corruptível não pode tornar-se incorruptível”), mas na diversidade da vida da ressurreição, cujo modelo é o Senhor ressuscitado.”
(Pe. Joseph Ratzinger, Einführung in das Christentum)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Bento XVI afirma que não faz sentido visitar o Santíssimo Sacramento

“A devoção eucarística ou visita silenciosa à igreja não pode ser considerada uma conversa com Deus. Isso supõe que Deus esteja presente de maneira local e circunscrita. Afirmações do tipo “Deus mora aqui” e conversas com o Deus que se imagina estar naquele lugar, baseadas nesse modo de pensar, demonstram um equívoco, quanto ao evento cristológico e à idéia de Deus, que necessariamente repugna ao homem inteligente, sabedor da onipresença de Deus. Se alguém justificasse sua ida à Igreja com o argumento de que se deve visitar ao Deus que somente ali se faz presente, essa seria uma justificativa que não faria nenhum sentido e seria com toda razão rejeitada pelo homem moderno.”
(Pe. Joseph Ratzinger, Die Sacramentale Begründung Christliche Existenz)

domingo, 4 de novembro de 2012

Bento XVI não tem nada contra os que assistem à missa uma vez por ano

“Eu nada tenho contra pessoas que, embora nunca entrem numa igreja durante o ano, assistem à Missa de Natal, ou vão à igreja por ocasião de alguma outra celebração, porque isso é também um modo de se aproximar da luz. Portanto, deve haver diferentes formas de envolvimento e participação.”
(Cardeal Joseph Ratzinger, em entrevista à Zenit, outubro de 2001)

sábado, 15 de setembro de 2012

Para Bento XVI, o protestantismo não é heresia

“A dificuldade no sentido de dar uma resposta é profunda. No fim das contas, é devida ao fato de que não há uma categoria apropriada no pensamento católico para o fenômeno do protestantismo hoje (pode-se dizer o mesmo da relação com as igrejas separadas do Oriente). É óbvio que a antiga categoria de “heresia” não tem mais nenhum valor. Heresia, para a Escritura e a Igreja primitiva, inclui a idéia de uma decisão pessoal contra a unidade da Igreja, e a característica da heresia é a pertinacia, a obstinação de quem persiste em seu próprio caminho particular. Isso, contudo, não pode ser considerado como uma descrição apropriada da situação espiritual do cristão protestante. No decorrer de uma história já de vários séculos, o protestantismo deu uma contribuição importante para a realização da fé cristã, cumprindo uma função positiva no desenvolvimento da mensagem cristã e, acima de tudo, muitas vezes dando origem a uma fé profunda e sincera no indivíduo cristão não-católico, cuja separação da afirmação católica não tem nada a ver com a pertinacia característica da heresia. Talvez aqui possamos inverter uma citação de Santo Agostinho: que um antigo cisma se torna heresia. A própria passagem do tempo altera o caráter da divisão, de modo que uma antiga divisão é algo essencialmente diferente de uma nova. Algo que antes tinha sido justamente condenado como heresia não pode depois simplesmente se tornar verdadeiro, mas pode gradualmente desenvolver sua própria natureza eclesial positiva, com a qual o indivíduo se apresenta como sua igreja e na qual ele vive como um crente, não como um herege. Essa organização de um grupo, contudo, acaba tendo um efeito sobre o todo. A conclusão é inevitável, portanto: o protestantismo hoje é algo diferente de heresia no sentido tradicional, um fenômeno cujo verdadeiro lugar teológico ainda não foi determinado.”
(Cardeal Joseph Ratzinger, Die Christliche Brüderlichkeit)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Bento XVI nega o dogma da Redenção

Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
Qual é propriamente a posição que a cruz ocupa no contexto da fé em Jesus enquanto o Cristo? Eis a questão com que este artigo do Credo nos torna a confrontar. Nas considerações anteriores já foram reunidos elementos essenciais para uma resposta, bastando-nos agora evocá-los. Nesta questão, a mentalidade cristã está condicionada por uma idéia bastante grosseira da teologia da satisfação de Anselmo de Cantuária, cujas linhas fundamentais foram objeto de análise em outro contexto. Para muitos cristãos, sobretudo para os que conhecem a fé assaz superficialmente, a cruz parece que deva ser compreendida dentro de um mecanismo do direito lesado e reabilitado. Seria a forma com que a justiça divina infinitamente ofendida se consideraria reabilitada por meio de um sacrifício infinito. Tem-se a impressão de tratar-se de uma exata igualação entre dever e haver; ao mesmo tempo perdura a impressão de um tal igualamento basear-se sobre uma ficção. Entrega-se, secretamente, com a esquerda, o que naturalmente se torna a receber com a direita. Deste modo fica envolvida por uma luz duplamente sinistra a 'infinita satisfação' da qual Deus parece fazer questão.
Observando certos textos de devocionários, não se pode escapar à idéia de que a fé cristã na cruz vê um Deus cuja justiça implacável exige uma vítima humana, o holocausto do seu próprio Filho. E recuamos horrorizados diante de uma justiça, cuja ira tenebrosa torna incrível a mensagem do amor.
Tão espalhada quanto falsa é esta idéia.”
(Pe. Joseph Ratzinger, Einführung in das Christentum)

Tradução do Pe. José Wisniewski Filho, S.V.D

domingo, 9 de setembro de 2012

John Vennari mostra o modernismo de Bento XVI



http://stdominic3order.blogspot.com.br/2012/08/quem-e-bento-xvi.html

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A hermenêutica da continuidade

“A expressão “hermenêutica da continuidade” entrou em voga com a ascensão do Papa Bento XVI.
Em 22 de dezembro de 2005, em discurso à Cúria Romana, o Papa Bento XVI apresentou o que seria o programa de seu pontificado. A norma é que um Papa o faça em sua primeira encíclica, mas comentaristas especializados da época observaram que o Papa Bento tinha provavelmente definido o programa de seu pontificado nesse discurso de 22 de dezembro e não em sua primeira encíclica.
Nesse discurso, restava claro que o princípio essencial que seria o programa de seu pontificado era o Concílio Vaticano Segundo.
No entanto, diz o Papa, há um problema com o Concílio. Ele lamenta que muitos na Igreja busquem entender o Concílio através de uma “hermenêutica da ruptura” e uma “hermenêutica da descontinuidade” com o passado. (“Hermenêutica” basicamente significa “interpretação”. Ou seja, o que o Papa Bento diz é que muitos católicos têm interpretado o Concílio em ruptura com o passado.)
A maneira correta de abordagem ao Concílio, ele insiste, é por meio de uma “hermenêutica da continuidade”. Sua afirmação básica – e que tem sido sua desde quando era cardeal – é que o Vaticano II não constituiu uma ruptura com a Tradição, mas um desenvolvimento legítimo desta. Encontraremos esse desenvolvimento legítimo se abordarmos o Concílio por meio de uma hermenêutica – uma interpretação – de continuidade.
Deu-se a impressão em muitos de que o Papa Bento XVI planejava uma restauração da Tradição na Igreja.
Mas tal não é o caso. Sim, o Papa Bento publicou o motu proprio libertando a Missa Tridentina. Foi uma questão de justiça pela qual ele merece crédito e é algo que esperávamos que fosse fazer, baseados no que costumava dizer como cardeal.
Mas a hermenêutica da continuidade não sinaliza um retorno à Tradição. Pelo contrário, ela é mais uma tentativa, antes de mais nada, de salvar o Vaticano II.
O Vaticano II ainda é seu princípio essencial. A abordagem da chamada “hermenêutica da continuidade” somente irá nos proporcionar uma nova síntese entre a Tradição e o Vaticano II – uma síntese entre a Tradição e o Modernismo – que não é uma síntese legítima.
Nova Abordagem
Inicialmente eu queria somente chamar a atenção para um aspecto que nos mostra, desde o princípio, que a abordagem da “hermenêutica da continuidade” não sinaliza uma verdadeira restauração da Tradição. Trata-se do próprio termo. O Papa Bento não emprega a terminologia tradicional para a preservação da Tradição, mas inventou efetivamente um novo termo: “hermenêutica da continuidade”.
Isso se dá porque sua abordagem à Tradição está em desacordo com o que a Igreja ensinou por 2.000 anos.
Por exemplo, o Papa Bento XVI nunca diz que a resposta à crise na Igreja é o retorno ao conselho do Papa Ágato, que disse: “nada se deve tirar daquelas coisas que foram definidas, nada mudar, nada acrescentar, mas deve-se conservá-las puras, quanto à palavra e ao conteúdo”.
O Papa Bento nunca diz que a resposta ao caos eclesiástico de nossos dias é o retorno à fórmula contida no Juramento Antimodernista, de que o católico é obrigado a “... acolher sinceramente a doutrina da fé transmitida a nós pelos apóstolos através dos padres ortodoxos, sempre com o mesmo sentido e igual conteúdo (eodem sensu eademque sententia). Portanto, rejeito totalmente a fantasiosa heresia da evolução dos dogmas de um significado a outro, diferente daquele que a Igreja professava primeiro.
Ele não pode usar uma tal terminologia porque ela entra em conflito com os novos ensinamentos do Vaticano II, com os novos ensinamentos sobre liberdade religiosa e ecumenismo. Esses novos ensinamentos são claramente “diferentes do que a Igreja professava primeiro.
Quando o Papa São Pio X lutava para manter a verdade católica e a Tradição, ele não aparecia com suas próprias frases originais no Juramento Antimodernista. A terminologia que empregou é a terminologia antiga da Igreja, encontrada nas obras dos padres e consagrada nas definições dogmáticas infalíveis em que um católico deve acreditar para sua salvação.
Já no século IV, São Vicente de Lérins explicava o que constituía o desenvolvimento correto da doutrina católica:
“Talvez alguém diga: Então nenhum progresso da religião é possível na Igreja de Cristo? Certamente que deve haver progresso, e grandíssimo!... Mas contanto que seja realmente um progresso e não uma modificação. Cresçam, pois, e multipliquem-se abundantemente, tanto em cada um como em todos, tanto no homem individual como na Igreja, segundo o progresso das idades e dos séculos, a inteligência, a ciência e a sabedoria, mas somente no seu gênero, isto é, na mesma doutrina, no mesmo sentido e no mesmo pensamento.”
O ensinamento de São Vicente de Lérins sobre a Tradição foi dogmática e infalivelmente consagrado no Vaticano I. Isso demonstra que exatamente o mesmo ensinamento sobre a Tradição foi mantido na Igreja por mais de 1.400 anos. O Vaticano I ensina na Constituição Dogmática Dei Filius:
“Daí segue que sempre se deve ter por verdadeiro sentido (sensus) dos dogmas aquele que a Santa Madre Igreja uma vez tenha declarado, não sendo jamais permitido, nem a título de uma inteligência mais elevada, afastar-se desse sentido.”
A Dei Filius do Vaticano I prossegue dizendo que qualquer desenvolvimento autêntico no entendimento da doutrina “deve progredir em sua própria categoria, no mesmo dogma, com o mesmo significado e a mesma explicação.” Essa é basicamente a mesma redação de São Vicente de Lérins, inalterada após mais de 1.400 anos.
E essa, como já dito, foi a redação empregada pelo Papa São Pio X em seu Juramento Antimodernista, no qual aquele que presta juramento jura diante de Deus “sinceramente acolher a doutrina de fé transmitida a nós pelos apóstolos através dos padres ortodoxos, sempre com o mesmo sentido e igual conteúdo (eodem sensu eademque sententia).”
O Papa Bento XVI nunca usa uma tal terminologia. Mesmo quando ainda era o Cardeal Ratzinger, ele jamais empregava essa terminologia. Permanece o triste fato de que o Papa Bento XVI e a maior parte de nossos líderes modernos da Igreja não podem sequer usar a terminologia tradicional quando afirmam que estão tentando manter a Tradição, mas aparecem com novas frases: “integração recíproca” e “hermenêutica da continuidade”.
O emprego dessa nova frase, junto com seu óbvio compromisso com os aspectos novos do Vaticano II, como o ecumenismo e a liberdade religiosa, diz-nos que, por mais que desejemos o contrário, o Papa Bento XVI não é um Papa da Tradição. Ele vai continuar com as novas políticas do Vaticano II, talvez não da forma agressiva de seu predecessor imediato. Ele talvez seja um pouco mais sutil e refinado e um pouco mais tradicional na aparência. O Papa Bento tentará até impor mais disciplina em certas áreas, especialmente em relação à liturgia, do que jamais fez João Paulo II.
Mas no fim das contas – no que se refere à doutrina – ainda será a nova orientação do Vaticano II que prevalecerá. Aquilo em que somos obrigados no Vaticano I e no Juramento Antimodernista a crer, a fé católica “com o mesmo sentido e a mesma explicação”, como a Igreja sempre ensinou, não será mencionado ou ratificado.
Desta forma, não importa quantas vezes ouvirmos o termo “hermenêutica da continuidade”, não importa quantas vezes nos disserem que o Vaticano II não constitui uma ruptura: o fato permanece de que a nova abordagem do Vaticano II ao que se chama de ecumenismo e liberdade religiosa – e, por extensão, a abordagem do Papa Bento XVI ao que se chama de ecumenismo e liberdade religiosa – está em desacordo com o Magistério tradicional dos séculos. Aqui não encontramos continuidade, mas ruptura.
Assim, e digo-o com todo o respeito, eu não me entusiasmarei com nenhuma notícia de que o Papa Bento XVI deseja um verdadeiro retorno à Tradição, até que ouçamo-lo exigir um retorno à fé católica “com o mesmo sentido e a mesma explicação” do que a Igreja sempre ensinou.”
(John Vennari, The Oath Against Modernism vs. the "Hermeneutic of Continuity”)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Mutazilitas e acharitas

“Se a ignorância é realmente uma bênção, então ninguém deveria ler O Fechamento da Mente Muçulmana.
Mas como prefiro conhecer a verdade, mesmo quando ela é preocupante, achei o estudo de Robert Reilly sobre o pensamento sunita o livro mais esclarecedor de 2010.
Reilly conta a triste história de como uma grande batalha filosófica no seio do Islã, entre os mutazilitas e os acharitas, moldou a história da fé e levou inevitavelmente à crise atual do Islã. Essa batalha intelectual – resolvida na metade do século IX – não foi uma árida discussão acadêmica; foi uma disputa de suma importância, com implicações que se tornariam óbvias para os cristãos atentos do começo do século XXI.
As principais disputas filosóficas geralmente sobrevivem por séculos. Os platônicos e os aristotélicos ainda hoje estão discutindo. Ecos dos debates no Concílio de Nicéia ainda podem ser ouvidos nos departamentos de teologia das universidades católicas. Mas os mutazilitas não estão mais discutindo com os acharitas. No Islã o debate acabou – não porque um argumento provou ser mais persuasivo que o outro, mas porque uma escola invocou sua autoridade para silenciar a crítica.
Os mutazilitas tentaram a mesma síntese entre fé e razão que os filósofos medievais realizaram no Cristianismo. Embora aceitassem inteiramente a autoridade do Corão, os mutazilitas acreditavam que a fé islâmica poderia sujeitar-se à análise lógica, e as palavras de Alá conformar-se-iam às exigências da razão humana.
Mas os acharitas tinham outra idéia. Essa escola de pensamento defende que o Islã exige submissão absoluta à vontade de Deus. Pensar que Alá esteja sujeito à razão é indecente, até blasfemo, na visão dos acharitas. Os acharitas não aceitam sequer a mais fundamental análise lógica do Corão; eles exigem obediência incondicional à palavra de Alá.
Quando algumas passagens do Corão entram em contradição com outras, os mutazilitas dizem que a razão guiará os fiéis até a verdade. Os acharitas não fazem uma tal concessão à razão humana. Se Alá deseja ser contraditório, eles dizem, quem somos nós, simples mortais, para questionarmos o todo-poderoso? Assim, o princípio da não-contradição, o princípio mais fundamental do pensamento racional, é posto de lado, e o Islã entra nos domínios da desrazão.
O triunfo dos acharitas, diz Reilly a seus leitores, representa o fechamento final da mente islâmica. Com os mutazilitas, algum diálogo inter-religioso teria sido possível. Mas com os acharitas, não há base para uma discussão razoável porque a própria razão é tida em desprezo.
Desta forma o pensamento islâmico desde o século IX ficou marcado com o desinteresse pela consistência, pela análise, pela exploração científica. Não é coincidência, Reilly observa, que as grandes descobertas do mundo árabe ocorreram antes do despertar do poder islâmico. Nem é surpreendente que o desenvolvimento das nações islâmicas esteja bastante atrás das ocidentais.
Infelizmente, a vitória acharita foi, ao que tudo indica, definitiva, porque uma vez afastada a razão, não há mais maneira de resolver disputas além da imposição da força. O Islã tornou-se uma fé inteiramente definida pela prática da vontade: a vontade de Alá. Se um mutazilita ousasse sugerir que o Corão deveria ser examinado pelo prisma da razão, os acharitas o acusariam de haver blasfemado contra a fé, e sua vida estaria em perigo.
O Papa Bento usou de uma estratégia muito interessante quando sugeriu, em seu famoso discurso em Ratisbona, que o Islã, tal como o Cristianismo, deveria sujeitar-se aos princípios da razão. O Santo Padre estava oferecendo um diálogo sério com quaisquer líderes muçulmanos desejosos de defender a causa mutazilita.
O Papa certamente sabe que seria perigoso a qualquer erudito islâmico seguir aquele caminho. Mas no atual estado de coisas, o mundo inteiro está seguindo um caminho perigoso, em direção a uma confrontação entre o Islã e o Ocidente. Seria obviamente melhor evitar um conflito violento. Mas se queremos evitar a violência, devemos ter outros meios de resolver os desentendimentos. Antes de iniciar um diálogo produtivo com o Islã, devemos encontrar interlocutores que tratarão esse diálogo com seriedade – que tratarão a razão com seriedade. O que entendo aqui por julgamento é dizer a verdade clara e inequivocamente, a colocação das coisas, boas e más, à luz que as permite aparecer como realmente são.”
(Philip Lawler, The Most Eye-Opening Book of 2010)

sábado, 11 de dezembro de 2010

Uma análise do conceito de autoridade política mundial na Encíclica Caritas in Veritate


“Ao final de seus Exercícios Espirituais, na Primeira regra “para sentir exatamente o que devemos na Igreja militante”, diz Santo Inácio de Loiola: “Deposto todo e qualquer juízo [próprio], devemos ter o espírito preparado e pronto para obedecer em tudo à verdadeira Esposa de Cristo Nosso Senhor, que é a nossa Santa Madre, a Igreja Hierárquica [ou seja, o Papa e sob ele a universalidade dos Bispos].” E na Décima terceira regra: “Para que em todas as coisas cheguemos à verdade, devemos manter [o princípio] de crer que o branco que eu vejo é preto, se a Igreja Hierárquica assim o determinar, crendo que entre Cristo Nosso Senhor, Esposo, e a Igreja, sua Esposa, não há mais que um mesmo espírito, que nos governa e rege para a salvação de nossa alma, porque Nossa Santa Madre Igreja é governada pelo mesmo Espírito e Senhor nosso que deu os Dez Mandamentos.”
E o que diz aí Santo Inácio é absolutamente de fé; negá-lo é pecar contra a fé. Há porém dois pressupostos para que assim seja: 1) o de que o declarado pela Hierarquia diga respeito a fé e costumes (donde a referência a cores por Santo Inácio ter caráter meramente metafórico); b) o de que a Hierarquia queira, no que declara, imperar e impor doutrina, querer este que basta, de per si, para a assistência infalível do Espírito Santo. (Quanto aos graus de infalibilidade das declarações papais, e a todos os demais assuntos relacionados a este tema, cf. A Candeia Debaixo do Alqueire, do Padre Calderón.) Ora, o que caracteriza a Hierarquia desde o Concílio Vaticano II é precisamente o fato de que, em vez de impor doutrina do alto de sua autoridade, depõe essa autoridade, reduzindo a sua própria função a mero papel de coordenação “democrática” do debate proposto pelos teólogos e de um suposto sensus fidei “infalível” do conjunto dos fiéis.
Tudo isso tem uma base filosófica: a crença de fundo hegeliano ou nominalista de que ou a verdade é mutável, ou não é alcançável por nossa inteligência, ou não se pode traduzir na “pobre” linguagem humana. E, se vários são os corolários de tal modo de pensar, dois deles nos interessam particularmente aqui: primeiro, a descrença na fixidez dos dogmas; segundo, a redução da religião a mera “experiência” (nunca muito bem definida, por impossível, diga-se). Por esses corolários é que o Concílio Vaticano se disse pastoral e não dogmático; por esses corolários é que todas as declarações e documentos conciliares e pós-conciliares são como sugestões para debate, porque neles nunca se dá a vontade de imperar nem, pois, se empenha ou compromete a infalibilidade papal, que tem justamente aquela vontade por pressuposto.
E não confundamos a autoridade fundada na Verdade com a autoridade fundada na mera jurisdição: aquela é simpliciter efetiva; esta é maquiavélica no sentido preciso do termo. Ora, se em geral as leis iníquas, que parecem não ser leis (“Lex esse non videtur, quae iusta non fuerit” – Santo Agostinho, Sobre o Livre-arbítrio, L. I, c. 5, n. 11), por isso mesmo não obrigam no foro da consciência (“… tales leges no obligant in foro conscientiae” – Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 96, a. 5, corpus), o que dizer das leis disciplinares fundadas na negação de uma das verdades católicas centrais, qual seja, a de que a doutrina da Igreja não pode mudar porque é imutável como o seu próprio autor, Deus mesmo? Com efeito, diz o Concílio Vaticano I: “O Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para que, com sua assistência, promulgassem uma nova doutrina, e sim para que, com sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos Apóstolos, ou seja, o depósito da fé” (Constituição Dogmática Pastor Aeternus, cap. 4). Por que o disse esta Constituição? Por que dissera São Paulo aos Gálatas (I, 9): “Ainda que nós mesmos, ou um anjo do Céu, vos pregue um evangelho diferente do que nós vos anunciamos, seja anátema.”
Por tudo isso, portanto, é que os católicos não devemos ao magistério fundado no Concílio Vaticano II (e em seus pressupostos filosóficos) a obediência que Santo Inácio propugnava; e isto vale, naturalmente, para a última encíclica do Papa Bento XVI, Caridade na Verdade. Posto, pois, este preâmbulo, podemos passar agora ao que me faz escrever este breve artigo: a atitude de avestruz de alguns católicos conservadores diante do óbvio, isto é, o não querer ver o que na referida encíclica é perfeitamente branco e nada preto. Ou vice-versa.
Tal atitude está perfeitamente resumida, e defendida, no editorial de John-Henry Westen, “Pope’s New Encyclical Speaks Against, not for One-World Government and New World Order”, para a edição de 8/7/2009 do LifeSiteNews.com. Com inequívoca intenção, escreve-se ali que “Jornais, blogs, programas de rádio e de televisão estão cheios de discussões acerca do suposto convite do Papa Bento XVI a uma ‘nova ordem mundial’ ou um ‘governo mundial’. Estas idéias, no entanto”, prossegue o editorialista, “não se baseiam na realidade nem numa leitura clara da última encíclica do Papa, Caritas in Veritate, cuja publicação [...] provocou a inflamada discussão”.
Deixo de lado muitos detalhes do editorial, e volto-me para a sua afirmação central: “O Papa, na verdade, fala diretamente contra um governo mundial e [...] convida a uma maciça reforma das Nações Unidas”; e “no parágrafo 41 [...] diferencia especificamente seu [grifo nosso] conceito de autoridade política mundial [world political authority] do de governo mundial [one-world government]”. Concedo perfeitamente que o Papa faça a referida diferenciação e que diga o que diz John-Henry Westen em seu editorial; o que porém nenhum católico deveria conceder é que esse conceito de autoridade política mundial seja católico, ainda que em tal conceito se trate, como diz o mesmo editorialista, de uma autoridade mundial “difusa”. (O que significa exatamente uma “autoridade difusa”, isso me parece muito difícil dizer.)
Com efeito, o não-católico de tal conceito reside precisamente em que, para a imutável doutrina da Igreja, todo e qualquer poder político deve ordenar-se essencialmente ao fim último do homem, Deus mesmo, e pois ao poder espiritual por Ele mesmo instituído na terra, a Igreja – seja o poder político local ou imperial. Defender qualquer world political authority sem essa ordenação é gravíssimo, enquanto não o seria (falo hipoteticamente) defender um one-world government ordenado à Igreja. Sim, porque o poder temporal se ordena ao espiritual assim como o corpo humano se ordena à sua alma. Mais que isso, porém, e quem o diz é o Papa Bonifácio VIII na Bula Unam Sanctam, de 18/11/1302: como se ensina nos Evangelhos [Lucas, XXII, 38, e Mateus, XXVI, 52], estão em poder da Igreja duas espadas (ou gládios), “a espada espiritual e a espada temporal. Mas esta última deve ser usada para a Igreja, enquanto a primeira deve ser usada pela Igreja. A espiritual deve ser manejada pela mão do sacerdote; a temporal, pela mão dos reis e soldados, mas segundo o império e a tolerância do sacerdote. Uma espada deve estar sob a outra espada, e a autoridade temporal deve ser submissa ao poder espiritual” (grifos nossos; “… spiritualis scilicet gladius et materialis. Sed is quidem pro ecclesia, ille vero ab ecclesia exercendus. Ille sacerdotis, is manu regum et militum, sed ad nutum et patientiam sacerdotis. Oportet autem gladium esse sub gladio, et temporalem auctoritatem spirituali subiici potestati”). E, justamente porque as coisas espirituais sobrepujam as temporais e, em conseqüência, o poder espiritual supera em dignidade e nobreza qualquer espécie de poder terrestre, é que, “como atesta a verdade, o poder espiritual pode instituir o poder terrestre, e julgá-lo, se este não for bom” (ibid.; “… veritate testante, spiritualis potestas terrenam potestatem instituere habet, et iudicare, si bona non fuerit”).
Poderia citar outros documentos do magistério infalível da Igreja, como a carta magna da Cristandade que é a Quas primas de Pio XI, para corroborar o que aqui se diz da Encíclica Caritas in Veritate. Mas bastará confrontar o que se acaba de ler de Bonifácio VIII com o que diz o mesmo John-Henry Westen no último parágrafo de seu editorial. Com efeito, lê-se aí: “Qualquer visão de uma adequada ordenação do mundo, da cooperação econômica ou política internacional, sugere o Papa, deve basear-se numa ‘ordem moral’. Isso inclui, em primeiro lugar e principalmente, ‘o direito fundamental à vida’ [...], o reconhecimento da família baseada no casamento entre um homem e uma mulher como base da sociedade, a liberdade religiosa e a cooperação entre todas as pessoas com base nos princípios da lei natural.”
Atentemos para as principais insuficiências (do ângulo da doutrina infalível da Igreja, obviamente) e contradições do texto, que porém reflete fielmente o pensamento do Papa expresso em Caritas in Veritate:
a) A ordenação do mundo (e dos Estados que o compõem) deve, sim, basear-se numa “ordem moral”, mas não tendo por fim uma melhor cooperação política e econômica internacional, porque, como diz Santo Tomás de Aquino em De Regno, “é necessário que o fim da multidão humana, que é o mesmo do indivíduo, não seja viver segundo a virtude, mas antes, mediante uma vida virtuosa, alcançar a fruição divina”. De fato, assim como não importa salvar a vida se com isso se perde a alma, assim também, analogamente, não importa melhorar a economia e as relações políticas internacionais se com isso, por não se fazer em ordem a Deus, se perdem bilhões de almas mundo afora. Mais ainda e acima de tudo: se com isso não se presta a devida glória a Deus, mas antes fica ela ofendida.
b) Além do mais, como é possível dizer que “o casamento entre um homem e uma mulher” (grifo nosso) deve ser “a base da sociedade” e propor, ao mesmo tempo, a “liberdade religiosa”? Sim, porque ou não se vai dar liberdade ao islamismo, ou se terá de aceitar o casamento entre um homem e muitas mulheres…
c) Além do mais, a defesa da “liberdade religiosa”, como tantos e tantos autores já o demonstraram à exaustão, contraria as Sagradas Escrituras, o Traditum, o magistério infalível da Igreja… e o simples bom senso, como aliás acabamos de ver pelo único exemplo do item anterior.
d) Além do mais, e por fim, como sustentar uma “cooperação entre todas as pessoas [ou seja, independentemente de religião] com base nos princípios da lei natural” se o primeiro e supremo mandamento da lei natural é amar a Deus acima de todas as coisas e não adorar falsos deuses ou ídolos, e se Cristo mesmo nos veio dizer que Deus é trino? Como poderão cumprir tal mandamento os ateus e os membros de quaisquer religiões não-cristãs? Não só isso, porém: se, como sabemos, a Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana é de instituição divina, e é a única que pode dirigir os indivíduos a uma vida virtuosa segundo a lei natural para que, mediante ela, alcancem a fruição divina, como crer que os heréticos e os cismáticos possam “cooperar” com tal direção única? Autoriza-nos a ter tais “esperanças” a História? Como no-las autorizaria, se, se excetuam os cerca de mil anos que vão de Constantino a Bonifácio VIII, toda a História depois de Cristo não passa de um longo cortejo de perseguições à Esposa de Nosso Senhor?
Verdadeiramente, a paz e a cooperação internacionais ou se darão sob a direção do Vigário de Cristo, ou não se darão. Ou se darão sob as bandeiras da Realeza de Nosso Senhor, ou não se darão. E, como se lê no Catecismo da Realeza Social de Jesus Cristo, do Padre A. Philippe, C.SS.R., ainda que tudo no mundo indique a impossibilidade aparente dessa Realeza, devemos defendê-la até a morte – não seja que, de tanto a omitirmos, acabemos nós mesmos por negá-la.
Em tempo: Dizia o Padre Pio de Pietrelcina: “Afasta-te do mundo. Escuta-me: um se afoga em alto-mar, outro se afoga num copo d’água. Que diferença há entre um e outro? Não estão mortos os dois?””
(Carlos Nougué, A Atitude do Avestruz)

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