quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
As Filipinas salvas do protestantismo por Nossa Senhora
“Esta foi uma importante vitória porque salvou o catolicismo em toda a Ásia.
Enquanto em qualquer outro lugar do continente asiático as falsas religiões se opunham, em geral, à implantação do catolicismo e faziam verter em abundância o sangue dos mártires, a conversão das Filipinas foi um evento sem paralelo na história: em 40 anos (de 1555 a 1605), sem que se derramasse uma só gota de sangue, o país se tornou um modelo de cristandade graças aos espanhóis. Para a Igreja, as Filipinas se tornaram uma base providencial da qual partiam legiões de missionários para outras terras da Ásia.
Em 15 de março de 1646, uma flotilha de navios protestantes holandeses, uma força naval formidável, chegou ao grande porto de Manila. Os espanhóis e os filipinos estavam desanimados, tendo à sua disposição nada mais do que dois navios mercantes – o Encarnação e o Rosário – que eles rapidamente armaram o melhor que puderam. Foi então que o venerável Pe. Jean de Conca, O. P, começou a pregar o rosário aos marinheiros e fez com que eles o recitassem em coros alternados nas pontes dos dois navios. Os marinheiros prometeram que se vencessem iriam em peregrinação a pé descalço até a estátua da Virgem do Rosário no convento dominicano de Manila. De março a outubro, cinco encontros violentos resultaram em cinco vitórias humanamente impossíveis. Os navios dos protestantes foram destruídos, enquanto nos céus uma voz se ouvia dizer, “Vivam a Fé em Cristo e a Santa Virgem do Rosário”. De 200 homens, os católicos perderam apenas 15. As Filipinas permaneceram no seio da Igreja.
Uma propagação extraordinária do rosário ocorreu por todo o país, que se tornou “o Reino do Santo Rosário”, segundo expressão do Papa Pio XII. Todos os anos, e ainda hoje em dia, uma imensa procissão passa por Manila, em ação de graças, seguindo a milagrosa estátua da Virgem do Rosário precedida por 21 carros alegóricos decorados levando santos dominicanos. Duzentas mil pessoas seguem a Madona levando velas e as Filipinas são consagradas a Nossa Senhora no final da cerimônia.”
(Pe. Marie-Dominique, O. P, Great Historical Victories of the Rosary)
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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
A Áustria salva do comunismo por Nossa Senhora
“No final da Segunda Guerra Mundial, a Áustria foi dividida em quatro zonas ocupadas pelos aliados: americanos, ingleses, franceses e russos. Os russos controlavam a parte que incluía a capital, Viena, a mais industrializada e rica em recursos naturais; era portanto de grande interesse para Moscou, que para lá enviou um contingente enorme de tropas.
Em 25 de novembro de 1945, as eleições que se realizaram em todo o país resultaram em retumbante derrota para os comunistas, que ganharam somente 4 cadeiras de um total de 165. Apesar disso, A Voz do Povo, o jornal do partido, comentava: “Perdemos uma batalha, mas estamos apenas no começo da guerra na Áustria, e essa guerra nós vamos vencer.” De fato, a pressão na zona ocupada cresceu constantemente, acompanhada de assassinatos e saques, confirmando as intenções de Moscou em anexar definitivamente o país.
Foi então que um sacerdote franciscano interveio, o Pe. Petrus Pavlicek (1901-82). Retornando do cativeiro em 1945, ele fez uma peregrinação de ação de graças a Mariazell, a Magna Mater Austriae, a mãe amorosa da Áustria. Em suas orações, enquanto perguntava a Nossa Senhora o que ele poderia fazer para ajudar seu país, ouviu uma voz interior que lhe disse: “Faça como lhe digo: reze o rosário todos os dias e haverá paz.”
Após um ano de reflexão, em 2 de fevereiro de 1947 ele iniciou uma cruzada do rosário por reparação no espírito de Fátima, com os seguintes objetivos: reparação pelas ofensas a Deus, a conversão dos pecadores, paz e salvação para o mundo e especialmente para a Áustria. Um ano depois, em 1948, 10.000 pessoas estavam alistadas na cruzada de oração, inclusive o Chanceler Figl, o principal político do país. Os fiéis prometeram rezar o rosário em casa pela libertação do país, recitações públicas foram organizadas nas igrejas, e procissões de várias centenas e às vezes milhares de pessoas rezando o rosário eram vistas nas cidades e vilas.
Em 1949 a situação tornou-se cada vez mais crítica, e cresceu a ansiedade quando se soube o que havia acontecido nos países vizinhos: a Tchecoslováquia e a Hungria haviam caído nas mãos dos comunistas, e a Igreja estava sendo perseguida; o Cardeal Mindszenty fora julgado e condenado. Quando novas eleições se aproximaram na Áustria, o Pe. Petrus resolveu intensificar a cruzada: cinco dias de preces públicas foram organizados. Em Viena, confissões eram ouvidas dia e noite, e 50.000 pessoas visitaram o convento franciscano. O resultado foi que os comunistas só ganharam cinco cadeiras nas eleições. Mas eles não tinham a intenção de desistir tão fácil e todos já esperavam um golpe de estado.
Pio XII disse a outro sacerdote austríaco durante uma audiência privada: “Viena é o último baluarte da Europa. Se Viena cair, a Europa cairá. Se Viena resistir, a Europa resistirá. Os católicos de Viena não têm o direito de ser medíocres. Diga-o repetidamente aos vienenses. E diga-lhes que o papa está rezando muito, sim, que ele está rezando bastante pela Áustria.”
Foi então que o Pe. Petrus organizou um novo encontro de oração de três dias em Viena, que terminou a 12 de setembro, festa do Santo Nome de Maria, um grande dia de júbilo na Áustria por celebrar a vitória de Sobieski sobre o Islã. O Pe. Petrus resolveu organizar uma grande procissão do rosário no centro da cidade. O arcebispo de Viena mostrava-se reticente. Ele temia que os católicos não se mobilizassem, tanto já se havia pedido deles. Mas o Chanceler Figl disse: “Mesmo que haja apenas dois, eu estarei lá. Pelo nosso país, vale a pena.” Compareceram 35.000 pessoas, com o Chanceler Figl à frente, terço e vela à mão.
Foi na hora certa, pois no fim do mês os comunistas tentaram um golpe militar. Eles proclamaram uma greve geral; a Chancelaria Geral foi ocupada. Mas os sindicatos anti-comunistas lançaram seus membros, armados de paus, em uma contra-ofensiva. A greve foi dissolvida e o golpe revolucionário falhou. À época, a cruzada do rosário contava com 200.000 membros.
No entanto, em Berlim, Molotov, o ministro russo das relações exteriores, ridicularizava o Chanceler Figl: “Não tenham esperanças. O que os russos uma vez possuímos, nós jamais entregamos.” O Chanceler Figl transmitiu ao Pe. Petrus: “Rezem mais do que nunca”.
O Pe. Petrus continuou a percorrer o país recrutando novos membros para a cruzada. Em abril de 1955, a cruzada contava com 500.000 membros. O chanceler à época, Raab, foi chamado a Moscou. Ele se preocupava com o que iria acontecer. Foi recebido no dia 13 do mês. Na noite da entrevista, escreveu em seu diário: “Hoje, um dia de Fátima. Os russos ainda estão endurecidos. Oração à Mãe de Deus para que ela ajude o povo austríaco.”
Humanamente falando, estava tudo perdido. Mas é justo nesses momentos que Deus intervém quando se manteve a fé e perseverou-se na oração. E, de fato, em maio de 1955 deu-se um milagre. Ao contrário de todas as expectativas, Molotov subitamente concedeu a independência à Áustria. Depois de dez anos de lutas e esforços, a ameaça vermelha, sem qualquer problema, desapareceu no ar como se ao toque de uma varinha mágica. O último soldado russo deixou a Áustria em 26 de outubro de 1955, mês do rosário. Desde então a data tornou-se um feriado nacional na Áustria.
Uma grandiosa cerimônia de ação de graças foi organizada em Viena na Praça dos Heróis na presença de personalidades políticas e religiosas. Todos os discursos proclamavam a Virgem do Rosário como a causa da vitória.”
(Pe. Marie-Dominique, O.P, Great Historical Victories of the Rosary)
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
A absurda lei do progresso necessário
“Os socialistas defendem a lei do progresso, ou seja, que a sociedade humana está em marcha para maior felicidade e justiça. É sempre uma esperança no futuro, não numa outra vida, conforme ensina a Igreja, mas nesta vida mesmo, ao mesmo tempo que esse futuro utópico nunca se realiza. Em outras palavras, criticam os católicos por pautarem suas vidas numa vida extraterrena, mas oferecem as suas em prol de uma causa cuja esperança é sempre futura e quiçá irrealizável. O progresso defendido por eles é necessário e indefinido. A partir disso pode-se dizer: um progresso necessário só poderia ser tal se a existência do universo fosse necessária. Portanto esse progresso se relaciona com Deus da seguinte forma: se é necessário para Deus criar, então de alguma maneira esse ato o aperfeiçoa, i.e., há mais perfeição para Deus em criar do que não criar; logo, como todas as perfeições pertencem à essência de Deus, a criação se relaciona com a essência de Deus. Cai-se no panteísmo. Ademais a substância existe com seus modos. Se a substância contém em si a razão necessária de sua existência, então seus modos também são necessários. Assim não há idéia de progresso, já que essa idéia envolve a idéia de novas perfeições a acrescentar às já existentes. Afinal, essas perfeições têm que existir em algum lugar. Para ser possível uma perfeição no ser contingente, ela já tem que existir no ser necessário. Então o ser necessário já possui a perfeição e não é susceptível de progresso. E se já possui essa perfeição no mais alto grau, então ele não pode se submeter à necessidade de reproduzi-la fora dele. Portanto, a lei do progresso necessário é absurda. Ademais, se o progresso é necessário, ele é eterno; se é eterno, então já passou por uma infinidade de graus antes de chegar ao seu estado atual. Por que se está, então, distante do seu fim? Como acrescentar graus novos a uma escala infinita? Se todos os seres começaram a progredir juntos, como podem vários estar atrasados? Assim o Pe. Henri Ramière refuta a lei do progresso em seu excelente livro “O Reino de Jesus Cristo na História: Introdução ao Estudo da Teologia da História”.”
(Renato Salles, Princípios Diretores do Socialismo)
http://renatosalles.blogspot.com/2010/10/principios-diretores-do-socialismo.html
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
A Nova Missa e a Missa de Lutero (II)
“Nos domingos se celebra a Missa. Mas Lutero conserva a palavra Missa com certa repugnância. As vestes sagradas, as velas são ainda mantidas provisoriamente. Começa-se com o Intróito em alemão, depois o Kyrie, depois uma Oração cantada pelo celebrante, ainda voltado para o altar, não para o povo. Mas para a Epístola e para o Evangelho, cantados em alemão, se voltará para o povo, quando então todos cantam o Credo em língua vulgar (pág. 316).
O celebrante dirá uma paráfrase do Pater, uma exortação à Comunhão, depois vem a Consagração, que será cantada, em alemão, assim: “Na noite em que foi traído, Nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão, rendeu graças e o partiu e apresentou a seus discípulos e disse: Tomai e comei, isto é o meu Corpo que é dado por vós”. – HOC EST CORPUS MEUM QUOD PRO VOBIS TRADETUR; estas são as palavras exatas –. “Fazei isto todas as vezes que o fizerdes, em memória de mim. Do mesmo modo, Ele tomou também o cálice, após a Ceia e disse: Tomai e bebei dele todos, este é o cálice, um novo Testamento em meu Sangue, que é derramado por vós, para a remissão dos pecados”. Não disse PRO VOBIS ET PRO MULTIS, fez desaparecer as palavras PRO MULTIS e também MYSTERIUM FIDEI (pág. 317).
Mysterium fidei e pro multis desapareceram… “Que é derramado por vós, para a remissão dos pecados, fazei isso todas as vezes que beberdes esse cálice em memória de mim”. Essas palavras que Lutero dizia ser a consagração, portanto as palavras essenciais, correspondem exatamente às palavras do documento da Congregação do Culto. A única expressão a mais é pro multis, que restou no documento do Vaticano. Mas todas as palavras, assim como as que são ditas antes: “Na noite em que foi traído, Nosso Senhor tomou o pão”, essas palavras não são da forma; nunca a Igreja disse que as palavras que precedem a Consagração fazem parte da forma do Sacramento.
Depois da elevação, que Lutero conservou até 1542, vinha a Comunhão na mão. Uma última oração – a coleta – terminava a Missa como a Postcomunio dos católicos (págs. 317-318).
Evidentemente Lutero não aceitou o celibato e lutou contra os votos dos religiosos. Ele queria o fim desses costumes da Igreja. Mas, coisa bastante curiosa, ele sempre teve certo medo das reformas que ele tinha feito. Seus discípulos iam à vanguarda, mais depressa do que ele; ele sempre estava um pouco ansioso. Dizia a seus discípulos: “Eu condeno a nova prática de dar a Eucaristia de mão em mão, bem como o uso irrefletido da Comunhão sob as duas espécies”. Isso nos primeiros tempos, depois ele aceitou; mas logo de começo lhe parecia que essa Comunhão na mão não era boa coisa.
Depois de ter dito que a Confissão não era necessária, mesmo para aqueles que tinham pecados graves, hesitou e disse: “A Confissão é boa, mas se o Papa me pedir para me confessar, eu me recusarei a fazê-lo, eu não me quero confessar. Nem por isso eu aceito que alguém me proíba essa confissão secreta. Eu não a cederei nem por todos os tesouros da terra, porque eu sei o que ela já me proporcionou de força e de consolação…”
Lutero estava roído de remorsos, no entanto vivia devorado pela necessidade de fazer novidades, de mudar tudo, de ir contra o Papa, contra a Igreja Romana, contra o dogma. Por isso ele continuou sua reforma.
A reforma litúrgica atual se inspira na reforma de Lutero
É evidente que a reforma litúrgica atual se inspira na reforma de Lutero. Eu disse isso, em Roma, a muitos Cardeais: “Vossa nova Missa é a Missa de Lutero!” A isso me foi respondido: “Mas então ela é herética!” E eu respondi: “Não, ela não é herética, mas é ambígua, equívoca, pois um pode celebrá-la com a fé católica integral do Sacrifício, da Presença Real, da Transubstanciação e outro pode celebrá-la sem ter essa intenção e, nesse caso, a Missa não será mais válida. As palavras que ele pronuncia e os gestos que ele faz não o contradizem. Ela é equívoca, sim, equívoca. E certamente Lutero, durante muitos anos, a celebrou validamente, quando ele ainda não estava contra o Sacrifício, quando ele era ainda mais ou menos católico. Porém, mais tarde, quando ele recusou o Sacrifício, o Sacerdócio, a Presença Real, então sua Missa passou a não ter mais validade”.
Mas como uma Missa pode ser assim equívoca? É impossível fazer isso com o antigo rito, porque ele é claro, ele é claro. O Ofertório todo diz com clareza o que nós realizamos. O Ofertório é uma verdadeira definição do Sacrifício da Missa. Por isso é que Lutero era contra o Ofertório, porque ele era por demais claro, e foi por isso que ele fez aquelas mudanças no Cânon para não deixar perceber se é uma narração ou uma ação; mas nós, nós sabemos que a Consagração é uma ação sacrifical.
Eles sabem que em nossos antigos Missais, antes do Communicantes, está escrito infra actionem, pois não se trata de uma narração, nem de um memorial, uma simples recordação. É uma ação. Uma ação sacrifical.
Todas essas mudanças no novo rito são realmente perigosas
Todas essas mudanças no novo rito são realmente perigosas, porque, pouco a pouco, sobretudo para os padres novos, que não têm mais a idéia do Sacrifício, da Presença Real, da Transubstanciação, para os quais tudo isso não significa mais nada, esses padres novos perdem a intenção de fazer o que a Igreja faz, e não celebram mais missas válidas; não há mais a Presença Real.
Certamente os padres idosos, quando celebram conforme o novo rito, conservam ainda a fé de sempre. Celebraram a Missa no antigo rito, durante tantos anos, que conservam as mesmas intenções; então se pode crer que a Missa deles é válida. Mas na medida em que essas intenções se vão, desaparecem, nessa mesma medida as Missas deixarão de ser válidas.
Eles quiseram se aproximar dos protestantes, mas foram os católicos que se tornaram protestantes e não os protestantes que se tornaram católicos. Isso é evidente, ninguém pode dizer o contrário.
Quando cinco Cardeais e quinze Bispos compareceram ao “Concílio dos Jovens”, em Taizé, como esses jovens poderiam saber o que é catolicismo e o que é protestantismo? Alguns receberam a Comunhão das mãos dos protestantes, outros dos católicos.
Quando o Cardeal Willebrands esteve em Genebra, no Conselho Ecumênico das Igrejas, declarou: “Temos que reabilitar Lutero”. Ele o disse, como enviado da Santa Sé.
Vede a Confissão. Em que se transformou a Confissão, o Sacramento da Penitência, com essa absolvição coletiva? É acaso pastoral esse modo de dizer aos fiéis: “Nós demos a absolvição coletiva, os senhores podem comungar; quando tiverem oportunidade, se tiverem pecados graves, confessem-se no prazo de seis meses a um ano…” Quem pode dizer que esse modo de proceder é pastoral? Que idéia se poderá fazer do pecado grave?
E a Confirmação
O Sacramento da Confirmação também está numa situação idêntica. Realmente eu penso que as palavras do livro dos Sacramentos da Comissão do Arcebispo de Paris, que constituem a forma, tornam o Sacramento inválido. Por quê? Porque não há mais a significação do Sacramento na forma. O Bispo, quando confere o Sacramento da Confirmação, diz: “Signo te, signo Crucis et confirmo te Chrismate salutis, in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti” e “Confirmo te Chrismate salutis”. A Confirmação: “confirmo te.”
Agora estão dizendo: “Eu te assinalo com a Cruz e recebe o Espírito Santo”. É obrigatório esclarecer qual a graça especial do Sacramento, no qual se confere o Espírito Santo. Se não se diz esta palavra: “Ego te confirmo in nomine Patris…” Não há o Sacramento! Eu o disse também aos Cardeais, porque eles me declararam: “O senhor confere a Confirmação sem ter o direito de o fazer”. – “Eu o faço, porque os fiéis têm medo que seus filhos fiquem sem a graça da Confirmação, porque eles têm dúvida a respeito da validade do Sacramento, que é conferido atualmente nas igrejas. Não se sabe mais se é verdadeiramente um Sacramento ou não. Então, ao menos para ter essa certeza de ter realmente a graça, me pedem para crismar, e eu o faço porque me parece que eu não posso recusar aos que me pedem a Confirmação válida, pois ao menos eles recebem a graça, mesmo que não seja lícito, porque nós estamos num tempo em que o direito divino natural e sobrenatural passa à frente do direito positivo eclesiástico, já que este se lhe opõe, em vez de lhe servir de canal”.
Estamos em uma crise extraordinária
Nós não podemos seguir essas reformas. Onde estão os frutos dessas reformas? Eu, de fato, me pergunto! Reforma litúrgica, reforma dos seminários, reforma das congregações religiosas, todos esses capítulos gerais! Onde eles estão colocando essas pobres congregações atualmente? Tudo se acabando…! Não há mais noviços, não há mais vocações…!
Eles próprios reconhecem que não há mais vocações. O Cardeal Arcebispo de Cincinatti o reconheceu também no Sínodo dos Bispos, em Roma: “Em nossos países (ele representava todos os países de língua inglesa), não há mais vocações, porque não sabem mais o que é o padre”.
Nós devemos nos conservar na Tradição. Só a Tradição nos concede realmente a graça, nos proporciona realmente a continuidade na Igreja. Se abandonarmos a Tradição, passaremos a contribuir para a demolição da Igreja.
O liberalismo penetrou na Igreja através do concílio
Também isso eu disse àqueles Cardeais! “Não vedes que o Esquema da Liberdade Religiosa do Concílio é um esquema contraditório? Na primeira parte do Esquema está dito: ‘Nada muda na Tradição’, e, dentro do Esquema, está tudo ao contrário da Tradição. O contrário do que disseram Gregório XVI, Pio IX e Leão XIII”.
Portanto é preciso escolher! Ou estamos de acordo com a liberdade religiosa do Concílio e então somos contrários ao que esses Papas disseram, ou então nos conservamos de acordo com esses Papas e nos recusamos a concordar com o que está contido no Esquema sobre a Liberdade Religiosa. É impossível estar de acordo com os dois. E acrescentei: eu me atenho à tradição, eu sou pela tradição, e não por essas novidades que constituem o liberalismo. Não é absolutamente outra coisa senão o liberalismo, que foi condenado por todos os pontífices, durante século e meio.
Esse liberalismo penetrou na igreja através do concílio: a liberdade, a igualdade, a fraternidade.
A liberdade: a liberdade religiosa.
A fraternidade: o ecumenismo.
A igualdade: a colegialidade.
E estes são os três princípios do liberalismo, originado dos filósofos do século XVIII, e que levou a efeito a revolução francesa.
Foram essas idéias que entraram no concílio, por meio de palavras equívocas.
E agora vamos à ruína, a ruína da Igreja, porque essas idéias são absolutamente contra a natureza e contra a fé. Não existe igualdade entre nós. Não existe verdadeira igualdade. O papa Leão XIII disse isso bastante claro, em sua encíclica sobre a liberdade.
A fraternidade também! Se não houver um pai, como acharemos fraternidade? Se não há pai, se não há deus, como podemos ser irmãos? Como se pode ser irmão, se não houver um pai comum? Impossível! Devemos então abraçar todos os inimigos da igreja, os comunistas, os budistas e todos os outros que são contra a igreja, os Maçons?
Esse decreto de uma semana atrás, que diz que agora não há mais excomunhão para um católico que entre na maçonaria. Mas onde está a igreja? Isso é impossível! Os Mações são os inimigos tradicionais da igreja, são aqueles que querem destruir os países católicos! Quem destruiu Portugal? Quem estava no Chile? E agora no Vietnam do sul! Porque esses países são católicos! E que será da Espanha dentro de um ano, da Itália etc…? Por que a Igreja abre os braços a toda essa gente que são seus inimigos?
Temos que rezar
Na verdade temos que rezar, rezar; é um assalto do demônio contra a Igreja, como jamais se viu igual. Devemos rezar a Nossa Senhora, a Bem-Aventurada Virgem Maria, para que Ela venha em nosso socorro, porque realmente nós não sabemos o que será de amanhã. E realmente parece que toda essa ruína trará conseqüências terríveis ao mundo. É impossível que Deus aceite todas essas blasfêmias, sacrilégios que são praticados contra Sua Glória, Sua Majestade!
Ele tem muita paciência, mas virá o dia (quando virá, eu não sei), virá o dia do castigo, porque todas essa legalizações, leis sobre o aborto, que vemos em tantos países, o divórcio na Itália, toda essa ruína da lei moral, ruína da verdade, realmente é difícil acreditar que tudo isso se possa fazer, sem que Deus fale um dia!
Então temos que pedir a Deus misericórdia por nós e por nossos irmãos. Mas também temos que lutar, combater. Combater para conservar a Tradição e não ter medo. Conservar, acima de tudo, o rito de nossa Santa Missa, porque Ela é o fundamento da Igreja e da civilização cristã. Quando não houver mais uma verdadeira Missa na Igreja, a Igreja acabará.
Temos que conservar esse rito, esse Sacrifício
Portanto temos que conservar esse rito, esse Sacrifício. Todas as nossas igrejas foram construídas para esta Missa, não para uma outra Missa; para o Sacrifício da Missa, não para uma Ceia, para uma Refeição, para um Memorial, para uma Comunhão, não! Para o Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, que continua sobre nossos altares! Foi por isso que nossos pais construíram essas belas igrejas, não para uma Ceia, não para um Memorial, não!
Conto com vossas orações por meus seminaristas, para fazer de meus seminaristas verdadeiros padres, que tenham fé e que possam, assim, ministrar sacramentos verdadeiros e o verdadeiro Sacrifício da Missa. Obrigado.”
(Arcebispo Marcel Lefebvre, La Messe de Luther)
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terça-feira, 14 de dezembro de 2010
A Nova Missa e a Missa de Lutero (I)
“Esta noite, falarei da Missa de Lutero e da Missa do novo rito. Por que essa comparação entre a Nova Missa e a Missa de Lutero? Porque a história o diz; a história objetiva não é criação minha. (Sua Excia. mostra então um livro sobre Lutero, publicado em 1911, “Do Luteranismo ao Protestantismo” de Léon Cristiani). Ele fala sobre a reforma litúrgica de Lutero. Trata-se de um livro escrito em um tempo, em que o autor nem conhecia nossa crise, nem o novo rito; portanto não foi escrito com segundas intenções.
Síntese dos princípios fundamentais da Missa
Primeiramente desejo fazer uma síntese dos princípios fundamentais da Missa, para trazer à nossa memória a beleza, a profunda grandeza espiritual de nossa Missa, o lugar que nossa Missa ocupa na Santa Igreja. Que coisa mais bela Nosso Senhor legou à humanidade, que coisa mais preciosa, mais santa concedeu à Sua Santa Igreja, à Igreja sua Esposa, no Calvário, quando morria na Cruz? Foi o Sacrifício de si mesmo.
O Sacrifício de si mesmo. Sua própria Pessoa, que continua seu Sacrifício. Ele o deu à Igreja, quando morreu na Cruz. A partir desse momento, esse Sacrifício estava destinado a continuar, a perseverar através dos séculos, como Ele o havia instituído, juntamente com o Sacerdócio.
Quando na Santa Ceia, Jesus instituiu o Sacerdócio, Ele o instituiu para o Sacrifício, o Sacrifício da Cruz, porque esse Sacrifício é a fonte de todos os méritos, de todas as graças, de todos os Sacramentos; a fonte de toda a riqueza da Igreja. Isso devemos recordar, ter sempre presente essa realidade, divina realidade.
Portanto, é o Sacrifício da Cruz que se renova sobre nossos altares, e o Sacerdócio está em relação com ele, em relação essencial com esse Sacrifício. Não se compreende o Sacerdócio sem o Sacrifício, porque o Sacerdócio foi feito para o Sacrifício. Poder-se-ia dizer também: é a Encarnação de Jesus Cristo, séculos afora: “usque ad finem temporum”, o Sacrifício da Missa será oferecido.
Se Jesus Cristo quis esse Sacrifício, quis também ser nele a vítima, uma vez que é o Sacrifício da Cruz que continua, Ele quis que a vítima fosse sempre a mesma, quis ser Ele próprio a vítima. Para ser a vítima, Ele tem que estar presente, verdadeiramente presente nos nossos altares. Se Ele não estiver presente, se não houver a Presença Real nos nossos altares, não haverá vítima, não haverá Sacerdócio. Tudo está ligado: Sacerdócio, Sacrifício, Vítima, Presença Real, portanto transubstanciação.
Aí está “o coração” do tesouro – o maior, o mais rico – que Nosso Senhor concedeu à Sua Esposa, a Igreja e a toda a humanidade. Assim podemos compreender que, quando Lutero quis transformar, mudar esses princípios, começou por combater o Sacerdócio; como o fazem os modernistas. Pois Lutero bem sabia que se o Sacerdócio desaparecesse, não mais haveria Sacrifício, não mais haveria Vítima, não haveria mais nada na Igreja, não mais haveria a fonte das graças.
Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio?
Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio? Dizendo: “Não existe diferença entre padres e leigos. O Sacerdócio é universal”. Tais eram as idéias que ele propagava. Ele dizia que há três muros de defesa cercando a Igreja. O primeiro muro é essa diferença entre padres e leigos. (Sua Excia. então lê): “A descoberta de que o Papa, os bispos, os padres, os religiosos compõem o Estado Eclesiástico, ao passo que os príncipes, os senhores, os artesãos, os camponeses formam o estado secular, é pura invenção, uma mentira”. Essa diferença entre padres e leigos é então uma invenção, uma mentira. Eis o que diz Lutero: “Na realidade, todos os cristãos pertencem ao estado eclesiástico”. Não há diferença, a não ser a diferença de funções, de serviço. Todos têm o Sacerdócio a partir do Batismo; têm-no em razão do caráter batismal, todos os cristãos são padres e os padres não têm um caráter especial, não há um sacramento especial para os padres, mas seu caráter sacerdotal lhes vem do caráter do Batismo. Assim também se explica esta laicização dos padres; eles não querem mais ter uma veste particular, não querem mais se distinguir dos fiéis, porque todos são padres; e são os fiéis que devem escolher os padres, eleger os seus padres.
Tais foram os princípios de Lutero, que prossegue: “Se um Papa ou um Bispo confere a unção, faz tonsuras, ordena, consagra ou dá uma veste diferente aos leigos ou aos padres, está criando enganadores”. Todos são consagrados padres, a partir do Batismo. Os progressistas do nosso tempo não descobriram novidades.
Há um novo livro sobre os Sacramentos, aparecido em janeiro deste ano em Paris, sob a autoridade do Arcebispo, o Cardeal Marty. Saiu há pouco. Seus autores descobriram oito sacramentos, não mais sete, porque o oitavo sacramento é a profissão religiosa. Eles dizem claramente, nesse livro, que todos os fiéis são padres e que o caráter sacerdotal vem do caráter do Batismo. Os autores, por certo, devem ter lido Lutero, transformado para eles em Padre da Igreja.
Lutero não acreditou mais na Transubstanciação, nem no Sacrifício
Lutero deu também outro passo à frente, após a supressão do Sacerdócio. Ele não acreditou mais na Transubstanciação, nem no Sacrifício. E disse claramente que a Missa não é um Sacrifício. A Missa é uma Comunhão. Podemos então chamar a Missa de Comunhão, Ceia, Eucaristia, tudo, menos Sacrifício. Não há, portanto, Vítima, nem Presença Real, mas apenas uma presença espiritual, uma recordação ou comunhão. Foi por isso que Lutero sempre combateu as Missas privadas; foi uma das primeiras coisas feitas por ele, porque uma Missa privada não é uma Comunhão. É preciso que os fiéis comunguem. A Missa privada, então, não está conforme a verdade, é preciso suprimir todas as Missas privadas.
Ele chamava a Eucaristia de “Sacramento do Pão”. A Eucaristia (dizia ele) tornou-se uma lamentável maldade. Essa “maldade” da Missa provém de terem feito dela um Sacrifício. Somos forçados a constatar que não se fala mais de Sacrifício da Missa nos boletins diocesanos ou paroquiais, mas de Eucaristia, de Comunhão, de Ceia. Que singular semelhança com as teses de Lutero!
Lutero faz ainda uma distinção entre os fins do Sacrifício da Missa
Além disso, Lutero faz ainda uma distinção entre os fins do Sacrifício da Missa. Ele diz que um dos fins do Sacrifício da Missa é render graças a Deus. A Eucaristia é um sacrificium laudis, mas não um sacrificium expiationis, não um Sacrifício de expiação, mas de louvor, de eucaristia. Por isso é que se certos protestantes ainda falam de Sacrifício, nunca o é no sentido de sacrifício expiatório, que remite os pecados. No entanto se trata de um dos principais fins do Sacrifício da Missa, a remissão dos pecados.
Por isso é que os protestantes modernos aceitam o novo rito da Missa, porque, dizem eles (isso saiu publicado em uma revista da Diocese de Estrasburgo, noticiando uma reunião de protestantes da Confissão de Augsburgo), agora, com o novo rito, é possível rezar com os católicos. (L’Eglise en Alsace de 8-12-1973 e 1-1-1974). “De fato, com as atuais formas de celebração eucarística da Igreja Católica, e com as presentes convergências teológicas, muitos obstáculos que podiam impedir que um protestante participasse da celebração eucarística estão desaparecendo e agora vai se tornando possível reconhecer, na celebração eucarística católica, a Ceia instituída pelo Senhor. Temos à disposição novas orações eucarísticas, que têm a vantagem de apresentar variações à Teologia do Sacrifício”. Isso é evidente! Há duas semanas atrás, estando eu na Inglaterra, soube que um bispo anglicano adotou, ultimamente, o novo rito católico para toda a sua diocese. E declarou: “Este novo rito é muito conforme com as nossas idéias protestantes.” É pois evidente que para os protestantes, não há mais dificuldades para admitir o novo rito. Por que eles não tomam o antigo rito? Foi o que o Senhor Salleron perguntou aos padres de Taizé: “Por que dizeis que hoje podeis admitir este novo rito e não o antigo?”
Portanto há uma diferença entre o novo e o antigo e esta diferença é essencial; não é uma diferença acidental, porque eles não aceitam usar o antigo rito, com todas as orações dotadas de precisão e que esclarecem realmente a finalidade do Sacrifício: propiciatório, expiatório, eucarístico e latrêutico. Esta é a finalidade do Sacrifício da Missa católica que, claro no antigo rito, não o é mais no novo rito, porque não há mais Ofertório. E é também por isso que Lutero não quis Ofertório no rito dele.
Como Lutero inaugurou sua nova Missa
Vejamos como Lutero inaugurou sua nova Missa, sua reforma. A primeira missa evangélica foi levada a efeito na noite de 24 para 25 de dezembro de 1521. Nessa primeira missa evangélica, depois da pregação sobre a Eucaristia, eles falaram sobre a Comunhão sob as duas espécies como obrigatória e sobre a Confissão como inútil, bastando a fé. A seguir, Karlstadt, seu discípulo, apresentou-se no altar, com vestes seculares, recitou o Confiteor, começou a Missa como era antes, mas somente até o Evangelho; o Ofertório e a Elevação foram supressos (pág. 282), o que quer dizer que tudo o que significava idéia de Sacrifício foi retirado. Após a Consagração veio a Comunhão e muitos assistentes haviam bebido e comido, e até, tomado aguardente, antes de comungar; comungaram sob as duas espécies e o pão consagrado, (dado) nas mãos. Uma das hóstias escapole e cai em cima da roupa de um assistente. Um padre a recolhe. Uma outra cai no chão e Karlstadt diz aos leigos para apanhá-la; e como eles se recusam, por respeito ou temor, ele declara: “Que ela permaneça onde está, pouco importa, contanto que não se pise em cima”. Pouco depois ele próprio a apanhou (pág. 282). Muitos leigos, inúmeras pessoas estavam contentes com a novidade e eram muitos os que vinham assistir a essa nova Missa evangélica, porque uma parte era dita em língua alemã, e eles diziam que compreendiam melhor. Então os mosteiros começaram a se esvaziar. Lutero tinha declarado: “Eu conservarei o meu hábito, meu modo de me apresentar como monge”, mas muitos monges saíram; alguns ficaram nos mosteiros, mas a maioria se casou. Reinava grande anarquia entre os padres. Cada um celebrava sua missa como queria. O Conselho não sabia mais o que fazer (pág. 285), tomando então a resolução de fixar uma nova liturgia, de não mais deixar a liberdade e de pôr um pouco de ordem. A maneira de celebrar a Missa deveria ser então a seguinte: Intróito, Glória, Epístola, Evangelho, Sanctus. Depois havia uma pregação; Ofertório e Cânon ficavam supressos; o padre então pronunciava a instituição da Ceia, que ele proferia, em voz alta, em alemão e distribuía a Comunhão sob as duas espécies. Depois vinha o Agnus Dei e o Benedicamus Domino, para terminar.
As modificações da Consagração introduzidas no Novus Ordo são semelhantes às que foram introduzidas por Lutero; as palavras essenciais da Consagração não são mais unicamente as palavras da forma, tais como sempre tinham sido conhecidas: “HOC EST CORPUS MEUM. HIC EST CALIX SANGUINIS MEI,” e as palavras que lhe seguem. Não! A partir de então, as palavras essenciais começam nos seguintes termos: “Ele tomou o pão”, até as palavras após a consagração do vinho: “HOC FACITE IN MEAM COMMEMORATIONEM”. Lutero disse a mesma coisa. Por quê? Porque se lê a narrativa da Ceia. “É uma narrativa, não uma ação, não um Sacrifício, não uma ação sacrifical, mas um simples memorial”. Por qual razão nossos inovadores o copiaram de Lutero?
Lutero diz também: “As Missas e as Vigílias estão encerradas. O Ofício será conservado, assim como as Matinas, as Horas menores, as Vésperas, Completas, mas somente o Ofício ferial. Não se comemorará mais santo algum que não esteja expressamente nomeado na Escritura”. Desse modo, ele mudou completamente o Calendário, exatamente como foi feito atualmente (pág. 309).
Donde podemos concluir: A atual transformação é idêntica à de Lutero. Um último exemplo, o das palavras da Consagração do pão: “HOC EST CORPUS MEUM, QUOD PRO VOBIS TRADETUR”. Também Lutero acrescentou essas últimas palavras, porque justamente são palavras da Ceia, pois ele pretendia que a Ceia não fosse um Sacrifício, mas uma refeição.
Ora, o Concílio de Trento diz explicitamente: Quem disser que a Ceia não é um Sacrifício seja anátema. A Ceia foi um Sacrifício. E nossa Missa é a continuação da Ceia, porque a Ceia foi um Sacrifício. Isso já se constata na separação prévia do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. O Sacrifício já estava significado por essa separação, no entanto Lutero afirma: “Não. A Ceia não é um Sacrifício”, é por isso que nós devemos repetir todas as palavras que Nosso Senhor disse na Ceia, ou seja: “HOC EST CORPUS MEUM QUOD PRO VOBIS TRADETUR”, que será entregue por vós sobre a Cruz.
Por que imitar tão servilmente Lutero na Nova Missa?
A única razão que se pode aduzir é a do Ecumenismo. Pois sem esse motivo, nada se pode compreender dessa reforma. Ela não tem absolutamente vantagem alguma, nem teológica, nem pastoral. Nenhuma vantagem a não ser a de nos aproximar dos protestantes. Podemos legitimamente pensar que foi por isso que os protestantes foram convidados para a Comissão da Reforma Litúrgica; para ficarmos sabendo se estavam satisfeitos ou não, ou se havia alguma coisa que lhes não agradava, se eles podiam ou não rezar conosco. Eu penso que não pode existir outro motivo para esta presença dos protestantes na Comissão de reforma da Missa. Mas como podemos pensar que protestantes, que não têm nossa fé, possam ser convidados para uma Comissão destinada a fazer uma reforma de nossa Missa, de nosso Sacrifício, daquilo que temos de mais belo, de mais rico em toda a Igreja, o objeto mais perfeito de nossa fé?!
Lutero, em janeiro de 1526, promoveu a impressão de um novo ritual para as cerimônias da Missa. No seu pensamento, ele queria a liberdade total. E dizia (pág. 314): “Se possível, eu gostaria de dar total liberdade aos padres, para fazerem o rito que quiserem; mas há o perigo de abusos, então é preciso estabelecer regras”. Seu pensamento, porém, era de liberdade total. E também de igualdade entre os padres e os fiéis. E assim, todos os fiéis sendo padres, poderiam, também eles, ter idéias de como criar o culto. Então, todos juntos, aqueles que são padres, aqueles que têm uma função especial, aqueles que são escolhidos dentre os fiéis, todos juntos podem demonstrar sua criatividade no culto.
Mas como era um pouco difícil, acabaria havendo bastante desordem, então ele escreveu um ritual. Nessa ocasião ele dizia também: “O uso do latim é facultativo”. Ele não era absolutamente contra o latim. Queria até que as crianças aprendessem latim. Mas também dizia: “O desejo dos leigos comuns de ter uma Missa em alemão é perfeitamente legítimo. Contudo há pessoas que vão à Igreja para ver novidade, para ver coisas novas. Esses, no entanto, não são verdadeiros cristãos, são curiosos, como se fossem aos turcos ou aos pagãos”.”
(Arcebispo Marcel Lefebvre, La Messe de Luther)
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sábado, 11 de dezembro de 2010
Uma análise do conceito de autoridade política mundial na Encíclica Caritas in Veritate
“Ao final de seus Exercícios Espirituais, na Primeira regra “para sentir exatamente o que devemos na Igreja militante”, diz Santo Inácio de Loiola: “Deposto todo e qualquer juízo [próprio], devemos ter o espírito preparado e pronto para obedecer em tudo à verdadeira Esposa de Cristo Nosso Senhor, que é a nossa Santa Madre, a Igreja Hierárquica [ou seja, o Papa e sob ele a universalidade dos Bispos].” E na Décima terceira regra: “Para que em todas as coisas cheguemos à verdade, devemos manter [o princípio] de crer que o branco que eu vejo é preto, se a Igreja Hierárquica assim o determinar, crendo que entre Cristo Nosso Senhor, Esposo, e a Igreja, sua Esposa, não há mais que um mesmo espírito, que nos governa e rege para a salvação de nossa alma, porque Nossa Santa Madre Igreja é governada pelo mesmo Espírito e Senhor nosso que deu os Dez Mandamentos.”
E o que diz aí Santo Inácio é absolutamente de fé; negá-lo é pecar contra a fé. Há porém dois pressupostos para que assim seja: 1) o de que o declarado pela Hierarquia diga respeito a fé e costumes (donde a referência a cores por Santo Inácio ter caráter meramente metafórico); b) o de que a Hierarquia queira, no que declara, imperar e impor doutrina, querer este que basta, de per si, para a assistência infalível do Espírito Santo. (Quanto aos graus de infalibilidade das declarações papais, e a todos os demais assuntos relacionados a este tema, cf. A Candeia Debaixo do Alqueire, do Padre Calderón.) Ora, o que caracteriza a Hierarquia desde o Concílio Vaticano II é precisamente o fato de que, em vez de impor doutrina do alto de sua autoridade, depõe essa autoridade, reduzindo a sua própria função a mero papel de coordenação “democrática” do debate proposto pelos teólogos e de um suposto sensus fidei “infalível” do conjunto dos fiéis.
Tudo isso tem uma base filosófica: a crença de fundo hegeliano ou nominalista de que ou a verdade é mutável, ou não é alcançável por nossa inteligência, ou não se pode traduzir na “pobre” linguagem humana. E, se vários são os corolários de tal modo de pensar, dois deles nos interessam particularmente aqui: primeiro, a descrença na fixidez dos dogmas; segundo, a redução da religião a mera “experiência” (nunca muito bem definida, por impossível, diga-se). Por esses corolários é que o Concílio Vaticano se disse pastoral e não dogmático; por esses corolários é que todas as declarações e documentos conciliares e pós-conciliares são como sugestões para debate, porque neles nunca se dá a vontade de imperar nem, pois, se empenha ou compromete a infalibilidade papal, que tem justamente aquela vontade por pressuposto.
E não confundamos a autoridade fundada na Verdade com a autoridade fundada na mera jurisdição: aquela é simpliciter efetiva; esta é maquiavélica no sentido preciso do termo. Ora, se em geral as leis iníquas, que parecem não ser leis (“Lex esse non videtur, quae iusta non fuerit” – Santo Agostinho, Sobre o Livre-arbítrio, L. I, c. 5, n. 11), por isso mesmo não obrigam no foro da consciência (“… tales leges no obligant in foro conscientiae” – Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, I-II, q. 96, a. 5, corpus), o que dizer das leis disciplinares fundadas na negação de uma das verdades católicas centrais, qual seja, a de que a doutrina da Igreja não pode mudar porque é imutável como o seu próprio autor, Deus mesmo? Com efeito, diz o Concílio Vaticano I: “O Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para que, com sua assistência, promulgassem uma nova doutrina, e sim para que, com sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos Apóstolos, ou seja, o depósito da fé” (Constituição Dogmática Pastor Aeternus, cap. 4). Por que o disse esta Constituição? Por que dissera São Paulo aos Gálatas (I, 9): “Ainda que nós mesmos, ou um anjo do Céu, vos pregue um evangelho diferente do que nós vos anunciamos, seja anátema.”
Por tudo isso, portanto, é que os católicos não devemos ao magistério fundado no Concílio Vaticano II (e em seus pressupostos filosóficos) a obediência que Santo Inácio propugnava; e isto vale, naturalmente, para a última encíclica do Papa Bento XVI, Caridade na Verdade. Posto, pois, este preâmbulo, podemos passar agora ao que me faz escrever este breve artigo: a atitude de avestruz de alguns católicos conservadores diante do óbvio, isto é, o não querer ver o que na referida encíclica é perfeitamente branco e nada preto. Ou vice-versa.
Tal atitude está perfeitamente resumida, e defendida, no editorial de John-Henry Westen, “Pope’s New Encyclical Speaks Against, not for One-World Government and New World Order”, para a edição de 8/7/2009 do LifeSiteNews.com. Com inequívoca intenção, escreve-se ali que “Jornais, blogs, programas de rádio e de televisão estão cheios de discussões acerca do suposto convite do Papa Bento XVI a uma ‘nova ordem mundial’ ou um ‘governo mundial’. Estas idéias, no entanto”, prossegue o editorialista, “não se baseiam na realidade nem numa leitura clara da última encíclica do Papa, Caritas in Veritate, cuja publicação [...] provocou a inflamada discussão”.
Deixo de lado muitos detalhes do editorial, e volto-me para a sua afirmação central: “O Papa, na verdade, fala diretamente contra um governo mundial e [...] convida a uma maciça reforma das Nações Unidas”; e “no parágrafo 41 [...] diferencia especificamente seu [grifo nosso] conceito de autoridade política mundial [world political authority] do de governo mundial [one-world government]”. Concedo perfeitamente que o Papa faça a referida diferenciação e que diga o que diz John-Henry Westen em seu editorial; o que porém nenhum católico deveria conceder é que esse conceito de autoridade política mundial seja católico, ainda que em tal conceito se trate, como diz o mesmo editorialista, de uma autoridade mundial “difusa”. (O que significa exatamente uma “autoridade difusa”, isso me parece muito difícil dizer.)
Com efeito, o não-católico de tal conceito reside precisamente em que, para a imutável doutrina da Igreja, todo e qualquer poder político deve ordenar-se essencialmente ao fim último do homem, Deus mesmo, e pois ao poder espiritual por Ele mesmo instituído na terra, a Igreja – seja o poder político local ou imperial. Defender qualquer world political authority sem essa ordenação é gravíssimo, enquanto não o seria (falo hipoteticamente) defender um one-world government ordenado à Igreja. Sim, porque o poder temporal se ordena ao espiritual assim como o corpo humano se ordena à sua alma. Mais que isso, porém, e quem o diz é o Papa Bonifácio VIII na Bula Unam Sanctam, de 18/11/1302: como se ensina nos Evangelhos [Lucas, XXII, 38, e Mateus, XXVI, 52], estão em poder da Igreja duas espadas (ou gládios), “a espada espiritual e a espada temporal. Mas esta última deve ser usada para a Igreja, enquanto a primeira deve ser usada pela Igreja. A espiritual deve ser manejada pela mão do sacerdote; a temporal, pela mão dos reis e soldados, mas segundo o império e a tolerância do sacerdote. Uma espada deve estar sob a outra espada, e a autoridade temporal deve ser submissa ao poder espiritual” (grifos nossos; “… spiritualis scilicet gladius et materialis. Sed is quidem pro ecclesia, ille vero ab ecclesia exercendus. Ille sacerdotis, is manu regum et militum, sed ad nutum et patientiam sacerdotis. Oportet autem gladium esse sub gladio, et temporalem auctoritatem spirituali subiici potestati”). E, justamente porque as coisas espirituais sobrepujam as temporais e, em conseqüência, o poder espiritual supera em dignidade e nobreza qualquer espécie de poder terrestre, é que, “como atesta a verdade, o poder espiritual pode instituir o poder terrestre, e julgá-lo, se este não for bom” (ibid.; “… veritate testante, spiritualis potestas terrenam potestatem instituere habet, et iudicare, si bona non fuerit”).
Poderia citar outros documentos do magistério infalível da Igreja, como a carta magna da Cristandade que é a Quas primas de Pio XI, para corroborar o que aqui se diz da Encíclica Caritas in Veritate. Mas bastará confrontar o que se acaba de ler de Bonifácio VIII com o que diz o mesmo John-Henry Westen no último parágrafo de seu editorial. Com efeito, lê-se aí: “Qualquer visão de uma adequada ordenação do mundo, da cooperação econômica ou política internacional, sugere o Papa, deve basear-se numa ‘ordem moral’. Isso inclui, em primeiro lugar e principalmente, ‘o direito fundamental à vida’ [...], o reconhecimento da família baseada no casamento entre um homem e uma mulher como base da sociedade, a liberdade religiosa e a cooperação entre todas as pessoas com base nos princípios da lei natural.”
Atentemos para as principais insuficiências (do ângulo da doutrina infalível da Igreja, obviamente) e contradições do texto, que porém reflete fielmente o pensamento do Papa expresso em Caritas in Veritate:
a) A ordenação do mundo (e dos Estados que o compõem) deve, sim, basear-se numa “ordem moral”, mas não tendo por fim uma melhor cooperação política e econômica internacional, porque, como diz Santo Tomás de Aquino em De Regno, “é necessário que o fim da multidão humana, que é o mesmo do indivíduo, não seja viver segundo a virtude, mas antes, mediante uma vida virtuosa, alcançar a fruição divina”. De fato, assim como não importa salvar a vida se com isso se perde a alma, assim também, analogamente, não importa melhorar a economia e as relações políticas internacionais se com isso, por não se fazer em ordem a Deus, se perdem bilhões de almas mundo afora. Mais ainda e acima de tudo: se com isso não se presta a devida glória a Deus, mas antes fica ela ofendida.
b) Além do mais, como é possível dizer que “o casamento entre um homem e uma mulher” (grifo nosso) deve ser “a base da sociedade” e propor, ao mesmo tempo, a “liberdade religiosa”? Sim, porque ou não se vai dar liberdade ao islamismo, ou se terá de aceitar o casamento entre um homem e muitas mulheres…
c) Além do mais, a defesa da “liberdade religiosa”, como tantos e tantos autores já o demonstraram à exaustão, contraria as Sagradas Escrituras, o Traditum, o magistério infalível da Igreja… e o simples bom senso, como aliás acabamos de ver pelo único exemplo do item anterior.
d) Além do mais, e por fim, como sustentar uma “cooperação entre todas as pessoas [ou seja, independentemente de religião] com base nos princípios da lei natural” se o primeiro e supremo mandamento da lei natural é amar a Deus acima de todas as coisas e não adorar falsos deuses ou ídolos, e se Cristo mesmo nos veio dizer que Deus é trino? Como poderão cumprir tal mandamento os ateus e os membros de quaisquer religiões não-cristãs? Não só isso, porém: se, como sabemos, a Igreja Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana é de instituição divina, e é a única que pode dirigir os indivíduos a uma vida virtuosa segundo a lei natural para que, mediante ela, alcancem a fruição divina, como crer que os heréticos e os cismáticos possam “cooperar” com tal direção única? Autoriza-nos a ter tais “esperanças” a História? Como no-las autorizaria, se, se excetuam os cerca de mil anos que vão de Constantino a Bonifácio VIII, toda a História depois de Cristo não passa de um longo cortejo de perseguições à Esposa de Nosso Senhor?
Verdadeiramente, a paz e a cooperação internacionais ou se darão sob a direção do Vigário de Cristo, ou não se darão. Ou se darão sob as bandeiras da Realeza de Nosso Senhor, ou não se darão. E, como se lê no Catecismo da Realeza Social de Jesus Cristo, do Padre A. Philippe, C.SS.R., ainda que tudo no mundo indique a impossibilidade aparente dessa Realeza, devemos defendê-la até a morte – não seja que, de tanto a omitirmos, acabemos nós mesmos por negá-la.
Em tempo: Dizia o Padre Pio de Pietrelcina: “Afasta-te do mundo. Escuta-me: um se afoga em alto-mar, outro se afoga num copo d’água. Que diferença há entre um e outro? Não estão mortos os dois?””
(Carlos Nougué, A Atitude do Avestruz)
http://www.santotomas.com.br/?p=404
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
O erro dos reformadores protestantes
“A doutrina bíblica e católica da justificação apresentada acima foi geralmente aceita por todos os cristãos durante 1.500 anos. Nos últimos séculos, contudo, um grave equívoco sobre essa doutrina foi a principal causa de trágicas divisões e da formação de centenas de pequenas comunidades eclesiais e denominações fora da Igreja de Jesus Cristo – a Igreja Católica. Alguns desses grupos militantemente atacam a Igreja Católica por sua supostamente “não-bíblica” doutrina da justificação.
Em vez de confiar em 1.500 anos de tradição cristã a fim de interpretar corretamente as epístolas de São Paulo (as quais, segundo a advertência de seu colega apóstolo Pedro, são às vezes “difíceis de entender” e podem ser perigosamente mal interpretadas – II Ped 3, 16), Lutero, Calvino e outros reformadores protestantes confiaram em suas próprias capacidades pessoais de interpretação bíblica e cometeram graves erros.
A Igreja Católica considera ser ensinamento da Bíblia que, tendo em vista a salvação eterna do cristão depender de sua perseverança tanto na fé como nas boas obras até o fim de sua vida, nenhum de nós pode estar completamente seguro de que irá eventualmente alcançar a felicidade eterna no Céu. Existe a possibilidade de que cairemos em pecado mortal e perderemos nossa alma para sempre. Assim, devemos permanecer “sóbrios mas vigilantes, porque vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (I Pe 5, 8). São Paulo aconselha contra a presunção: “Quem pensa estar de pé veja que não caia” (I Cor 10, 12) e deixa claro que ele mesmo tem que fazer esforços espirituais constantes: “para não ser excluído depois de eu ter pregado aos outros” (I Cor 9, 27). São Paulo também alerta explicitamente cada fiel contra o “juízo prematuro” a respeito de seu próprio status espiritual diante de Deus. E continua: “Por isso, não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece” (I Cor 4, 5). Os protestantes tendem a minimizar ou distorcer tais passagens, colocando uma ênfase seletiva sobre outras onde São Paulo mostra uma grande confiança em ganhar sua coroa de glória eterna (e.g., II Tim 4,8; Rom 8, 38-39). Uma avaliação equilibrada de todas as passagens relevantes traz à luz a doutrina católica: devemos ter esperança e confiança na graça e na misericórdia de Deus, que nos deseja salvar; mas ao mesmo tempo devemos evitar a presunção de antecipadamente afirmar a certeza absoluta de nossa própria salvação pessoal.
Lutero e Calvino achavam difícil de suportar esse elemento de incerteza quanto à sua própria salvação e imaginavam ter descoberto, no ensinamento de São Paulo sobre a “justificação pela fé sem as obras”, a promessa da certeza que tanto buscavam. Como já vimos, São Paulo queria apenas dizer que quando estamos em estado de pecado, nossas próprias obras jamais causarão nem merecerão que nos tornemos justificados. Mas os reformadores pensavam que ele também queria dizer que as boas obras jamais contribuem para que permaneçamos justificados e assim alcancemos a salvação eterna.
A maior parte dos grupelhos que mesmo nestes tempos ecumênicos continuam hostis à Igreja Católica tende a seguir o ensinamento de Calvino em vários aspectos: eles defendem que, uma vez “renascidos” ou convertidos ao estado de graça (justificação), é impossível decairmos dessa graça por nossos pecados e perdermos ao fim nossa salvação. Eles insistem no princípio “uma vez salvo, sempre salvo”. Os pregadores e membros dessas igrejas descrevem-se a si mesmos como “salvos” por sua “fé em Jesus como Salvador pessoal” e dizem-nos que estão absolutamente seguros de ir para o Céu quando morrerem.
Às vezes eles pensam assim porque acreditam que quaisquer pecados que cometam no futuro, não importa quão graves, serão simplesmente desprezados por Deus por causa de sua fé nos méritos salvíficos de Jesus. Em outras palavras, eles afirmam que, se mantivermos nossa confiança em Jesus como Salvador, não perderemos o favor e a graça de Deus ainda que cometamos um pecado mortal! Outros cristãos evangélicos, percebendo que esse ensinamento é manifestamente não-bíblico, consideram-se a si mesmos não mais capazes de cometer quaisquer pecados mortais. Tais pessoas gostam de citar Mateus 7, 18, onde Nosso Senhor ensina que “uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má bons frutos.” Eles deduzem daí que os fiéis cristãos autênticos – tais como eles mesmos – são simplesmente incapazes de produzir os “maus frutos” do mau comportamento. Eles se esquecem de que Jesus nunca deu qualquer garantia de que toda “árvore boa” iria sempre permanecer boa. Assim como as boas árvores podem eventualmente apodrecer e produzir maus frutos, os bons cristãos podem sucumbir à tentação e cometer pecados mortais. E ao fazê-lo, perdem a graça e põem suas almas em perigo. Os protestantes também gostam de citar as palavras de Jesus em João 5, 24: “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre na condenação, mas passou da morte para a vida.” A expressão “vida eterna” é usada aqui, como em algumas outras passagens, com o significado de “vida de Deus dentro de nós”, ou em outras palavras, o dom da graça santificante. A vida de Deus, da qual participamos pela graça, é obviamente eterna em si mesma; mas aqui Nosso Senhor não está dizendo que jamais poderemos nos separar dessa vida divina por nossos próprios pecados. Aqui está subentendido que nossa “não-incorrência na condenação” depende de permanecermos na graça que recebemos.
Uma suposta garantia de salvação instantânea e permanentemente segura pode parecer bastante atraente, e muitos católicos – principalmente os que põem a procura por uma “experiência” espiritual à frente da procura pela verdade doutrinal – deixaram-se seduzir e se afastaram da Igreja com essa promessa presunçosa e ilusória, especialmente porque os protestantes que ensinam essa falsa doutrina são em geral pessoas sinceras, devotas e zelosas. Mas na própria epístola aos Gálatas, um dos livros bíblicos favoritos dos protestantes, São Paulo contradiz a idéia deles de que uma vez justificados ou convertidos nós jamais poderemos decair da graça e terminar em danação eterna. O Apóstolo diz que os cristãos que insistem em reviver as práticas da circuncisão e de outras antigas leis rituais judaicas do Antigo Testamento, como se fossem necessárias para a salvação, “separaram-se de Cristo e decaíram da graça” (Gál 5, 2-4). Ele também insiste junto aos cristãos já convertidos para que “vivam de acordo com o Espírito” e evitem cair na imoralidade sexual, violência, inveja, bebedeira e outros pecados mortais. Paulo avisa-os de que “os que assim se comportam não herdarão o Reino de Deus” (Gál 5, 19-21). O sentido claro e natural de tal ensinamento paulino é a doutrina católica perene de que os fiéis cristãos podem realmente decair da graça e perder suas almas se não se mantiverem em alerta contra as artimanhas do Inimigo. Não admira que quinze séculos passassem sem que ninguém interpretasse os escritos de São Paulo segundo o entendimento protestante.”
(Rev. Brian Harrison, O. S, Faith, Works and Justification)
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domingo, 5 de dezembro de 2010
Francesco Petrarca: Soneto XXV
Esteja eu onde as ervas o sol corte,
E onde por neve o sol seja vencido,
E onde seja o seu carro amortecido,
Esteja a Leste, a Oeste, a Sul e a Norte;
Seja humilde ou soberba a minha sorte,
Seja severo o céu ou denegrido,
Seja o dia afinal breve ou comprido,
Seja eu moço ou esteja quase à morte.
No céu esteja ou na terra prendido
Ou pelo mar ou num vale palustre,
Seja eu corpo ou esprito esclarecido.
Seja obscuro meu nome ou seja ilustre,
Eu sempre viverei como hei vivido,
Com meu ardente suspirar trilustre.
Tradução de Jamil Almansur Haddad
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
A heresia donatista
“Se falamos em cisma a propósito do donatismo africano, não significa que, no fundo, não houvesse verdadeira heresia. O cisma nasceu por ocasião da eleição de Ceciliano para arcebispo de Cartago. Formou-se um partido contra ele. Pretenderam que sua consagração, pelo bispo Félix de Aptonge, era inválida. Dizia-se que Félix, nos tempos de perseguição, entregara os Livros Sagrados à polícia. O fato de ter sido traidor, como se dizia, lhe tiraria para sempre o poder de consagrar validamente. Essa teoria se aproxima um pouco da de São Cipriano, bispo de Cartago. Também ele afirmava, contra o sentir de Roma, que o batismo conferido por hereges era inválido. De fato, os adversários de Ceciliano invocaram a autoridade de Cipriano. Seu chefe era um tal Donato, bispo de Casa Negra, na África. Seu principal teólogo, outro Donato, a quem deram a alcunha de o Grande. Daí o nome de donatistas. Num país de paixões vivas, como a África, e em que eram muitos os descontentes com a dominação romana, foi fácil encontrar partidários. Os donatistas chegaram mesmo a ter tropas de choque, como diríamos hoje, em forma de grupos fantasiados, constituídos por homens que se chamavam a si mesmos de soldados de Cristo, mas que os católicos chamavam de circumcelliones ou vagabundos de palhoças.
Doutrinariamente, os donatistas, incluindo as variantes, professavam dois princípios igualmente heréticos: 1º) Os pecadores públicos e manifestos, notadamente os bispos e padres prevaricadores, não pertenciam mais à Igreja. 2º) Fora da verdadeira Igreja, todos os sacramentos eram inválidos.
Fato ainda mais grave, os donatistas queriam expulsar da Igreja não só os bispos e padres acusados de prevaricações, mas ainda todos os fiéis que continuavam em comunhão com eles. Acabavam considerando-se a única verdadeira Igreja! Todo o resto da Igreja, segundo eles, estava fora da verdade. Estavam bem longe do verdadeiro espírito de misericórdia que reina no Evangelho!
Heresia tão radical e perigosa seria vigorosamente combatida pelos católicos. De fato, o donatismo foi condenado nos concílios de Latrão, em Roma, em 313, depois no de Arles, em 314, presidido pelo imperador Constantino. Desde então, todos os imperadores – exceto Juliano, o Apóstata – foram adversários intransigentes do donatismo, mas não puderam erradicá-lo. Em favor da seita agiam razões políticas e um nacionalismo africano semelhante ao que vemos em nossos dias.
O grande adversário doutrinal do donatismo, no século V, foi Santo Agostinho, bispo de Hipona. Em 411, em Cartago, houve um grande concílio contraditório. Havia 286 bispos católicos africanos contra 279 donatistas. Em quase todas as localidades africanas, havia, portanto, dois bispos: um católico e um donatista. Graças à eloqüência e ciência bíblica de Agostinho, o concílio confundiu os cismáticos. O Estado tomou sérias medidas contra eles. As conversões se multiplicaram e, pouco a pouco, a heresia desapareceu.
Estas discussões, às vezes acaloradas, tiveram um bom resultado. Estabeleceu-se: 1º) que não se sai da Igreja pelo pecado, mesmo que seja mortal e público, mas somente pela apostasia da fé; 2º) que para a validade do sacramento, não se exige o estado de graça no ministro do sacramento.”
(Mons. Léon Cristiani, Brève Histoire des Hérésies)
Tradução de José Aleixo Dellagnelo
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