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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

O futuro retorno da monarquia

“Os estados modernos, que são monstruosidades burocráticas e jurídicas divorciadas de qualquer sabedoria filosófica, cada vez mais demonstram que terão de ser suplantados nas próximas décadas como uma condição de sobrevivência das nações ocidentais. Tecnocracias mal administradas por elites ridiculamente estúpidas que com desfaçatez inédita na história humana se propõem a regular cada detalhe da vida social e individual. Estes estados desfalecem diante de nossos olhos.
Instituições de princípios vazios de sentido, que não resistem a simples análises lógicas oferecem-nos um espetáculo exemplar de malignidades. Igualdade e liberdade, por exemplo, as palavras de ordem da modernidade, são termos contraditórios e não aplicáveis à realidade, destoantes da ordem natural. Conceitos que simplesmente não podem ser tomados como princípios, mas sendo, produzem a catástrofe política que é a República Liberal. Enquanto o igualitarismo é uma triste e destrutiva ficção, a liberdade como princípio imperante é um paradoxo, pois destrói as legítimas liberdades humanas ao destruir a ordem que as sustenta.
Eis que conceitos abstratos aplicados indefinidamente levam a contradições intermináveis. A profusão anárquica de nossos dias, os saques, a destruição das metrópoles, a decadência dos centros urbanos, o ataque às bases e símbolos da civilização, manifestações de barbarismo e bestialidade dos Antifa e da esquerda em geral e acima de tudo, a impotência das forças de ordem frente à ignorância dos líderes políticos; tudo isto é apenas uma parcela da camada visível da permanente crise revolucionária. Não é sintomático que a normalização da corrupção moral é justificada como liberdade e a decadência da cultura e da política são justificados pela igualdade?
Estes falsos deuses modernos cairão; eventualmente alguma das gerações vindouras irá derrubá-los e entronizar os verdadeiros princípios. Aquilo que Leão XIII chamou de "funestos erros" sairão de cena pela marcha das consciências restauradoras. Igualdade, democracia de massas, soberania popular, tudo isso está fadado à destruição. Será pelo caos revolucionário que leva ao totalitarismo ou pelo triunfo contra-revolucionário que trará a restauração. Nós que ainda temos bom-senso optamos pela Contra-Revolução.
Não é a Sexta República Brasileira que precisa cair. É a República Moderna, pseudo-religião naturalista e gnóstica que precisa morrer. E como diria um certo Nietzsche, só vencemos aquilo que substituímos, apenas o Império pode garantir a superação da hipermodernidade. A monarquia como regime apaziguador, unificador do povo, com autoridade e agilidade para exercer o legítimo papel do estado e limitado naquilo que a subsidiariedade ordena a grei. Regime forte e estável, irradiador de virtudes e inibidor de corrupções. Pronto para fazer da Nação uma potência próspera e espiritualmente vigorosa. Regime liderado por um elo real e concreto entre o passado, o presente e o futuro. Uma família educada desde a infância, conhecedora e amante da Nação, comprometida com esta.
E que Império poderá ser forte, sábio e capaz para lidar com a imundice pós-moderna? Lembremos novamente Leão XIII em sua Diuturnum Ilud:
"Quando a sociedade civil, surgida de entre as ruínas do Império Romano, se abriu de novo à esperança da grandeza cristã, os Romanos Pontífices consagraram de um modo singular o poder civil com o Imperium Sacrum."
Pois bem, a Monarquia não voltará como uma República coroada. Voltará sim, como parte de uma restauração superior, um reflexo da atuação de forças transcendentes na história. Nestes anos 20 haver-se-á de preparar e nas décadas seguintes a marcha celestial da cruzada contra a besta revolucionária ressoará triunfante. A restauração do que Leão XIII lembrava na Immortale Dei:
"Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados. Então o sacerdócio e o império estavam ligados em si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer.
Se a Europa cristã domou as nações bárbaras e as fez passar da ferocidade para a mansidão, da superstição para a verdade; se repeliu vitoriosamente as invasões muçulmanas, se guardou a supremacia da civilização, e se, em tudo que faz honra à humanidade, constantemente e em toda parte se mostrou guia e mestra; se brindou os povos com a verdadeira liberdade sob essas diversas formas, se sapientissimamente fundou uma multidão de obras para o alívio das misérias; é fora de toda dúvida que, assim, ela é grandemente devedora à religião, sob cuja inspiração e com cujo auxílio empreendeu e realizou tão grandes coisas."
E que não haja ilusões, o Imperium Sacrum voltará em meio a uma guerra. Terá de ser integralmente restaurador ou será abortado no princípio pelas elites luciferianas e seus asseclas idiotas úteis que hoje nos dominam e infestam a sociedade.
Joseph de Maistre em sua refutação a Rousseau já antevia: "Cabe aos homens sábios de todas as nações refletir profundamente sobre as antigas leis das monarquias, os bons costumes de cada nação e o caráter geral dos povos europeus. É nessas fontes sagradas que eles encontrarão remédios adequados aos nossos infortúnios, e os sábios meios de regeneração serão infinitamente separados das teorias absurdas e idéias exageradas que nos causaram tanto dano."”
(O Imperialista, em postagem no Facebook de 10.06.2020)

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Passo a passo da Grande Substituição

“Existem duas expressões comuns que são usadas para descrever o fato de que os europeus estão em via de se tornarem minorias em seus próprios países. Uma delas é “A Grande Substituição” e a outra é “Genocídio Branco”. Se você já viu a frase “Genocídio Branco” usada antes, não terá dúvida de que também viu a resposta costumeira que recebe; isto é, a tentativa de desconstruir a palavra “genocídio” em vez de abordar o assunto muito sério em questão. 
Apesar da definição oficial das Nações Unidas de "genocídio" endossar que o uso acima é correto, ainda é uma expressão que tendemos a evitar, já que muito tempo acaba sendo dedicado à semântica. No entanto, consideremos por um momento a expressão "genocídio suave" e o que isso pode acarretar... 
1  – Infiltre-se nas instituições políticas, educacionais e de mídia do país. 
2 – Imponha impostos onerosos e custos de vida elevados para a população nativa. 
3 – Declare guerras injustas criando refugiados e depois abra as fronteiras para os mesmos. Aceite até imigrantes econômicos sob a desculpa de que eles também são “refugiados”. 
4 – Pregue e ensine o relativismo cultural onde todas as culturas são iguais, não importa quão bárbaras algumas sejam. 
5 – Ensine aos jovens apenas as piores partes da história dessa nação e promova e recompense a culpa e o ódio a si mesmo. 
6 – Use o feminismo como uma ferramenta para destruir a relação entre a população nativa masculina e feminina. 
7 – Aplique políticas de multiculturalismo e diversidade para que a população não nativa não seja assimilada pela população dominante e, desta forma, crie microcolônias ou micronações dentro da nação maior. 
8 – Prenda ou silencie os nativos que falam contra essas políticas por meio de leis de “discurso de ódio” e/ou ostracismo social. 
9 – Promova a ideia de ter nenhum ou poucos filhos para a população nativa em nome do ambientalismo, enquanto usa o estado de bem-estar social para subsidiar o crescimento da população não nativa e a ajuda estrangeira para subsidiar o crescimento populacional nos países de origem dos não nativos. 
10 – Promova a ideia de que a nação é uma terra de imigrantes e que não existe população indígena, despojando os nativos da terra. 
11 – Promova a ideia de que a população indígena não pode ser vítima de racismo ou crimes de ódio e, para encobrir os crimes cometidos contra ela, a ideia de que a população indígena é de alguma forma “privilegiada”, alimentando assim o ódio à mesma. 
12 – Implemente cotas ou ações afirmativas com base na identidade/cor da pele em vez de mérito, colocando assim os não nativos em posições de poder e domínio.”

https://www.patrioticalternative.org.uk

sábado, 28 de agosto de 2021

Somente a verdade é tolerante

"Somente a verdade é tolerante e jamais persegue ninguém, ela se limita a impedir que se faça o mal. O erro é essencialmente intolerante, e desde o momento em que se sente forte, uma escola, um partido ou uma seita tende a manifestar seu poder suprimindo seus adversários, injuriando-os, sobretudo impedindo-os de falar. O direito de falar, elogiadíssimo pelos liberais – a ponto de o consignarem na constituição e dele fazerem o elemento privilegiado do parlamentarismo – não lhes parece aceitável enquanto não lhes assegure as imunidades do monólogo e impeça toda crítica. Sua maior aspiração, aquilo de que mais gostam, é o incensário para eles e, para os adversários, as cadeias e as mordaças."
(Justin Louis Pierre Fèvre, Histoire Critique du Catholicisme Libéral en France Jusqu’au Pontificat de Léon XIII: Complément de Toutes les Histoires de l'Église)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

A essência do liberalismo


“A essência do liberalismo é a negociação, uma cautelosa meia medida, na esperança de que a disputa definitiva, a batalha sangrenta decisiva, possa ser transformada em debate parlamentar e permitir que a decisão seja suspensa para sempre em uma discussão eterna.”
(Carl Schmitt, Political Theology)

domingo, 23 de setembro de 2018

Os católicos liberais e a falência do estado laico


“Diante do avanço da legislação anticristã no Brasil, as lideranças dos diversos grupos religiosos estão em busca de um entendimento para empreender uma reação comum e impedir a aprovação de leis que agridem a consciência moral da imensa maioria da população brasileira. Em princípio, essa atitude poderia ser compreensível e louvável, contanto que observadas todas as regras da prudência para afastar qualquer perigo de um falso ecumenismo e irenismo.
Mas há uma coisa que merece reparo nessa frente ampla das “religiões” contra as forças maçônicas a serviço do Reino do Anticristo e da Sinagoga de Satanás. É que no embate com o inimigo, quando este defende sua plataforma política contra o Direito Divino e Natural e recusa uma interferência das religiões nos debates em curso no Congresso Nacional argumentando que o Estado brasileiro é laico, os representantes da frente ampla das religiões, principalmente os católicos liberais, saem em defesa do Estado laico dizendo que os verdadeiros inimigos deste são os políticos ateus ou agnósticos que se mostram intolerantes e incapazes de manter um diálogo democrático com seus adversários.
Dizem também os parlamentares da frente ampla das religiões que os seus adversários estão esquecidos de que o Brasil não é um Estado ateu, visto que no preâmbulo da Constituição Federal se diz que os representantes do povo brasileiro promulgam a carta magna sob a proteção de Deus. E argumentam que Estado laico significa que o Estado não sofre uma incidência direta das instituições religiosas em sua organização.
Na minha opinião, toda essa arenga é um paralogismo, se não for, de fato, um sofisma.
Com efeito, a invocação de Deus é anulada pelo princípio da soberania popular consagrado nas constituições de todas as repúblicas modernas nascidas da Revolução Francesa. Deus, nas constituições modernas, não significa nada, ainda mais quando se sabe que, conforme o direito político moderno, o Estado resulta de um contrato social. Soberano é o indivíduo que se põe no lugar de Deus. Não prevalece o princípio de que Deus criou o homem como ser naturalmente social.
Como deputados constituintes, os representantes do povo não declaram que querem organizar o Estado conforme a lei de Deus ou da santa religião. Portanto, a invocação de Deus (ou do Grande Arquiteto) na Constituição Federal não passa de um artifício para selar um compromisso político ou tranquilizar as consciências que ainda tenham algum sentimento religioso.
Quanto à argumentação de que Estado laico significa apenas que o Estado não sofre incidência direta das instituições religiosas em sua organização, os erros implicados nesta afirmação são mais insidiosos e difíceis de ser compreendidos pelas pessoas mais simples.
Neste ponto, os católicos liberais agem com manifesta má-fé. Porque querem dizer que Estado laico se opõe a Estado teocrático, ou seja, o Estado dominado por uma casta sacerdotal. Isto é falso. O Estado laico (condenado reiteradamente pelo magistério da Igreja e aceito pelo Vaticano II), opõe-se, na história do ocidente, ao Estado confessional, sempre defendido pela Igreja como o único Estado legítimo, conforme o plano de Deus que criou o homem para viver como membro de duas sociedades perfeitas, distintas, mas em harmonia: a sociedade civil e a sociedade eclesiástica, aquela subordinada a esta, indiretamente, nas questões de interesse para a salvação eterna. Estado confessional não é a mesma coisa que estado teocrático.
Ao contrário, o argumento dos católicos liberais da frente ampla das religiões reduz a Igreja a uma instituição de direito privado que teria direito, como qualquer outra instituição, a fazer-se ouvir no Congresso Nacional. Será que esses católicos liberais não sabem que a lógica do Estado laico é que a religião é assunto privado e a tal âmbito deve restringir-se e que o Estado só cuida da esfera pública, ou seja, daquilo que é do interesse de todos enquanto membros do Estado laico, não enquanto católicos, evangélicos, judeus, muçulmanos, espíritas etc?
Na verdade, o que falta aos católicos liberais é a honestidade de reconhecer que o Estado laico é uma agressão contra a sociedade civil majoritariamente católica, porque é um ordenamento jurídico, uma estrutura burocrática, que se sobrepõe à sociedade não para servi-la mas para oprimi-la.
Não procede o argumento de que Estado laico significa dizer que o Estado não manda na Igreja e a Igreja não manda no Estado, mas que tal separação não impede que haja colaboração e boa convivência entre ambas as esferas.
Acabo de ler um artigo interessantíssimo do The Economist (traduzido pel’O Estado de S. Paulo) a respeito da expansão do Islão sobre a Europa e os vários problemas surgidos. A matéria diz que o Reino da Bélgica (que adota o modelo de Estado laico propugnado pelos católicos liberais) subsidia o culto e o ensino religioso nas escolas públicas e o Islão tem sido beneficiado: mais de metade dos imãs é remunerada pelo governo e metade das crianças belgas opta por aulas do Corão! A França, mais fiel à tradição republicana de um laicismo radical que estabelece uma separação total entre religião e estado, vê-se agora obrigada, pelas palavras do primeiro-ministro Manuel Valls, a promover o estudo da religião islâmica sob a supervisão da República Francesa, a fim de impedir que entre em seu território uma teologia islâmica incompatível com os “valores” da sociedade secular.
Como se pode ver pela notícia acima, o Estado laico será destruído pelas suas próprias mentiras e irresponsabilidades. A Bélgica promove, suavemente, sua própria islamização; dentro de alguns anos deixará de ser um reino laico ao gosto dos católicos adeptos da Dignitatis Humanae do Vaticano II para transformar-se em república islâmica, talvez teocrática. A França, mais pretensiosa em sua temeridade maçônica, tenta influenciar os estudos teológicos corânicos como o fez com a teologia católica na época da Revolução.
Tudo indica, porém, que a Bélgica e a França, como de resto toda a União Européia, morrerão pela força do veneno que engoliram. Merecido castigo.
Conta-se que o príncipe Filipe Von Hessen fez mais pela causa protestante que milhares de livros do doutor Martinho Lutero. Hoje, os católicos da declaração Dignitatis Humanae, os católicos da frente ampla das religiões, fazem muito mais pela causa secularista do que todos os escritores e panfletários da ideologia do gênero. Fazem mais do que todos os imãs pelo avanço do Crescente sobre toda a antiga cristandade.”

http://santamariadasvitorias.org

quinta-feira, 1 de março de 2018

Os erros do catolicismo liberal

"A doutrina católico-liberal, que em sua quintessência é a doutrina revolucionária de 1789, estabelece como princípio e como coisa senão excelente, quando menos muito boa, a separação da Igreja e do Estado, a qual consiste na independência absoluta da sociedade civil que não reconhece a lei divina, a religião revelada e a santa Igreja. Jesus Cristo nos deu o Papa e os Bispos com esta missão: 'Ide e ensinai a todos os povos a observância de minhas leis. Eu estarei convosco até a consumação dos séculos'. Os católico-liberais restringem esta missão aos interesses privados de cada cristão em particular; negam ao Soberano Pontífice e aos Bispos o direito de ensinar aos governantes assim como aos súditos, e o de velar para que Jesus Cristo reine, sem obstáculos, nas instituições públicas e nas leis, dando desta maneira a conveniente direção às sociedades.
Por fim a doutrina católico-liberal desconhece e altera profundamente as relações entre a autoridade e a liberdade, tais como Deus as estabeleceu e conforme a sua Igreja está encarregada de ensinar-nos e de proteger. Altera profundamente a doutrina católica sobre a autoridade em proveito da liberdade, e esta é a razão por que se chama liberal.
Segundo a Igreja a autoridade é o poder ativo estabelecido por Deus para fazer respeitar e executar a lei: segundo o catolicismo liberal, a autoridade é o poder passivo encarregado de amparar com igual proteção a fé e a heresia, a verdade e o erro, o bem e o mal. Com tal que não seja perturbada a ordem material, não deve sair em defesa de Deus e contra o demônio.
Segundo a Igreja, a liberdade é o poder concedido a todos e a cada um em particular de cumprir sem obstáculos a vontade de Deus e seu próprio dever: segundo o catecismo liberal, a liberdade é faculdade concedida a todos e a cada um, de fazer o mal assim como se faz o bem com tal que não altere a ordem material.
Para Jesus Cristo e sua Igreja, a autoridade é o poder que protege o bem e o faz reinar: para o demônio e a Revolução, a autoridade é o poder que protege o mal e o faz reinar; para os católicos liberais, a autoridade é um poder indiferente ao bem e ao mal, a quem protege igualmente. De igual sorte para a Igreja a liberdade é o poder de fazer o bem sem trava alguma; para a Revolução é o poder de fazer o mal também sem travas, e para o catolicismo liberal é o poder de fazer o bem ou o mal indiferentemente.
Assim, pois, esta dupla noção de autoridade e da liberdade que tem a doutrina católica e o sistema liberal se manifesta ostensivamente em suas respectivas obras influindo poderosamente na religião, na ordem social e política, na legislação, na jurisprudência, na educação e na família.
E é por isso mesmo que a doutrina católico-liberal se estende a tudo. Os erros que contém produzem grave dano e suas consequências práticas são incalculáveis. Desvirtua e falseia a noção essencial da autoridade e da liberdade, sobre cuja noção descansam como sobre sua base a ordem religiosa, a ordem civil e a doméstica por completo.
Em seus princípios se encerra o germe de uma grande heresia; mas afortunadamente devemos esperar que a Santa Sede ou o Concílio ecumênico não tardarão em lançar raios de um vigoroso anátema sobre um erro que despreza tantas advertências, e que tende nada menos que a servir de ajuda à Revolução em sua obra de destruição universal.
Assim é que a doutrina católico-liberal é uma alteração sistemática da verdade, da fé e do direito: é uma alteração também sistemática das relações da Igreja com a sociedade civil; e uma negação mais ou menos pronunciada do direito concedido por Deus à Igreja de dirigir espiritualmente aos governos e as sociedades e de inspirar as leis e as instituições públicas; é por fim uma alteração igualmente sistemática da doutrina da Igreja sobre a autoridade e a liberdade. (...)
O que é o liberalismo católico? O que é o catolicismo liberal? É um sentimento falso e perigoso; é um partido importante, ativo, empreendedor, que conspira de fato contra a Igreja e contra a sociedade civil e serve, sem querer, à horrível causa da Revolução; é uma doutrina falsa e muito perniciosa, geradora de heresias e revoluções. Um católico-liberal é um homem que participa em maior ou menor escala desse sentimento, dessa doutrina; está tanto mais enfermo, quanto é mais liberal, e está tanto menos enfermo quanto é mais católico.
O catolicismo liberal é o catolicismo manchado de liberalismo com ideias protestantes e revolucionárias. O liberalismo católico é a heresia e a Revolução que, sob formas moderadas e com o manto de católico, se introduz no seio da Igreja imitando o lobo da fábula, que com pele de ovelha penetrava livremente no redil."
(Monsenhor Louis-Gaston de Ségur, Ofrenda a los Jóvenes Católico-Liberales)

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Olavo de Carvalho: Contradições do laicismo


“A moral laica do mundo burguês reconhece e até proclama com orgulho “científico” sua própria relatividade, em teoria. Mas nenhuma ordem social pode contentar-se com uma obediência relativa, que desembocaria fatalmente no conflito geral e no caos. Daí a distinção prática, tipicamente moderna e burguesa, entre moral privada e ordem pública. A primeira pode multiplicar-se em variações infinitas, desde que não perturbe a segunda. É a informalidade da escolha moral, limitada pela formalidade estrita da ordenação jurídica.
Esse arranjo de ocasião disseminou-se tão universalmente que adquiriu foros de sabedoria eterna e imagem por excelência da “normalidade”, ao ponto de que já ninguém percebe o que ele tem de instável e problemático; e, não o percebendo, tem de improvisar hipóteses rebuscadas para explicar por uma sucessão imaginária de acidentes as crises e percalços que um exame sério deveria ter revelado à primeira vista como desenvolvimentos lógicos e inevitáveis de contradições iniciais não conscientizadas em tempo.
De um lado, aquela distinção constitutiva do Estado laico foi estabelecida como ato de uma minoria revolucionária contra um consenso anterior fundado na homogeneidade moral da sociedade cristã. Uma vez vitorioso, o Estado laico passa a corroer necessariamente o que possa restar dessa homogeneidade, que para ele representa a origem mesma de toda obstinação “reacionária” erguida contra sua obra modernizante. Dissolvida pouco a pouco a unidade moral do povo, a única maneira de evitar a autodestruição da sociedade pelo caos é transferir para a esfera jurídica os mecanismos reguladores antes operados pelo simples automatismo das tradições arraigadas no senso comum. O que era obediência espontânea torna-se assim controle estatal forçado. Na proporção mesma do sucesso obtido pelo Estado leigo em seu esforço de “modernização”, o número, a complexidade e a abrangência dos controles jurídico-burocrático-policiais vão crescendo, avançando para dentro de todos os campos da existência social e invadindo por fim a vida privada e até a intimidade dos pensamentos, regulando a linguagem, a educação doméstica, etc. Tão logo deixa de ser uma promessa e se torna uma realidade, aquilo que surgiu sob o pretexto de resguardar a liberdade individual revela ser um mecanismo opressivo incomparavelmente mais exigente do que a velha autoridade religiosa jamais teria sonhado ser.
A essa primeira contradição soma-se outra pior. Não é possível controlar a sociedade sem regulamentar a economia. À medida que os controles morais embutidos na cultura do velho regime cedem sua autoridade ao aparato judicial, burocrático e policial, amplia-se na mesma medida a intervenção do Estado na economia. O estatismo econômico indefinidamente expansionista é inerente, portanto, à dialética do Estado leigo. Mas este não se impôs justamente mediante a promessa de resguardar a liberdade econômica? Sim. O que não se deve é confundir as intenções declaradas do discurso ideológico com a fórmula política substantiva cuja implantação elas legitimam. A contradição pode escapar até mesmo aos mais sinceros propugnadores da nova política, mas, que ela existe, existe. O moderno Estado leigo pode, com a maior sinceridade do mundo, prometer a liberdade econômica – o que ele não pode é realizá-la, a não ser de maneira capenga, permanentemente ameaçada pelo avanço da mentalidade socialista, que a expansão mesma do laicismo oficial fomenta.
Não é coincidência que o país que defendeu com mais eficácia a liberdade econômica tenha sido justamente aquele que só adotou o laicismo como mecanismo secundário de autocontrole do próprio Estado, sem a ambição de fazer dele um princípio regente de toda a vida social e política, antes conservando vivo e embutindo em suas instituições o máximo que podia das antigas tradições religiosas. Muito menos é coincidência que, hoje em dia, aqueles que desejam radicalizar o princípio laicista, expelindo a religião da vida pública, não sejam de maneira alguma amigos da liberdade econômica, mas todos, em mais ou em menos, adeptos do intervencionismo estatal – socialistas confessos ou enrustidos.”

http://www.olavodecarvalho.org

terça-feira, 9 de maio de 2017

O coquetel infernal do liberalismo

“Desde o princípio, a Revolução se fez venenosa, mas com arte, com habilidade, ela recorda e ultrapassa as maquinações de Agripina e Locusta.
Vamos um instante à Roma pagã: Locusta é uma famosa envenenadora dos tempos dos Césares. Ela primeiro deve assassinar o imperador Cláudio por ordem de Agripina. Ela é chamada ao conselho; pedem-lhe que ponha engenho em sua destreza. Um veneno demasiado rápido poria de manifesto o assassinato de Cláudio; um veneno demasiado lento lhe daria tempo de reconhecer e restabelecer os direitos de Britânico, seu filho. Locusta compreende, e encontra o que procura em um veneno que transformará a razão e extinguirá lentamente a vida. Um eunuco faz com que o desventurado César tome o veneno em um cogumelo, o qual saboreia deliciado: Morre embrutecido!
Um ano depois, Locusta livra Nero de Britânico, que o perturbava. Desta vez, ele não pede um veneno lento, tímido, secreto, como o que fez com tanto refinamento para Cláudio; mas um veneno ativo, rápido, fulminante. Britânico cai morto na mesa imperial.
Locusta teve alunos, Nero lhe permitiu formar seus discípulos em uma escola de envenenamento. A história, com efeito, e a pintura, a representam provando seus venenos em escravos desgraçados, uns retorcendo-se a seus pés, e outros tornando-se loucos.
Regressemos a nossa época.
Quem teria podido pensar que Locusta seria ultrapassada? A Revolução se encarregou deste sinistro progresso.
Com efeito, desde o aparecimento do cristianismo no mundo, tudo tomou uma forma mais elevada, mais espiritualizada, inclusive o mal, inclusive o envenenamento. Envenenam-se os espíritos e a moral como antes se envenenava o corpo: com engenho! Não dizemos nos séculos cristãos, o veneno da heresia, o veneno do erro? A sombra de Locusta sem dúvida já rondava os conciliábulos do maniqueísmo, do arianismo, do calvinismo, do voltairenismo: mas em 1789 a Revolução, inspirando-se na envenenadora e ávida de ultrapassá-la, imaginará na ordem intelectual e social um veneno que transtornará a razão e extinguirá lentamente a vida nos povos cristãos: que é o que ela imaginou?
O liberalismo.
Com efeito, para chegar a transtornar a razão em um povo como o da França e chegar a extinguir lentamente sua vida, é necessária uma beberagem que seja ao mesmo tempo veneno, poção e narcótico:
- o veneno mata;
- a poção embriaga;
- o narcótico adormece.
Trata-se de matar nela as idéias cristãs; ao mesmo tempo embriagar as almas generosas; e ao mesmo tempo adormecer a gente honesta: tudo isso, ao mesmo tempo. O liberalismo será esta mistura hábil, esta terrível beberagem. Se ele é decomposto, encontramos ali os três elementos, veneno, poção e narcótico.
- O veneno primeiro: assim como encontramos, nos campos, plantas venenosas, encontramos também, na ordem intelectual, más doutrinas, opiniões perniciosas. Pode-se dizer que a Igreja sempre as tem extirpado, mas elas reaparecem com a facilidade e a tenacidade das ervas más: por exemplo, a negação do pecado original, também a onipotência da razão à qual tudo se deve submeter, a suficiência das forças sociais para conduzir os povos. Produções venenosas de todos os séculos, o filosofismo do século XVIII as fez ressurgir e as propagou. A Revolução só terá que agachar-se para recolhê-las. Elas formarão o primeiro elemento de sua terrível beberagem.
- Além do veneno, a poção: Há, no tesouro das línguas humanas, palavras que têm o poder de arrebatar, de embriagar, de apaixonar, estas são: as palavras mágicas de liberdade, de fraternidade, de igualdade. O Evangelho, havendo purificado estas palavras, as explicou e, pondo-lhes um fermento divino, as ampliou tanto que elas expressaram idéias novas. Durante muito tempo permaneceram apegadas ao Evangelho, penetraram e trabalharam o mundo de uma maneira tão segura e saudável como eram doces, ponderadas, respeitosas. Mas eis que no século XVIII o filosofismo se apoderou destas palavras. Imediatamente perderam seu fermento divino e se tornaram poção. A Assembléia Nacional, na célebre noite de 4 de agosto de 1789, que será uma embriaguez sem precedentes na história dos povos, experimentará esta poção. Entram então como segundo elemento na beberagem encantadora e funesta que prepara a Revolução.
- O narcótico, finalmente, encontra-se como o terceiro elemento. Entre todos os sentimentos dos quais o coração do homem foi dotado, há um que se distingue por sua grande nobreza quando a verdade é seu guia, mas que se torna um perigo extremo quando se inspira só em si mesmo: é o sentimento de tolerância, de indulgência. Com efeito, quando ela toma por guia a verdade, a tolerância se traduz em compaixão pela pessoa, reprovação do erro; tal é a expressão da tolerância católica. Pelo contrário, quando só se inspira em si mesma, a tolerância, extraviando-se na brandura das crenças ou em uma sensibilidade falsa e exagerada, torna-se indulgência pelos erros tanto quanto pelas pessoas, e desculpa tudo sem consideração: atos de debilidade e doutrinas culpáveis.
A Igreja sempre uniu cuidadosamente este sentimento à verdade. O filosofismo do século XVIII o separa. É então que na sociedade tomam a forma de máximas como estas:
“A tolerância é a mãe da paz” - “Só a tolerância pôde conter o sangue que jorrava de um lado a outro da Europa” - “Se Deus quisesse, todos os homens teriam a mesma religião, assim como têm o mesmo instinto moral. Sejamos então tolerantes”. Este sistema de tolerância alentado e propagado será o ópio, o narcótico de que necessita a Revolução. Ela se servirá dele para adormecer todas as querelas religiosas e inclusive, se fosse possível, as próprias religiões. Uma multidão de gente honesta, de gente boa, não pedirá mais que letargiar-se, dormitar e permanecer neutra, apesar da severidade da teologia. Terceiro elemento da beberagem revolucionária!
E assim:
- Onipotência da razão como tribunal ao qual tudo deve se submeter; suficiência das forças humanas para fazer seu caminho, e suficiência das forças sociais para conduzir os povos (veneno).
- Grandes palavras de liberdade, igualdade e fraternidade (poção).
- Sentimento de tolerância recíproco não somente para as pessoas, mas para as doutrinas (narcótico).
Esta é a pérfida beberagem que, como nos tempos de Locusta, deve transtornar a razão e extinguir lentamente a vida. Uns serão embriagados, outros adormecidos, e outros em grande número serão mortos no decorrer do tempo. Esta mistura receberá, mais tarde, seu nome característico: o liberalismo.”
(Joseph Lémann, Les Juifs dans la Révolution Française)

domingo, 12 de fevereiro de 2017

O liberalismo é pecado


Entrevista com Javier Barraycoa, politólogo e sociólogo catalão.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Juan Vázquez de Mella: A batalha que se aproxima


“Uma das frases feitas e dos lugares comuns que servem de recheio nas dissertações e escritos dos modernos charlatães e sociólogos é, sem dúvida, a de que estamos em um período de transição. Os mesmos que repetem de contínuo a frase não compreendem seu verdadeiro sentido, e procuram traduzi-la de um modo fartamente otimista, supondo que com ela se quer indicar a mudança que se está operando no seio das sociedades entre o antigo regime cristão, fundado no direito católico, e o regime moderno, fundado no direito novo, entendendo por este a democracia individualista ou harmônica que se vai lentamente estabelecendo sobre os restos do antigo mundo, já carcomido e decrépito.
Porém, na realidade, por pouco que se medite e observe, é outra a transição que estamos presenciando e outro muito distinto o combate que se trava no mundo.
O liberalismo individualista e eclético, radical e doutrinário, foi indubitavelmente durante grande parte do século, e ainda o é para alguns espíritos retardatários, o supremo ideal que pugnava por entronizar-se nos povos, e que explicava com suas contendas a convulsão da sociedade moderna, período angustiosíssimo que terminaria de um modo feliz quando as novas idéias houvessem passado dos espíritos aos fatos e graças a elas Cristo descesse do altar para ceder o posto à razão emancipada do jugo de sua Cruz.
Mas ocorreu justamente o contrário do que esperavam os modernos redentores da Humanidade. O mundo por eles combatido foi ao chão na ordem política, mantendo-se firme na social, apesar das violentas acometidas e dos sacudimentos com que trataram de remover seus alicerces seculares. Contudo, a nova criação revolucionária, dando mostras da consistência e solidez do princípio racionalista que lhe serviu de pedestal, não chegou a celebrar o primeiro centenário sem que já apareça fendida toda a fábrica, rachados os muros e a ponto de desmoronar-se com estrépito, apesar de haver empregado a maior parte do tempo, não em acrescentar-lhe novas dependências, mas em eliminar a fachada e colocar no edifício andaimaria, a fim de que pudesse prolongar sua mísera existência, retardando o mais possível o descrédito dos arquitetos. Tudo foi em vão. O edifício político e econômico aí está arruinando-se, como todos os edifícios, a partir do telhado, que é o primeiro que se deteriora e se destrói.
Coisa verdadeiramente notável! A revolução política termina sua evolução precisamente no momento em que começa a espalhar-se por toda parte seu descrédito. Dir-se-ia que Deus esperava que os trabalhadores da nova babel lançassem o primeiro grito de júbilo ao ver o adiantado de sua obra, para castigar sua soberba mostrando-lhes o estéril e miserável da empresa de que se orgulhavam.
Liberdade de pensamento e de palavra contra o dever de absoluta dependência que liga o homem a Deus; soberania individual e coletiva contra a natural subordinação do súdito à autoridade legítima; liberdade econômica contra a relação de caridade e justiça que liga os fortes e poderosos aos débeis e pobres; todas as liberdades revolucionárias estão aí de corpo presente, demonstrando-nos com seus desastrosos efeitos a aberração do princípio que as alimenta.
A luta de seitas, escolas e partidos, desgarrando os espíritos e acendendo a guerra nas inteligências e nos corações; a série interminável de oligarquias que com nomes diversos fazem passar sua vontade tirânica pela que se supunha que havia de brotar da massa social, e, por último, a multidão trabalhadora, que diz a seus libertadores que lhe devolvam a antiga regulamentação, porque tanta liberdade liberal a estrangula com o garrote da miséria; tudo isso constitui o grande processo da revolução, dando-se a morte com a picareta com que se havia proposto não deixar em seu lugar uma só pedra do antigo castelo, cuja beleza e majestade nem sequer quis compreender.
Não é, portanto, o mundo cristão o que se derruba para que sobre seus escombros se alce o paganismo restaurado.
A idéia católica, apesar de todas as propagandas revolucionárias, continua sendo a seiva da qual todavia recebem as nações a vida que lhes resta. Se perdeu seu influxo nos Estados, ainda conserva a divina virtualidade para voltar a exercê-la em tempo não distante com a mesma eficácia de outros séculos. O que cai e desmorona é o edifício liberal, apenas levantado.
Uma nova ordem social e econômica, que em tudo que contém de bom é a reprodução do antigo regime cristão, e que em tudo que contém de mal, que é muito, é a exageração do princípio liberal, cujos efeitos trata de evitar, é o que agora se levanta. A revolução liberal política desaparece, e vai-se começar a social. Seu triunfo será mais efêmero que a primeira, mas não o será o ensinamento que a sociedade deduzirá da catástrofe, porque o dia em que se exponha a última conseqüência social da revolução será o primeiro dia da verdadeira restauração cristã da sociedade.
Na nova luta, os liberalismos individualistas e ecléticos serão afastados pelos combatentes com desprezo, para que ambos adversários possam dirimir sem estorvos nauseantes a suprema questão. E é preciso estarem cegos para não verem que os novos e únicos contendentes serão o verdadeiro socialismo católico da Igreja, que proclama a escravidão voluntária da caridade e o sacrifício, e o socialismo ateu da Revolução, que afirma a escravidão pela força e a tirania do Deus Estado.”

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A Igreja apodrecida pelo liberalismo


“A expressão “igreja Conciliar” reflete claramente uma realidade, algo real, a saber, a massa de pessoas e instituições que afirmam ser católicas, mas que na realidade estão a deslizar para a prática da nova religião humanista do Concílio Vaticano II. “Estão a deslizar” porque o conciliarismo, ou neomodernismo, é projetado precisamente para permitir que os católicos mantenham as aparências da Fé enquanto esvaziam a substância desta. Os católicos, no concreto, podem realizar esse processo de modo tão rápido ou tão lento quanto desejem, embora não precisem levá-lo até a sua conclusão; mas o conciliarismo, no abstrato, é totalmente oposto ao catolicismo e, se concluído, destrói tanto a Fé como a Igreja, conforme o fim para o qual foi planejado.
O processo não é difícil de se observar e de se entender, mas os liberais que hoje lideram a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, enquanto buscam a reconciliação com os conciliaristas em Roma, têm feito o melhor que podem para confundir a questão que envolve a igreja Conciliar e a Igreja Católica. Por exemplo: dirão eles que a Igreja Católica é visível, e a igreja Conciliar é a igreja visível; logo, a igreja Conciliar é a Igreja Católica – um argumento descartado anos atrás por Monsenhor Lefebvre, que o classificou como “infantil” (há muitas igrejas visíveis, e isso não faz com que sejam católicas). E igualmente infantil é o argumento pelo qual se defende que há apenas uma Igreja, e então a igreja Conciliar e a Igreja Católica devem ser uma só e a mesma (há, porém, milhares de igrejas falsas).
A verdade não é tão complicada. A Igreja Católica é um organismo vivo, é divina e humana, tal como seu Fundador, Jesus Cristo. Enquanto divina, como Sua Esposa Imaculada, ela não pode ser corrupta e nem corrompida; mas enquanto composta por seres humanos pecadores, ela pode estar, como qualquer outro organismo vivo, em estado parcial de putrefação. Assim, uma maneira simples de entender como a igreja Conciliar se relaciona com a Igreja Católica, é pensar em uma maçã em estado de putrefação.
Por um lado, a parte apodrecida pertence à maçã. Toda ela já foi a maçã. É uma corrupção da maçã, um parasita sobre a maçã, não poderia existir sem a maçã e permanece firmemente aderida à maçã, a menos que e até que caia. Do mesmo modo, o conciliarismo pertence à Igreja Católica na medida em que tudo na conciliar já foi católico. É uma corrupção da Igreja Católica, um parasita sobre a Igreja Católica, não poderia existir sem a Igreja Católica, e permanece firmemente aderido a alguma parte da Igreja Católica, a menos que e até que ela destrua essa parte, tal como foi projetada para fazer.
Por outro lado, a parte apodrecida não pertence à maçã. Nenhuma maçã foi criada para ser uma maçã apodrecida. Toda essa parte é uma transformação de alguma maçã, uma corrupção e um parasita da maçã, transformando-a em algo pior, resultando em algo muito diferente da maçã, algo que ninguém eu seu estado mental normal sonharia em comer ou em dizer que não é diferente da maçã. Do mesmo modo, o conciliarismo não pertence à Igreja Católica. É uma corrupção de algo católico, e é um parasita sobre tudo o que seja católico. Ele transforma a Igreja Católica (uma parte humana sua) em algo pior, resultando em algo essencialmente não católico, que nenhum católico em seu estado mental normal poderia chamar de católico, ou com que do mesmo modo iria querer se associar.
Em síntese, o conciliarismo é a parte apodrecida, e a “igreja Conciliar” é a única Igreja divina e humana que está sendo apodrecida em um ou outro de seus aspectos humanos. É claro que a Igreja Católica durará até o fim do mundo (Mt 28, 20), enquanto que a “igreja Conciliar” é meramente uma em uma longa lista de igrejas parasitas que surgiram ao longo dos séculos, que vivem do que elas apodrecem e apodrecem aquilo em que elas vivem. Uma praga sobre todos os liberais, confusos e que confundem!”
(Mons. Richard Williamson, “Igreja Conciliar”?)

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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O católico liberal


“Em princípio, o ‘católico liberal’ não gosta de falar de princípios. Ele se atém ao campo dos fatos, pois aí ele pode mais facilmente usar seus talentos. Mas já aqui somos obrigados a crer que a mediocridade de seu discernimento da verdade naturalmente o levará a uma mediocridade na ação (a menos que a real teoria de justificativa de sua atitude seja simplesmente seu medo de agir e lutar).
De toda a forma, sabemos que qualquer ação ou vigoroso combate humano necessariamente pressupõe a percepção de um bem a ser obtido ou conservado. Esta é a única razão para o esforço; caso contrário, reagiríamos apenas um pouco, ou nem mesmo o faríamos. O mundo moderno chama isso de ‘lei da motivação’. É preciso amar profundamente para estar fortemente motivado; mas só se ama na medida em que se compreende a importância ou valor de um determinado bem. Não é então difícil de entender que haverá apenas uma fria indiferença, ou pelo menos, uma convicção muito fraca a respeito da verdade. Isto, por sua vez, produz uma pusilanimidade e uma covardia na ação. Este é freqüentemente o caso do ‘católico liberal’. Adicionemos a isto que o fato de seu exagerado desejo de conciliação, além de sua fé enfraquecida, o faz correr o risco de se meter em transações ambíguas e firmar lamentáveis compromissos. Isto tem como conseqüências recuos vergonhosos, capitulações e uma irreparável traição. As últimas poucas décadas testemunharam tudo isso. Mesmo assim, o ‘católico liberal’ não acredita em nada disso. Ele continua, ao contrário, expressando seu orgulho em sua solicitude para o que chama de ‘um desejo de paz’, ‘conduta prudente’, ‘atitude caridosa’, ‘sentido de realidade’, ‘política de resultados’. Observemos isso mais cuidadosamente.
Desejo de paz – O ‘católico liberal’ deseja a paz a qualquer custo. Contudo, esse custo é freqüentemente muito alto, pois ele acaba sendo, na concepção do ‘católico liberal’, o custo da verdade, dos direitos de Deus e da Igreja. Certamente todo católico deve trabalhar para a paz, isto é, para a tranqüilidade da ordem em todos os domínios. ‘Bem-aventurados os pacíficos ...’ Mas, como explica o Cardeal Pie, a paz é somente possível na verdade, pois a ordem é somente possível se as coisas estiverem dispostas de acordo com as exigências de suas relações mútuas. A paz entre os homens é portanto obtida quando suas atividades são ordenadas de acordo com a virtude. Em particular, as virtudes da justiça e caridade asseguram um respeito a todas as leis e poderes legítimos. Ora, a paz entre a Igreja e o mundo é impossível aqui embaixo: ‘Meu filho, quando entrares no serviço de Deus ... prepara a tua alma para a tentação’ (Eclo 2:1), ‘Todos os que querem viver piamente em Jesus Cristo, padecerão perseguição’ (II Tim 3:12).
Nosso Senhor claramente previu isso quando disse: ‘vocês serão odiados por causa de meu nome.’ Este é, de fato, o privilégio do católico, que sempre e em todo lugar atrai um ódio violento e é acusado de hipocrisia pelo próprio mundo que ele condena. A Igreja militante continuará a declarar guerra enquanto houver almas a salvar. Como resultado, o pacífico é sempre chamado a estar preparado para a guerra contra os destruidores da ordem na batalha contra a concupiscência, o mundo e o demônio. É por causa do amor à ordem e à paz que o pacífico ataca a ignorância, o erro e as paixões, a fim de salvar almas. O ‘católico liberal’ ao contrário não entende as verdadeiras condições para a paz, que é a permanência na ordem, pois a desordem invade sua mente, desordem que está presente até mesmo em seu nome. É a concordância de vontades o que ele deseja acima até, e apesar da, divergência e oposição de mentes. A única coisa que ele obtém é uma tolerância superficial e provisória em que o católico tem tudo a perder e nada a ganhar. Ele não obtém nem a verdadeira paz nem a estima de seus adversários. Repetidamente você o vê estendendo a mão com uma irritante insistência, oferecimento que estamos dispostos a recusar com desprezo! Não, o ‘católico liberal’ não é um pacífico, mas sim um pacifista. Ele tem duas características principais: uma aversão pelos seus irmãos católicos e um perfeito entendimento com o inimigo.
Atitude caridosa – Caridade! Caridade! Esta é a desculpa que o ‘católico liberal’ tenta apresentar. A verdadeira caridade é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor a Deus. Esses dois amores não são separáveis. Amamos a Deus e ao próximo como Deus deseja, isto é, visando a um fim e de uma forma que Ele quer, i.e., por e em Jesus Cristo e a Igreja. A verdadeira caridade sabe que o primeiro bem é a verdade; propagar isto é pois a primeira obrigação. Porque amamos fervorosamente, odiamos vigorosamente; juramos nosso inexplicável ódio ao mal, ao erro e ao pecado, e procuramos destruir cada obstáculo que se opõe à missão apostólica da Igreja. Comentando sobre a passagem de São Paulo, facientes veritatem in caritate, praticando a verdade na caridade, Cardeal Pie escreve: ‘A caridade implica antes de tudo o amor a Deus e à verdade. Ela não hesita em puxar a espada por uma causa divina, sabendo que somente com golpes duros e incisões salutares pode se vencer ou converter o inimigo.’ Será que o ‘católico liberal’ ama a Deus sobre todas as coisas quando desconsidera Suas verdades e ridiculariza Suas leis imprescritíveis? Amará ele seu próximo quando não o auxilia a se libertar dos erros e o ajuda através de verdades sobrenaturais? É possível amar o doente ignorando sua doença ao invés de curá-la? As almas são amadas quando mesmo as verdades elementares, que são necessárias para a salvação, são recusadas a elas para não lhes causar ansiedade? Não, a caridade do ‘católico liberal’ é mal orientada, quando e se não completamente deformada. Ele é mais um pregador hipócrita da caridade do que verdadeiramente caridoso, pois é todo doce com o incrédulo, mas amargo como fel com o católico. Seu coração está voltado para a ‘esquerda’, como suas idéias. Ele não tem nada para dar aos verdadeiros católicos senão amargura e violência. ‘Seu ardor é amargo, suas discussões ríspidas, sua caridade agressiva’ (Dom Sarda).
Conduta prudente – Pelo menos, o ‘católico liberal’ é ‘prudente’! Ele na prática assume a definição que criou: não é ela a virtude par excellence do ‘justo meio’ e aquela que regula todas as outras virtudes? Com uma modéstia que lhe causa satisfação, repete sem cessar que ele não compromete o bom objetivando idioticamente o perfeito. Em vez disso, ele sabiamente se contenta como o ‘possível’. Mas isso o faz mais justo? A prudência é definida como: recta ratio agibilium, que pode ser traduzida como a ‘arte de obter êxito,’ isto é, a habilidade de atingir o objetivo. A prudência nunca perde sua perspectiva que é o fim último do homem e do universo. Portanto, ela analisa todos os meios que auxiliarão na sua obtenção. Ela procura o maior bem possível numa dada circunstância, e, entretanto, considera isso apenas como um degrau para o fim último, e não como um fim em si mesmo. Ela cuida do doente de uma maneira útil, nunca todavia cedendo ao mal, a menos que seja obrigada a tolerá-lo por enquanto, aguardando um momento favorável para triunfar ainda mais completamente. A prudência certamente se dobra às circunstâncias, mas sempre para obter um bem maior. Ela trabalha incansavelmente em sua direção, intensificando todo bem possível. Ela nunca se senta resignada em ser conquistada, mas sempre acaba sendo o conquistador. Ela procura o sucesso, nunca desdenhando da força, mas controlando-a e usando-a para obter o fim em vista. A prudência do ‘católico liberal’, por outro lado, é sempre vulgar porque é míope, nunca vendo muito alto ou muito longe. Falta-lhe sabedoria que é o ‘conhecimento das mais altas causas’. Ele é débil e hesitante pois não há convicção na fé. Toda a confiança é colocada nas modestas e limitadas condições humanas, e nenhuma em Deus e Sua graça. Esta não é senão a prudência do mundo ou a ‘prudência carnal’. Ela não deseja nenhum tipo de batalha; ela desdenha a força em vez de colocá-la a serviço da verdade. Esse tipo de prudência somente sabe como capitular. Fundamentalmente, ela não é senão medo e mesmo covardia.
Sentido de realidade – O ‘católico liberal’ crê e mesmo proclama que é dotado de um ‘senso de realidade’, na falta de um ‘senso católico’. Ele não se interessa por teoria, mas se considera prático. Alega conhecer seu tempo, suas aspirações e necessidades. Para ele, a verdade deve ser apresentada numa forma inteiramente diferente às pessoas agora amadurecidamente impregnadas de liberdade. Ele pressiona a Igreja a levar em conta o progresso e Se colocar à sua disposição. Contudo, este infeliz indivíduo não tem o senso da realidade especulativa, nem natural nem sobrenatural, dado seu amor incrivelmente fraco pela verdade. Tampouco tem ele o senso da realidade prática, pois, surpreendentemente, falta-lhe psicologia. Ele pensa que conhece as aspirações de seu tempo, mas na realidade é totalmente ignorante das profundas aspirações de todos os tempos; por exemplo, a da inteligência por verdades universais e a da vontade pelo bem soberano. Ele não entende a invencível atração que a verdade exerce sobre toda e qualquer alma. Tendo uma excessiva confiança nos meios humanos, ele se esquece de se socorrer Naquele que fez o céu e a terra. Ele despreza a graça onipotente de Jesus Cristo, e tem em particular uma fé muito superficial na profunda afinidade entre a alma sacerdotal e a alma batizada. Por isso, seus sermões, se ele é padre, são ineficazes e enfadonhos, pois coloca ênfase na eloqüência e persuasão, em vez de na virtus Christi. Em vez de falar com autoridade de representante de Deus e embaixador de Cristo, ele se faz pequeno, humilde e suplicante. Conseqüentemente, obtém somente o sucesso humano e às vezes até mesmo indiferença e desprezo. Falta-lhe também psicologia frente a um adversário obstinado. Ele pensa que, com a capitulação freqüente ante ao adversário, ele receberá em troca mais, mas de fato, ele perde terreno a cada dia. Isto é o que ele chama de o ‘possível’, de ‘mal menor’. Mesmo assim, quando ele faz dessa atitude um sistema, o ‘mal menor’ se torna o maior de todos os males, e o ‘possível’ se encolhe sem cessar, pois quanto mais ele recua, mais o adversário avança e conquista o seu terreno. Essa é a história da resistência do ‘católico liberal’ nos últimos 50 anos. Assim, hoje chegamos a aceitar e respeitar a lei do secularismo! Este é o resultado de tal política e é enormemente triste!
Assim, esse dissimulado ‘justo meio’ se move sem cessar, sempre na direção do mal maior. É surpreendente ver como o ‘católico liberal’ se colocou entre a Igreja e a Revolução. Ele continuamente se aproxima do lado da revolução e se distancia cada vez mais da Igreja. Realmente, nesse sentido ele avança continuamente na direção da conformidade com o povo. Assim, o ‘católico liberal’, cuja intenção era a de conciliar a Igreja com a Revolução, tornou realmente possível a vitória da Revolução. Ele não ganhou nada da esquerda, perdeu muito da direita, não conseguiu nenhuma conversão, facilitou muita perversão e causou até mesmo uma multidão de apostasias. Ele nos acusa de colocar a Igreja em perigo, e ainda assim é Ela sozinha que se defende perante um mundo hostil, simplesmente anunciando o que Ela acredita e deseja. Ao contrário então, nós o acusamos de trair a Igreja. Ele coloca a fé em perigo ao destruir a resistência católica ou, por covardia, ao fazer um pacto com o próprio adversário.
Ao ‘católico liberal’ não falta inteligência. Ele tem uma eloqüência, um talento e um conhecimento mais perfeitos que qualquer um. É contudo sua posição que é imbecillus, segundo o significado latino. Em lugar de construir sobre a pedra, fundatus supra firmam petram, ele constrói sobre a areia movediça da liberdade em que ele é engolido. Sua posição é totalmente contraditória, pois ele deplora os próprios efeitos das causas que ama, e deseja combater a impiedade, a imoralidade e a heresia sem perceber que seu próprio liberalismo o conduz para essas conclusões.”
(Pe. Augustin Roussel, Libéralisme et Catholicisme)

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domingo, 19 de junho de 2016

Como manipular as pessoas para aceitarem qualquer coisa, inclusive o canibalismo


“Ontem, RT traduziu para o espanhol um sugestivo artigo do colunista russo Evgueni Gorzhaltsan publicado em ADME. Gorzhaltsan aplica a «janela de Overton» a um caso extremo: o mecanismo de aceitação pública do canibalismo. Creio, porém, que não seja muito complicado substituir o exemplo por outros: divórcio, aborto, casamento gay, pederastia, incesto, eutanásia etc.
Joseph P. Overton, vice-presidente do Centro Mackinac de Políticas Públicas, postulou que, dentro de determinada área de política pública, por exemplo, a educação, só um pequeno conjunto de políticas, princípios ou medidas se considera politicamente aceitável. Esse conjunto, «janela», não se define pelo que prefiram os políticos, mas pelo que creem poder apoiar sem pôr em risco sua eleição. Essa janela pode estar mais aberta ou ser mais larga, conforme a metáfora que se prefira, conforme mudem as ideias da sociedade que os elege.
Overton atribui os graus de aceitação das ideias públicas a estas categorias:
-Inconcebível ou impensável
-Radical
-Aceitável
-Sensato
-Popular
-Política
Gorzhaltsan coloca o exemplo radical de como converter em aceitável a ideia de legalizar o canibalismo, passo a passo, desde a fase em que se considera uma ação repugnante e impensável, completamente alheia à moral pública, até converter-se numa realidade aceita pela consciência das massas e pela lei. Isso não se consegue mediante lavagem cerebral direta, mas por técnicas mais sofisticadas, que são efetivas graças à sua aplicação coerente e sistemática, sem que a sociedade se dê conta do processo.
Reproduzo o «sugestivo caminho» ao canibalismo legal proposto por Gorzhaltsan segundo as categorias de aceitação de Overton (negritos meus, redação original).
Primeira etapa: do impensável ao radical
Atualmente, é claro, a questão da legalização do canibalismo se encontra no nível mais baixo de aceitação na «janela de possibilidades» de Overton, já que a sociedade o considera um fenômeno absurdo e impensável, um tabu.
Para mudar essa percepção, pode-se, amparando-se na liberdade de expressão, transferir a questão à esfera científica, pois para os cientistas normalmente não há temas tabus. Portanto, é possível celebrar, por exemplo, um simpósio etnológico sobre rituais exóticos das tribos da Polinésia e discutir a história do tema de estudo e obter declarações autorizadas sobre o canibalismo, garantindo, assim, a transição da atitude negativa e intransigente da sociedade a uma atitude mais positiva.
Ao mesmo tempo, é preciso criar algum grupo radical de canibais, embora exista só na Internet, que seguramente será notado e citado por numerosos meios de comunicação. Como resultado da primeira etapa de Overton, o tabu desaparece e o tema inaceitável começa a ser discutido.
Segunda etapa: do radical ao aceitável
Nesta etapa, é preciso continuar citando os cientistas, argumentando que ninguém pode negar-se a ter conhecimentos sobre o canibalismo, já que se alguém se negar a falar disso será considerado um hipócrita intolerante.
Ao condenar a intolerância, também é necessário criar um eufemismo para o próprio fenômeno, para dissociar a essência da questão de sua denominação, separar a palavra de seu significado. Assim, o canibalismo se converte em ‘antropofagia’ e, mais tarde, em «antropofilia».
Paralelamente, se pode criar um precedente de referência, histórico, mitológico, contemporâneo ou simplesmente inventado, mas o mais importante é que seja legitimado, para que possa ser utilizado como prova de que a antropofilia pode, em princípio, ser legalizada.
Terceira etapa: do aceitável ao sensato
Para essa etapa, é importante promover ideias como as seguintes: «o desejo de comer pessoas está geneticamente justificado», «às vezes alguém tem de recorrer a isso, em circunstâncias extremas» ou «o homem livre tem o direito de decidir o que come».
Os adversários reais desses conceitos, isto é, o cidadão comum que não quer ser indiferente ao problema, intencionalmente se convertem para a opinião pública em inimigos radicais, cujo papel é representar a imagem de psicopatas enlouquecidos, opositores agressivos da antropofilia, que incitam a se queimar vivos aos canibais, junto com outros representantes das minorias.
Especialistas e jornalistas, nesta etapa, demonstram que durante a história da humanidade sempre houve ocasiões em que as pessoas se comiam umas às outras, e que isso era normal.
Quarta etapa: do sensato ao popular
Os meios de comunicação, com a ajuda de personalidades famosas e de políticos, já falam abertamente da antropofilia. Este fenômeno começa a aparecer em filmes, letras de música popular e vídeos. Nesta etapa, começa a funcionar também a técnica que supõe a promoção das referências aos personagens históricos de destaque que praticavam a antropofilia.
Para justificar os partidários da legalização do fenômeno, pode-se recorrer à humanização dos criminosos, mediante a criação de uma imagem positiva deles, dizendo-se, por exemplo, que eles são as vítimas, já que a vida os obrigou a praticar a antropofilia.
Quinta etapa: do popular ao político
Esta categoria implica em já começar a preparar a legislação para legalizar o fenômeno. Os grupos de pressão consolidam-se no poder e publicam enquetes que supostamente confirmam uma alta porcentagem de partidários da legalização do canibalismo na sociedade. Na consciência pública se estabelece um novo dogma: «A proibição de comer pessoas está proibida».
Esta é uma técnica típica do liberalismo, que funciona em razão da tolerância como pretexto para a proscrição dos tabus. Durante a última etapa do «movimento das janelas» de Overton do popular ao político, a sociedade já sofreu uma ruptura, pois as normas da existência humana foram alteradas ou foram destruídas, com a adoção das novas leis.
Gorzhaltsan conclui que o conceito de «janelas de possibilidades», inicialmente descrito por Overton, pode ser extrapolado para qualquer fenômeno e é especialmente fácil de aplicar numa sociedade tolerante, em que a chamada liberdade de expressão se converteu em desumanização e onde, ante nossos olhos, são eliminados, um após outro, todos os limites que protegem a sociedade do abismo da autodestruição.”
(Tradução do blog Christe Eleison de um artigo publicado no espanhol De Lapsis.)
http://www.christeeleyson.com
http://infocatolica.com/blog/delapsis.php

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Liberalismo e Catolicismo

“O Liberalismo não conhece o temor, mas não conhece também a caridade. O Liberalismo elimina o temor, mas elimina também a caridade. O Liberalismo atrai, pois ele parece ter chegado ao alto da escada, mas na verdade não pôs os pés nem no primeiro degrau. O catolicismo, ao contrário, sabe ter o rosto antipático da verdadeira bondade, segundo a expressão de um ilustre escritor. Antipático ao pecado, mas sorridente à virtude. Somente o catolicismo sabe unir severidade e bondade, humildade e magnanimidade, para chegar a esta caridade que elimina o temor servil, para deixar permanecer somente este temor reverencial, todo cheio de santa intimidade entre a alma e seu Criador e Salvador.”
(Dom Tomás de Aquino, O.S.B, Os Doze Graus da Humildade)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Liberdades


“Tão horroroso seria destruir a liberdade onde Deus a colocou, como introduzi-la onde a não há, disse Pascal. Esta fórmula ajunta e estigmatiza os dois atentados com que os tiranos, confessos ou mascarados, ameaçam a verdadeira liberdade dos povos: a opressão e a corrupção, a destruição por atrofia, e a destruição por inchaço.
Em França, há mais de um século, vem-se introduzindo a liberdade onde a não há. Arranca-se o povo à necessidade nutrícia, ao humilde e maternal alvéolo de instituições, costumes e deveres, no interior do qual se pode manifestar, normalmente, a liberdade. Para quê? Para a fazer atuar fora do sítio, fora do domínio adaptado à sua natureza, e em que ela própria se refuta: dogma de soberania do povo, com o corolário prático do sufrágio universal... Seria o mesmo que pedir a um cego que escolha livremente entre as cores! Ao ideal da liberdade, imolam-se os quadros da natureza. Diz-se ao cordeiro: és livre de ser, ou não ser, herbívoro. É ao que levam, ao fim e ao cabo, instituições que alimentam no cérebro de todos os homens a ilusão de serem soberanos, iguais a quem quer que seja, e de talhar, com o voto, os problemas mais alheios à sua competência.
Mas estirar e dilatar, assim, a liberdade é, ainda, a maneira mais segura, e a mais pérfida, de a suprimir. Do bem que se usa mal, perde-se até o uso. Soldado que anda sete léguas, ao outro dia está de tréguas... Depois de ter passeado o desejo e o capricho por todos os alimentos de carne, o herbívoro, corrompido, já não é capaz de escolher capazmente entre os vegetais que o rodeiam: o homem do povo, atulhado de “idéias gerais”, e de ambições absurdas, perde a sabedoria específica do meio social e profissional a que pertence. Cada qual só é livre dentro de sua própria ordem: fora dela, não tem mais que a ilusão da liberdade; de fato, é movido por um palavreado oco ou por paixões doentias, e a sonhada soberania universal acaba em fumo e tragédia. E não é isto o mais grave. O mais terrível é que já não é livre, nem mesmo na alma das massas, a verdadeira liberdade, a verdadeira sabedoria.
Pode-se modificar assim o dito de Pascal: ao querer introduzir-se a liberdade onde a não há, destrói-se a liberdade onde Deus a colocou. O homem que não aceita ser relativamente livre será absolutamente escravo.”
(Gustave Thibon, Diagnostics)

Tradução de Torres Júnior

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Poder civil, laicismo e fim último do homem


“Se ao poder civil corresponde ordenar a vida em comum para que esta seja possível, justa e virtuosa, à Igreja compete manter essa noção de virtude e o termo para o qual deve ordenar-se. Não pode a sociedade civil por si mesma (neutra ou “laicamente”) orientar os homens para a consecução da virtude sem a colaboração da Igreja que, mantendo o depósito da fé, poderá outorgar fundamento e sentido último às leis, fervor à comunidade e enlace ou orientação transcendente à ordem temporal. A independência dentro de seus limites do poder temporal e do espiritual exige uma simultânea complementação e harmonia dentro do que pode chamar-se sociedade global humana e nos assuntos mistos que visam tanto a um fim temporal quanto ao sobrenatural. Daí que quando a Igreja abandona os postos retores e a representação que organicamente lhe corresponde em uma sociedade cristã a título de ‘renunciar a todo poder terreno’, ou quando deixa de defender a unidade religiosa de um país onde esta existe e é reconhecida, não realiza um ato de generosa renúncia ao que é renunciável, nem outorga uma liberdade que está em suas mãos outorgar, mas realiza uma deserção daquilo que é o seu dever e que constitui uma parte fundamental de sua missão. Porque uma sociedade sem laços para com Deus, sem pontes com a Eternidade (labor do pontífice), é, como o homem sem fé, uma Cidade sem esperança, regida pelas paixões desregradas, seja de poder, de conforto ou de igualdade; paixões insaciáveis em si mesmas, via que leva à indolência, à inconformidade ambiental, à violência e à corrupção. A partir da Revolução [francesa], e consonante com a básica antropologia racionalista, a ‘ortodoxia pública’ moderna estabelece que o fim único do homem – tanto individual como politicamente – é a sua própria realização ou desenvolvimento, sempre em luta contra toda forma de obstáculo, constrição, mitologia ou (em linguagem já atual) alienação. A Cidade humana, como a casa na definição de Le Corbusier, será uma mera ‘máquina para viver’. Já não significará palácio nem pátria, não terá rosto humano diferenciado e estável, nem rosto divino: não será sede da família nem da estirpe, nem pátria ou terra dos pais: apenas habitação planificada e administração tecnocrática. O conforto, a dinâmica social, o desenvolvimento e o ‘nível de vida’ se declaram únicos objetivos humanos em uma civilização que – em frase de Gustave Thibon – dotou o homem de todos meios de vida ao mesmo tempo que lhe retirou as razões para viver. Hoje assistimos, como em um pesadelo alucinante, a incorporação – ao menos aparente – de importantes setores da Igreja Católica a esta mentalidade anti-religiosa, tanto no plano da antropologia filosófica como no da laicização político-social. Desde as mais altas alocuções às mais modestas pregações dos ‘novos padres’ uma tênue e declinante tintura religiosa trata de mascarar uma nova pseudo-religião do Homem, do Desenvolvimento e da Paz. Em séculos anteriores surgiram no seio da Catolicidade germes desta mentalidade laicista e antropocêntrica. O protestantismo, em nome da intimidade da fé, propôs desde logo uma dessacralização, não apenas da ordem política, mas da própria Igreja; o modernismo, no século passado, e começo deste, sugeriu uma paulatina dissolução da Igreja na humanidade inteira – ‘povo de Deus’ – e a interpretação das promessas evangélicas como o cumprimento do progresso científico e social. Uma e outra tendência foram prontamente expelidas da ortodoxia católica.
À nossa época estava reservado um novo e generalizado germe de tais tendências até atingir a aparente supremacia no seio da própria Igreja. A concepção sustentada por Maritain da nova Cidade laica-cristã e as tendências da Democracia cristã que buscam a todo transe a harmonização entre o cristianismo e o Estado novo nascido da Revolução; o teilhardismo e o progressismo que pretendem uma identificação da fé cristã (previamente desmitificada) com as supostas conquistas da Ciência e técnica modernas e do evolucionismo, abrem caminho a uma absurda interpretação do Cristianismo como um ‘serviço à Humanidade’, ou como um auxiliar ‘espiritual’ da Democracia e do Socialismo universais. Não outro é o sentido de boa parte das palavras que as hierarquias muito autorizadas da Igreja Pós-conciliar nos fazem passar como ‘palavra de Deus’.”
(Rafael Gambra Ciudad, Sociedad y Religación: la Ciudad como Habitáculo Humano)

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sábado, 31 de janeiro de 2015

Islamismo e laicismo

“Um amável leitor me pede que explique mais detalhadamente essa aliança anticrística entre islamismo e laicismo que mencionava em um artigo anterior. Permitir-me-ei ilustrar tal explicação com citações de um irresistível romance de Chesterton que aborda profeticamente essas questões, A taberna errante, dominada pela figura de lord Ivywood, um líder liberal deslumbrado com o progresso humano. A Ivywood move um secreto aborrecimento do cristianismo, que considera uma religião contrária ao progresso; para erradicá-la, propõe mui velhacamente ao Parlamento um plano de modernização da Inglaterra, começando pelo fechamento das tabernas (medida que encobre seu ódio às alegrias cristãs, que sempre se congregaram ao redor do vinho). Assim age o laicismo: envolve-se em conversas fiadas reformistas e modernizadoras, invoca razões de higiene pública e progresso social; mas tais espalhafatos não são senão balbucios com os quais camufla seu ódio constitutivo e medular à fé cristã.
Para ajudar a camuflar esse ódio, Ivywood se mostra partidário de uma “competição de civilizações” que expõe com palavras melífluas e ecumênicas: “Vivemos em uma época em que os homens começam a dar-se conta de que um credo tem tesouros para os outros credos, uma religião tem segredos que revelar às outras, uma fé pode comunicar-se com outra e uma Igreja ensinar outra Igreja. (...) Por que não vamos admitir que por sua vez o Islã pode nos oferecer algo precioso, algo suscetível de semear a paz em milhares e milhares de lares?” Ivywood mostra-se convicto de que o islamismo “é a religião com mais potencial progressista que existe”; e de que pode facilitar “o crescimento perpétuo para a perfeição infinita”, que é o fim último da religião democrática. Naturalmente, a fascinação de Ivywood pelo islã não é senão o disfarce com o qual oculta seu afã por demolir o patrimônio espiritual do cristianismo. Ivywood vê no islã um catalisador; ou, dito mais exatamente, uma antítese hegeliana que facilitará, uma vez derrubadas as barreiras cristãs, uma síntese fundada sobre “a evolução, a relatividade e a expansão progressiva do pensamento”.
Como todo progressista, Ivywood pensa que “o mundo está mal feito”; e, em um rasgo de endeusamento, afirma categórico: “E eu vou refazê-lo à minha vontade”. Em uma passagem particularmente espantosa da novela, Ivywood mostra sua aversão à arte clássica e declara-se por uma arte em que se vão esfumando as figuras, até concluir na pura abstração. Seu interlocutor discorda: “Tudo se pode combinar até um certo ponto, mas além desse ponto a identidade desaparece e com ela tudo mais”. Mas isso é o que Ivywood deseja: “Quero a ruptura de barreiras e nada mais”. Tal confissão aflige e horroriza seu interlocutor: “Mas a ruptura de tais barreiras... talvez signifique a destruição de tudo!” Ao que Ivywood assente, sonhador: “É possível!” Por sorte, para frustrar o desígnio de Ivywood surge Patrick Dalroy, um capitão irlandês, fiel à alegria das tabernas e à fé de seus ancestrais, que sabe que as sociedades entram em colapso quando renegam sua tradição espiritual e cultural. Quando lhe perguntam pelo “grande destino” que aguarda o Império Britânico, Dalroy o resume em quatro episódios: “Vitória sobre os bárbaros. Emprego dos bárbaros. Aliança com os bárbaros. Conquista pelos bárbaros”.
E é que, de fato, não há outro destino senão a conquista pelos bárbaros para os povos que renegaram sua tradição. Por isso laicismo e islamismo, o Jano bifronte da Nova Ordem Mundial, necessitam um do outro como unha e carne.”
(Juan Manuel de Prada, Islamismo y Laicismo)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Don Curzio Nitoglia: Io Non Sono Charlie

“O homem, segundo Aristóteles, é um “animal racional”, feito para conhecer a verdade (princípio especulativo, por si evidente, de identidade e não contradição: “sim=sim, não=não; sim≠não”), e “livre”, feito para amar o bem (princípio prático da sindérese: “faz o bem e evita o mal”). Hoje, os intelectualóides pós-iluministas são todos “Charlie”, quer dizer, intelectualmente sofistas (negação da contradição: “bem=mal”) e moralmente degenerados (perda da sindérese: “malum faciendum, bonum vitandum”), como os caricaturistas parisienses de Charlie Hebdo (“parce defunctis”).
Milhões de pós-europeus finalmente americanizados saem às ruas, arrastados pela sinarquia globalista, para continuar insultando implicitamente a Santíssima Trindade, Jesus, a Virgem Maria, o Papa. Quanto a nós, tratemos de ser homens verazes, que conhecem a verdade e amam o bem, sem ofender e profanar a Divindade.
A ironia* e a sátira são boas, mas devem ser educadas; a vulgaridade, a blasfêmia, o insulto são objetivamente um mal (segundo o oitavo mandamento).
O Ocidente americanista é capaz de matar pela bola, pelo concerto de rock, pela discoteca, pela transgressão, pelas gravidezes não desejadas, pelas enfermidades não suportadas, para importar a democracia, e tudo isso não surpreende a ninguém. Só Deus pode – e mais, deve – ser insultado. A única “religião” que não admite dúvidas, perguntas, demonstrações é a “Shoá”. Certamente, devem-se evitar os excessos da legítima defesa, mas tampouco cumpre animar os que maldizem a Deus e às coisas sagradas.
O iluminismo idealista nos levou a estes paradoxos: 1) a acolhida de etnias e religiões diametralmente opostas à européia (mediterrânea, greco-romana e católica); 2) o insulto que fere e ofende ao que se quis acolher para depois feri-lo, o qual, não havendo perdido sua identidade, responde de maneira agressiva e desproporcional, embora não completamente desprovida de fundamento: “não mistures o sagrado com o profano”.
É mister sermos realistas. O atual estado de degradação do homem (e os fatos parisienses de janeiro de 2015 nos permitem apalpá-lo com as mãos), finalizado pelo niilismo em troca do Deus que o Super-homem havia querido matar – como teorizou Nietzsche – não pode curar-se com remédios naturais. Só a ajuda da Onipotência divina pode remediar tanta ruína. Nem muito menos com as vinhetas, as rajadas de metralhadora e as marchas iluministas e iluminadas. “Esse tipo de demônios só se expulsa com o jejum e a oração”.
Conclusão: sê tu mesmo, animal racional e livre. Faz o bem e evita o mal, isso é todo o homem. Não sejas Charlie ou Charlot, mas um filho de Deus criado à sua imagem e – se vives na graça – à sua semelhança. “Agnosce christiane dignitatem tuam!” Do contrário, “passeia e ri, ó palhaço, e todos aplaudirão”. Cada um escolha o seu caminho.
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*Ironia vem do grego èiròn: aquele que interroga os demais fingindo socraticamente não saber para fazer com que descubram a verdade. Sátira vem do latim sátura e alude a uma composição poética que critica com agudeza as debilidades humanas. Agudeza vem do latim arguere, indicar, demonstrar, e significa espírito sutil, pronto, inteligente, delicado, agradavelmente mordaz. Pelo que, em rigor de lógica, Charlie não é irônico, nem satírico, nem sequer agudo. É ofensivo e insultante, vulgar e desagradável.”

http://chiesaepostconcilio.blogspot.com.ar

domingo, 18 de janeiro de 2015

Liberdade de expressão

“Muitos leitores me expressaram sua perplexidade ante a exaltação e defesa absolutista da liberdade de expressão que nestes dias se fez, vinda inclusive de meios de inspiração cristã ou declaradamente confessionais, para justificar as caricaturas do pasquim “Charlie Hebdo” nas quais se blasfemava contra Deus de modos aberrantes. A esses leitores digo que não se deixem confundir: os que fizeram tais defesas não professam a religião católica, nem se inspiram na filosofia cristã, embora finjam fazê-lo, aproveitando a consternação causada pelos vis assassinatos dos caricaturistas; mas são fanáticos da “religião democrática”, perversão que consiste em substituir a sã defesa da democracia como forma de governo que, mediante a representação política, facilita a participação popular no exercício do poder pela defesa da democracia como fundamento de governo, como religião demente que subverte qualquer princípio moral, amparando-se em supostas maiorias, na realidade massas cretinizadas e sugestionadas pela repetição de sofismas.
Os fanáticos dessa religião necessitam que as massas cretinizadas aceitem como axiomas (proposições que parecem evidentes por si mesmas) seus sofismas, entre os quais se encontra a chamada “liberdade de expressão” em sua versão absolutista. Para criar tais axiomas recorrem ao método antecipado por Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo, que consiste na repetição, por milhares ou milhões de vezes, de uma mesma afirmação. No romance de Huxley, tal repetição se conseguia mediante um mecanismo repetitivo que falava sem interrupção ao subconsciente, durante as horas do sono; em nossa época se consegue através da saturação mental por meio da bazófia que nos servem os mass media, infestados de fanáticos da religião democrática que defendem uma liberdade de expressão absolutista: liberdade sem responsabilidade; liberdade para prejudicar, injuriar, caluniar, ofender e blasfemar; liberdade para semear o ódio e estender a mentira às massas cretinizadas; liberdade para condicionar os espíritos e incliná-los ao mal. Os que defendem essa “liberdade de expressão” como direito ilimitado são os mesmos que também defendem uma “liberdade de consciência” entendida não como liberdade para escolher moralmente e agir com retidão, mas como liberdade para escolher as idéias mais perversas, as paixões mais torpes e as ambições mais egoístas e pô-las em prática, pretendendo ademais que o Estado garanta sua realização. Não nos deixemos enganar: os que defendem a liberdade para publicar caricaturas blasfemas estão defendendo uma liberdade destrutiva que só leva à decadência e ao niilismo.
O pensamento cristão nos ensina que a liberdade não é um fim em si mesma, mas um meio para alcançar a verdade. Se à palavra liberdade não se acrescenta um “para quê”, transforma-se em uma palavra sem sentido, uma palavra asquerosamente ambígua que pode amparar as maiores aberrações. Como dizia Castellani, “a liberdade não é um movimento, mas um poder mover-se; e no poder mover-se o que importa é o para onde, o para quê.” Não pode haver uma liberdade para ofender, para provocar ódios, para instigar baixas paixões; não pode haver liberdade para ultrajar a fé do próximo e blasfemar contra Deus. Os cristãos se distinguem porque rezam uma oração na qual se pede: “Santificado seja vosso Nome”. Os fanáticos da liberdade de expressão querem que esse Nome seja eliminado, aviltado e escarnecido, para maior honra de sua religião democrática. Não lhes dêem atenção: quer vistam-se com paletó e gravata, quer com batina e solidéu, estão enganando-os, querem transformá-los em massa cretinizada.”
(Juan Manuel de Prada, Liberdad de Expresión)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Eu não sou Charlie Hebdo

“Durante os últimos dias, temos ouvido qualificarem os periodistas vilmente assassinados do pasquim Charlie Hebdo de “mártires da liberdade de expressão”. Também temos assistido a um movimento de solidariedade póstuma com os assassinados, mediante proclamações inassumíveis do tipo: “Eu sou Charlie Hebdo”. E, chegados ao cúmulo do dislate, temos ouvido defenderem um pretenso “direito à blasfêmia”, inclusive em meios católicos. Sirva este artigo para dar voz aos que não se identificam com esse acúmulo de disparates filhos da debilidade mental.
Por volta de setembro de 2006, Bento XVI pronunciou um grandioso discurso em Ratisbona que provocou a ira dos maometanos fanáticos e a censura aleivosa e covarde da maioria dos líderes e meios de comunicação ocidentais. Aquele espetáculo de vileza infinita era facilmente explicável: pois em seu discurso, Bento XVI, além de condenar as formas de fé patológica que tratam de impor-se com a violência, condenava também o laicismo, essa expressão demente da razão que pretende confinar a fé no subjetivo, transformando o âmbito público em um mercado onde a fé pode ser ultrajada e escarnecida até o paroxismo, como expressão da sacrossanta liberdade de expressão. Essa razão demente é a que levou a civilização ocidental à decadência e promoveu os antivalores mais pestilentes, desde o multiculturalismo à pansexualidade, passando logicamente pela aberração sacrílega; essa razão demente é a que defende o pasquim Charlie Hebdo, que, além de publicar sátiras provocadoras e gratuitamente ofensivas contra os muçulmanos, publicou em reiteradas ocasiões caricaturas aberrantes que blasfemam contra Deus, começando por uma capa que mostrava as três pessoas da Santíssima Trindade sodomizando-se entre si. Escrevia Will Durant que uma civilização não é conquistada de fora até que não se tenha destruído a si mesma por dentro; e o desenho sacrílego ou gratuitamente ofensivo que publicava o pasquim Charlie Hebdo, como os antivalores pestilentes que defende, são a melhor expressão dessa deriva autodestrutiva.
Devemos condenar esse vil assassinato; devemos rezar pela salvação da alma desses periodistas que em vida contribuíram para aviltar a alma de seus compatriotas; devemos exigir que as feras que os assassinaram sejam castigadas como merecem; devemos exigir que a patologia religiosa que inspira essas feras seja erradicada da Europa. Mas, ao mesmo tempo, devemos recordar que as religiões fundam as civilizações, que por sua vez morrem quando apostatam da religião que as fundou; e também que o laicismo é um delírio da razão que só logrará que o islamismo erija seu culto ímpio sobre os escombros da civilização cristã. Aconteceu no norte da África no século VII; e acontecerá na Europa do século XXI, por pouco que continuemos defendendo aberrações como as que alardeia o pasquim Charlie Hebdo. Nenhuma pessoa que conserve uma migalha de sentido comum, assim como um mínimo temor a Deus, pode mostrar-se solidária com tais aberrações, que nos têm conduzido ao abismo.
E não esqueçamos que o Governo francês – como tantos outros governos ocidentais –, que amparava a publicação de tais aberrações, é o mesmo que tem financiado em diversos países (e em especial na Líbia) os islamitas que têm massacrado a milhares de cristãos, muito menos pranteados que os periodistas do pasquim Charlie Hebdo. Pode parecer ilógico, mas é irrepreensivelmente lógico: é a lógica do mal na qual o Ocidente tem-se instalado, enquanto espera a chegada dos bárbaros.”
(Juan Manuel de Prada, Yo No Soy Charlie Hebdo)