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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Ceia anglicana em São Pedro

“Quando dentro de poucos dias, em rigorosa consonância com os festejos pelo quarto aniversário da eleição de Francisco, a basílica de São Pedro se veja em transe de suportar a celebração, em seu altar-mor, das vésperas anglicanas por celebrantes isentos de autêntica dignidade sacerdotal, se estará cumprindo um novo marco naquele outro marco que já constitui este ímpar pontificado. Concretamente, se voltará a tentar a Deus no interior mesmo do templo maior de nossa fé, como faz mais de um ano se fez em sua fachada exterior, ao projetar sobre a mesma imagens ecológico-simiescas no mesmo dia da Imaculada Conceição. Ambos fatos merecem um lugar no trio que bem poderia completar-se com a missa satânica celebrada em 1963 na capela paulina no Vaticano, segundo conhecido testemunho de Malachi Martin em seu romance Windswept house.
Trata-se de um sacrilégio, até a data, único em seu gênero. Pois se as visitas a edifícios luteranos da parte de Bento XVI e do próprio Francisco afetavam a potestade, uma tão factível como estrábica interpretação das mesmas (em tempos, como os nossos, de fé desfalecente) podia crer infligida a mancha à pessoa apenas, falível como todas, e não ao cargo; mas a concessão do altar-mor da Igreja, com a sagrada hóstia oculta no tabernáculo sendo ipso facto vilipendiada, já comporta uma profanação inequívoca.
Como já não serve para nada o Magistério, a bula Apostolicae curae de Leão XIII poderá ser entregue às chamas sem escrúpulos, toda vez que aquele papa define ali que “com o íntimo defeito de forma” do ritual de ordenações anglicano, reformado em 1552 após vários anos de ruptura com Roma, “está unida a falta de intenção que se requer igualmente de necessidade para que haja sacramento”, motivo pelo qual, de conformidade com os decretos emanados pelos pontífices precedentes acerca do assunto, “pronunciamos e declaramos que as ordenações feitas em rito anglicano têm sido e são absolutamente inválidas e totalmente nulas” (Dz. 1966). De nada vale, pois, o posterior intento anglicano de recuperar o velho formulário, mais de cem anos depois do cerceamento do primitivo: já então se havia perdido a sucessão apostólica, o que confere às vésperas anglicanas em Roma um valor intrínseco não maior que se lhes cedesse São Pedro para o five o'clock tea, não sem o óbvio efeito sacrílego.
Deste modo, o que se chamou a “evolução homogênea do dogma”, isto é, a explicitação progressiva no tempo do conteúdo implícito na Revelação, veio a ser substituído pela “contra-afirmação heterogênea da doxa”, da mera opinião humana, flutuante e reversível, como para submergir definitivamente toda clareza doutrinal na névoa da ignorância ou na treva das inteligências ofuscadas pelo orgulho. Porque – valha tê-lo sempre presente – a heresia pertence ao âmbito das opiniões, das reservas mentais para com a verdade proposta a nosso assentimento fiel. O que o “livre exame” consagra é a disposição selecionadora do conteúdo da fé, desnaturalizando-a em sua mesma raiz ao pretender arraigá-la na vontade, sendo a fé – como é – uma virtude intelectual. Tudo que provenha desta primeira defecção perpetuará, pois, o erro e o dano.
A exaltação da variedade anárquica, da pluralidade desbocada e o caos que o protestantismo exibe desde seu berço, será caráter logo estendido ao pensamento e à ação – à história moderna, digamos, dimanada daquela violenta ruptura religiosa. O trágico olvido de que só do uno procede o múltiplo impôs um fardo sobre toda a realidade humana, acabando com a instituição monárquica, com as tradições locais e ainda com a família e o matrimônio, âmbito privilegiado da unidade e princípio de sua consolidação civil. É o horror que o caos suscita na consciência humana que inspirou finalmente aos ideólogos a recorrência a uma unidade espúria através do totalitarismo, produto tipicamente moderno capaz de dar acabada conta deste desgraçado processo de atomização e reintegração falaz de cunho voluntarista. Da desintegração extrema à leviatanização: com tal fórmula poderiam sintetizar-se cinco séculos de história moderna.
Unus Dominus, una fides, unum baptisma: na Igreja modernizada ou modernista, da precisa fórmula paulina veio, pois, a escamotear-se o termo do meio, com a finalidade de propiciar uma nova unidade fundada sobre outros princípios, outras opiniões, heterodoxias. “Temos o mesmo batismo, temos que caminhar juntos”, é o galanteio sussurrado nos ouvidos dos protestantes, com crassa omissão de que não temos a mesma fé. A nova unidade, adotada pela “diversidade reconciliada”, é um magma no qual as necessárias distinções ontológicas se dissolvem, onde a virtude e o vício valem o mesmo, onde as noções de bem e mal são frivolidades, onde a ortodoxia equivale à heresia e onde – bem diferente da parábola das bodas reais (Mt 22, 1-14) – todos podem ser admitidos à ceia sem vestir o traje correspondente. Proclama-se, a rigor, um novo e demencial evangelho.
Se pelos gostos se conhece o homem, no caso de Bergoglio conheceremos pelos mesmos também seu programa. O loquaz profeta da nova misericórdia soube apregoar sua afeição pela Crucificação branca de Chagall (quadro no qual o próprio autor assinalou sua intenção de associar o sacrifício de Cristo com o infecto mito da “Shoah”, subordinando inclusive aquele a este), do mesmo modo que não lhe há faltado ocasião de reivindicar “A festa de Babette” como sua película favorita. Assim o expressa em sua controvertida Amoris laetitia:
As alegrias mais intensas da vida surgem quando se pode provocar a felicidade dos outros, em uma antecipação do Céu. Cabe recordar a feliz cena do filme A festa de Babette, onde a generosa cozinheira recebe um abraço agradecido e este elogio: “Como deliciarás os anjos!”. É doce e consoladora a alegria de fazer as delícias para os outros, vê-los usufruir delas. (§129)
Não tínhamos referências à obra e, por isso, não alcançávamos em toda sua plenitude o que Bergoglio pretendia traficar-nos com semelhante alusão. Veio em nosso auxílio um recente artigo do blog de Barônio, onde se nos noticia da infausta fisionomia da autora do livro no qual se inspira a película, Karen Blixen, uma escritora danesa convencida de que o bem e o mal são intercambiáveis: “somos nós mesmos que julgamos bom ou mau algo que por si é ambivalente, e que se torna bom ou mau segundo nosso juízo, segundo nosso discernimento pessoal. Caso a caso. E recordaremos também que Blixen – quando descobriu haver contraído sífilis de seu primeiro marido, durante sua estada na África – entregou sua própria alma ao diabo, de modo que toda a experiência vivida pudesse ser vertida em seus contos”. O animismo e a bruxaria, ao que parece, foram a obscura religião desta desnorteada nórdica cujas fantasias agradaram tantíssimo a Bergoglio.
Estritamente falando, o que Francisco pondera é a película, que do livro original faz uma interpretação um tanto abusiva. Em poucas palavras, a história trata de uma esplêndida comida oferecida por uma cozinheira francesa a um grupo de comensais noruegueses pertencentes a uma comunidade luterana, doze ao todo, que honram com este ágape a memória do fundador. O que a película não conta é que, na história original, a cozinheira é uma terrorista fugitiva de sua nação que, empregada em uma vila norueguesa pelas filhas de um pastor luterano local como governanta, oferece este banquete com o dinheiro obtido ao ganhar a loteria para demonstrar sua gratidão a seus protetores e, ao mesmo tempo, mostrar sua habilidade nas artes culinárias. Sua condição de francesa poderia sugerir sua filiação católica, se o livro não explicitasse seu passado anarquista e criminoso.
Conclui Barônio:
Babette, portanto, não é um personagem positivo, não é o anjo que deixa entrar uma réstia de luz católica na escuridão na qual se encontram os membros da seita. Ela é antes um personagem dir-se-ia quase infernal, que depois de haver-se beneficiado da generosa hospitalidade de uma pequena comunidade e de haver merecido sua confiança, seduz as mentes e os corações persuadindo-os de que as diferenças doutrinais e ideológicas – mantidas sempre em silêncio – podem ser superadas no encontro naquilo que cremos compartilhar: a mesa […].
A ceia de Babette é o âmbito da vingança hedonista por sobre os sacrifícios dolorosos do passado […] que são reabsorvidos em um presente dionisíaco, diante da memória ridicularizada do Decano, quase obrigado a assistir à traição de sua comunidade. Tampouco deve-se olvidar a reprovação da severidade formalista do defunto, a qual se atribuem as renúncias das filhas Martina e Philippa, frustradas em suas aspirações por uma visão beata e esclerosada da fé.
Aquilo que restava da união com o sacrifício de Cristo na contudo distorcida visão luterana dissolve-se toda vez que Cristo é desterrado do
convivium. Dessa maneira a ceia, que até então congregava em torno da pobre mesa os fiéis da seita para comemorar seu fundador, com babette se transforma em uma celebração da comunidade tornada um fim em si mesma.
A tal ponto torna-se supérflua a figura do sacerdote, que Babette pode permanecer na cozinha. Ela é o
deus ex machina que prepara tudo, assim como Bergoglio prepara uma nova religião, deixando que os acontecimentos falem em primeira pessoa.
Assim, a puro golpe de acontecimentos, com a inexorabilidade dos fatos consumados, se vai acelerando aquilo que a Escritura designa como a “abominação da desolação” e a “supressão do sacrifício cotidiano”, conforme a estratégia revolucionária de pegar primeiro e, se é possível, mais uma e ainda outra vez antes que se produza a tardia reação: tal é a confiança (audácia) que os maus têm na confiança (inércia) dos bons. Primeiro a ruptura litúrgica, com sua sequela indetível e crescente de abusos que ao cabo de algumas décadas tornam irreconhecível o mesmo ritual romano reformado; depois, a dispensa para comungar em pecado mortal segundo a teoria do discernimento, outrora condenada como “moral de situação”. Imediatamente depois, a abertura de lacunas pelas quais enfiar a discussão do diaconato feminino e o celibato sacerdotal, após uma práxis já folgadamente imposta de “ministros extraordinários” do culto. Que falta para que às liturgias inter-religiosas e à ceia anglicana suceda uma iminente modificação na fórmula da consagração, para evitar que a importuna Vítima sacrificial se faça presente sequer entre os degradados paramentos do Novus Ordo?
Ubi corpus, ibi aquilae. Umas, as águias congregadas para alimentar-se, que “seguem o Cordeiro onde quer que este vá” (Ap 14, 4); outras, que descem a pique para proscrever Deus de nossos altares. O sacrossanto Corpo de Cristo está no centro da guerra escatológica.”

https://in-exspectatione.blogspot.com.br

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O legado de Lutero

I
Em breve começarão as comemorações do quinto centenário do chamado Dia da Reforma, no qual Lutero cravou suas célebres 95 teses na porta de uma igreja de Wittemberg. Aquelas teses, que destruiriam a unidade da fé, mudariam também traumaticamente as concepções filosóficas, políticas, econômicas e culturais vigentes, até o ponto de transformar a reforma luterana em um dos fatos mais importantes da História. A chamada Reforma, ao contrário do cisma do Oriente, não foi uma mera controvérsia eclesiástica, senão que supôs uma expressa rejeição ao Dogma e à Tradição, assim como uma negação do valor dos sacramentos. E os dogmas religiosos não são, como o ingênuo (crente ou incrédulo) pensa, meras enteléquias sem consequências sobre a realidade, senão condensação de verdades sobrenaturais que exercem um influxo muito fundo sobre nossa vida. Não se pode cortar o caule de uma roseira e pretender que as pétalas da rosa não murchem.
Durante todo um ano, vamos receber um bombardeio espantoso sobre as pretensas bondades do legado luterano. Nós, na série de quatro artigos que hoje iniciamos, oferecemos às três ou quatro leitoras que todavia nos suportam um modesto antídoto contra tal avalanche. Certamente, a Reforma de Lutero chegou quando a decadência da Igreja (minada pelo concubinato do clero, pela rapacidade e avareza de muitos religiosos e pela simonia institucionalizada) alcançava cotas lastimáveis. Mas não se dá remédio aos erros caindo em um maior; e a parábola evangélica do joio e do trigo já nos adverte contra o perigo de arrancar o joio antes do tempo (que foi, exatamente, o que quis fazer Lutero, conseguindo tão somente dispersá-lo).
No fundo daquele furor reformista de Lutero palpitava o fracasso espiritual de um homem que havia feito esforços ímprobos por alcançar a união com Deus. Mas todos seus sacrifícios, penitências e abnegações haviam sido em vão; e continuavam abrasando-o as concupiscências mais torpes (em cuja descrição, por pudor, não entraremos), que lhe causavam enorme angústia e ansiedade. Lutero considerou então (fazendo uma projeção teológica de suas próprias debilidades) que o homem pecador nada podia fazer para alcançar a salvação. Assim foi que concluiu que Cristo já havia sofrido por nossos pecados; e que, portanto, já estávamos perdoados. De modo que, para salvar-nos, bastava que se nos aplicassem os méritos de Jesus por meio da fé.
Esta justificação através exclusivamente da fé se funda em uma concepção pessimista da natureza humana, que nega a liberdade humana para vencer as tentações e também a graça dos sacramentos. O homem luterano, sem capacidade para sobrepor-se ao pecado e iluminado pela sola fide, suprime a mediação da Igreja; e será sua consciência, iluminada pelo Espírito Santo, que ordenará sua própria vida religiosa e interpretará livremente as Escrituras. E, como escreveu o grande Leonardo Castellani com seu habitual gracejo, “desde que Lutero assegurou a cada leitor da Bíblia a assistência do Espírito Santo, esta pessoa da Santíssima Trindade começou a dizer umas asneiras espantosas”. O livre exame luterano desencadeou a enfermidade da inteligência denominada diletantismo, que depois contagiou, por processo virulento de metástase, toda a cultura ocidental, primeiramente com as roupagens do fátuo endeusamento intelectual, por último com os farrapos lastimáveis do desejo de saber sem estudar e da soberba da ignorância. As consequências da Reforma luterana no plano filosófico e moral não se fariam esperar.
II
Ao afirmar o princípio do livre exame, que atribui ao homem uma faculdade onímoda para ordenar sua vida religiosa, Lutero antecipa o imperativo categórico de Kant, que proclamaria a suficiência absoluta da vontade humana para emanar normas de conduta, estabelecendo-se assim o homem como único legislador e árbitro de sua vida moral. Por sua vez, com sua tese do servo arbitrio, que julga o homem incapaz de eleger o bem, Lutero se torna involuntariamente o promotor do niilismo filosófico e ético.
Lutero, discípulo dos nominalistas Wesel e Biel, inseriu no pensamento de seus mestres um asfixiante pessimismo antropológico. Julgava que a inteligência humana, danificada pelo pecado original, estava incapacitada para abstrair o universal e pensar nas coisas do espírito; mas, ao mesmo tempo, considerava que era bastante apta para desenvolver-se com pragmatismo no mundo. Inevitavelmente, um homem eximido de discernir uma ordem moral pode refugiar-se em sua consciência subjetiva. O bem já não será uma categoria que o homem discerne através da razão, senão o que em cada momento determine que é bom (ou, dito de modo mais realista, o que lhe convenha) e o mal, o que entenda que seja mal (ou seja, o que lhe prejudique). Danilo Castellano observa com perspicácia que esta consideração da consciência permitirá depois a Rousseau afirmar no Emílio que “a consciência é a voz da alma, como as paixões o são do corpo”. Esta consciência, reduzida a mera pulsão subjetiva, acabará conformando ao homem de nossa época, uma massa disforme instintiva sem guia nem freio, órfão de razão e responsabilidade. Um homem que pauta suas decisões (que, inevitavelmente, já não serão morais) pela pura espontaneidade, que é a que lhe permite afirmar-se e ser “autêntico”, e até crer (risum teneatis) que é livre como o vento, embora seja escravo de suas paixões. E da consciência instintiva ao subconsciente freudiano há somente um passo.
Inevitavelmente, esta concepção luterana do homem, incapacitado para abstrair o universal, imporá o abandono da metafísica, que posteriores correntes filosóficas declararão inacessível (e, com o tempo, inútil). Como depois afirmaria Hegel, “a verdadeira figura em que existe a verdade não pode ser senão o sistema científico dela”. Ou seja, cada escola filosófica deve criar um sistema que se erija em verdade (naturalmente, refutada pela escola seguinte). Assim, conclui-se na extravagância de pensar que a razão humana é suficiente para dar fundamento a toda a vida do homem, restando excluída a ordem sobrenatural. E, com o tempo (porque os sistemas filosóficos, ao faltar-lhes o apoio de uma verdade universal, se tornam pendulares), conclui-se na extravagância contrária, segundo a qual a razão humana não tem autoridade para fundamentar a vida, o que desembocará nos sucessivos ceticismos, relativismos e niilismos do pensamento contemporâneo.
Como defende Belloc em Europa e a fé, “ao negar-se a realidade e até o ser, criam-se sistemas que se movem em um vazio atroz, para assentar-se finalmente em uma negação e desafio universais lançados contra toda instituição e todo postulado”. O desaparecimento do saber metafísico acaba degenerando na busca de verdades “sociológicas”, sempre conjunturais e cambiantes, carentes de fundamentação real. E, cedo ou tarde, propicia malfomações e excrescências irracionais; pois, lá onde falta a metafísica, afloram como cogumelos um sem-fim de superstições enlouquecidas, fanáticas e imprevisíveis. E surgem então, inevitavelmente, conceitos políticos mórbidos. Porque o legado de Lutero tem também, certamente, consequências políticas.
III
Se a inteligência humana, danificada pelo pecado original, está incapacitada para abstrair o universal, não pode aspirar a entender as leis da política. Deste modo, a doutrina de Lutero se torna legitimadora do Estado moderno, concebido como instrumento para ordenar a vida social e reprimir a intrínseca maldade humana, transformando suas leis positivas em norma ética. Frederick D. Wilhemsen nos chama a atenção para o paradoxo de que Lutero, que começou insuflando a rebelião dos camponeses alemães contra seus príncipes (pensando que os camponeses o apoiariam em sua luta contra Roma), acabou exortando os príncipes a esmagarem do modo mais implacável as revoltas camponesas (depois que os príncipes adotassem sua doutrina). “No fim das contas – escreve Wilhemsen – o luteranismo prega que o cidadão tem que obedecer ao príncipe em tudo, de uma maneira cega, pois o cristão sabe que a autoridade do príncipe vem de Deus, mas não sabe nada da lei natural, devido à corrupção de sua razão, o único instrumento capaz de descobrir essa lei”.
Certamente, a monarquia já havia tido tentações de fazer-se absoluta antes de Lutero. Mas os reis estavam limitados por uma lei humana, o costume, e por uma lei divina que não podiam violar. Ambas barreiras serão anuladas por Lutero, que em sua obsessão por combater o papado transforma o rei em representante de Deus na terra, afirmando que todo autêntico cristão está obrigado a submeter-se incondicionalmente a ele. A monarquia, antes de Lutero, se havia acomodado à sentença de Santo Isidoro (“Rex eris si recte facias; si non facias, non eris”); e assim havia chegado a ser, nas palavras de Donoso, “o mais perfeito de todos os governos possíveis, por ser uno, perpétuo e limitado”. Ao afastar esses limites que constrangiam o monarca, Lutero instaura a deificação do poder civil. O monarca se torna objeto de adoração cega; seu poder já nunca mais se assentará na “auctoritas” nem na “potestas”, senão que será puro exercício da força sem restrições (ou sem mais restrições que os regulamentos que ele mesmo evacua, submetidos a sua conveniência e capricho).
Assim se corrompe o princípio de autoridade, até sua confusão com a mera força despótica. Esta infração da ordem política – afirma Belloc – iria ter um efeito explosivo: o poder que mantinha as coisas unidas se tornará a partir desse momento um poder que separa cada uma das partes componentes. Com efeito, o poder absoluto mostrará logo, sob uma falsa fachada unificadora, sua íntima vocação desagregadora, fazendo da disputa pelo poder, a tensão social e a guerra constante o clima natural de uma Europa dividida.
Naturalmente, a doutrina luterana sobre a soberania absoluta dos reis será a que depois, convenientemente deslocada de sujeito, fundamentará o princípio da soberania popular. A onipotência do príncipe se transforma em vontade popular soberana, sua essência continua sendo a força despótica, capaz de determinar mediante maiorias o bem e a verdade segundo sua conveniência e capricho.
Wilhemsen defende que “a passividade do alemão diante de seu governo, seja este monárquico, imperial, republicano ou nazista, reflete uma teologia e uma religião cuja negação da lei natural exige que o homem obedeça passivamente, sem perguntar o porquê”. Suspeito que esta afirmação que Wilhemsen circunscreve ao alemão poderia se estender em geral ao homem contemporâneo, que crendo-se mais soberano que nunca está na realidade submetido passivamente a poderes ilimitados que já não controla. Começando com o poder do dinheiro, que o protestantismo liberou.
IV
A rebelião de Lutero daria asas a outro clérigo subversivo, Calvino, que como ele afirmou a depravação da natureza humana e negou que o homem tivesse livre arbítrio. Calvino acrescentou, no entanto, uma dimensão nova à doutrina luterana, afirmando a monstruosa doutrina da predestinação. Porém, embora o homem nada possa fazer para salvar-se, pode – segundo Calvino – saber antecipadamente qual é seu destino, pois a prosperidade material se estabelece como sinal de afeto divino. Esta doutrina abominável desencadearia a avareza dos abastados, que começaram a agitar as massas contra o Papado; e, enquanto as massas estavam entretidas agitando-se e desfrutando da anarquia moral gerada pela ruptura com Roma, os ricos as despojaram de suas terras. “É sempre vantajoso para o rico – afirma Belloc – negar os conceitos do bem e do mal, objetar as conclusões da filosofia popular e debilitar o forte poder da comunidade. Sempre está na natureza da grande riqueza (…) obter uma dominação cada vez maior sobre o corpo dos homens. E uma das melhores táticas para isso é atacar as restrições sociais estabelecidas”. Aos fazendeiros e possuidores de grandes fortunas havia chegado, com efeito, uma grande oportunidade com a Reforma. Em todos os lugares onde a riqueza se havia acumulado em umas poucas mãos, a ruptura com os antigos costumes foi para os ricos um poderoso incentivo. Fizeram como se seu objetivo fosse a renovação religiosa; mas seu verdadeiro fim era o Dinheiro. E assim conseguiram que seu desmesurado afã de lucro resultasse menos insuportável aos olhos dos pobres, entretidos com o pirulito da renovação religiosa. A doutrina católica havia combatido o industrialismo e a acumulação de riqueza; mas o protestantismo fez do afã de lucro um sinal de salvação.
E, enquanto crescia o afã de lucro, consumou-se o “isolamento da alma”, que Belloc considera com razão o mais nefasto legado da Reforma e define como uma “perda do arrimo coletivo, do são equilíbrio produzido pela vida comunitária”. Com efeito, o protestantismo introduziu um isolamento das almas que, ademais de gangrenar a teologia, a filosofia, a política, a economia e a vida social, destruiu a unidade psíquica da pessoa. Pois, ao questionar toda instituição humana e toda forma de conhecimento, levou os seres humanos a um desenraizamento crescente e a uma exaltação do individualismo cuja estação final é o desespero, como comprovamos nas sociedades modernas, integradas por indivíduos enfermos de solipsismo e, ao mesmo tempo, padronizados e amorfos. E a dissolução da religião coletiva facilitaria, enfim, o levantamento de sucessivas idolatrias substitutas, chamadas pomposamente ideologias, cujo cálice amargo continuamos hoje consumindo até a borra.
E, para terminar – last, but not least – não podemos deixar de nos referir, entre as consequências do luteranismo, a sua iconoclasia furibunda, que geraria uma arte inane e acabaria desembocando no feísmo mais exasperado, puro vômito de uma esterilidade presunçosa, que denominamos eufemisticamente “arte contemporânea”. Se a tradição católica, em seu esforço por penetrar melhor o conteúdo da Revelação, havia fomentado uma arte belíssima que encontra seu paradigma na beleza imaculada de Maria, a reforma protestante, ao declarar a ilicitude do culto à Virgem e aos santos, engendraria uma arte fossilizada e desumanizada, quando não vesanamente niilista.
Todas estas delícias do legado luterano, e algumas outras que nos ficaram no tinteiro, vamos celebrar neste centenário tão divino da morte que se aproxima.”
(Juan Manuel de Prada, El Legado de Lutero)

sábado, 5 de novembro de 2016

A doutrina tradicional do ecumenismo

“A doutrina tradicional do ecumenismo está estabelecida na Instructio de motione oecumenica promulgada pelo Santo Ofício em 20 de dezembro de 1949 (nos AAS, 31 de janeiro de 1950), que retoma o ensinamento de Pio XI na encíclica Mortalium animos. Estabelece-se portanto:
Primeiro: “a Igreja católica possui a plenitude de Cristo” e não tem que aperfeiçoá-la por obra de outras confissões.
Segundo: não se deve buscar a união por meio de uma progressiva assimilação das diversas confissões de fé nem mediante uma acomodação do dogma católico a outro dogma.
Terceiro: a única verdadeira unidade das Igrejas pode fazer-se somente com o retorno (per reditum) dos irmãos separados à verdadeira Igreja de Deus.
Quarto: Os separados que retornam à Igreja católica não perdem nada de substancial de quanto pertence a sua particular profissão, mas sim reencontram-no idêntico em uma dimensão completa e perfeita (“completum atque absolutum”).
Por conseguinte, a doutrina enfatizada pela Instructio supõe: que a Igreja de Roma é o fundamento e o centro da unidade cristã; que a vida histórica da Igreja, que é a pessoa coletiva de Cristo, não se leva a cabo em torno de vários centros, as diversas confissões cristãs, que teriam um centro mais profundo situado fora de cada uma delas; e finalmente, que os separados devem mover-se para o centro imóvel que é a Igreja do serviço de Pedro. A união ecumênica encontra sua razão e seu fim em algo que já está na história, que não é algo futuro, e que os separados devem recuperar.
Todas as cautelas adotadas em matéria ecumênica pela Igreja romana e principalmente sua não participação (ainda mantida) no Conselho Ecumênico das Igrejas têm por motivo esta noção da unidade dos cristãos e a exclusão do pluralismo paritário das confissões separadas. Finalmente, a posição doutrinal é uma reafirmação da transcendência do Cristianismo, cujo princípio (Cristo) é um princípio teândrico cujo vigário histórico é o ministério de Pedro.”
(Romano Amerio, Iota Unum)

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Bergoglio e Lutero


“Dentro de poucos dias o papa Bergoglio irá à Suécia participar das comemorações do quinto centenário da revolução luterana.
O gesto do pontífice, embora não nos surpreenda, não deixa de desconcertar-nos. Não nos surpreende porque seu predecessor João Paulo II agia nessa direção, tendo mandado depositar flores na campa do heresiarca, e os teólogos da Nouvelle Theologie, condenados por Pio XII e reabilitados após o Vaticano II, não escondiam sua admiração pelo falso reformador, monge crapuloso, comilão e beberrão, inventor da máquina de genocídio do mundo moderno. Não nos surpreende porque na nova religião há quem chegue a manifestar, senão simpatia, ao menos compreensão por Judas Iscariotes, dizendo que ninguém pode julgá-lo, num esforço vão de inocentar o filho da perdição.
Entretanto, o gesto de Bergoglio nos desconcerta porque de um papa, principalmente em se tratando de um filho de Santo Inácio de Loyola, queríamos poder esperar que seguisse o exemplo de seus irmãos maiores São Roberto Belarmino, São Pedro Canísio e tantos outros gloriosos santos jesuítas.
Com efeito, no quinto centenário da falsa reforma luterana, os católicos tínhamos o direito de esperar que o papa renovasse as condenações de Leão X e do Concílio de Trento contra os erros dos pseudo-reformadores e exortasse os hereges de hoje, herdeiros dos erros do século XVI, a abjurar suas doutrinas heréticas e a voltar para o seio da única Igreja de Cristo.
Tínhamos igualmente o direito de ver a Igreja pronunciando um juízo sobre as  consequências históricas das heresias do século XVI, como o faziam os bons manuais de apologia de antes do Vaticano II (por exemplo, o excelente manual de mons. Cauly). De fato, se cumpre pronunciar-se sobre a terrível efeméride, não se esqueçam as vítimas dos monstruosos hereges. Foram tantos os mártires católicos, foram tantos, também, os pobres camponeses alemães enganados por Lutero e depois esmagados brutalmente numa carnificina horrenda por ordem do mesmo heresiarca.
Realmente, parece que hoje se dá no plano religioso-ecumênico a mesma demagogia que se observa no noticiário policial: não faltam palavras de compaixão pelo bandido e nenhuma palavra de solidariedade pela família da vítima. Sobram palavras de compreensão para os desmandos, blasfêmias e imoralidades de Martinho Lutero e não se diz uma palavra em defesa da Roma dos papas, que Lutero chamava Sinagoga de Satanás e Trono do Anticristo.
No balanço histórico dessa negra efeméride poderia ocupar um lugar de destaque a rainha Maria Stuart da Escócia, outra vítima dos hereges fanáticos do século XVI. A vida dessa rainha infeliz, além de ilustrar perfeitamente a diferença entre a mentalidade católica e a mentalidade protestante, lança uma luz admirável sobre a verdadeira misericórdia divina, tal como a entendeu sempre a Igreja. Lança também uma luz sobre o que seja o verdadeiro ecumenismo. Como se sabe, Maria Stuart, depois de ter cometido vários erros graves em sua vida, caiu em desgraça nas mãos da sua prima degenerada rainha “virgem” e histérica Isabel da Inglaterra. Acusada de uma falsa conspiração forjada pelos protestantes, foi obrigada a comparecer diante de um simulacro de tribunal e condenada à morte por uma sentença iníqua de sua prima herege. Proibida de receber os últimos sacramentos de um sacerdote católico, recusou-se a receber qualquer assistência de um ministro herético e morreu santamente como uma princesa católica.
O filho de Maria Stuart, rei Jaime I da Inglaterra (Jaime VI da Escócia), um demente que participou de toda maquinação do regicídio da própria mãe, poderia ser considerado patrono do ecumenismo dos nossos dias. Com efeito, o celerado monarca, que tinha pretensão de ser teólogo, mandou sepultar o corpo de sua mãe católica na cripta dos reis da Inglaterra na abadia de Westminster e esculpir uma estátua dela ao lado da estátua da megera Isabel I (Quando na verdade Maria Stuart tinha disposto em seu testamento que queria ser sepultada na França católica, da qual fora rainha, junto ao jazigo de sua mãe Maria de Guise).
De fato, o gesto de Jaime I, pondo lado a lado as estátuas da perversa protestante Isabel e da infortunada rainha Maria Stuart, parece reproduzido hoje no século XXI quando a orgia de um falso ecumenismo emascula o sacerdócio, corrompe a doutrina sagrada e provoca a ira divina.”

http://santamariadasvitorias.org

domingo, 2 de outubro de 2016

Sicut una inter pares


“Celebrando outro dia a Missa da festa de São Mateus, ao rezar o prefácio (Missal Paulo VI, 2º prefácio dos Apóstolos), afirmava, crendo no que rezava, uma proclamação da fé católica e, ao mesmo tempo, um louvor a Cristo, que nos entregou esse mistério de salvação, do qual participamos e no qual vivemos:
“… Porque constituístes a vossa Igreja sobre o alicerce dos apóstolos, para que ela fosse, no mundo, um sinal vivo de vossa santidade e anunciasse a todo o mundo o evangelho da salvação...”
Depois, meditando sobre o celebrado e rezado, perguntava-me se a Igreja, a atual, a pós-conciliar, a que encabeça visivelmente PP Franciscus, podia considerar-se consciente, sapiente e operante segundo esse mistério proclamado e rezado no sobredito prefácio.
A nova edição de Assis (e as anteriores) nos diz que não, que a Igreja que vai a Assis deixou de crer em seu mistério, em sua essência, em sua vocação. A Igreja de Assis se sente cômoda sendo una inter pares.
O enfermo, o anômalo, o desconcertante, é que os que se sentam como iguais à Igreja na mesa de Assis são cismáticos, hereges cristãos, infiéis anticristãos e pagãos contracristãos, um mostruário, alardeavam, de 500 representações de todo o mundo.
Tive um amigo sacerdote que, algumas vezes, me chamava para pedir-me que benzesse uma imagem, ou celebrasse alguma Missa solene, ou pregasse algum sermão. Dava a impressão de que ele mesmo não levava a sério sua potestade, seu ministério, a graça da qual era administrador. Depois de alguns anos, deixou o ministério. Ainda creio que seu caso foi de uma vocação sincera mal formada, mal dirigida e mal vivida. Por isso suas vacilações. Por isso seu incômodo de sentir-se sacerdote e atuar como tal.
A Igreja que vai a Assis parece sentir-se incômoda consigo mesma, duvida de seu caráter sobrenatural, se descoordena de sua missão ultraterrena e se alia com instâncias do mundo com o álibi-desculpa de compartilhar uma mesma vontade sobre a paz. Uma paz que, como conceito, é impossível que seja coincidente essencialmente se se expressa segundo os respectivos credos dos assistentes em Assis. A paz de Cristo não é a paz dos judeus, nem a dos maometanos, nem a dos budistas, nem a dos confucionistas, os jainistas ou os bahai. Não existe uma paz comum entre os homens. A Igreja se desidentifica se convoca uma impossível oração global para uma inexistente e inexistível paz universal.
Para um cristão, para um católico, estremece ver o cenário de Assis enquanto se abandona o Evangelho porque se prefere a convergência vã de todos (que não são todos) à pregação da conversão a Cristo e a sua paz verdadeira, que é dom celestial e não pacto terreal.
Rezamos sem crer o Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus bonae voluntatis.
… Se é que se reza.”

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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

De traições recentes e assuntos correlatos


Fico pensando na suprema ironia de Deus no caso do padre francês degolado na própria igreja por terrorista de Mafoma. Ele era militante do ecumenismo, este travestimento da fraternité maçônica para consumo cristão, e fazia de tudo para 'dialogar' com o Islamismo indialogável, chegando ao extremo de doar terreno de sua própria paróquia, destinado ao culto do único Deus verdadeiro, do Deus vivo, católico (por mais que não queira aceitá-lo como tal Seu irresponsável vigário na terra), para que os seguidores da “religião da paz” pudessem adorar seu falso deus lunar.
Também penso se, ouvindo a feroz diatribe final de seu executor pouco antes de morrer, esse padre finalmente não terá percebido o erro de suas ações inutilmente apaziguadoras, se não terá então entendido, ainda que tardiamente, que seu caminho ajudou a fomentar a violência futura contra suas ovelhas, desguarnecidas e prontas para o abate diante das legiões de “refugiados” com sede de sangue cristão, pelo qual Nosso Senhor deu o Seu na cruz. Se arrependeu-se e pediu o perdão de Deus nesses momentosos minutos finais, terá porventura salvado sua alma, mas não a vida dos confiados a seu cuidado por Cristo, que deverão pagar caro pela veleidade de seus atos ecumênicos.
O Cristianismo não pode continuar sendo entendido por seus descatequizados sacerdotes como uma capitulação contínua diante do mal em nome de uma tolerância que não é sequer uma virtude. Não se tolera o intolerável, o que veio para destruir o homem e toda sua esperança de salvação, tanto seu corpo como sua alma. E não é martírio, como bem expôs o Prof. Carlos Nougué, "entregar sua religião, suas igrejas, seu país, sua família, seus filhos a falsas religiões e à morte que estas promovam. E, com efeito, é longuíssima a distância entre martírio e recusa a lutar pela VERDADEIRA fé. Negar isto é negar a cristandade, é negar as cruzadas, é negar Lepanto – é cuspir na santa história de nossa Igreja."
Há uma ingenuidade suicida e nefasta mas infelizmente muito difundida que acredita que ações de desprendimento material serão entendidas como evidência da superioridade do Cristianismo por aqueles que não comungam de nossos valores e que os levariam à conversão ou no mínimo ao apaziguamento, mas, para os muçulmanos a quem são dirigidas, tais ações são entendidas como capitulações e demonstrações de fraqueza moral. Isso porque não há entendimento possível se o outro não acredita na regra de ouro ("cada um deve tratar os outros como gostaria que fosse ele próprio tratado"). Para o Islã, o próximo é muçulmano, jamais um infiel.
O Ocidente encontra-se idiotizado e infantilizado. Suas crianças recebem com flores e presentes seus próprios verdugos futuros. A mensagem que bombardeiam sobre as populações robotizadas e dessensibilizadas diuturnamente é que a civilização e sua defesa não têm valor; só tem valor parecer diante dos outros uma pessoa acolhedora e livre de preconceitos, que não ama sua pátria mas a humanidade inteira, que pouco ou nada faz por seus colegas e parentes mas ama o homem racionalizado, abstrato e pelagiano da Revolução. Os assassinos contudo não estão preocupados com tal imagem; ela é puramente para consumo interno e usada estrategicamente para silenciar e manietar os nativos, para minar-lhes qualquer reação organizada, rotulando-a com os adjetivos mais infames, para que se envergonhem de qualquer tentativa de sobrevivência.
É preciso, portanto, se o europeu ainda deseja sobreviver e manter seu estilo de vida e segurança em seus próprios países, que não mais caia nesse jogo de humilhar-se pelos epítetos com que o chamam seus inimigos; que aja conforme a lei natural e sua consciência cristã, o que dela ainda resta em seu espírito; que organize-se para defender sua pátria, seus valores e o Ocidente sem temor de estar agindo errado ou de parecer radical ou fanático, pois contra a legítima defesa não há sofismas que a desacreditem.
No entanto, se não deseja mais sobreviver o europeu e entregou-se moralmente, pois não tem mais por que viver, já que não tem nada por que morrer, então basta fingir que tudo continua como antes e que seu país não foi invadido com intenção de conquista, que apesar de algum contratempo pela perda do direito de ir e vir ainda pode tocar o restante de vida que lhe cabe viver com uma certa normalidade pendente basicamente de pura sorte; basta esquecer seu passado e seus valores e esperar que o matem por último, quando ao invés de sinos estiverem ecoando pelos céus os chamados dos imãs à oração nas mesquitas construídas com seu próprio dinheiro.
Talvez enfim os islâmicos estejam certos em sua percepção e os ocidentais desejem realmente capitular e fazer com que sua civilização desapareça. O desejo pode não ser consciente e vir com mil e uma justificativas forjadas com distorções de virtudes cristãs e malabarismos verbais; mas continua lá, fundo na alma, inquieto e impulsionando sempre à subjugação, girando vigorosamente ao redor de um complexo de culpa indevido, odiando tudo que se refere a seu modo de vida, nada vendo de positivo em suas instituições, em suas artes e ciências.
A pior perversão, o fundo do poço do desastre civilizacional é a distorção e contaminação da liturgia de sua religião fundadora, pois a partir dela irradia-se todo o câncer cultural. Penso no que ocorreu recentemente em Trastevere, na Itália. Quando você coloca versos do Alcorão na missa, isso significa que você já perdeu de vez a fé e as relações com outras religiões são mais importantes para você do que a verdade e a beleza da liturgia. A traição é mais ignóbil ainda, quando se sabe que a religião favorecida é responsável pelo assassinato de inocentes de nossa própria fé ao redor do mundo, em razão do odio fidei. Isso apenas confirma ser preciso extirpar o ecumenismo de nossa religião corrompida pelo liberalismo, mas arrancá-lo com força e junto com todos os outros principais erros, como a liberdade religiosa e a colegialidade; não deve ser deixada pedra sobre pedra, nem ramo na árvore de onde brotem outros erros futuros. Infelizmente, para isso acontecer não é mais possível confiar somente na ação humana; seria impossível sanar a religião corrompida usando-se apenas de meios naturais; nem mesmo a guerra mundial traria de volta o Ocidente a suas raízes metafísicas, mas muito provavelmente aceleraria o aparecimento do Anticristo.
O suicídio civilizacional que talvez deseje o europeu pode contudo não estar nos planos de Deus. Pode ser que surja nos próximos anos o defensor da Cristandade que restaure todas as coisas em Cristo e sob cuja influência povos inteiros se convertam e tenhamos um último e maior triunfo da Santa Igreja, como profetizado por inúmeros santos ao longo dos séculos. Mas pode também ser que a destruição da Europa seja a condição para o aparecimento do Anticristo, e Nosso Senhor não mais se importe, depois de ser tão traído e esquecido, em entregar a civilização que escolheu para a mais próxima possível realização de Seu Reino na terra a seus piores inimigos. Tudo, como sempre, depende daquilo que Cristo escolheu para a salvação do maior número possível. Isso no entanto não nos impede de pedir pela Europa, por toda sua tradição cristã que tanta maravilha deu e continuaria a dar ao mundo em todas as esferas de atividade humana. Eu de minha parte estarei rezando para que a Europa não se perca de vez e que retome seu caminho cristão, que volte para seu Criador, como filha pródiga, após tanta desgraça criada pela tentação e farra do non serviam tornada projeto de anticivilização.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Catolicismo e ioga

“A ioga é uma rotina complexa de posições físicas, trazida das religiões orientais do budismo e do hinduísmo, direcionada a práticas meditativas também aprendidas dessas religiões. Em épocas passadas não teria havido qualquer dúvida quanto a católicos praticarem uma disciplina aprendida das falsas religiões orientais. Contudo, uma propaganda intensa tem apresentado a ioga como uma simples técnica de relaxamento, não necessariamente relacionada a qualquer espiritualidade, mas muito útil na obtenção da harmonia de corpo e alma.
Além disso, o desenvolvimento do ecumenismo na Igreja pós-conciliar nos últimos 50 anos deu origem a uma tentativa de incorporar certas práticas não-católicas à espiritualidade católica, entre as quais está a ioga. Surge, então, a pergunta de se isso é um enriquecimento lícito de espiritualidade ou de fato um sincretismo, uma união de diferentes religiões em uma só, claramente oposta à fé católica.
Para reconhecer que a ioga não é apenas um exercício físico de relaxamento corporal, mas realmente uma atividade espiritual, basta observar as tentativas de católicos para reconciliar ambos, como no portal da Arquidiocese de Chicago (www.holynamecathedral.org). Lá pode-se encontrar uma página inteira intitulada “Ioga Católica” que começa da seguinte maneira:
Tendo origem em várias tradições de fé, a ioga evoluiu através dos tempos como um modo de sintonizar o corpo a fim de obter uma melhor comunhão com Deus por meio de oração e meditação. Junte-se a nós e explore conosco os múltiplos benefícios espirituais e físicos da prática de ioga enquanto explicitamente integramos orações e temas espirituais de nossa fé católica. As sessões normalmente incluem uma oração inicial, depois movimentos inspirados e fortalecimento, e por fim uma oração contemplativa.
As afirmações de iogues “católicos” tais como a instrutora da Catedral do Santo Nome, Ali Niederkorn, contradizem o mito de que a ioga é um exercício físico, pois ela “oferece aulas de ioga baseadas na fé que encorajam à prática de ioga como forma de oração e meditação.” A legitimidade da prática de ioga por católicos é conseqüentemente não a de um exercício físico, mas de uma prática espiritual.
A ioga não é uma prática, teoria ou filosofia unificada e para nenhum de seus praticantes ela é um exercício exclusivamente físico. Ela é parte integral das práticas meditativas de três religiões diferentes: hinduísmo, jainismo e budismo, cada uma dando sua própria e distinta explicação do valor da meditação ióguica. A prática de ioga no Ocidente, em conseqüência, não mostra mais coerência do que no Oriente, mas em todo caso é herdeira de uma espiritualidade pagã que promete realizar uma espécie de comunhão com o divino. Ela é, portanto, parte integral do movimento da Nova Era, que pretende construir uma espiritualidade pós-cristã de acordo com a qual o homem chegaria ao divino por meio de uma comunhão com a natureza.
Roma já se declarou contra a prática de ioga por católicos em dois documentos pouco conhecidos. O primeiro, da Congregação para a Doutrina da Fé, intitulado Orationis Formas, ou Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre Alguns Aspectos da Meditação Cristã, datada de 15 de outubro de 1989, destaca as diferenças e as incompatibilidades entre a meditação cristã e os estilos de meditação usados nas religiões orientais, inclusive a ioga, alertando para “os riscos de se tentar fundir a meditação cristã com abordagens orientais, o que pode levar a confusão e erro e resultar na perda da natureza essencialmente cristocêntrica da meditação cristã”. Que eufemismo! Ela ressalta uma oposição radical: a meditação oriental é uma técnica de concentração em si mesmo, uma auto-absorção, enquanto a oração cristã é uma fuga de si mesmo, uma conversão de si a Deus.
Alertas semelhantes estão contidos em um livreto de 2003, um relatório publicado como resultado de reflexões de um grupo de trabalho composto de membros dos Conselhos Pontifícios para a Cultura e para o Diálogo Inter-religioso, da Congregação para a Evangelização dos Povos e do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade Cristã, intitulado Jesus Cristo, Portador da Água da Vida: Uma Reflexão Cristã sobre a Nova Era, como resposta a pedidos de esclarecimento a respeito dos fenômenos da Nova Era, tais como a ioga (www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils). Entre as muitas críticas à Nova Era, o que nos interessa aqui é o ensinamento de que as práticas da Nova Era não são compatíveis com a oração cristã:
As práticas da Nova Era não são realmente oração, no sentido de serem geralmente uma questão de introspecção ou fusão com a energia cósmica, em oposição à oração cristã, que envolve introspecção, mas é essencialmente um encontro com Deus.
Reitera-se o ensinamento católico fundamental de que Jesus Cristo, única fundação da Igreja, deve estar no coração de toda ação cristã, o que não é certamente o caso da Nova Era. Ressalta-se também que a espiritualidade da Nova Era deliberadamente obscurece a distinção essencial entre Criador e criação, entre realidade subjetiva e objetiva. Essa é uma perversão bem mais profunda do que a confusão moderna entre natureza e graça, pois destrói todo o sentido da realidade e o lugar do homem na criação de Deus, levando ao panteísmo.
Contudo, a prática de ioga entre católicos continua crescendo. Certamente isso se deve em parte ao vácuo espiritual criado pela perda da verdadeira espiritualidade após o Vaticano II e também porque esses relatórios jamais se transformaram em ensinamentos morais oficiais com punições canônicas para quem os infringisse. O movimento ecumênico proíbe qualquer condenação de falsas espiritualidades anticristãs.
É por essas razões que encontramos, surpreendentemente, afirmações mais claras vindas de alguns protestantes do que de bispos católicos. O Dr. Albert Mohler, por exemplo, Presidente do Seminário Teológico dos Batistas do Sul, fez um estudo sobre a ioga, analisando o livro recentemente publicado por Stefanie Syman, uma devota da ioga há 15 anos, intitulado O Corpo Sutil: A História da Ioga na América. Eis algumas de suas observações:
Syman descreve a ioga como uma prática variada, mas deixa claro que a ioga não pode ser totalmente separada de suas raízes espirituais no hinduísmo e no budismo. Ela também é direta quando explica o papel da energia sexual em praticamente todos os tipos de ioga, e da ritualização do sexo em algumas tradições da ioga... A maioria (dos cristãos americanos) parece não se aperceber de que a ioga não pode ser dividida na dimensão física e na espiritual. O físico é o espiritual na ioga, e os exercícios e disciplinas na ioga servem para conectar com o divino...
... Quando os cristãos praticam a ioga, eles devem ou negar a realidade do que a ioga representa ou não conseguir ver as contradições entre seus compromissos cristãos e sua aceitação da ioga. As contradições não são poucas, nem são periféricas. O fato é que a ioga é uma disciplina espiritual na qual o adepto é treinado para usar o corpo como veículo a fim de alcançar a consciência do divino...
(www.albertmohler.com)
Quais são exatamente essas contradições? Há certamente uma atitude diferente quanto ao corpo, que para o católico é um instrumento para nossa santificação apenas quando mortificado, quando espiritualmente entregue à morte, para que as inclinações da natureza humana decaída não sejam seguidas, enquanto que para o praticante de ioga é um meio de contato, de consciência do divino que está no homem, superando, como dizem, a dualidade entre o Criador e a criatura. O Dr. Mohler diz o seguinte, citando o Prof. Doug Groothuis:
O objetivo da ioga não é a purificação do corpo ou o embelezamento da psique; o fim da ioga é uma mudança na consciência, uma transformação da consciência na qual o homem se vê um com a realidade última que no hinduísmo é Brahman... maior impacto no Ocidente teve a escola vedântica ou não-dualista, que diz que em última análise tudo é um, ou seja, não dual, e tudo é divino. Assim, ao invés da perspectiva bíblica de que existe uma relação entre o Criador e a criatura, esta é uma idéia monista ou não-dualista de que tudo que existe é Brahma... e Brahma está além das palavras e além do pensamento. (Ibid)
Concluindo, não se pode negar que a prática de ioga é uma negação implícita da fé católica na divindade de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e de uma verdadeira espiritualidade centrada em Cristo. Qualquer prática de ioga deve ser considerada um pecado mortal contra a fé chamado de indiferentismo. As pessoas que participam de tais instruções colocam em sério risco sua fé, e os que as praticam devem ser suspeitos de heresia, pois implicitamente promovem uma visão de mundo que é direta e explicitamente anticristã.”
(Pe. Peter Scott, May Catholics Practice Yoga?)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O papa que excomungou a Tradição

“João Paulo II foi o papa do Vaticano II, o concílio que introduziu uma ruptura com o passado da Igreja pela primeira vez em sua história. Ele desenvolveu, segundo a análise do Pe. Johannes Dörmann, a estranha teologia que propaga a idéia da salvação universal (e conseqüentemente de um inferno vazio). Ele apresentou todas as religiões como meios de agradar a Deus, especialmente com gestos ecumênicos espetaculares como o de Assis em 1986. Ele foi o primeiro papa a visitar uma sinagoga e uma mesquita. Lá não apenas não pregou Jesus Cristo, como deixou entendido que essas religiões que negam explicitamente a mediação de Nosso Senhor Jesus Cristo podem ser agradáveis a Deus. Além disso, ele beijou em público o Corão, manifestando seu respeito por um livro que nega a divindade de Jesus Cristo e apresenta um homem anquilosado em seus vícios como mensageiro de Deus; e enfiou uma mensagem de arrependimento no Muro das Lamentações em Jerusalém, como se fosse Isaac o perseguidor de Ismael e não o contrário. Novamente ele manifestou seu arrependimento no ano 2000 por todo o passado glorioso da Igreja, especialmente as cruzadas. Seria também necessário citar seus excessos em inculturação – ele aceitou participar de cultos pagãos e misturou-os com o ritual católico; sua moralidade descentrada, baseada na dignidade do homem e não mais na lei de Deus; sua propagação de um catolicismo superficial, principalmente durante as Jornadas Mundiais da Juventude; o exagerado número de viagens, de beatificações e de canonizações (ele canonizou mais santos do que todos seus predecessores juntos); sua gestão liberal, permitindo a propagação de movimentos duvidosos ou escandalosos (por exemplo, ele tinha uma grande admiração pelo Pe. Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo); e assim por diante.
Doravante todos podem ver por si mesmos os frutos desse pontificado: a apostasia das nações cristãs e a autodemolição da Igreja.
Se se busca a origem de todos esses erros, encontra-se imediatamente o abandono da Tradição em favor de uma “nova teologia” neomodernista, que tem sido amplamente analisada nestas colunas.
Na verdade, João Paulo II passará para a história da Igreja como o papa que excomungou o Arcebispo Lefebvre e com ele a Tradição bimilenar da Igreja. Essa mancha em sua reputação é indelével. E se, Deus o livre, a beatificação e a canonização de João Paulo II se realizarem, será necessário rezar para que Deus encurte a paixão de Sua Igreja e faça surgir um verdadeiro pastor que anulará esse ato escandaloso e restaurará a Tradição a seu lugar de honra.”
(Sel de La Terre, Primavera de 2011)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O fim último do ecumenismo

“Um dos elementos mais perturbadores do movimento ecumênico é que mesmo os líderes de nossa Igreja parecem estar dentro de um nevoeiro, sem saber para onde estão se dirigindo.
O próprio Cardeal Ratzinger admitiu-o quando afirmou:
“... o fim de todo esforço ecumênico é alcançar a verdadeira unidade da Igreja... No presente momento, eu não me arriscaria a sugerir qualquer realização concreta, possível ou imaginária, desta futura Igreja... Estamos ainda em um estágio intermediário de unidade na diversidade.”
Essa afirmação é aterrorizante. Na essência, o que ele diz é: “Nós não sabemos para onde estamos indo”.
Perceba-se também que nenhum desses documentos ecumênicos, inclusive o Diretório de 1993, nos diz claramente qual é a construção final para onde tendem seus esforços. Dizem-nos que devemos nos envolver com o ecumenismo, mas jamais nos dizem como será essa futura Igreja ecumênica. Somos mantidos totalmente no escuro.
Em 1910, contudo, o Papa S. Pio X certamente não estava no escuro. Ele sabia exatamente o que estava sendo planejado. Quando Pio X condenou o Sillon, um movimento católico que defendia muitos dos erros modernos - em particular a respeito da unidade interdenominacional - , Pio X alertou que essa operação inteira era parte de
“... um grande movimento de apostasia organizado em todos os países para o estabelecimento de uma igreja mundial que não terá dogmas, nem hierarquia, nem disciplina para a mente, nem continência das paixões, e que, sob o pretexto de liberdade e dignidade humana, trará de volta ao mundo o reino de astúcia e força legalizadas, da opressão aos mais fracos e àqueles que mais trabalham e sofrem.”
São Pio X, um Papa realmente profético, previu isso em 1910.
E que temos hoje? Temos forças trabalhando abertamente pelo estabelecimento dessa igreja mundial da apostasia. E um dos maiores apóstolos dessa igreja mundial (que amalgama todas as religiões) é o chamado “teólogo católico” Hans Küng, um dos principais arquitetos da grande atualização ecumênica acontecida no Vaticano II. A igreja mundial da apostasia é a conclusão lógica do ecumenismo inter-religioso.”
(Pe. Paul Kramer, The Suicide of Altering the Faith in the Liturgy)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Catolicidade e ecumenismo

“Católico e ecumênico são dois adjetivos de origem grega que, se olharmos no dicionário, têm o mesmo significado: universal. Possuem, contudo, matizes distintos.
Católico vem de katá hólos, algo assim como “em ordem à totalidade”, daí que signifique geral, universal. Ecumênico deriva de oíkuméne, “toda a terra habitada”, já que ôikos significa casa. Católico, portanto, significa universal em um sentido mais amplo, menos determinado, enquanto que ecumênico se refere a uma universalidade territorial.
Mas se falamos da catolicidade da Igreja, os significados se aproximam ainda mais. Porque a nota de “católica”, que permite reconhecer visivelmente a Igreja de Cristo, assinala especialmente o fato de que a cristandade se estenderá, sem interrupção, desde os tempos apostólicos até o fim dos séculos, por toda a terra.
Por que chamamos à Igreja, então, “católica” e não “ecumênica”?
Chamamo-la “católica” e não “ecumênica” porque esta qualidade não pertence à Igreja da maneira de algo que se deu de fato e poderia não ter ocorrido assim, como seria possível chamar ecumênica à Coca-Cola; senão que é propriedade característica de um ser vivo, a qual provém necessariamente dos princípios de sua natureza, da mesma forma que dizemos que o homem é sociável, já que por sua natureza racional não pode viver e desenvolver-se humanamente sem um mínimo de sociedade.
A Igreja não poderia deixar de instalar-se por sobre toda a terra desde o primeiro impulso da pregação apostólica, “o seu som estende-se por toda a terra, e as suas palavras até as extremidades do mundo” (Sl. 18, 5), por causa da fecundidade e potência do princípio que a anima: o Espírito Santo, que baixou sobre Ela no dia de Pentecostes. A Igreja é divina, e assim como Deus está em todas as partes em potência, presença e essência, da mesma forma está a Igreja. Para expressar algo de tamanha grandeza era preciso, portanto, utilizar o termo que significasse a universalidade em seu sentido mais amplo, referindo-se não só ao fato da difusão geográfica, senão também a seu princípio. No campo católico, até o século XX, não se usava o adjetivo “ecumênico”, exceto para designar os concílios gerais. Os patriarcas gregos cismáticos, sobretudo o de Constantinopla, usurparam-no como título para rivalizar com a universalidade do Papa, Patriarca Romano, autorizando-se para isto da equiparação política que estabeleceu o imperador Constantino entre Roma e Constantinopla.
Até a metade do século passado, os mais abrangentes dicionários do pensamento católico não dizem nada além disso sobre o termo “ecumênico”, não mencionando sequer o neologismo “ecumenismo”. O ecumenismo, tanto a palavra quanto a coisa, apareceu como fruto maduro do protestantismo liberal. “Faz uns cinqüenta anos, – diz em 1947 Yves Congar, que seria um dos principais peritos do Concílio Vaticano II – um fato novo se produziu no mundo da desunião cristã, fato que designa uma palavra nova, o ‘ecumenismo’; o movimento nasceu nos últimos anos do século XIX no seio do protestantismo americano….[como um] impulso em direção à unidade” (“Ecclesia”, Aigran, 1948, pág. 948).
Em 1920 o Patriarca de Constantinopla se associa a este movimento, passando desde então a ser ecumênico em duplo sentido – nem todos sabem da profunda influência dos teólogos do protestantismo liberal entre os ortodoxos.
Em 1928 o Papa Pio XI rechaça e condena com energia o “pancristianismo” ecumênico, que assedia o catolicismo liberal, por meio de sua encíclica “Mortalium Animos”. A condenação se repete muitas vezes até que, por justo castigo de Deus à tibieza dos cristãos, o liberalismo conquista o papado com João XXIII. Este Papa entrega o Concílio Vaticano II nas mãos do modernismo, e com o Decreto “Unitatis Redintegratio”, Roma, em flagrante contradição consigo mesma, se incorpora ao anticatolicíssimo movimento ecumênico.
Em que aspecto catolicidade e ecumenismo são comparáveis e em que se contradizem?
O ecumenismo é um movimento de agrupamentos religiosos que buscam conformar-se como partes de uma corporação mundial, sem perder, contudo, sua própria identidade. A catolicidade, dissemos, não é um movimento, mas uma qualidade vital do Corpo Místico de Cristo, qualidade que se traduz em sua inabarcável extensão mundial; não obstante também é o princípio de um movimento constante – o impulso missionário, assim chamado porque é continuação da missão ou mandato que trouxe à terra o Filho de Deus. Logo, o ecumenismo é um impulso cujo fim é a fabricação da nova catolicidade, ao passo que a catolicidade é princípio e fim vital do impulso missionário, que alguns agora chamam “ecumenismo verdadeiro”, o que certamente não convém porque, como vimos, a palavra é propriedade intelectual do pensamento liberal.
Em suma, como se deve comparar somente coisas do mesmo gênero, o moderno ecumenismo deve contrastar-se com o tradicional movimento missionário, produto da catolicidade da Igreja.
Como ecumênico e missionário são movimentos de incorporação, há de se comparar o princípio que obra, a matéria que utiliza, a transformação que produz e o termo que alcança.
O movimento missionário de incorporação ao Corpo Místico é semelhante ao processo de alimentação de um corpo vivo. Os princípios que obram a nutrição e o crescimento são as potências da alma que vivificam o corpo; o alimento, salvo exceção, é sempre uma substância de ordem inferior: os vegetais se alimentam de minerais, os animais de vegetais e o homem de tudo, menos de homens. A transformação que sofre o alimento é tripla: dissolução dos componentes elementares, assimilação dos elementos nutrientes e expulsão dos dejetos; e o final não é algo superior, senão a reconstituição do mesmo vivente.
Algo parecido ocorre na Igreja através das missões. O princípio que as anima é totalmente divino: é a potência do Espírito Santo, alma da Igreja desde o dia de Pentecostes. A matéria ou alimento das missões são todos os povos da terra: “Ide, pois, ensinai todas as gentes” (Mt. 28, 19), instituições humanas de ordem totalmente inferior à divina Igreja.
Agora bem – e este é o ponto que convém sublinhar – para poder assimilar os elementos nobres que em cada nação se possa achar, não só pessoas e famílias, mas também disposições morais e sociais e valores culturais, a Igreja deve sempre dissolver em menor ou maior grau as estruturas, sistemas e instituições que se encontram conformados; sobretudo deve acabar com os sistemas religiosos, que são sempre como a forma última que engloba e penetra as demais. A razão é simples: fora da Revelação e da influência da graça, o princípio que em menor ou maior grau anima a constituição dos povos é Satanás, príncipe deste mundo.
Nos povos de civilização greco-latina foi muito o que a Igreja pôde assimilar. Nos povos bárbaros e americanos, pouco; entretanto, assim como uma maçã não pode alimentar se não é mastigada até que deixe de ser maçã, tampouco a família romana ou a sabedoria grega – para dar exemplos do melhor – podiam tornar-se cristãs sem que antes se travasse contra elas uma guerra de morte: os filhos santificados tiveram de desafiar uma autoridade paterna que usurpava os direitos de Deus, e os Santos Padres lutaram contra uma razão que não queria submeter-se à Revelação.
Somente depois desta tarefa de demolição podiam eleger as boas pedras para a nova edificação. Porém, a força do Espírito de Cristo é capaz de vencer toda resistência: “Tende confiança, eu venci o mundo” (São João 16, 33); e a Igreja é católica, pois não há nação da terra que ela não seja capaz de incorporar. Por outro lado, o ecumenismo é um movimento de incorporação por meio de associação de semelhantes. O princípio que o move não é uma forma ou alma presente, senão um fim futuro que todos almejam; a matéria são partes ou sujeitos da mesma ordem; a transformação que devem sofrer para associar-se é acidental, de maneira que não perca cada sócio a sua identidade; e o final é algo superior a qualquer dos componentes. Pressupõe o pensamento liberal, contra toda a experiência da história e o senso comum, que as religiões podem ter uma vida independente da ordem política, como parece ter sido demonstrado no democrático paraíso americano (tenha-se em mente que a idéia do ecumenismo só poderia dar certo ali).
Afirma também, é claro, que a inteligência do homem não pode adequar-se de maneira única ao real, isto é, pressupõe o pluralismo da verdade, de modo que os credos de cada religião são como as constituições dos estados: cada um é bom para aquela que o possui e não tem sentido discutir qual é melhor.
Outorgados os pressupostos, segue-se o princípio motor do ecumenismo: todas as religiões trabalham, umas mais outras menos, pela constituição do Reino de Deus, reino escatológico cuja realização histórica tem a pretensão de se concretizar só no final dos tempos, porque o princípio e fundamento do liberalismo estabelece que o reinado de Deus não pode ser político.
Segundo a doutrina católica até antes do último Concílio – com vigência de apenas dois mil anos – é a Igreja que estabelece desde agora na terra o Reino de Deus, cada vez que incorpora em seu seio um povo e o conforma de acordo com as leis do Evangelho.
Mas o Vaticano II refletiu e descobriu que a Igreja…
…não devia imiscuir-se tanto nos regimes políticos, já que o Reino de Deus pertence necessariamente ao futuro, e Ela no presente deve limitar-se em ser a semente desse reino: “A Igreja (…) constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra” (“Lumen Gentium”, 5).
Outro descobrimento conciliar: “as Igrejas e Comunidades Separadas, embora creiamos que tenham defeitos, de forma alguma estão despojadas de sentido e significação no mistério da salvação. Pois o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como de meios de salvação” (“Unitatis Redintegratio”, 3).
Até a véspera do Concílio, as religiões eram a diabólica crosta que impedia a assimilação das gentes no seio da Cristandade; doravante são sócias e companheiras na obra da Redenção.
Ai Senhor! que amigas para Vossa Igreja! A cismática Ortodoxia, fundada na negação de Vosso Vicário; a herética Reforma, fundada no rechaço de Vossos sacerdotes; a satânica Sinagoga, fundada no ódio a Vossa Pessoa!
Terceira novidade: “A única Igreja de Cristo (…) subsiste na Igreja católica” [Haec est unica Christi Ecclesia... subsistit in Ecclesia catholica] (“Lumen Gentium”, 8). Os católicos antes estavam convencidos de que a Igreja Católica era, sem discussões, a Igreja de Cristo, e portanto os missionários davam seu sangue para incorporar os povos em seu seio, única Arca de Salvação. Mas agora parece que a Igreja Católica é só parte de algo maior, uma Igreja de Cristo (será Dele?) que inclui também as demais religiões em uma espécie de grande confederação. Assim como o Verbo – sugere-nos a “Lumen Gentium” – só subsiste na natureza humana de Cristo pelo mistério da incarnação, mas não deixa de fazer-se presente pela graça nos demais homens, assim também a Igreja de Cristo somente subsiste na Igreja Católica, no entanto não deixa de estar presente nas outras Igrejas e Comunidades, compondo com todas seu Corpo Místico. Muito lindo, mas é de um católico arrancar os cabelos: a Igreja Católica não é a Igreja de Cristo, e nem uma nem outra o Reino de Deus!
A confissão do Cardeal Kasper a respeito do ecumenismo
Concluindo, não se creia que o ecumenismo seja suficiente, diz o Cardeal Kasper, se não se buscar a conversão ao catolicismo. A nova catolicidade consiste em todas as religiões, em todas as partes, aprendendo a viver nos mesmos edifícios, unidas em diálogo fraterno para buscar o futuro Reino da Paz.
Não temam os ortodoxos hospedar católicos em seu território, pois hoje em dia não há de se temer a agressividade dos antigos missionários; vejam como gradativamente franqueamos as portas ao protestantismo na América Hispânica e, na Europa, ao Islã. Todavia, no final dos tempos, o único reino universal que está profetizado, outro que não a Igreja Católica, é o frágil e momentâneo do Anticristo.
Muito é de se temer que o movimento liberal e maçônico do ecumenismo – leitmotiv do Concílio Vaticano II e do pontificado de João Paulo II! – esteja preparando espiritualmente seu advento, já que inibe a potência da catolicidade da Igreja na pregação do pluralismo, sofisma negador da unicidade e da evidência da Verdade que é Cristo.”
(Pe. Álvaro Calderón, Catolicidad)

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quinta-feira, 4 de março de 2010

Ecumenismo e diálogo como pseudo-idéias virais


“Um vírus não é em si mesmo um ser vivo, mas sim uma simples partícula de ARN ou ADN. Tal partícula não pode se reproduzir a menos que encontre uma célula viva cujo mecanismo ela possa usar para fazer cópias de si mesma. Um vírus contém apenas as informações suficientes para reproduzir-se encontrando células que infecta e transforma para seu propósito. Na verdade, o único propósito de um vírus é a auto-replicação.
Por analogia, então, dizemos que certos “vírus” verbais infectaram o Corpo Místico de Cristo. Esses vírus são pseudo-idéias que, tais como os vírus reais, têm mínimo conteúdo informativo. Assim como um vírus paira entre vida e não-vida, essas pseudo-idéias pairam entre significado e não-significado. Elas parecem significar algo, mas depois de uma análise detalhada não encontramos qualquer significado verdadeiro...Essas pseudo-idéias virais no Corpo Místico de Cristo, assim como os vírus reais, existem apenas para reproduzirem-se a si mesmas, o que fazem infectando o entendimento de idéias genuínas que têm significados precisos – ou seja, os ensinamentos perenes do Magistério.
Estamos convencidos de que ao introduzir o “ecumenismo”, o “diálogo” e várias outras pseudo-idéias virais no Corpo Místico, Satanás encontrou uma maneira de confundir, dividir e devastar o elemento humano da Igreja, sem a Igreja jamais ter ensinado um erro real de doutrina, o que seria impossível. Muito pelo contrário: as pseudo-idéias em questão não podem ser chamadas erros doutrinais como tais, pois não são redutíveis a uma proposição cujas palavras significariam a contradição formal de uma doutrina Católica existente. De fato, os termos “ecumenismo” e “diálogo” não contêm nada em si mesmos que contradiga ensinamentos anteriores da Igreja; como os vírus reais, esses termos permanecem inertes até entrar em contato com algo que possam infectar. É por isso que quando os neocatólicos dizem que os tradicionalistas “dissentem do ecumenismo”, por exemplo, eles não são capazes de articular precisamente o que há nessa idéia que exige nosso assentimento. Porque essa idéia não envolve nenhuma doutrina Católica inteligível.”
(Christopher Ferrara e Thomas Woods Jr., The Great Facade)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A demolição da alma da Igreja


“O futuro Papa Pio XII não falava à toa quando, à luz da Mensagem de Fátima, predisse uma tentativa, que se aproximava, de alterar não só a liturgia e a teologia da Igreja, mas a Sua própria Alma - o que Ela é. Claro está que este desígnio nunca pode triunfar completamente, porque Nosso Senhor prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Sua Igreja. Mas esta promessa divina não exclui que o elemento humano da Igreja sofra as feridas mais graves causadas pelos Seus inimigos - excetuando uma morte final. Foi essa perspectiva de tão graves injúrias à Igreja que tanto alarmou o Papa Pio XII, especialmente tendo em conta as profecias de Fátima.
E, realmente, aquilo que o Papa Pio XII mais receava concretizou-se no período pós-conciliar, quando se presenciou um esforço para transformar a Igreja, de única arca da salvação - fora da qual ninguém se pode salvar - num mero colaborador com outras “igrejas e comunidades eclesiásticas”, com religiões não-Cristãs e até mesmo com ateus, na construção de uma utópica “civilização do amor”. Nesta “civilização do amor”, a salvação das almas do inferno - o qual já não é mencionado - é substituída por uma nova forma de “salvação”: a salvação através da “fraternidade” mundial e da “paz” no mundo. Esta é exatamente a mesma noção que a Maçonaria tem promovido nos últimos três séculos.
De acordo com esta noção maçônica de “salvação” pela “fraternidade do homem” (compreendida num sentido secular, não-Cristão), muitos Clérigos católicos vêm agora dizer-nos que nós temos que respeitar as várias seitas protestantes e cismáticas, como parceiros num “diálogo ecumênico” e na “procura de uma unidade cristã”. Seguindo esta nova noção, realizam-se “liturgias” ecumênicas entre Católicos, Protestantes e as Igrejas Ortodoxas cismáticas, para demonstrar a suposta “comunhão parcial” entre “todos os cristãos”. É claro que os executores da nova orientação da Igreja Católica ainda admitem que Ela é a mais perfeita de todas as igrejas; mas a afirmação de que a Igreja Católica é a única verdadeira Igreja, com a exclusão completa de todas as outras, foi abandonada na prática por todos - menos por um resto de Católicos fiéis, que são considerados “sectários rígidos” e “pré-conciliares”, simplesmente por acreditarem naquilo em que os Católicos sempre acreditaram antes de 1965.
Mas a “unidade cristã” é só um passo para a unidade pan-religiosa na fraternidade mundial. Ao mesmo tempo que a “unidade cristã” está a ser promovida por atividades pan-cristãs que os grandes Papas pré-conciliares teriam considerado sacrilégios, o “diálogo inter-religioso” fez a Igreja mais “aberta” ao “valor” de religiões não-cristãs - cujos seguidores deixariam de ser considerados como faltando-lhes a Fé e o Batismo para salvarem as suas almas. A “Cristandade anônima” de Karl Rahner - que sustenta que os seguidores sinceros de qualquer religião podem ser, e provavelmente são, “Cristãos” sem mesmo o saberem -, tornou-se a teologia de fato da Igreja. De acordo com isto, organizam-se reuniões de oração pan-religiosa, nas quais os membros de todas as religiões se reúnem para rezar pela paz e para demonstrar a sua “unidade” como membros da família humana, sem que ninguém lhes diga que estão em perigo de condenação por falta do Batismo, por falta da Fé em Cristo e por lhes faltar ainda o serem membros da Sua Igreja. Na liturgia “reformada” da Sexta-Feira Santa, os Católicos (pela primeira vez na história litúrgica da Igreja) já não rezam pública e inequivocamente pela conversão dos não-Católicos e sua integração na Santa Igreja Católica, como medida necessária para a salvação das suas almas.
Como qualquer pessoa pode ver, a substituição da Realeza Social de Cristo pela “civilização do amor” neutralizou totalmente a Igreja Católica, que já não é o centro da autoridade moral e espiritual do mundo, como era a intenção do Seu Divino Fundador.
Os teólogos progressistas que avançaram com esta nova orientação da Igreja já formaram quase duas gerações de leigos e Clérigos católicos. Os trabalhos de Rahner, Küng, Schillebeeckx, Congar, De Lubac, von Balthasar, e seus discípulos dominam atualmente os textos didáticos dos Seminários e Universidades Católicos. Nos últimos 35 anos, as doutrinas progressistas destes homens serviram de principal formação a Padres, Religiosos, teólogos e a estudantes católicos do Ensino Superior. Assim, atingimos uma fase em que os prelados preferem a teologia de Rahner à de São Roberto Belarmino, por exemplo, que é um santo canonizado e Doutor da Igreja, ou de São Tomás de Aquino, o grande Doutor e um dos maiores santos na História da Igreja. O ensino de S. Roberto Belarmino e de S. Tomás - que foi, na realidade, o ensino de todos os Papas antes do Vaticano II - tende a ser aceito somente de acordo com a interpretação que lhe é dada por Rahner e outros “novos teólogos”. O mesmo acontece com a maioria dos professores em Faculdades e Seminários Católicos.
Este processo de tentar mudar a própria alma e teologia da Igreja, tal como o Papa Pio XII receava, não só envolveu a “iniciativa ecumênica” e o “diálogo inter-religioso”, mas também uma série infinita de desculpas de Clérigos católicos, do alto e baixo Clero, pelo “triunfalismo” passado da Igreja, ao declarar ser Ela o repositório exclusivo da revelação divina, e ainda pelos supostos pecados dos Seus falecidos membros contra outros “cristãos” e outras culturas. Ora, foi precisamente isto o que o Papa Pio XII predisse, quando falou de inovadores que viriam “fazê-lA [a Igreja] ter remorsos do Seu passado histórico.””
(Pe. Paul Kramer, The Devil’s Final Battle)