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quinta-feira, 13 de maio de 2021

Um católico não deve celebrar Martinho Lutero


“-Por que razão iria um Católico celebrar Martinho Lutero, quando toda a sua rebelião se baseia no ódio à Fé Católica?
Lutero Ataca o Papado
Um ponto central da sublevação de Lutero em 1517 foi um ataque em grande escala contra o Papado estabelecido por Cristo. Lutero não se opôs contra a política deste ou daquele Papa — que seria algo que até muitos santos fizeram. Em vez disso, Lutero delirava contra a instituição da Santa Sé no seu livro Contra o Papado Romano: Uma Instituição do Demônio.
Ele também denunciou o Papado quando o Papa Leão X lhe condenou a doutrina, na sua Bula Exurge Domine, de 1520. Lutero respondeu assim:
“-Digo e mantenho que o autor desta Bula é o Anticristo: Eu amaldiçôo-a por ser uma blasfêmia contra o Filho de Deus…Tenho confiança em que todas as pessoas que aceitarem esta Bula sofrerão as penas do Inferno… Onde estais vós, imperadores, reis e príncipes da terra que tolerais a voz infernal do Anticristo? A vós, Leão X, e a vós, Cardeais Romanos, eu vos digo na cara: -Renunciai à vossa blasfêmia satânica contra Jesus Cristo!”
Então, Lutero queimou a Bula pontifícia, gabando-se disso logo no dia seguinte:
“-Queimei ontem a obra demoníaca do Papa, e oxalá tivesse sido o Papa, ou seja, que tivesse sido a Sé Pontifícia que se tivesse consumido pelas chamas. Se não vos separardes de Roma, não há salvação para as vossas almas.”
Lutero Ataca a Santa Missa
Contra o Santo Sacrifício da Missa, a oração mais sagrada da Igreja, Lutero derramou sobre ela o seu vulgar desprezo.
Dizia ele que nenhum pecado de imoralidade, nem mesmo “o homicídio involuntário, o roubo, o assassinato ou o adultério é mais prejudicial do que esta abominação da Missa Papista.” Rosnava além disso que antes queria ter sido “dono de um bordel ou ladrão, do que ter blasfemado e difamado a Cristo durante 15 anos, pelo facto de ter celebrado a Missa.”
No seu opúsculo A Abrogação da Missa, que tinha por fim destruir a Missa, Lutero escreveu:
“-Estou plenamente convencido de que, com estes três argumentos [que antes invocara], todas as consciências piedosas se persuadirão de que este padre de Missa e o Papado não passam de obras de Satanás, e ficarão suficientemente advertidas contra a ideia de que, com estes sacerdotes, se faria alguma coisa piedosa ou boa. Agora todos ficarão a saber que está demonstrado que estas Missas sacrificiais são injuriosas para com o Testamento de Nosso Senhor; por isso, nada no Mundo inteiro deve ser tão odiado e detestado como os espetáculos hipócritas deste sacerdócio, as suas Missas e o seu culto, piedade e religião. Seria melhor ser conhecido publicamente como proxeneta ou ladrão do que ser um destes sacerdotes.”
O grande São João Fisher, que viveu no tempo de Lutero, expressou o seu horror perante a impiedade deste: “-Meu Deus!” — escrevia ele — “Como é possível ficar tranquilo quando se ouvem tais mentiras blasfemas contra os mistérios de Cristo? Como é possível ouvir sem ressentimento estes insultos ultrajantes arremessados contra os sacerdotes de Deus? Quem poderá ler tais blasfêmias sem chorar com profunda dor, se conservar no seu coração uma fagulha sequer, por mais pequenina que seja, de piedade cristã?”
A Perversão das Sagradas Escrituras
Um princípio basilar da rebelião de Lutero é ter “Somente a Bíblia” como única base da nossa crença. No sistema de Lutero, não há uma Igreja fundada pela Autoridade Divina para ensinar em Nome de Cristo; há simplesmente a Bíblia como a única fonte da Revelação Divina. Lutero ensinou isso, apesar de o princípio “Só a Bíblia” não existir em lugar nenhum da Bíblia – estando ele assim, paradoxalmente, a promover um princípio que não é bíblico!...
Ao mesmo tempo, Lutero manifestou desprezo pelas Sagradas Escrituras ao alterar textos sagrados para os adaptar às suas ideias pessoais. Assim, ele rejeitou a ideia de que as boas obras são necessárias para a salvação. Ele teve a audácia de alterar o 28º versículo do Capitulo III da Epístola de São Paulo aos Romanos em que se lê: “Assim, concluímos ser o homem justificado sem as obras, só pela fé na Lei.” Lutero acrescentou a palavra ‘só’ ao texto sagrado para reforçar a sua opinião herética. E a qualquer dos seus seguidores que se opusesse à perversão que fizera ao texto, Lutero fulminá-lo-ia:
“-Se qualquer Papista vos incomodar por causa da palavra [“só”], dizei-lhe sem hesitar: ‘-É o Dr. Martinho Lutero que assim o quer. Papista e asno são uma e a mesma coisa.”
Como é óbvio, o orgulho era um dos seus principais defeitos. Alardeando a infalibilidade e superioridade da sua própria doutrina, Lutero vangloriava-se:
“-Quem quer que ensine diferente de mim, mesmo que seja um anjo do Céu, que esse seja anátema!” Além disso, afirmou ainda: “-Sei que sou mais erudito que todas as universidades!…”
Lutero prosseguiu, rejeitando vários livros da Bíblia por os julgar inaceitáveis. Denunciou a Epístola de São Tiago por ser “uma epístola de palha”.
“Não mantenho” — dizia ele — “que sejam escritos autênticos de São Tiago nem posso incluí-los entre os livros principais”. O fato é que ele rejeitou a Epístola de São Tiago, porque proclama a necessidade das boas obras e isso estava em oposição com a sua heresia.
Lutero também rejeitou o Livro do Apocalipse:
“Há muitas coisas censuráveis neste livro; na minha opinião não tem qualquer característica apostólica ou profética…Toda a gente pode atingir uma compreensão pessoal deste livro; mas, quanto a mim, sinto aversão a ele — o que é, para mim, motivo suficiente para o rejeitar.”
De seguida, Lutero rejeitou a força obrigatória da lei moral:
“Devemos remover o Decálogo da vista e do coração.”
E além disso, afirmou:
“Se Moisés tentar intimidar-vos com os seus imbecis Dez Mandamentos, dizei-lhe sem hesitar: ‘-É melhor afastares-te dos Judeus!’”
Lutero Perverte a Moralidade
Lutero, um religioso Agostinho ordenado padre, quebrou o seu voto de celibato para se casar com uma freira, também sujeita a um voto de celibato. Lutero incentivou muitos outros padres e religiosos a quebrarem os seus votos de celibato e a casarem-se.
A abordagem de Lutero era, afinal de contas, uma entrega à sensualidade e ao mundanismo num tempo de lassidão moral. Como explica o professor Thomas Neil, o apelo de Lutero ao clero do seu tempo foi bem-sucedido: “Ofereceu-lhes esposas e eles queriam esposas. Tirou-os dos mosteiros e pô-los na praça pública, e eles queriam viver na sociedade mundana.”
O eminente convertido David Goldstein escreveu: “Os escritos de Lutero sobre as relações sexuais são o oposto daquilo que é decente. Só vamos encontrar a sua aprovação em escritos socialistas sobre o amor livre. É aí que os escritos libidinosos de Lutero lhe ganharam a distinção de ser considerado o ‘expoente clássico’ do ‘sensualismo saudável’. Muitas vezes através dos séculos, infelizmente, as imoralidades desacreditaram o ministério cristão; mas Lutero possui a distinção pouco invejável de ter mesmo defendido os pecados impuros como sendo ‘necessários’.” E porque Lutero ensinava que o homem é inerentemente corrupto e que os seus pecados nunca são realmente perdoados, mas apenas cobertos pelo sangue de Cristo sob a condição de ele fazer um ato de “fé” na salvação de Cristo, instou junto do seu amigo Melanchton:
“-Sê um pecador e peca com audácia, mas acredita com mais audácia ainda!”
-Como é contrária a isto a verdadeira Doutrina Católica, que nos manda não só evitar o pecado, mas também as ocasiões de pecar!
A Crueldade de Lutero
Apesar de Lutero se ter aproveitado dos camponeses do seu tempo para popularizar a sua sublevação que, inadvertidamente, provocou as classes proletárias a fazerem uma rebelião que tinha já vindo a ulcerar os seus corações, depois Lutero aliou-se aos príncipes contra os camponeses. Como exemplo da sua desumana crueldade, Lutero aconselhava os príncipes, no caso de os camponeses “roubarem e se tornarem vorazes como cães enfurecidos … -cortai-os em pedaços, estrangulai-os e apunhalai-os, tal como nós temos o dever de matar um cão raivoso.”
O Estilhaçamento da Cristandade
Na obra The Protestant Reformation, o Padre Thomas Scott Preston esboça as consequências do argumento de Lutero de que cada homem é livre de interpretar como quiser as Sagradas Escrituras.
“Em teoria” — escreve o Padre Preston — “o juízo privado destrói tanto o credo como a possibilidade de fé. Não pode haver um credo em que cada individuo é autor da sua própria fé. Não pode haver uma unicidade de fé quando todas as questões de crença são deixadas ao juízo do individuo. Cada homem é tão capaz como o outro no descobrimento da sua própria fé e na interpretação das Sagradas Escrituras, da Tradição ou da História; além disso, este juízo privado não é simplesmente um privilégio seu, mas um seu dever. Todos são obrigados – até os ignorantes e analfabetos – a decidir por si próprios quando não há autoridade e testemunhos divinos, e por isso há tantos credos quantos os indivíduos.”
Até o escritor não-Católico Friedrich Paulson assinalou corretamente: “O termo correto para descrever a Reforma deve ser ‘Revolução’ … A obra de Lutero não era uma Reforma, uma ‘re-formação’ da Igreja existente por meio das suas próprias instituições, mas sim a destruição da forma antiga e, na realidade, a negação fundamental de toda e qualquer Igreja.”
O resultado final foi o fato de milhões de almas se terem afastado da única verdadeira Igreja estabelecida por Cristo — o que, consequentemente, provocou o estilhaçamento da unicidade da Cristandade.
Como assinalou Monsenhor Joseph Clifford Fenton, eminente teólogo americano, a alegada Reforma da Igreja Católica por Martinho Lutero “consistiu num esforço para fazer com que as pessoas abandonassem a Fé Católica, e renunciassem à sua filiação à única verdadeira Igreja militante do Novo Testamento, para seguirem o ensinamento de Lutero e entrarem na sua organização.”
Apesar da desonestidade ecumênica e sentimental de eclesiásticos de altos cargos, não se pode disfarçar a arrogância de Lutero e os seus graves erros contra a Fé. Na verdade, a atual colaboração ecumênica entre Católicos e Luteranos é, nas palavras de Papa Pio XI, uma “falsa religião cristã, totalmente alheia à única e verdadeira Igreja de Cristo.”
Não Há Nada para Celebrar!
Os erros de Martinho Lutero — e do Protestantismo que ele iniciou — não poderiam ser mais contrários às lindas verdades católicas reiteradas por Nossa Senhora de Fátima.
Em Fátima, Nossa Senhora reafirmou doutrinas basilares católicas que Lutero negara, tais como a Missa e a Eucaristia, a realidade do pecado pessoal, a necessidade da Confissão e da reparação, a realidade e centralidade do Papado estabelecido por Cristo, a humildade da submissão à doutrina perene da Igreja Católica, e a caridade que deve mostrar-se ao próximo em vez da ordem de Lutero de “estrangular” e apunhalar” os camponeses, caso fiquem fora do controle das classes sociais superiores.
No dia 13 de Outubro de 1917, para comprovar a veracidade das Suas palavras, Nossa Senhora de Fátima operou o assombroso Milagre do Sol perante 70.000 testemunhas. Não há nenhuma comparação entre as formosas verdades proferidas por Nossa Senhora e o veneno herético vomitado por Martinho Lutero.
É por isso que é impossível condescender com o fato de um Católico ir celebrar Lutero de qualquer maneira que seja! Só os que têm uma mentalidade protestante e modernista farão isso. Martinho Lutero não deveria ser nem admirado nem imitado! Tal como a Igreja ensinou consistentemente ao longo de quatro séculos, a doutrina dele, e o movimento que ele começou são apenas dignos de condenação.
O 500º aniversário da sublevação destrutiva de Lutero deve antes ser um tempo em que os Católicos celebrem o centenário de 1917 de Nossa Senhora de Fátima, e em que rezem e trabalhem pela conversão dos Protestantes à única verdadeira Igreja de Cristo, a Igreja Católica.”

http://www.fatima.org

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Por que usarmos “ dívidas” e não “ofensas” na recitação do Pai Nosso

“Cristo ensinou e usou a palavra dívidas e não ofensas. Por que Jesus usou a palavra dívidas e não ofensas?
Porque as ofensas graves que fazemos a Deus nos são perdoadas no Sacramento da Confissão e não na recitação do Pai Nosso. Quando confessamos pecados mortais na confissão e somos absolvidos, o confessor ainda nos dá uma penitência, porque, embora tendo recebido o perdão da culpa grave e do castigo eterno que ela nos traria caso morrêssemos com essa culpa grave, temos ainda dívida com Deus que procuramos pagar com a penitência.
Foi Lutero quem atacou o Sacramento da penitência. Esse heresiarca dizia que tudo o que o homem faz é pecado. Até rezar seria pecado. Lutero então considerava que o homem é incapaz de fazer o bem, de fazer penitência. Por isso era contra as boas obras. O homem deveria ter fé que estava perdoado. E como prova que confiava no perdão e que acreditava que se estava perdoado, Lutero recomendava pecar e não rezar. Pecado sem medo provaria que se acreditava plenamente no perdão.
A distinção católica entre o perdão das culpas mortais, no sacramento da Confissão, e o pedido de perdão das ofensas, provém da distinção entre culpas leves e culpas graves que Lutero negava. Para ele tudo era igualmente pecado. Ele não diferenciava pecado grave de pecado venial. Daí, os que mudaram no Pai Nosso a palavra dívidas por ofensas – dividas que nos restam pagar mesmo depois da absolvição sacramental - terem acabado com o confessionário e com a confissão pessoal. Eles introduziram abusivamente a absolvição coletiva, que o papa Bento XVI tem combatido.”

www.montfort.org.br

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O legado de Lutero

I
Em breve começarão as comemorações do quinto centenário do chamado Dia da Reforma, no qual Lutero cravou suas célebres 95 teses na porta de uma igreja de Wittemberg. Aquelas teses, que destruiriam a unidade da fé, mudariam também traumaticamente as concepções filosóficas, políticas, econômicas e culturais vigentes, até o ponto de transformar a reforma luterana em um dos fatos mais importantes da História. A chamada Reforma, ao contrário do cisma do Oriente, não foi uma mera controvérsia eclesiástica, senão que supôs uma expressa rejeição ao Dogma e à Tradição, assim como uma negação do valor dos sacramentos. E os dogmas religiosos não são, como o ingênuo (crente ou incrédulo) pensa, meras enteléquias sem consequências sobre a realidade, senão condensação de verdades sobrenaturais que exercem um influxo muito fundo sobre nossa vida. Não se pode cortar o caule de uma roseira e pretender que as pétalas da rosa não murchem.
Durante todo um ano, vamos receber um bombardeio espantoso sobre as pretensas bondades do legado luterano. Nós, na série de quatro artigos que hoje iniciamos, oferecemos às três ou quatro leitoras que todavia nos suportam um modesto antídoto contra tal avalanche. Certamente, a Reforma de Lutero chegou quando a decadência da Igreja (minada pelo concubinato do clero, pela rapacidade e avareza de muitos religiosos e pela simonia institucionalizada) alcançava cotas lastimáveis. Mas não se dá remédio aos erros caindo em um maior; e a parábola evangélica do joio e do trigo já nos adverte contra o perigo de arrancar o joio antes do tempo (que foi, exatamente, o que quis fazer Lutero, conseguindo tão somente dispersá-lo).
No fundo daquele furor reformista de Lutero palpitava o fracasso espiritual de um homem que havia feito esforços ímprobos por alcançar a união com Deus. Mas todos seus sacrifícios, penitências e abnegações haviam sido em vão; e continuavam abrasando-o as concupiscências mais torpes (em cuja descrição, por pudor, não entraremos), que lhe causavam enorme angústia e ansiedade. Lutero considerou então (fazendo uma projeção teológica de suas próprias debilidades) que o homem pecador nada podia fazer para alcançar a salvação. Assim foi que concluiu que Cristo já havia sofrido por nossos pecados; e que, portanto, já estávamos perdoados. De modo que, para salvar-nos, bastava que se nos aplicassem os méritos de Jesus por meio da fé.
Esta justificação através exclusivamente da fé se funda em uma concepção pessimista da natureza humana, que nega a liberdade humana para vencer as tentações e também a graça dos sacramentos. O homem luterano, sem capacidade para sobrepor-se ao pecado e iluminado pela sola fide, suprime a mediação da Igreja; e será sua consciência, iluminada pelo Espírito Santo, que ordenará sua própria vida religiosa e interpretará livremente as Escrituras. E, como escreveu o grande Leonardo Castellani com seu habitual gracejo, “desde que Lutero assegurou a cada leitor da Bíblia a assistência do Espírito Santo, esta pessoa da Santíssima Trindade começou a dizer umas asneiras espantosas”. O livre exame luterano desencadeou a enfermidade da inteligência denominada diletantismo, que depois contagiou, por processo virulento de metástase, toda a cultura ocidental, primeiramente com as roupagens do fátuo endeusamento intelectual, por último com os farrapos lastimáveis do desejo de saber sem estudar e da soberba da ignorância. As consequências da Reforma luterana no plano filosófico e moral não se fariam esperar.
II
Ao afirmar o princípio do livre exame, que atribui ao homem uma faculdade onímoda para ordenar sua vida religiosa, Lutero antecipa o imperativo categórico de Kant, que proclamaria a suficiência absoluta da vontade humana para emanar normas de conduta, estabelecendo-se assim o homem como único legislador e árbitro de sua vida moral. Por sua vez, com sua tese do servo arbitrio, que julga o homem incapaz de eleger o bem, Lutero se torna involuntariamente o promotor do niilismo filosófico e ético.
Lutero, discípulo dos nominalistas Wesel e Biel, inseriu no pensamento de seus mestres um asfixiante pessimismo antropológico. Julgava que a inteligência humana, danificada pelo pecado original, estava incapacitada para abstrair o universal e pensar nas coisas do espírito; mas, ao mesmo tempo, considerava que era bastante apta para desenvolver-se com pragmatismo no mundo. Inevitavelmente, um homem eximido de discernir uma ordem moral pode refugiar-se em sua consciência subjetiva. O bem já não será uma categoria que o homem discerne através da razão, senão o que em cada momento determine que é bom (ou, dito de modo mais realista, o que lhe convenha) e o mal, o que entenda que seja mal (ou seja, o que lhe prejudique). Danilo Castellano observa com perspicácia que esta consideração da consciência permitirá depois a Rousseau afirmar no Emílio que “a consciência é a voz da alma, como as paixões o são do corpo”. Esta consciência, reduzida a mera pulsão subjetiva, acabará conformando ao homem de nossa época, uma massa disforme instintiva sem guia nem freio, órfão de razão e responsabilidade. Um homem que pauta suas decisões (que, inevitavelmente, já não serão morais) pela pura espontaneidade, que é a que lhe permite afirmar-se e ser “autêntico”, e até crer (risum teneatis) que é livre como o vento, embora seja escravo de suas paixões. E da consciência instintiva ao subconsciente freudiano há somente um passo.
Inevitavelmente, esta concepção luterana do homem, incapacitado para abstrair o universal, imporá o abandono da metafísica, que posteriores correntes filosóficas declararão inacessível (e, com o tempo, inútil). Como depois afirmaria Hegel, “a verdadeira figura em que existe a verdade não pode ser senão o sistema científico dela”. Ou seja, cada escola filosófica deve criar um sistema que se erija em verdade (naturalmente, refutada pela escola seguinte). Assim, conclui-se na extravagância de pensar que a razão humana é suficiente para dar fundamento a toda a vida do homem, restando excluída a ordem sobrenatural. E, com o tempo (porque os sistemas filosóficos, ao faltar-lhes o apoio de uma verdade universal, se tornam pendulares), conclui-se na extravagância contrária, segundo a qual a razão humana não tem autoridade para fundamentar a vida, o que desembocará nos sucessivos ceticismos, relativismos e niilismos do pensamento contemporâneo.
Como defende Belloc em Europa e a fé, “ao negar-se a realidade e até o ser, criam-se sistemas que se movem em um vazio atroz, para assentar-se finalmente em uma negação e desafio universais lançados contra toda instituição e todo postulado”. O desaparecimento do saber metafísico acaba degenerando na busca de verdades “sociológicas”, sempre conjunturais e cambiantes, carentes de fundamentação real. E, cedo ou tarde, propicia malfomações e excrescências irracionais; pois, lá onde falta a metafísica, afloram como cogumelos um sem-fim de superstições enlouquecidas, fanáticas e imprevisíveis. E surgem então, inevitavelmente, conceitos políticos mórbidos. Porque o legado de Lutero tem também, certamente, consequências políticas.
III
Se a inteligência humana, danificada pelo pecado original, está incapacitada para abstrair o universal, não pode aspirar a entender as leis da política. Deste modo, a doutrina de Lutero se torna legitimadora do Estado moderno, concebido como instrumento para ordenar a vida social e reprimir a intrínseca maldade humana, transformando suas leis positivas em norma ética. Frederick D. Wilhemsen nos chama a atenção para o paradoxo de que Lutero, que começou insuflando a rebelião dos camponeses alemães contra seus príncipes (pensando que os camponeses o apoiariam em sua luta contra Roma), acabou exortando os príncipes a esmagarem do modo mais implacável as revoltas camponesas (depois que os príncipes adotassem sua doutrina). “No fim das contas – escreve Wilhemsen – o luteranismo prega que o cidadão tem que obedecer ao príncipe em tudo, de uma maneira cega, pois o cristão sabe que a autoridade do príncipe vem de Deus, mas não sabe nada da lei natural, devido à corrupção de sua razão, o único instrumento capaz de descobrir essa lei”.
Certamente, a monarquia já havia tido tentações de fazer-se absoluta antes de Lutero. Mas os reis estavam limitados por uma lei humana, o costume, e por uma lei divina que não podiam violar. Ambas barreiras serão anuladas por Lutero, que em sua obsessão por combater o papado transforma o rei em representante de Deus na terra, afirmando que todo autêntico cristão está obrigado a submeter-se incondicionalmente a ele. A monarquia, antes de Lutero, se havia acomodado à sentença de Santo Isidoro (“Rex eris si recte facias; si non facias, non eris”); e assim havia chegado a ser, nas palavras de Donoso, “o mais perfeito de todos os governos possíveis, por ser uno, perpétuo e limitado”. Ao afastar esses limites que constrangiam o monarca, Lutero instaura a deificação do poder civil. O monarca se torna objeto de adoração cega; seu poder já nunca mais se assentará na “auctoritas” nem na “potestas”, senão que será puro exercício da força sem restrições (ou sem mais restrições que os regulamentos que ele mesmo evacua, submetidos a sua conveniência e capricho).
Assim se corrompe o princípio de autoridade, até sua confusão com a mera força despótica. Esta infração da ordem política – afirma Belloc – iria ter um efeito explosivo: o poder que mantinha as coisas unidas se tornará a partir desse momento um poder que separa cada uma das partes componentes. Com efeito, o poder absoluto mostrará logo, sob uma falsa fachada unificadora, sua íntima vocação desagregadora, fazendo da disputa pelo poder, a tensão social e a guerra constante o clima natural de uma Europa dividida.
Naturalmente, a doutrina luterana sobre a soberania absoluta dos reis será a que depois, convenientemente deslocada de sujeito, fundamentará o princípio da soberania popular. A onipotência do príncipe se transforma em vontade popular soberana, sua essência continua sendo a força despótica, capaz de determinar mediante maiorias o bem e a verdade segundo sua conveniência e capricho.
Wilhemsen defende que “a passividade do alemão diante de seu governo, seja este monárquico, imperial, republicano ou nazista, reflete uma teologia e uma religião cuja negação da lei natural exige que o homem obedeça passivamente, sem perguntar o porquê”. Suspeito que esta afirmação que Wilhemsen circunscreve ao alemão poderia se estender em geral ao homem contemporâneo, que crendo-se mais soberano que nunca está na realidade submetido passivamente a poderes ilimitados que já não controla. Começando com o poder do dinheiro, que o protestantismo liberou.
IV
A rebelião de Lutero daria asas a outro clérigo subversivo, Calvino, que como ele afirmou a depravação da natureza humana e negou que o homem tivesse livre arbítrio. Calvino acrescentou, no entanto, uma dimensão nova à doutrina luterana, afirmando a monstruosa doutrina da predestinação. Porém, embora o homem nada possa fazer para salvar-se, pode – segundo Calvino – saber antecipadamente qual é seu destino, pois a prosperidade material se estabelece como sinal de afeto divino. Esta doutrina abominável desencadearia a avareza dos abastados, que começaram a agitar as massas contra o Papado; e, enquanto as massas estavam entretidas agitando-se e desfrutando da anarquia moral gerada pela ruptura com Roma, os ricos as despojaram de suas terras. “É sempre vantajoso para o rico – afirma Belloc – negar os conceitos do bem e do mal, objetar as conclusões da filosofia popular e debilitar o forte poder da comunidade. Sempre está na natureza da grande riqueza (…) obter uma dominação cada vez maior sobre o corpo dos homens. E uma das melhores táticas para isso é atacar as restrições sociais estabelecidas”. Aos fazendeiros e possuidores de grandes fortunas havia chegado, com efeito, uma grande oportunidade com a Reforma. Em todos os lugares onde a riqueza se havia acumulado em umas poucas mãos, a ruptura com os antigos costumes foi para os ricos um poderoso incentivo. Fizeram como se seu objetivo fosse a renovação religiosa; mas seu verdadeiro fim era o Dinheiro. E assim conseguiram que seu desmesurado afã de lucro resultasse menos insuportável aos olhos dos pobres, entretidos com o pirulito da renovação religiosa. A doutrina católica havia combatido o industrialismo e a acumulação de riqueza; mas o protestantismo fez do afã de lucro um sinal de salvação.
E, enquanto crescia o afã de lucro, consumou-se o “isolamento da alma”, que Belloc considera com razão o mais nefasto legado da Reforma e define como uma “perda do arrimo coletivo, do são equilíbrio produzido pela vida comunitária”. Com efeito, o protestantismo introduziu um isolamento das almas que, ademais de gangrenar a teologia, a filosofia, a política, a economia e a vida social, destruiu a unidade psíquica da pessoa. Pois, ao questionar toda instituição humana e toda forma de conhecimento, levou os seres humanos a um desenraizamento crescente e a uma exaltação do individualismo cuja estação final é o desespero, como comprovamos nas sociedades modernas, integradas por indivíduos enfermos de solipsismo e, ao mesmo tempo, padronizados e amorfos. E a dissolução da religião coletiva facilitaria, enfim, o levantamento de sucessivas idolatrias substitutas, chamadas pomposamente ideologias, cujo cálice amargo continuamos hoje consumindo até a borra.
E, para terminar – last, but not least – não podemos deixar de nos referir, entre as consequências do luteranismo, a sua iconoclasia furibunda, que geraria uma arte inane e acabaria desembocando no feísmo mais exasperado, puro vômito de uma esterilidade presunçosa, que denominamos eufemisticamente “arte contemporânea”. Se a tradição católica, em seu esforço por penetrar melhor o conteúdo da Revelação, havia fomentado uma arte belíssima que encontra seu paradigma na beleza imaculada de Maria, a reforma protestante, ao declarar a ilicitude do culto à Virgem e aos santos, engendraria uma arte fossilizada e desumanizada, quando não vesanamente niilista.
Todas estas delícias do legado luterano, e algumas outras que nos ficaram no tinteiro, vamos celebrar neste centenário tão divino da morte que se aproxima.”
(Juan Manuel de Prada, El Legado de Lutero)

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Bergoglio e Lutero


“Dentro de poucos dias o papa Bergoglio irá à Suécia participar das comemorações do quinto centenário da revolução luterana.
O gesto do pontífice, embora não nos surpreenda, não deixa de desconcertar-nos. Não nos surpreende porque seu predecessor João Paulo II agia nessa direção, tendo mandado depositar flores na campa do heresiarca, e os teólogos da Nouvelle Theologie, condenados por Pio XII e reabilitados após o Vaticano II, não escondiam sua admiração pelo falso reformador, monge crapuloso, comilão e beberrão, inventor da máquina de genocídio do mundo moderno. Não nos surpreende porque na nova religião há quem chegue a manifestar, senão simpatia, ao menos compreensão por Judas Iscariotes, dizendo que ninguém pode julgá-lo, num esforço vão de inocentar o filho da perdição.
Entretanto, o gesto de Bergoglio nos desconcerta porque de um papa, principalmente em se tratando de um filho de Santo Inácio de Loyola, queríamos poder esperar que seguisse o exemplo de seus irmãos maiores São Roberto Belarmino, São Pedro Canísio e tantos outros gloriosos santos jesuítas.
Com efeito, no quinto centenário da falsa reforma luterana, os católicos tínhamos o direito de esperar que o papa renovasse as condenações de Leão X e do Concílio de Trento contra os erros dos pseudo-reformadores e exortasse os hereges de hoje, herdeiros dos erros do século XVI, a abjurar suas doutrinas heréticas e a voltar para o seio da única Igreja de Cristo.
Tínhamos igualmente o direito de ver a Igreja pronunciando um juízo sobre as  consequências históricas das heresias do século XVI, como o faziam os bons manuais de apologia de antes do Vaticano II (por exemplo, o excelente manual de mons. Cauly). De fato, se cumpre pronunciar-se sobre a terrível efeméride, não se esqueçam as vítimas dos monstruosos hereges. Foram tantos os mártires católicos, foram tantos, também, os pobres camponeses alemães enganados por Lutero e depois esmagados brutalmente numa carnificina horrenda por ordem do mesmo heresiarca.
Realmente, parece que hoje se dá no plano religioso-ecumênico a mesma demagogia que se observa no noticiário policial: não faltam palavras de compaixão pelo bandido e nenhuma palavra de solidariedade pela família da vítima. Sobram palavras de compreensão para os desmandos, blasfêmias e imoralidades de Martinho Lutero e não se diz uma palavra em defesa da Roma dos papas, que Lutero chamava Sinagoga de Satanás e Trono do Anticristo.
No balanço histórico dessa negra efeméride poderia ocupar um lugar de destaque a rainha Maria Stuart da Escócia, outra vítima dos hereges fanáticos do século XVI. A vida dessa rainha infeliz, além de ilustrar perfeitamente a diferença entre a mentalidade católica e a mentalidade protestante, lança uma luz admirável sobre a verdadeira misericórdia divina, tal como a entendeu sempre a Igreja. Lança também uma luz sobre o que seja o verdadeiro ecumenismo. Como se sabe, Maria Stuart, depois de ter cometido vários erros graves em sua vida, caiu em desgraça nas mãos da sua prima degenerada rainha “virgem” e histérica Isabel da Inglaterra. Acusada de uma falsa conspiração forjada pelos protestantes, foi obrigada a comparecer diante de um simulacro de tribunal e condenada à morte por uma sentença iníqua de sua prima herege. Proibida de receber os últimos sacramentos de um sacerdote católico, recusou-se a receber qualquer assistência de um ministro herético e morreu santamente como uma princesa católica.
O filho de Maria Stuart, rei Jaime I da Inglaterra (Jaime VI da Escócia), um demente que participou de toda maquinação do regicídio da própria mãe, poderia ser considerado patrono do ecumenismo dos nossos dias. Com efeito, o celerado monarca, que tinha pretensão de ser teólogo, mandou sepultar o corpo de sua mãe católica na cripta dos reis da Inglaterra na abadia de Westminster e esculpir uma estátua dela ao lado da estátua da megera Isabel I (Quando na verdade Maria Stuart tinha disposto em seu testamento que queria ser sepultada na França católica, da qual fora rainha, junto ao jazigo de sua mãe Maria de Guise).
De fato, o gesto de Jaime I, pondo lado a lado as estátuas da perversa protestante Isabel e da infortunada rainha Maria Stuart, parece reproduzido hoje no século XXI quando a orgia de um falso ecumenismo emascula o sacerdócio, corrompe a doutrina sagrada e provoca a ira divina.”

http://santamariadasvitorias.org

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Glosas revelam um Lutero gnóstico

"Durante a maior parte da história da pós-Reforma, tem sido inquestionável nas histórias teológicas da controvérsia propor Martinho Lutero como um devoto seguidor da teologia de Santo Agostinho de Hipona, o grande oponente dos maniqueus. Isso não surpreende, dado que Agostinho é muitas vezes invocado pelos reformadores contra o dogma católico, que hereges como Calvino e Cornélio Jansen fizeram de um Agostinianismo corrompido o centro de suas doutrinas, que a ousada posição de Agostinho a favor da graça contra os pelagianos mostrou-se em certa medida útil aos reformadores que debatiam a favor da sola fide e dupla predestinação, e que o próprio Lutero foi um monge agostiniano. Estudos mais recentes, contudo, revelam uma imagem bastante diferente de Lutero. Longe de invocar Agostinho contra Roma, Lutero mostra-se desdenhoso do grande doutor de Hipona e um advogado de fato da teologia dualista dos maniqueus.
Esses desenvolvimentos primeiro vieram a lume no começo do século XX, quando milhares de notas escritas pela mão do próprio Lutero foram descobertas adicionadas nas margens de obras de Sto. Agostinho, Pedro Lombardo e outros. Essas glosas pertencem a dois períodos, 1506-1516 e 1535-1545, e desta forma representam tanto o pensamento em formação quanto o maduro de Lutero. As glosas não foram estudadas e compiladas sistematicamente, contudo, até a metade do século, sob a direção de um padre alemão, Theobald Beer, um dos mais notáveis especialistas em Martinho Lutero, cujos 35 anos de trabalho sobre o arqui-heresiarca do Protestantismo ganharam a estima do Cardeal Ratzinger, Hans Urs von Balthasar e muitos outros. Os anos de meticuloso trabalho de Beer em sistematizar e publicar essas glosas de Lutero tornaram-se públicos em 1980 com a publicação do livro de Beer de 584 páginas, Der fröhliche Wechsel und Streit. Os resultados do trabalho de Beer mostram um Lutero não enamorado por Sto. Agostinho, mas extraordinariamente hostil; na verdade, essa hostilidade toma um tom gnóstico e lança luz sobre muitas das subseqüentes críticas ao Aristotelismo e à Escolástica. Sobre a obra de Beer, o Cardeal Ratzinger escreve ao autor, "A influência do neoplatonismo, da literatura pseudo-hermética e da gnose, que como você mostra se exercia sobre Lutero, lança uma luz inteiramente nova sobre sua polêmica contra a filosofia grega e a Escolástica. De uma maneira nova e significativa você também explora, até as profundezas do ponto central, as diferenças que se encontram na Cristologia e na doutrina da Trindade."
Como é que esses elementos importantes do pensamento de Lutero se perderam? Theobald Beer assinala que aquilo que hoje conhecemos como "Luteranismo" é na verdade o pensamento do sucessor de Lutero, Philipp Melanchthon, que foi intérprete e advogado de Lutero, apesar de divergir deste em muitos pontos importantes. Ao contrário de Lutero, Melanchthon tinha pelos Padres da Igreja, especialmente Agostinho, um certo nível de reverência, admitia a utilidade da filosofia nos estudos teológicos e tendia a um certo irenismo que Lutero considerava preocupante. Melanchthon trouxe essas características para a causa luterana e serviu para moderar o Luteranismo do final do século XVI contra algumas das posições mais extremas de Lutero. Já se ressaltou muitas vezes que nenhum luterano dos tempos modernos seria pego afirmando algumas das coisas que Lutero disse, e Melanchthon, após a morte de Lutero, declarou que Lutero estava paralisado por um "delírio maniqueu". Assim é que o Lutero que conhecemos hoje é o Lutero como foi interpretado e modificado por Melanchthon.
Que é esse "delírio maniqueu" que Melanchthon atribui a Lutero? Um exemplo é a teologia da expiação de Lutero, onde ele vê uma inversão essencial da ordem divina. Sobre a cruz, "deve-se conceder ao diabo uma hora de divindade e devo atribuir malignidade a Deus". É óbvio que Lutero está de fato projetando sua própria luta com Deus sobre Cristo, deixando o Filho em uma relação verdadeiramente dualista com Deus Pai. O ódio profundamente arraigado de Lutero a Deus é colocado sobre Cristo, que assume não somente a punição devida ao pecado (teologia católica), mas também a própria culpa do pecado em si. Lutero escreve que Cristo não somente assumiu uma condição humana geral, mas submeteu-se ao diabo, de certo modo Ele está de acordo com o diabo, mas também com a disposição para o pecado.
Nas glosas de Lutero, ele se refere a Cristo não como uma pessoa, mas um compositum, uma composição; isso é necessário, pois ele afirma que a divindade e o diabólico são coexistentes nEle; Cristo é uma composição de humanidade e divindade. Aqui Lutero está se opondo à idéia tradicional de uma hipóstase única e pessoal, contra a qual debaterá pela vida inteira. Esse foi um enorme ponto de divergência entre Lutero e Melanchthon; após a morte de Lutero, Melanchthon afirmou, "As fórmulas a serem rejeitadas são: 'Cristo é composto de duas naturezas' e 'Cristo é o fruto da criação'". A primeira é obviamente uma tentativa de afastar o movimento luterano da idéia herética de Lutero sobre o compositum e assim o Luteranismo iria manter a fórmula tradicional da hipóstase. Aqui Lutero está particularmente contra Agostinho, do qual trataremos mais a seguir.
Beer ressalta que Lutero fixa-se muito mais no papel de Cristo que em Sua identidade; o que Cristo faz é mais importante do que quem Ele é. Para Lutero, Cristo tem duas funções. "A primeira", diz Theobald Beer, "é a função de proteger-nos da cólera divina e a segunda, de nos dar um exemplo. É uma justificação dupla". A natureza humana de Cristo, por adotar a disposição pecadora do homem caído, de fato se torna pecado. Eis onde um dualismo gnóstico-maniqueu entra no pensamento de Lutero. Não poderia haver qualquer reconciliação entre a carne pecadora e a natureza divina. Eis porque Cristo é compositum mas não hypostasis.
Isso também desce às raízes do relacionamento entre fé e obras. As obras, pertencendo ao homem exterior, à "carne", não podem ter nenhuma influência ou relevância para o "homem interior", ao espírito animado pela fé. Lembre-se, mesmo na graça, a carne ainda é má; Cristo simplesmente protegeu o pecador do castigo. Desta forma há uma permanente dicotomia entre fé e obras. Contra essa declaração, os partidos católicos na Dieta de Augsburgo apresentariam a famosa fórmula de São Paulo, "fé que opera pela caridade" (Gál. 5:6), que ensina claramente a união entre fé e obras e o mérito das obras feitas na fé. Lutero jamais deu uma explicação satisfatória a esses argumentos e de fato fugiu para a obra gnóstica de Hermes Trimegisto para combatê-los. Em Augsburgo, por exemplo, Lutero respondeu à citação de Gálatas dizendo:
"O relacionamento entre Deus e o homem é como uma linha tocada por uma esfera; a esfera sempre encontra a linha apenas em um ponto e é precisamente nesse ponto onde Cristo está situado. Estamos sempre no mesmo caminho, mas a esfera sempre nos toca apenas em um único ponto."
Isso é tirado diretamente de Hermes Trimegisto, que escreveu, "Deus é uma esfera infinita cujo centro está em todo lugar... Deus é uma esfera com tantas circunferências quantos há pontos." Em uma das glosas traduzidas por Beer, no Evangelho de João, Lutero comenta sobre a afirmação de Cristo, "Antes que Abraão fosse, eu sou" e diz, "Isso é o que acontece em todos os nomes em relação ao acidente, mas não à substância. Cristo não disse, 'Antes que Abraão fosse, eu sou Cristo'; Ele disse simplesmente, 'Eu sou'." Em outras palavras, ele introduz a distinção entre substância e acidente na pessoa de Cristo, vendo a divindade no compositum como a substância e a humanidade como o acidente. Em outro lugar Lutero diz, "O que o branco representa em relação ao homem é o que Cristo representa em relação ao Filho do Homem." A humanidade de Cristo não é necessária à pessoa de Cristo; é meramente acidental e por isso pode assumir a disposição fundamental ao pecado sem corromper Sua divindade. Isso está muito perto do dualismo gnóstico.
Há portanto algo fundamentalmente bem mais profundo nas objeções de Lutero ao Catolicismo do que o uso de indulgências ou outros desentendimentos de pouca importância. Lutero contradisse o próprio núcleo da Cristologia tradicional, uma Cristologia que é aceita hoje tanto pela maioria dos protestantes como pelos ortodoxos. Imagine-se como o Concílio de Trento teria reagido se tivesse tais escritos à sua disposição. Esse pavoroso "delírio maniqueu" é a razão pela qual Melanchthon tentou de todos os modos remodelar o Luteranismo em uma forma mais em consonância com a Cristologia tradicional.
Aqui chegamos ao desdém de Lutero por Agostinho, pois foi Agostinho, mais do que qualquer outro Padre, que articulou o entendimento correto de Cristo dentro da Trindade. Em De Trinitate, Agostinho escreve, "Diz-se que o Pai invisível, junto com o Filho também invisível, enviou esse mesmo filho e tornou-O visível". Escrevendo em 1509, Lutero rabisca nas margens, "Vejam só que estranha conclusão!" Lutero não podia aceitar uma missão intertrinitária por causa da função fundamental de Cristo como refúgio à cólera divina. Cristo tem duas naturezas, mas elas estão perpetuamente em oposição.
Essa oposição se estende até a Igreja. Já que a natureza humana como tal não participa da natureza divina, a Igreja também não participa. Lutero escreve, "A Igreja é um corpo externo mas não participa da natureza divina". Melanchthon se opõe ditando, "A pessoa de Cristo foi enviada à Igreja para lhe trazer o Evangelho do coração do Pai Eterno". Há uma verdadeira penetração do divino no humano em Melanchthon que a perspectiva maniquéia de Lutero não lhe permite jamais admitir. Lutero chega até a negar que a natureza humana de Cristo tivesse qualquer participação na redenção: "Cristo trabalha pela nossa salvação, mas sem a cooperação da natureza humana". A natureza humana é tão irremediavelmente corrupta, tão distante da divindade, que nem mesmo na pessoa de Cristo ela pode servir para algum bem. Para Cristo a única utilidade de Sua humanidade é "tornar-se" nosso próprio pecado.
A gnose de Lutero é profundamente arraigada; Beer cita muitos outros lugares onde Lutero, comentando as Escrituras, cita Hermes Trimegisto, ensinamentos neopitagóricos, e usa imagens gnósticas, como a do Leviatã ou dos Titãs. Ele vê a divisão fundamental entre fé e obras como tão profundamente arraigada que há essencialmente dois tipos de pessoas. Em suas glosas de 1531 a Gálatas, Lutero escreve, "Deste modo um é o Abraão que crê, um é o Abraão que age, um é o Cristo que redime, um é o Cristo que age... distinguir entre essas duas coisas como entre céu e terra". O dualismo aqui é profundo.
É por essa razão que Lutero particularmente despreza Agostinho, que escreveu tão eloqüentemente contra os maniqueus de sua época. Nas Confissões, por exemplo, onde Agostinho critica a idéia de duas divindades lutando uma com a outra, Lutero escreve na margem, "Isto é falso. Esta é a origem de todos os erros de Agostinho". Assim é que Lutero ataca Agostinho por atacar o Maniqueísmo; é por isso que Melanchthon por sua vez acusa Lutero de delírio maniqueu, precisamente porque a idéia de dois deuses, de dois Cristos, emerge de Lutero.
Outro exemplo: Quando Agostinho ataca o gnóstico Porfírio em De Trinitate VII, 6, 11, Lutero defende o argumento de Porfírio contra Agostinho, escrevendo à margem, "[O termo] 'pessoa' em Deus é um termo comum a muitos e significa a substância da divindade". Isso é profundamente contrário a Agostinho, que defendeu a posição ortodoxa de que pessoa se refere não à substância de Deus, mas às distinções dentro dEle. Se pessoa se referisse à substância de Deus, Ele não seria capaz de ter uma personalidade trinitária, dado que Ele é uma única substância. É assustador que Lutero tenha sido considerado como uma espécie de agostiniano. Ele desprezava Agostinho e achava que sua obra era cheia de erros. Lutero se coloca ao lado dos maniqueus contra Agostinho.
É verdade que Lutero não postula uma substância maligna autônoma, como fazem os maniqueus, mas para ele, Deus é fundamentalmente mau. Quando São Paulo escreve que em Cristo a plenitude de Deus habita corporalmente (Col. 2:9), Lutero escreve, "É bom que tenhamos um tal homem, porque Deus em si mesmo é cruel e mau". Isso reflete a experiência pessoal de Lutero com Deus, que por sua vez transborda sobre sua teologia.
O trabalho de Theobald Beer compilando as glosas de Lutero revela um Lutero que de 1509 até a década de 1540 está convicto de uma determinada teoria cristológica, da qual até seus próprios contemporâneos se envergonhavam e que tentavam minimizar. Sua relegação da natureza humana de Cristo à irrelevância prática, seu dualismo gnóstico na divisão que ele põe entre os componentes materiais e imateriais do homem, sua confiança nas obras herméticas de Hermes Trimegisto e sua antipatia furiosa a Sto. Agostinho, tudo isso revela um Lutero muito mais perturbado e perdido do que antes se imaginava. Em seu questionamento das próprias naturezas de Cristo e a estrutura da Trindade, Lutero é muito mais problemático do que antes se pensava, pois seus ataques à fé ocorrem em um nível muito mais fundamental do que indulgências e purgatório.
E sendo assim, qual o efeito disso nas relações luterano-católicas? As estranhas idéias de Lutero são algo com o qual os católicos podem dialogar? É claro que Lutero não é o Luteranismo e a maioria dos luteranos de hoje se envergonharia de professar as idéias de Lutero como próprias. Ainda assim, mesmo que o Luteranismo moderno tenha se distanciado do "delírio maniqueu" de Lutero, não deixa de ser verdade que a maneira na qual uma coisa começou determina seu curso. Os eruditos católicos e todos os católicos envolvidos em esforços evangélicos ou "diálogo" com luteranos fariam bem em se educar a respeito desse lado até então desconhecido de Martinho Lutero."

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domingo, 1 de junho de 2014

A confissão de Martinho Lutero

“Rematemos estas confissões dos convertidos pela confissão do próprio Lutero. Escreve Lutero sobre as conseqüências de sua pregação, com a qual pretendia reformar o mundo cristão: “Os povos espantam-se quando vêem que tudo outrora era calmo e tranqüilo; a paz reinava por toda parte, ao passo que hoje está tudo cheio de seitas e facções, que faz dó... Devo confessar que a minha doutrina produziu muitos escândalos; sim, não posso negá-lo: estas coisas muitas vezes me causam terror, principalmente quando me diz a consciência que despedacei o passado da Igreja, tranqüila e pacífica sob o papado.
“Os homens são hoje mais vingativos, mais avaros e sem misericórdia, menos modestos e mais incorrigíveis, piores, enfim, do que no tempo do papado.
“Coisa escandalosa! Desde que a pura doutrina do evangelho foi posta em luz, o mundo vai diariamente de mal a pior. Nós pretendemos mostrar que somos evangélicos, celebrando a comunhão debaixo das duas espécies, quebrando as imagens, saturando-nos de carne, abstendo-nos de jejuar, de orar, etc; quanto à fé e à caridade, pouco nos importa. A malícia dos homens em pouco tempo tem chegado entre nós a um tal ponto, que não possa ainda o mundo durar cinco ou seis anos... É uma experiência incontestável: nós outros, pregadores, somos agora mais preguiçosos, mais descuidados do que outrora nas trevas da ignorância papista.
“Quanto mais estamos seguros da liberdade adquirida por Cristo, mais somos tíbios e indolentes em observar o ensino e a oração, em praticar o bem e suportar as injúrias.
“Ai! acreditei em tudo o que diziam o papa e os monges: presentemente não posso mais crer o que disse Jesus Cristo, que, entretanto, não mente.”
Foi persuasão geral dos povos que as religiões são mais puras e limpas quando mais próximas a suas nascentes. Se julgarmos o protestantismo por este critério, não pode merecer conceito favorável uma religião, que, ainda fresca do sopro da revolução, que lhe insuflou a vida, fez a sua entrada no mundo já impura e corrupta, como as paixões ignóbeis que lhe serviam de berço. Esta corrupção assombrosa, que mancha de lodo e sangue o alvorecer do protestantismo, evidencia deste modo sua descendência terrena e vil e, portanto, sua falsidade.”
(Pe. Júlio Maria de Lombaerde, O Anjo das Trevas)

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Martinho Lutero e a veneração à Santíssima Virgem

“Terminemos a resposta à primeira objeção, pela voz insuspeita de Lutero: A Santíssima Virgem foi honrada e invocada desde o princípio do cristianismo, como provam as numerosas imagens encontradas nas catacumbas e nos monumentos dos primeiros séculos.
Os primeiros escritores e santos falam dela com veneração e amor, excitando o povo cristão a orar-lhe, a invocá-la, como sendo a Mãe de Jesus Cristo e a Mãe dos homens.
O próprio Lutero, antes da sua queda vergonhosa e sua vida lúbrica, honrava, amava, orava à pura Mãe de Jesus, e escreveu sobre o seu culto páginas admiráveis, que até hoje figuram como monumento de glória em honra da Mãe de Deus. “A Virgem Maria, escreve o herege, dizendo que todas as gerações haverão de chamá-la bem-aventurada, quer dizer que o seu culto passaria de geração em geração, de tal modo que não houvesse época nenhuma em que não ressoassem os louvores. É o que ela exprime dizendo que doravante todas as gerações hão de aclamá-la, isto é: Desde esta hora começa esta corrente de louvores que deve estender-se a todas as gerações e à posteridade.”
Eis como o próprio Lutero confessa que o culto da Virgem Santa começou na hora mesma em que ela cantou o seu primeiro Magnificat... Até lá era Virgem desconhecida, porém de lá em diante ela há de ser a Virgem exaltada, louvada, orada, no universo inteiro.
Não é, pois, uma invenção de Roma, a de orar e louvar a SS. Virgem; é uma invenção divina, colocada, por Deus mesmo, no berço do cristianismo, gravada em letras de fogo nos alicerces e na abóbada da Igreja verdadeira, e isto antes mesmo que Cristo aparecesse visivelmente neste mundo.
Ele está ainda escondido no seio da Virgem Imaculada e antes mesmo que ele exija a adoração de sua pessoa divina, ele já exige a veneração daquela que lhe serve de santuário e de Mãe!
É ele que inspirava Maria SS., é ele que falava pelos seus lábios; é que ordena, como se dissesse que não receberia a homenagem das criaturas, senão depois de elas terem honrado aquela que ele escolheu como Mãe... É a primeira aplicação do adágio, hoje clássico: Tudo por Jesus, nada sem Maria.
Refleti sobre isso, pobres protestantes, e se não quiserdes escutar a voz do sacerdote católico, nem da Igreja, nem do Evangelho, escutai, pelo menos, a voz do vosso próprio fundador, Lutero.”
(Pe. Júlio Maria de Lombaerde, Luz nas Trevas)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Nova Missa e a Missa de Lutero (II)


“Nos domingos se celebra a Missa. Mas Lutero conserva a palavra Missa com certa repugnância. As vestes sagradas, as velas são ainda mantidas provisoriamente. Começa-se com o Intróito em alemão, depois o Kyrie, depois uma Oração cantada pelo celebrante, ainda voltado para o altar, não para o povo. Mas para a Epístola e para o Evangelho, cantados em alemão, se voltará para o povo, quando então todos cantam o Credo em língua vulgar (pág. 316).
O celebrante dirá uma paráfrase do Pater, uma exortação à Comunhão, depois vem a Consagração, que será cantada, em alemão, assim: “Na noite em que foi traído, Nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão, rendeu graças e o partiu e apresentou a seus discípulos e disse: Tomai e comei, isto é o meu Corpo que é dado por vós”. – HOC EST CORPUS MEUM QUOD PRO VOBIS TRADETUR; estas são as palavras exatas –. “Fazei isto todas as vezes que o fizerdes, em memória de mim. Do mesmo modo, Ele tomou também o cálice, após a Ceia e disse: Tomai e bebei dele todos, este é o cálice, um novo Testamento em meu Sangue, que é derramado por vós, para a remissão dos pecados”. Não disse PRO VOBIS ET PRO MULTIS, fez desaparecer as palavras PRO MULTIS e também MYSTERIUM FIDEI (pág. 317).
Mysterium fidei e pro multis desapareceram… “Que é derramado por vós, para a remissão dos pecados, fazei isso todas as vezes que beberdes esse cálice em memória de mim”. Essas palavras que Lutero dizia ser a consagração, portanto as palavras essenciais, correspondem exatamente às palavras do documento da Congregação do Culto. A única expressão a mais é pro multis, que restou no documento do Vaticano. Mas todas as palavras, assim como as que são ditas antes: “Na noite em que foi traído, Nosso Senhor tomou o pão”, essas palavras não são da forma; nunca a Igreja disse que as palavras que precedem a Consagração fazem parte da forma do Sacramento.
Depois da elevação, que Lutero conservou até 1542, vinha a Comunhão na mão. Uma última oração – a coleta – terminava a Missa como a Postcomunio dos católicos (págs. 317-318).
Evidentemente Lutero não aceitou o celibato e lutou contra os votos dos religiosos. Ele queria o fim desses costumes da Igreja. Mas, coisa bastante curiosa, ele sempre teve certo medo das reformas que ele tinha feito. Seus discípulos iam à vanguarda, mais depressa do que ele; ele sempre estava um pouco ansioso. Dizia a seus discípulos: “Eu condeno a nova prática de dar a Eucaristia de mão em mão, bem como o uso irrefletido da Comunhão sob as duas espécies”. Isso nos primeiros tempos, depois ele aceitou; mas logo de começo lhe parecia que essa Comunhão na mão não era boa coisa.
Depois de ter dito que a Confissão não era necessária, mesmo para aqueles que tinham pecados graves, hesitou e disse: “A Confissão é boa, mas se o Papa me pedir para me confessar, eu me recusarei a fazê-lo, eu não me quero confessar. Nem por isso eu aceito que alguém me proíba essa confissão secreta. Eu não a cederei nem por todos os tesouros da terra, porque eu sei o que ela já me proporcionou de força e de consolação…”
Lutero estava roído de remorsos, no entanto vivia devorado pela necessidade de fazer novidades, de mudar tudo, de ir contra o Papa, contra a Igreja Romana, contra o dogma. Por isso ele continuou sua reforma.
A reforma litúrgica atual se inspira na reforma de Lutero
É evidente que a reforma litúrgica atual se inspira na reforma de Lutero. Eu disse isso, em Roma, a muitos Cardeais: “Vossa nova Missa é a Missa de Lutero!” A isso me foi respondido: “Mas então ela é herética!” E eu respondi: “Não, ela não é herética, mas é ambígua, equívoca, pois um pode celebrá-la com a fé católica integral do Sacrifício, da Presença Real, da Transubstanciação e outro pode celebrá-la sem ter essa intenção e, nesse caso, a Missa não será mais válida. As palavras que ele pronuncia e os gestos que ele faz não o contradizem. Ela é equívoca, sim, equívoca. E certamente Lutero, durante muitos anos, a celebrou validamente, quando ele ainda não estava contra o Sacrifício, quando ele era ainda mais ou menos católico. Porém, mais tarde, quando ele recusou o Sacrifício, o Sacerdócio, a Presença Real, então sua Missa passou a não ter mais validade”.
Mas como uma Missa pode ser assim equívoca? É impossível fazer isso com o antigo rito, porque ele é claro, ele é claro. O Ofertório todo diz com clareza o que nós realizamos. O Ofertório é uma verdadeira definição do Sacrifício da Missa. Por isso é que Lutero era contra o Ofertório, porque ele era por demais claro, e foi por isso que ele fez aquelas mudanças no Cânon para não deixar perceber se é uma narração ou uma ação; mas nós, nós sabemos que a Consagração é uma ação sacrifical.
Eles sabem que em nossos antigos Missais, antes do Communicantes, está escrito infra actionem, pois não se trata de uma narração, nem de um memorial, uma simples recordação. É uma ação. Uma ação sacrifical.
Todas essas mudanças no novo rito são realmente perigosas
Todas essas mudanças no novo rito são realmente perigosas, porque, pouco a pouco, sobretudo para os padres novos, que não têm mais a idéia do Sacrifício, da Presença Real, da Transubstanciação, para os quais tudo isso não significa mais nada, esses padres novos perdem a intenção de fazer o que a Igreja faz, e não celebram mais missas válidas; não há mais a Presença Real.
Certamente os padres idosos, quando celebram conforme o novo rito, conservam ainda a fé de sempre. Celebraram a Missa no antigo rito, durante tantos anos, que conservam as mesmas intenções; então se pode crer que a Missa deles é válida. Mas na medida em que essas intenções se vão, desaparecem, nessa mesma medida as Missas deixarão de ser válidas.
Eles quiseram se aproximar dos protestantes, mas foram os católicos que se tornaram protestantes e não os protestantes que se tornaram católicos. Isso é evidente, ninguém pode dizer o contrário.
Quando cinco Cardeais e quinze Bispos compareceram ao “Concílio dos Jovens”, em Taizé, como esses jovens poderiam saber o que é catolicismo e o que é protestantismo? Alguns receberam a Comunhão das mãos dos protestantes, outros dos católicos.
Quando o Cardeal Willebrands esteve em Genebra, no Conselho Ecumênico das Igrejas, declarou: “Temos que reabilitar Lutero”. Ele o disse, como enviado da Santa Sé.
Vede a Confissão. Em que se transformou a Confissão, o Sacramento da Penitência, com essa absolvição coletiva? É acaso pastoral esse modo de dizer aos fiéis: “Nós demos a absolvição coletiva, os senhores podem comungar; quando tiverem oportunidade, se tiverem pecados graves, confessem-se no prazo de seis meses a um ano…” Quem pode dizer que esse modo de proceder é pastoral? Que idéia se poderá fazer do pecado grave?
E a Confirmação
O Sacramento da Confirmação também está numa situação idêntica. Realmente eu penso que as palavras do livro dos Sacramentos da Comissão do Arcebispo de Paris, que constituem a forma, tornam o Sacramento inválido. Por quê? Porque não há mais a significação do Sacramento na forma. O Bispo, quando confere o Sacramento da Confirmação, diz: “Signo te, signo Crucis et confirmo te Chrismate salutis, in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti” e “Confirmo te Chrismate salutis”. A Confirmação: “confirmo te.”
Agora estão dizendo: “Eu te assinalo com a Cruz e recebe o Espírito Santo”. É obrigatório esclarecer qual a graça especial do Sacramento, no qual se confere o Espírito Santo. Se não se diz esta palavra: “Ego te confirmo in nomine Patris…” Não há o Sacramento! Eu o disse também aos Cardeais, porque eles me declararam: “O senhor confere a Confirmação sem ter o direito de o fazer”. – “Eu o faço, porque os fiéis têm medo que seus filhos fiquem sem a graça da Confirmação, porque eles têm dúvida a respeito da validade do Sacramento, que é conferido atualmente nas igrejas. Não se sabe mais se é verdadeiramente um Sacramento ou não. Então, ao menos para ter essa certeza de ter realmente a graça, me pedem para crismar, e eu o faço porque me parece que eu não posso recusar aos que me pedem a Confirmação válida, pois ao menos eles recebem a graça, mesmo que não seja lícito, porque nós estamos num tempo em que o direito divino natural e sobrenatural passa à frente do direito positivo eclesiástico, já que este se lhe opõe, em vez de lhe servir de canal”.
Estamos em uma crise extraordinária
Nós não podemos seguir essas reformas. Onde estão os frutos dessas reformas? Eu, de fato, me pergunto! Reforma litúrgica, reforma dos seminários, reforma das congregações religiosas, todos esses capítulos gerais! Onde eles estão colocando essas pobres congregações atualmente? Tudo se acabando…! Não há mais noviços, não há mais vocações…!
Eles próprios reconhecem que não há mais vocações. O Cardeal Arcebispo de Cincinatti o reconheceu também no Sínodo dos Bispos, em Roma: “Em nossos países (ele representava todos os países de língua inglesa), não há mais vocações, porque não sabem mais o que é o padre”.
Nós devemos nos conservar na Tradição. Só a Tradição nos concede realmente a graça, nos proporciona realmente a continuidade na Igreja. Se abandonarmos a Tradição, passaremos a contribuir para a demolição da Igreja.
O liberalismo penetrou na Igreja através do concílio
Também isso eu disse àqueles Cardeais! “Não vedes que o Esquema da Liberdade Religiosa do Concílio é um esquema contraditório? Na primeira parte do Esquema está dito: ‘Nada muda na Tradição’, e, dentro do Esquema, está tudo ao contrário da Tradição. O contrário do que disseram Gregório XVI, Pio IX e Leão XIII”.
Portanto é preciso escolher! Ou estamos de acordo com a liberdade religiosa do Concílio e então somos contrários ao que esses Papas disseram, ou então nos conservamos de acordo com esses Papas e nos recusamos a concordar com o que está contido no Esquema sobre a Liberdade Religiosa. É impossível estar de acordo com os dois. E acrescentei: eu me atenho à tradição, eu sou pela tradição, e não por essas novidades que constituem o liberalismo. Não é absolutamente outra coisa senão o liberalismo, que foi condenado por todos os pontífices, durante século e meio.
Esse liberalismo penetrou na igreja através do concílio: a liberdade, a igualdade, a fraternidade.
A liberdade: a liberdade religiosa.
A fraternidade: o ecumenismo.
A igualdade: a colegialidade.
E estes são os três princípios do liberalismo, originado dos filósofos do século XVIII, e que levou a efeito a revolução francesa.
Foram essas idéias que entraram no concílio, por meio de palavras equívocas.
E agora vamos à ruína, a ruína da Igreja, porque essas idéias são absolutamente contra a natureza e contra a fé. Não existe igualdade entre nós. Não existe verdadeira igualdade. O papa Leão XIII disse isso bastante claro, em sua encíclica sobre a liberdade.
A fraternidade também! Se não houver um pai, como acharemos fraternidade? Se não há pai, se não há deus, como podemos ser irmãos? Como se pode ser irmão, se não houver um pai comum? Impossível! Devemos então abraçar todos os inimigos da igreja, os comunistas, os budistas e todos os outros que são contra a igreja, os Maçons?
Esse decreto de uma semana atrás, que diz que agora não há mais excomunhão para um católico que entre na maçonaria. Mas onde está a igreja? Isso é impossível! Os Mações são os inimigos tradicionais da igreja, são aqueles que querem destruir os países católicos! Quem destruiu Portugal? Quem estava no Chile? E agora no Vietnam do sul! Porque esses países são católicos! E que será da Espanha dentro de um ano, da Itália etc…? Por que a Igreja abre os braços a toda essa gente que são seus inimigos?
Temos que rezar
Na verdade temos que rezar, rezar; é um assalto do demônio contra a Igreja, como jamais se viu igual. Devemos rezar a Nossa Senhora, a Bem-Aventurada Virgem Maria, para que Ela venha em nosso socorro, porque realmente nós não sabemos o que será de amanhã. E realmente parece que toda essa ruína trará conseqüências terríveis ao mundo. É impossível que Deus aceite todas essas blasfêmias, sacrilégios que são praticados contra Sua Glória, Sua Majestade!
Ele tem muita paciência, mas virá o dia (quando virá, eu não sei), virá o dia do castigo, porque todas essa legalizações, leis sobre o aborto, que vemos em tantos países, o divórcio na Itália, toda essa ruína da lei moral, ruína da verdade, realmente é difícil acreditar que tudo isso se possa fazer, sem que Deus fale um dia!
Então temos que pedir a Deus misericórdia por nós e por nossos irmãos. Mas também temos que lutar, combater. Combater para conservar a Tradição e não ter medo. Conservar, acima de tudo, o rito de nossa Santa Missa, porque Ela é o fundamento da Igreja e da civilização cristã. Quando não houver mais uma verdadeira Missa na Igreja, a Igreja acabará.
Temos que conservar esse rito, esse Sacrifício
Portanto temos que conservar esse rito, esse Sacrifício. Todas as nossas igrejas foram construídas para esta Missa, não para uma outra Missa; para o Sacrifício da Missa, não para uma Ceia, para uma Refeição, para um Memorial, para uma Comunhão, não! Para o Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, que continua sobre nossos altares! Foi por isso que nossos pais construíram essas belas igrejas, não para uma Ceia, não para um Memorial, não!
Conto com vossas orações por meus seminaristas, para fazer de meus seminaristas verdadeiros padres, que tenham fé e que possam, assim, ministrar sacramentos verdadeiros e o verdadeiro Sacrifício da Missa. Obrigado.”
(Arcebispo Marcel Lefebvre, La Messe de Luther)

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A Nova Missa e a Missa de Lutero (I)


“Esta noite, falarei da Missa de Lutero e da Missa do novo rito. Por que essa comparação entre a Nova Missa e a Missa de Lutero? Porque a história o diz; a história objetiva não é criação minha. (Sua Excia. mostra então um livro sobre Lutero, publicado em 1911, “Do Luteranismo ao Protestantismo” de Léon Cristiani). Ele fala sobre a reforma litúrgica de Lutero. Trata-se de um livro escrito em um tempo, em que o autor nem conhecia nossa crise, nem o novo rito; portanto não foi escrito com segundas intenções.
Síntese dos princípios fundamentais da Missa
Primeiramente desejo fazer uma síntese dos princípios fundamentais da Missa, para trazer à nossa memória a beleza, a profunda grandeza espiritual de nossa Missa, o lugar que nossa Missa ocupa na Santa Igreja. Que coisa mais bela Nosso Senhor legou à humanidade, que coisa mais preciosa, mais santa concedeu à Sua Santa Igreja, à Igreja sua Esposa, no Calvário, quando morria na Cruz? Foi o Sacrifício de si mesmo.
O Sacrifício de si mesmo. Sua própria Pessoa, que continua seu Sacrifício. Ele o deu à Igreja, quando morreu na Cruz. A partir desse momento, esse Sacrifício estava destinado a continuar, a perseverar através dos séculos, como Ele o havia instituído, juntamente com o Sacerdócio.
Quando na Santa Ceia, Jesus instituiu o Sacerdócio, Ele o instituiu para o Sacrifício, o Sacrifício da Cruz, porque esse Sacrifício é a fonte de todos os méritos, de todas as graças, de todos os Sacramentos; a fonte de toda a riqueza da Igreja. Isso devemos recordar, ter sempre presente essa realidade, divina realidade.
Portanto, é o Sacrifício da Cruz que se renova sobre nossos altares, e o Sacerdócio está em relação com ele, em relação essencial com esse Sacrifício. Não se compreende o Sacerdócio sem o Sacrifício, porque o Sacerdócio foi feito para o Sacrifício. Poder-se-ia dizer também: é a Encarnação de Jesus Cristo, séculos afora: “usque ad finem temporum”, o Sacrifício da Missa será oferecido.
Se Jesus Cristo quis esse Sacrifício, quis também ser nele a vítima, uma vez que é o Sacrifício da Cruz que continua, Ele quis que a vítima fosse sempre a mesma, quis ser Ele próprio a vítima. Para ser a vítima, Ele tem que estar presente, verdadeiramente presente nos nossos altares. Se Ele não estiver presente, se não houver a Presença Real nos nossos altares, não haverá vítima, não haverá Sacerdócio. Tudo está ligado: Sacerdócio, Sacrifício, Vítima, Presença Real, portanto transubstanciação.
Aí está “o coração” do tesouro – o maior, o mais rico – que Nosso Senhor concedeu à Sua Esposa, a Igreja e a toda a humanidade. Assim podemos compreender que, quando Lutero quis transformar, mudar esses princípios, começou por combater o Sacerdócio; como o fazem os modernistas. Pois Lutero bem sabia que se o Sacerdócio desaparecesse, não mais haveria Sacrifício, não mais haveria Vítima, não haveria mais nada na Igreja, não mais haveria a fonte das graças.
Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio?
Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio? Dizendo: “Não existe diferença entre padres e leigos. O Sacerdócio é universal”. Tais eram as idéias que ele propagava. Ele dizia que há três muros de defesa cercando a Igreja. O primeiro muro é essa diferença entre padres e leigos. (Sua Excia. então lê): “A descoberta de que o Papa, os bispos, os padres, os religiosos compõem o Estado Eclesiástico, ao passo que os príncipes, os senhores, os artesãos, os camponeses formam o estado secular, é pura invenção, uma mentira”. Essa diferença entre padres e leigos é então uma invenção, uma mentira. Eis o que diz Lutero: “Na realidade, todos os cristãos pertencem ao estado eclesiástico”. Não há diferença, a não ser a diferença de funções, de serviço. Todos têm o Sacerdócio a partir do Batismo; têm-no em razão do caráter batismal, todos os cristãos são padres e os padres não têm um caráter especial, não há um sacramento especial para os padres, mas seu caráter sacerdotal lhes vem do caráter do Batismo. Assim também se explica esta laicização dos padres; eles não querem mais ter uma veste particular, não querem mais se distinguir dos fiéis, porque todos são padres; e são os fiéis que devem escolher os padres, eleger os seus padres.
Tais foram os princípios de Lutero, que prossegue: “Se um Papa ou um Bispo confere a unção, faz tonsuras, ordena, consagra ou dá uma veste diferente aos leigos ou aos padres, está criando enganadores”. Todos são consagrados padres, a partir do Batismo. Os progressistas do nosso tempo não descobriram novidades.
Há um novo livro sobre os Sacramentos, aparecido em janeiro deste ano em Paris, sob a autoridade do Arcebispo, o Cardeal Marty. Saiu há pouco. Seus autores descobriram oito sacramentos, não mais sete, porque o oitavo sacramento é a profissão religiosa. Eles dizem claramente, nesse livro, que todos os fiéis são padres e que o caráter sacerdotal vem do caráter do Batismo. Os autores, por certo, devem ter lido Lutero, transformado para eles em Padre da Igreja.
Lutero não acreditou mais na Transubstanciação, nem no Sacrifício
Lutero deu também outro passo à frente, após a supressão do Sacerdócio. Ele não acreditou mais na Transubstanciação, nem no Sacrifício. E disse claramente que a Missa não é um Sacrifício. A Missa é uma Comunhão. Podemos então chamar a Missa de Comunhão, Ceia, Eucaristia, tudo, menos Sacrifício. Não há, portanto, Vítima, nem Presença Real, mas apenas uma presença espiritual, uma recordação ou comunhão. Foi por isso que Lutero sempre combateu as Missas privadas; foi uma das primeiras coisas feitas por ele, porque uma Missa privada não é uma Comunhão. É preciso que os fiéis comunguem. A Missa privada, então, não está conforme a verdade, é preciso suprimir todas as Missas privadas.
Ele chamava a Eucaristia de “Sacramento do Pão”. A Eucaristia (dizia ele) tornou-se uma lamentável maldade. Essa “maldade” da Missa provém de terem feito dela um Sacrifício. Somos forçados a constatar que não se fala mais de Sacrifício da Missa nos boletins diocesanos ou paroquiais, mas de Eucaristia, de Comunhão, de Ceia. Que singular semelhança com as teses de Lutero!
Lutero faz ainda uma distinção entre os fins do Sacrifício da Missa
Além disso, Lutero faz ainda uma distinção entre os fins do Sacrifício da Missa. Ele diz que um dos fins do Sacrifício da Missa é render graças a Deus. A Eucaristia é um sacrificium laudis, mas não um sacrificium expiationis, não um Sacrifício de expiação, mas de louvor, de eucaristia. Por isso é que se certos protestantes ainda falam de Sacrifício, nunca o é no sentido de sacrifício expiatório, que remite os pecados. No entanto se trata de um dos principais fins do Sacrifício da Missa, a remissão dos pecados.
Por isso é que os protestantes modernos aceitam o novo rito da Missa, porque, dizem eles (isso saiu publicado em uma revista da Diocese de Estrasburgo, noticiando uma reunião de protestantes da Confissão de Augsburgo), agora, com o novo rito, é possível rezar com os católicos. (L’Eglise en Alsace de 8-12-1973 e 1-1-1974). “De fato, com as atuais formas de celebração eucarística da Igreja Católica, e com as presentes convergências teológicas, muitos obstáculos que podiam impedir que um protestante participasse da celebração eucarística estão desaparecendo e agora vai se tornando possível reconhecer, na celebração eucarística católica, a Ceia instituída pelo Senhor. Temos à disposição novas orações eucarísticas, que têm a vantagem de apresentar variações à Teologia do Sacrifício”. Isso é evidente! Há duas semanas atrás, estando eu na Inglaterra, soube que um bispo anglicano adotou, ultimamente, o novo rito católico para toda a sua diocese. E declarou: “Este novo rito é muito conforme com as nossas idéias protestantes.” É pois evidente que para os protestantes, não há mais dificuldades para admitir o novo rito. Por que eles não tomam o antigo rito? Foi o que o Senhor Salleron perguntou aos padres de Taizé: “Por que dizeis que hoje podeis admitir este novo rito e não o antigo?”
Portanto há uma diferença entre o novo e o antigo e esta diferença é essencial; não é uma diferença acidental, porque eles não aceitam usar o antigo rito, com todas as orações dotadas de precisão e que esclarecem realmente a finalidade do Sacrifício: propiciatório, expiatório, eucarístico e latrêutico. Esta é a finalidade do Sacrifício da Missa católica que, claro no antigo rito, não o é mais no novo rito, porque não há mais Ofertório. E é também por isso que Lutero não quis Ofertório no rito dele.
Como Lutero inaugurou sua nova Missa
Vejamos como Lutero inaugurou sua nova Missa, sua reforma. A primeira missa evangélica foi levada a efeito na noite de 24 para 25 de dezembro de 1521. Nessa primeira missa evangélica, depois da pregação sobre a Eucaristia, eles falaram sobre a Comunhão sob as duas espécies como obrigatória e sobre a Confissão como inútil, bastando a fé. A seguir, Karlstadt, seu discípulo, apresentou-se no altar, com vestes seculares, recitou o Confiteor, começou a Missa como era antes, mas somente até o Evangelho; o Ofertório e a Elevação foram supressos (pág. 282), o que quer dizer que tudo o que significava idéia de Sacrifício foi retirado. Após a Consagração veio a Comunhão e muitos assistentes haviam bebido e comido, e até, tomado aguardente, antes de comungar; comungaram sob as duas espécies e o pão consagrado, (dado) nas mãos. Uma das hóstias escapole e cai em cima da roupa de um assistente. Um padre a recolhe. Uma outra cai no chão e Karlstadt diz aos leigos para apanhá-la; e como eles se recusam, por respeito ou temor, ele declara: “Que ela permaneça onde está, pouco importa, contanto que não se pise em cima”. Pouco depois ele próprio a apanhou (pág. 282). Muitos leigos, inúmeras pessoas estavam contentes com a novidade e eram muitos os que vinham assistir a essa nova Missa evangélica, porque uma parte era dita em língua alemã, e eles diziam que compreendiam melhor. Então os mosteiros começaram a se esvaziar. Lutero tinha declarado: “Eu conservarei o meu hábito, meu modo de me apresentar como monge”, mas muitos monges saíram; alguns ficaram nos mosteiros, mas a maioria se casou. Reinava grande anarquia entre os padres. Cada um celebrava sua missa como queria. O Conselho não sabia mais o que fazer (pág. 285), tomando então a resolução de fixar uma nova liturgia, de não mais deixar a liberdade e de pôr um pouco de ordem. A maneira de celebrar a Missa deveria ser então a seguinte: Intróito, Glória, Epístola, Evangelho, Sanctus. Depois havia uma pregação; Ofertório e Cânon ficavam supressos; o padre então pronunciava a instituição da Ceia, que ele proferia, em voz alta, em alemão e distribuía a Comunhão sob as duas espécies. Depois vinha o Agnus Dei e o Benedicamus Domino, para terminar.
As modificações da Consagração introduzidas no Novus Ordo são semelhantes às que foram introduzidas por Lutero; as palavras essenciais da Consagração não são mais unicamente as palavras da forma, tais como sempre tinham sido conhecidas: “HOC EST CORPUS MEUM. HIC EST CALIX SANGUINIS MEI,” e as palavras que lhe seguem. Não! A partir de então, as palavras essenciais começam nos seguintes termos: “Ele tomou o pão”, até as palavras após a consagração do vinho: “HOC FACITE IN MEAM COMMEMORATIONEM”. Lutero disse a mesma coisa. Por quê? Porque se lê a narrativa da Ceia. “É uma narrativa, não uma ação, não um Sacrifício, não uma ação sacrifical, mas um simples memorial”. Por qual razão nossos inovadores o copiaram de Lutero?
Lutero diz também: “As Missas e as Vigílias estão encerradas. O Ofício será conservado, assim como as Matinas, as Horas menores, as Vésperas, Completas, mas somente o Ofício ferial. Não se comemorará mais santo algum que não esteja expressamente nomeado na Escritura”. Desse modo, ele mudou completamente o Calendário, exatamente como foi feito atualmente (pág. 309).
Donde podemos concluir: A atual transformação é idêntica à de Lutero. Um último exemplo, o das palavras da Consagração do pão: “HOC EST CORPUS MEUM, QUOD PRO VOBIS TRADETUR”. Também Lutero acrescentou essas últimas palavras, porque justamente são palavras da Ceia, pois ele pretendia que a Ceia não fosse um Sacrifício, mas uma refeição.
Ora, o Concílio de Trento diz explicitamente: Quem disser que a Ceia não é um Sacrifício seja anátema. A Ceia foi um Sacrifício. E nossa Missa é a continuação da Ceia, porque a Ceia foi um Sacrifício. Isso já se constata na separação prévia do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. O Sacrifício já estava significado por essa separação, no entanto Lutero afirma: “Não. A Ceia não é um Sacrifício”, é por isso que nós devemos repetir todas as palavras que Nosso Senhor disse na Ceia, ou seja: “HOC EST CORPUS MEUM QUOD PRO VOBIS TRADETUR”, que será entregue por vós sobre a Cruz.
Por que imitar tão servilmente Lutero na Nova Missa?
A única razão que se pode aduzir é a do Ecumenismo. Pois sem esse motivo, nada se pode compreender dessa reforma. Ela não tem absolutamente vantagem alguma, nem teológica, nem pastoral. Nenhuma vantagem a não ser a de nos aproximar dos protestantes. Podemos legitimamente pensar que foi por isso que os protestantes foram convidados para a Comissão da Reforma Litúrgica; para ficarmos sabendo se estavam satisfeitos ou não, ou se havia alguma coisa que lhes não agradava, se eles podiam ou não rezar conosco. Eu penso que não pode existir outro motivo para esta presença dos protestantes na Comissão de reforma da Missa. Mas como podemos pensar que protestantes, que não têm nossa fé, possam ser convidados para uma Comissão destinada a fazer uma reforma de nossa Missa, de nosso Sacrifício, daquilo que temos de mais belo, de mais rico em toda a Igreja, o objeto mais perfeito de nossa fé?!
Lutero, em janeiro de 1526, promoveu a impressão de um novo ritual para as cerimônias da Missa. No seu pensamento, ele queria a liberdade total. E dizia (pág. 314): “Se possível, eu gostaria de dar total liberdade aos padres, para fazerem o rito que quiserem; mas há o perigo de abusos, então é preciso estabelecer regras”. Seu pensamento, porém, era de liberdade total. E também de igualdade entre os padres e os fiéis. E assim, todos os fiéis sendo padres, poderiam, também eles, ter idéias de como criar o culto. Então, todos juntos, aqueles que são padres, aqueles que têm uma função especial, aqueles que são escolhidos dentre os fiéis, todos juntos podem demonstrar sua criatividade no culto.
Mas como era um pouco difícil, acabaria havendo bastante desordem, então ele escreveu um ritual. Nessa ocasião ele dizia também: “O uso do latim é facultativo”. Ele não era absolutamente contra o latim. Queria até que as crianças aprendessem latim. Mas também dizia: “O desejo dos leigos comuns de ter uma Missa em alemão é perfeitamente legítimo. Contudo há pessoas que vão à Igreja para ver novidade, para ver coisas novas. Esses, no entanto, não são verdadeiros cristãos, são curiosos, como se fossem aos turcos ou aos pagãos”.”
(Arcebispo Marcel Lefebvre, La Messe de Luther)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O erro dos reformadores protestantes


“A doutrina bíblica e católica da justificação apresentada acima foi geralmente aceita por todos os cristãos durante 1.500 anos. Nos últimos séculos, contudo, um grave equívoco sobre essa doutrina foi a principal causa de trágicas divisões e da formação de centenas de pequenas comunidades eclesiais e denominações fora da Igreja de Jesus Cristo – a Igreja Católica. Alguns desses grupos militantemente atacam a Igreja Católica por sua supostamente “não-bíblica” doutrina da justificação.
Em vez de confiar em 1.500 anos de tradição cristã a fim de interpretar corretamente as epístolas de São Paulo (as quais, segundo a advertência de seu colega apóstolo Pedro, são às vezes “difíceis de entender” e podem ser perigosamente mal interpretadas – II Ped 3, 16), Lutero, Calvino e outros reformadores protestantes confiaram em suas próprias capacidades pessoais de interpretação bíblica e cometeram graves erros.
A Igreja Católica considera ser ensinamento da Bíblia que, tendo em vista a salvação eterna do cristão depender de sua perseverança tanto na fé como nas boas obras até o fim de sua vida, nenhum de nós pode estar completamente seguro de que irá eventualmente alcançar a felicidade eterna no Céu. Existe a possibilidade de que cairemos em pecado mortal e perderemos nossa alma para sempre. Assim, devemos permanecer “sóbrios mas vigilantes, porque vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (I Pe 5, 8). São Paulo aconselha contra a presunção: “Quem pensa estar de pé veja que não caia” (I Cor 10, 12) e deixa claro que ele mesmo tem que fazer esforços espirituais constantes: “para não ser excluído depois de eu ter pregado aos outros” (I Cor 9, 27). São Paulo também alerta explicitamente cada fiel contra o “juízo prematuro” a respeito de seu próprio status espiritual diante de Deus. E continua: “Por isso, não julgueis antes do tempo; esperai que venha o Senhor. Ele porá às claras o que se acha escondido nas trevas. Ele manifestará as intenções dos corações. Então cada um receberá de Deus o louvor que merece” (I Cor 4, 5). Os protestantes tendem a minimizar ou distorcer tais passagens, colocando uma ênfase seletiva sobre outras onde São Paulo mostra uma grande confiança em ganhar sua coroa de glória eterna (e.g., II Tim 4,8; Rom 8, 38-39). Uma avaliação equilibrada de todas as passagens relevantes traz à luz a doutrina católica: devemos ter esperança e confiança na graça e na misericórdia de Deus, que nos deseja salvar; mas ao mesmo tempo devemos evitar a presunção de antecipadamente afirmar a certeza absoluta de nossa própria salvação pessoal.
Lutero e Calvino achavam difícil de suportar esse elemento de incerteza quanto à sua própria salvação e imaginavam ter descoberto, no ensinamento de São Paulo sobre a “justificação pela fé sem as obras”, a promessa da certeza que tanto buscavam. Como já vimos, São Paulo queria apenas dizer que quando estamos em estado de pecado, nossas próprias obras jamais causarão nem merecerão que nos tornemos justificados. Mas os reformadores pensavam que ele também queria dizer que as boas obras jamais contribuem para que permaneçamos justificados e assim alcancemos a salvação eterna.
A maior parte dos grupelhos que mesmo nestes tempos ecumênicos continuam hostis à Igreja Católica tende a seguir o ensinamento de Calvino em vários aspectos: eles defendem que, uma vez “renascidos” ou convertidos ao estado de graça (justificação), é impossível decairmos dessa graça por nossos pecados e perdermos ao fim nossa salvação. Eles insistem no princípio “uma vez salvo, sempre salvo”. Os pregadores e membros dessas igrejas descrevem-se a si mesmos como “salvos” por sua “fé em Jesus como Salvador pessoal” e dizem-nos que estão absolutamente seguros de ir para o Céu quando morrerem.
Às vezes eles pensam assim porque acreditam que quaisquer pecados que cometam no futuro, não importa quão graves, serão simplesmente desprezados por Deus por causa de sua fé nos méritos salvíficos de Jesus. Em outras palavras, eles afirmam que, se mantivermos nossa confiança em Jesus como Salvador, não perderemos o favor e a graça de Deus ainda que cometamos um pecado mortal! Outros cristãos evangélicos, percebendo que esse ensinamento é manifestamente não-bíblico, consideram-se a si mesmos não mais capazes de cometer quaisquer pecados mortais. Tais pessoas gostam de citar Mateus 7, 18, onde Nosso Senhor ensina que “uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má bons frutos.” Eles deduzem daí que os fiéis cristãos autênticos – tais como eles mesmos – são simplesmente incapazes de produzir os “maus frutos” do mau comportamento. Eles se esquecem de que Jesus nunca deu qualquer garantia de que toda “árvore boa” iria sempre permanecer boa. Assim como as boas árvores podem eventualmente apodrecer e produzir maus frutos, os bons cristãos podem sucumbir à tentação e cometer pecados mortais. E ao fazê-lo, perdem a graça e põem suas almas em perigo. Os protestantes também gostam de citar as palavras de Jesus em João 5, 24: “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre na condenação, mas passou da morte para a vida.” A expressão “vida eterna” é usada aqui, como em algumas outras passagens, com o significado de “vida de Deus dentro de nós”, ou em outras palavras, o dom da graça santificante. A vida de Deus, da qual participamos pela graça, é obviamente eterna em si mesma; mas aqui Nosso Senhor não está dizendo que jamais poderemos nos separar dessa vida divina por nossos próprios pecados. Aqui está subentendido que nossa “não-incorrência na condenação” depende de permanecermos na graça que recebemos.
Uma suposta garantia de salvação instantânea e permanentemente segura pode parecer bastante atraente, e muitos católicos – principalmente os que põem a procura por uma “experiência” espiritual à frente da procura pela verdade doutrinal – deixaram-se seduzir e se afastaram da Igreja com essa promessa presunçosa e ilusória, especialmente porque os protestantes que ensinam essa falsa doutrina são em geral pessoas sinceras, devotas e zelosas. Mas na própria epístola aos Gálatas, um dos livros bíblicos favoritos dos protestantes, São Paulo contradiz a idéia deles de que uma vez justificados ou convertidos nós jamais poderemos decair da graça e terminar em danação eterna. O Apóstolo diz que os cristãos que insistem em reviver as práticas da circuncisão e de outras antigas leis rituais judaicas do Antigo Testamento, como se fossem necessárias para a salvação, “separaram-se de Cristo e decaíram da graça” (Gál 5, 2-4). Ele também insiste junto aos cristãos já convertidos para que “vivam de acordo com o Espírito” e evitem cair na imoralidade sexual, violência, inveja, bebedeira e outros pecados mortais. Paulo avisa-os de que “os que assim se comportam não herdarão o Reino de Deus” (Gál 5, 19-21). O sentido claro e natural de tal ensinamento paulino é a doutrina católica perene de que os fiéis cristãos podem realmente decair da graça e perder suas almas se não se mantiverem em alerta contra as artimanhas do Inimigo. Não admira que quinze séculos passassem sem que ninguém interpretasse os escritos de São Paulo segundo o entendimento protestante.”
(Rev. Brian Harrison, O. S, Faith, Works and Justification)

sábado, 20 de novembro de 2010

A justificação pelas obras segundo São Tiago


“À primeira vista, o que vimos até agora parece estar em contradição com o ensinamento de São Tiago, que diz:
“Queres saber, ó homem vão, como a fé sem obras é estéril? Abraão, nosso pai, não foi justificado pelas obras, oferecendo o seu filho Isaac sobre o altar? Vês como a fé cooperava com as suas obras e era completada por elas. Assim se cumpriu a Escritura, que diz: Abraão creu em Deus e isto lhe foi tido em conta de justiça, e foi chamado amigo de Deus (Gên 15, 6). Vedes como o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé?” (Tg 2, 20-24)
Assim, diz São Paulo que a justificação é pela fé, não pelas obras; São Tiago diz que somos justificados pelas obras e também pela fé. Não há aqui uma contradição? Não, se reconhecermos que São Tiago está usando a palavra “justificação” em um sentido ligeiramente diferente do utilizado por São Paulo. Simplesmente, Paulo usa “justificação” para expressar a mudança de “mau” (estado de pecado) para “bom” (estado de graça) diante de Deus. Tiago, no entanto, usa a mesma palavra para exprimir o manter-se bom – e tornar-se cada vez melhor – diante de Deus. Essa ambigüidade na idéia de justificação é semelhante à que ocorre na linguagem cotidiana em relação à idéia de saúde. Se dizemos que “uma boa alimentação nos faz saudáveis”, isso tanto significa que a boa alimentação muda nossa condição de doentes para saudáveis, como que nos mantém saudáveis e pode nos fazer cada vez mais saudáveis. Assim, o que Tiago nos ensina é que tendo sido inicialmente justificados pela fé, devemos perseverar tanto nas boas obras como na fé, para crescermos em “justiça” – isto é, em santidade. O exemplo de Abraão, por ele usado, ajuda a entender aonde quer chegar. Abraão foi justificado primeiro pela fé, quando creu no chamado de Deus e em Sua promessa (Gên 15, 6). Depois disso, foi justificado ainda mais pela “obra” – o ato de obediência – de estar preparado para sacrificar seu filho Isaac ao comando de Deus (Gên 22).
Os protestantes geralmente citam São Tiago de forma seletiva, ressaltando que, de fato, a “fé sem obras é morta”, e sustentando que, se uma pessoa não produz boas obras, isso mostra que ela não tem o tipo de fé que justifica, mas somente a “fé morta” que até os maus espíritos têm. Mas eles ainda insistem, em flagrante contradição com o versículo 24, que “só a fé” é que realmente justifica – que as boas obras são somente um efeito, e de modo nenhum uma causa, de nossa justificação. Outros protestantes adotam o estratagema exegeticamente desesperado de afirmar que Tiago 2, 24 fala de uma justificação “diante dos homens” e não “diante de Deus”, como se o Apóstolo estivesse meramente afirmando que boas obras nos fazem parecer justos na avaliação das pessoas que nos conhecem. Contudo, o contexto claramente descarta essa hipótese totalmente injustificada, motivada somente pela necessidade de reconciliar Tiago com uma interpretação errada de Paulo. Não admira que Lutero – de modo mais radical, mas talvez com mais coerência – repudiasse desdenhosamente Tiago como uma “epístola de palha” e costumasse ignorar a contradição desta com sua própria doutrina.
Há muitas outras passagens bíblicas que esclarecem que, depois de sermos livremente perdoados e justificados pela fé e pela graça, devemos perseverar nas boas obras se quisermos conservar essa graça e alcançar a salvação final. “Só a fé” não é mais suficiente neste derradeiro estado de nossa jornada espiritual, pois “a fé sem obras é morta” (Tg 2, 26). O próprio São Paulo, pouco antes de escrever aos romanos sobre a “justificação pela fé, sem as observâncias da lei”, diz: “Porque diante de Deus não são justos os que ouvem a lei, mas serão tidos por justos os que praticam a lei.” (Rom 2, 13). E também:
Flp 2, 12-13: “Assim, meus caríssimos, vós que sempre fostes obedientes, trabalhai na vossa salvação com temor e tremor (...). Porque é Deus quem, segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar.” (Eis aqui a doutrina católica em poucas palavras: boas obras realizadas em estado de graça são necessárias para nossa salvação e meritórias diante de Deus, porque são simultaneamente Suas obras e nossas.)
Apoc 20, 11-12: “Vi, então, um grande trono branco e aquele que nele se assentava. (...) Vi os mortos, grandes e pequenos, de pé, diante do trono. Abriram-se livros, e ainda outro livro, que é o livro da vida. E os mortos foram julgados conforme o que estava escrito nesse livro, segundo as suas obras. (Ver também a parábola do Juízo Final, as “ovelhas” e os “cabritos” que são julgados “segundo suas obras” – Mt 25.)
Jo 14, 15: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos.”
I Jo 2, 3-4: “Eis como sabemos que o conhecemos: se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz conhecê-lo e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele.””
(Rev. Brian Harrison, O. S, Faith, Works and Justification)