sábado, 5 de dezembro de 2015

Simbologia maçônica na Flauta Mágica de Mozart

"Dedicada aos mistérios de Ísis e Osíris, a Flauta Mágica, ópera de Wolfgang Amadeus Mozart, é uma das obras mais ricas em conteúdo iniciático da história da música. Escrita para crianças de 9 a 90 anos, não por acaso o próprio Johann Wolfgang Goethe afirmou: “O grande público encontrará deleite ao assistir ao espetáculo, enquanto que, ao mesmo tempo, seu alto significado não escapará aos Iniciados”.
Malkuth: Representado por Papageno, metade homem, metade pássaro, vive numa floresta sob os domínios da Rainha da Noite. Seu trabalho é caçar pássaros e entregá-los às Três Damas em troca de guloseimas. Seu nome deriva de uma palavra grega que significa “engendrar, gerar”, pois o personagem encarna a multiplicidade dos desejos perante a unidade espiritual de Tamino. Uma alusão a Papegeai, papagaio, designação de um grau elementar da Ordem dos Iluminados. Preso ao materialismo, Papageno só pensa em tagarelar, fugir, comer, beber e encontrar sua Papagena.
Yesod: Cobertas com véu preto e armadas com uma azagaia de prata, representando o ato certo no momento certo, as Três Damas são as sacerdotisas da Lua. Residem no templo da Rainha da Noite e simbolizam a purificação do corpo físico, do corpo de desejos e da mente, seus véus pretos referem-se à Ísis Velada. Elas salvam Tamino da serpente e lhe oferecem a flauta mágica, símbolo dos poderes latentes do espírito, da divindade adormecida no homem.
Hod: Os três Gênios, os três seres de luz, os três Reis Magos, os dois Vigilantes e o Guardião da Maçonaria. Estes guiam Tamino, ajudam-no em suas escolhas e atitudes. São crianças, pois representam a pureza do Eu Superior.
Netzach: Pamina representa a natureza espiritual do ser humano, a “musa inspiradora” de Tamino. É com ela que Tamino realiza o Casamento Alquímico. “A imagem é bela e fascinante, como olho algum jamais viu antes… Será amor tal sensação? Sim, amor! Não outra emoção” (Tamino ao ver Pamina pela primeira vez).
Tiferet: De origem nobre, Tamino representa os Iniciados que realizam a Grande Obra, a Magnus Opus. No início da ópera Tamino é perseguido por uma serpente, símbolo dos desejos inferiores, representa a sua sexualidade, sua libido. As três Damas matam a serpente indicando que Tamino alcançou a vitória sobre a natureza inferior. Disposto a lutar, a enfrentar desafios, a fim de conquistar a fraternidade e o amor, Tamino encarna a via longa da alquimia, semeada de provas.
Geburah: Monostatos, além de traidor e perverso, é um escravo forte e rude. Quem assistiu à ópera com atenção verá em Monostatos a exata representação de alguém que faz o mal uso da energia agressiva de Marte.
Chesed: Os três Sacerdotes são os principais guias de Tamino. São eles que propõem o Isolamento, a Solidão e o Silêncio, cobrem o seu rosto com um capuz e o conduzem à iniciação.
Binah: Representante da força das trevas, a Rainha da Noite manipula sua filha Pamina, para assassinar Sarastro, e posteriormente destruir seu templo.
Hochma: Sarastro governa o templo da Sabedoria. Sábio, humilde e servidor, seu personagem é uma referência clara a Zoroastro.
Kether: Templo do Sol ou Templo da Luz, local sagrado onde ocorrem as iniciações e as transmutações, onde Tamino e Pamina são purificados pelos quatro elementos e realizam o Casamento Alquímico, a Grande Obra.
O Tarot
Vocês já devem ter notado algumas semelhanças entre os personagens da ópera e o tarot. Pois bem, Mozart dividiu a ópera em 22 grandes sessões (incluindo a abertura), cada sessão representa um dentre os 22 arcanos maiores do Tarot.
O Arcano XXI, O Mundo, mostra uma mulher no centro, rodeada por quatro animais, que simbolizam quatro signos do zodíaco (aquário, escorpião, touro, leão), ou seja, o Leão (Sarastro), o Anjo (Tamino), a Águia (Papageno), e o Touro (Monostatos).
O Arcano VIII, A Força, contém a mandíbula de um Leão sendo aberta por uma mulher. Algumas de suas características são: virtude, coragem, controle, espírito que domina a matéria, a inteligência que doma a brutalidade. Este Arcano é claramente representado no momento em que as damas dominam a grande serpente.
Alguns biógrafos sustentam a idéia de que na primeira versão, ao invés de uma serpente, Tamino seria perseguido por um Leão. No entanto, faltando 18 dias para estréia, o Imperador Leopoldo II proibiu uma sátira chamada “Biografia do RRRR Leão”, cujo título era uma brincadeira com o nome do próprio imperador. Logo, Mozart e Schikaneder perceberam que iniciar a ópera matando um leão no palco não agradaria muito vossa majestade.
A Maçonaria
Conduzi os dois estrangeiros ao templo, onde serão provados. Cobri suas cabeças primeiro, pois devem ser purificados.” Assim, o orador e o segundo sacerdote trazem capuzes, com os quais cobrem as cabeças de Tamino e Papageno.
Se a Virtude e a Justiça espalharem a glória no caminho dos Grandes, então a Terra será um reino celeste e, os mortais, semelhantes aos deuses.”
A esta altura do texto, fica óbvio dizer que Mozart e Schikaneder eram maçons e que a ópera é uma elaborada alegoria dos simbolismos, dos rituais e dos ideais maçônicos.
Três coisas nos chamam a atenção nesta ópera, a música, a história e a recorrência do número três: três gênios, três sacerdotisas, três sacerdotes, três altares, três caminhos, três conselhos, três instrumentos musicais, três casais (Papageno – Papagena, Tamino – Pamina, Sarastro – Rainha da Noite), três templos (Razão, Sabedoria e Natureza), uma alusão à sagrada geometria e aos três graus fundamentais da maçonaria: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Além disso, a ópera foi desenvolvida por três pessoas, o compositor Mozart, o libretista Schikaneder e o alquimista Ignaz von Born.
E o número três não para por aí, a tonalidade predominante na ópera é Mi bemol maior (Três bemóis), segundo Jacques Chailey, seria a tonalidade maçônica por excelência. A “sinfonia” de abertura é marcada pelos Três poderosos acordes em tutti, segundo Philippe A. Autexier, nas lojas vienenses do século XVIII, o ritual empregado nessa época continha ritmos característicos para cada Grau.
Não apenas os três graus fundamentais (Rito de São João) são homenageados, mas de maneira sutil e oculta, todos os trinta e três graus do Rito Escocês Antigo e Aceito estão lá. O mais “óbvio” deles é o 18º Grau, o Cavaleiro Rosa-Cruz.
Ó Ísis e Osíris, que ventura! A luz do Sol ofusca a noite escura. Vida nova esse jovem há de abraçar; logo, a nosso serviço há de estar. Sua alma é pura, o gênio audaz, dignos de nossos ideais.” (A Flauta Mágica)
O hino acima possui um total de dezoito compassos e abre a 18ª cena do segundo ato. Nesta cena há dezoito sacerdotes em dezoito assentos dispostos em triângulo. Sarastro, o Sumo Sacerdote (ou seja, Venerável Mestre da Loja) aparece pela primeira vez no I Ato, na cena 18. Quando os três gênios superiores aparecem suspensos no palco numa máquina ela está “coberta de rosas”. Além de todas estas “coincidências” o número dezoito é formado por seis vezes três, o número simbólico crucial e básico da ópera."
(Fábio Almeida, A Flauta Mágica e a Kabbalah)