quinta-feira, 26 de setembro de 2019

O Anticristo e a Parusia


As Duas Bestas
Quando a estrutura temporal da Igreja perder a efusão do Espírito e a religião adulterada se transformar na Grande Rameira, então aparecerá o Homem do Pecado e o Falso Profeta, um Rei do Universo que será ao mesmo tempo como um Sumo Pontífice do Orbe, ou terá sob suas ordens um falso Pontífice, chamado nas profecias o "Pseudoprofeta". ...
O Anticristo será ao mesmo tempo uma corporação e uma pessoa individual que a encarnará e a governará.
1) Uma corporação, porque assim diz a definição que dele formula São João (I Carta, Iv, 3), a saber “spiritus qui solvit Jesum”, “espírito de apostasia”: e dizer um espírito é dizer um modo de ser que informa a quantidade de pessoas.
2) Um indivíduo, porque São Paulo (II Tessal, II, 3-4) o chama: "o homem da iniqüidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus."
Este último texto é impossível de aplicar a um corpo colegiado de indivíduos, como a maçonaria ou o filosofismo do século XVIII...
... O Anticristo é provavelmente o filosofismo do século XVIII, prolongação da pseudo-reforma protestante e precursor desta nova religião que vemos formando-se hoje em dia diante de nossos olhos, chame-se como se quiser (modernismo, aloguismo, antropolatria) que será sem dúvida a última heresia, pois não se pode mais ir além em matéria de heresias. E o Anticristo será também um homem singular, dado que todo espírito objetivo não existe nem atua senão encarnado, e todo grande movimento histórico suscita um homem. Todo grande movimento sociológico suscita e reveste uma grande cabeça para ser formado; como, por exemplo, Mussolini criou e ao mesmo tempo foi criatura do nacionalismo italiano...
O Advento – Está próxima a Parusia?
O autor do Apocalypsis afirma que a Parusia (ou seja a presença justiceira de Cristo na história humana) está próxima; desde o começo, em que intitula o livro de "Revelação d'Ele que está próximo", até o final, onde diz: "Venho logo"; e também: "Eis que estou à porta e chamo. Agüente um pouco. Volto já".
Volto já? Esta expressão desconcertante, pedra de tropeço dos incrédulos de hoje – e de sempre -, se verifica de três maneiras. Transcendental, mística e literal.
1) Transcendentalmente. O período dos últimos dias (ou seja o tempo da revelação cristã entre a Primeira e a Segunda Vinda) será muito breve, comparado com a duração total do mundo.
Uma antiga tradição hebraico-cristã, muito respeitável, atribui a "este século" (ao ciclo adâmico, desde Adão ao Juízo Final) uma duração de sete milênios, correspondentes aos sete dias da criação, porque "para Deus mil anos são como um dia" (Salm. LXXXIX, 4; II Petr. III, 8), correspondentes a dois milênios para a Lei Natural, dois milênios para a Lei Mosaica e dois milênios para a Lei Cristã; e o último milênio, o Domingo, para a transformação feliz do universo no Trono do Verbo ("Eu farei novos céus e nova terra") mediante a ação parusíaca.
Assim pois, em um sentido transcendental Cristo pôde dizer com verdade que sua Segunda Vinda estava próxima.
2) Misticamente. Todos os homens, não menos que as nações, estamos próximos do juízo por causa da morte, a qual pode sobrevir a qualquer momento; e sobrevém sempre à eterna ilusão e distração humana de um modo inesperado. A pedagogia de Cristo em todo o Evangelho é alertar continuamente o homem acerca da morte iminente e imprevista. "Néscio, esta noite mesmo te pedirão a alma. O que acumulaste, para quem ficará?"
Nossa experiência nos ensina que mesmo nos velhos enfermos e doentes terminais, a morte os surpreende de repente: no sentido de que não a esperam; e quem a vai esperar? Um santo religioso vimos morrer, o qual se enfureceu quando o Superior lhe falou dos últimos sacramentos. “Eu não sou homem de morrer sem sacramentos – disse - : mas estes superiores jovens são tão precipitados, que basta alguém sofrer qualquer coisinha, e já aparecem com os Santos Óleos.” Recebeu-os, no entanto, porque era dócil; e nessa mesma tarde estava morto.
Pois bem: o mesmo será no fim, igual aos tempos do Dilúvio: os homens comprarão, venderão, farão política, se casarão e engendrarão filhos; e como o relâmpago que surge no Leste e no mesmo instante está no Oeste, assim será a vinda do Filho do Homem. O sensato, pois, é pensar no fim como sempre próximo, porque de fato pode ser hoje mesmo, quando estamos sem azeite na candeia, como aconteceu com as Virgens Insensatas; devemos nele pensar como próximo, mas não como coisa certa – o que paralisaria a atividade humana, como aconteceu com os Tessalonicenses -, mas como coisa possível, prevista e esperada. E também santamente desejada. Vem, Senhor Jesus!
3) Literalmente. Cumpriu-se em seguida a profecia na destruição de Jerusalém, e depois na queda do Império Romano étnico, os dois typos do fim do século, ou seja do término do ciclo, que usaram Jesus Cristo mesmo e o discípulo amado: cumpriu-se em sua primeira fase para os ouvintes do Messias; e se cumprirá em sua forma completa para nós, que pensamos menos no Fim do Mundo que os primeiros cristãos. E, sem dúvida, estamos mais próximos que eles!
Porque o drama da História se desenvolve em planos escalonados, como todo drama se desenvolve em cenas que contêm todas a mesma idéia fundamental, a desdobrar-se no desenlace. E assim todas as grandes quedas dos impérios perseguidores da Igreja, as grandes ressurreições triunfais do cristianismo e as grandes varreduras que faz Deus de raças inteiras apóstatas ou degeneradas, podem ser consideradas como realizações parciais e figurativas da Presença (parousía) de Cristo na História e de sua revelação (apokalypsis) definitiva.
(Pe. Leonardo Castellani, Cristo ¿Vuelve o No Vuelve?)

Original em: http://www.ncsanjuanbautista.com.ar