quinta-feira, 16 de julho de 2015

Do báculo modernista à cruz “foice e martelo” de Francisco

“O sacrílego presente ofertado pelo presidente da República da Bolívia ao bispo de Roma causou perplexidade e revolta entre os católicos, não só porque a foice e martelo são o símbolo do comunismo, o regime político diabólico que perseguiu os católicos com mais crueldade do que a antiga Roma pagã, mas sobretudo porque o mimoseado com o esdrúxulo regalo, segundo informou o porta-voz do Vaticano, não manifestou nenhum desagrado.
A Roma dos césares perseguia os cristãos porque estes eram intolerantes, não aceitavam a política ecumênica do império que punha nos nichos do panteão todos os deuses da gentilidade, ao passo que o comunismo tentou a ferro e fogo apagar do coração do homem qualquer crença em Deus e na vida eterna, bem como destruir todas as instituições sociais da cristandade, sobretudo a família e a propriedade privada.
Como bem sabemos, as mais diversas seitas gnósticas e satanistas sempre se distinguiram pelo gosto perverso de profanar a cruz, enquanto a Igreja e seus filhos sempre a exaltaram e se refugiaram sob a sua poderosa proteção. E nós brasileiros somos, com orgulho, filhos da Terra da Santa Cruz.
Contudo, cumpre dizer que, infelizmente, desde o Vaticano II, com sua fracassada reforma litúrgica, a santa cruz passou a ser objeto de trabalhos “artísticos”, não só de inegável mau gosto, mas de manifesta intenção de escárnio da fé. O mais deplorável desses trabalhos “artísticos” foi o famoso báculo de Paulo VI, utilizado por João Paulo ao longo de todo seu pontificado, aposentado por Bento XVI e ressuscitado adrede por Francisco.
Com efeito, não se pode negar o propósito de escárnio da fé nestas modernas representações da cruz, pois há altos dignitários eclesiásticos que declaram que está ultrapassada a crença em um sacrifício redentor da cruz. A cruz representaria apenas o sofrimento, a opressão, de que o homem moderno, mais maduro e consciente de suas próprias forças, certamente se libertará. De modo que se deve representar a cruz, não como o instrumento da salvação do mundo, como libertação do pecado e do poder do diabo (não se crê mais neste ser mitológico segundo o modernismo), mas como o mal a ser vencido pela revolução do homem moderno emancipado de qualquer autoridade humana ou divina.
Lembro-me de que há uns trinta anos houve um grande evento no Brasil, semelhante ao Encontro Mundial dos Movimentos Sociais promovido pelo Vaticano na Bolívia, em que centenas de católicos das famigeradas comunidades eclesiais de base, na presença de bispos, celebraram o ritual “Pisoteio da Cruz”. Para gente desse jaez, do drama do calvário a única lição que se deve tirar é o grito de Cristo “Meu Deus, meu Deus, porque me desamparastes”, interpretado como um grito de desespero a fim de que o homem se convença de que do céu não se deve esperar nada, mas só lutar (a praxis) para revolucionar o mundo. As palavras do Redentor “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” não têm sentido, porque não crêem na existência da alma imortal e muito menos na vida eterna.
No episódio recente do encontro entre o bispo de Roma e o cacique bolivariano, o que me pareceu lamentável foi verificar mais uma vez a falta de informação de muitos católicos sobre o pontificado de João Paulo II, considerado por eles como um modelo de conservadorismo e ortodoxia em contraposição ao revolucionário e libertário pontificado de Francisco.
Ora, sabe-se perfeitamente que a encíclica social Laborem exercens de João Paulo II emprega categorias marxistas para analisar o mundo moderno. Isto foi dito pelo prof. Buttiglione, da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma. A referida encíclica exalta tanto o trabalho como se isto não fosse uma espécie de idolatria e condena o capital como se apenas este fosse uma idolatria instigada pelo diabo. Pois eu digo que a idolatria do trabalho pode rebaixar e infelicitar mais o homem do que a idolatria do dinheiro à medida que lhe impede o necessário ócio (não a preguiça) para a contemplação e o aprimoramento do espírito. E não foi apenas o professor Buttiglione, mas também o redator da edição polaca do Osservatore Romano, Pe. Boniecki, amigo pessoal de João Paulo II, que disse que a encíclica Laborem exercens está mais próxima do pensamento de Marx que ao de Leão XIII. Ademais, sabe-se que João Paulo II não queria censurar Leonardo Boff e só o fez porque Ratzinger lhe disse que renunciaria a seu cargo se o processo contra o teólogo da libertação ficasse em vão.
Não bastasse tudo isso, tanto João Paulo II quanto Ratzinger se esforçaram por operar uma síntese entre a tradição católica e a modernidade e nisto se mostraram adeptos do método dialético e de um conceito de verdade evolutiva.
Realmente, se não fosse assim, Francisco não teria canonizado João Paulo II e não teria “ressuscitado” o seu báculo que tem um crucificado próprio das seitas gnósticas medievais.
Portanto, pode-se falar de uma relação de causa e efeito entre o espantoso báculo dos papas da Igreja Conciliar e a cruz “foice e martelo” regalada ao bispo de Roma. E não nos iludamos: este novo modelo de cruz será colocado nos altares “Novus Ordo” de muitas igrejas que adotam a nova teologia da misericórdia revolucionária!”

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