sábado, 18 de julho de 2015

“Proletários de todo o mundo, uni-vos!”

“Com essas palavras termina o “Manifesto comunista” de Marx e Engels. Só faltou esse explícito grito de guerra ao discurso que pronunciou o Papa ontem na Bolívia no encerramento do segundo Encontro Mundial dos Movimentos Populares, convocado por ele mesmo, mas estava quase explícito quando disse:
“O futuro da humanidade... está fundamentalmente nas mãos dos povos... Este sistema já não se agüenta, não o agüentam os trabalhadores, não o agüentam os povos e tampouco o agüenta a Terra, a irmã mãe Terra... terra, teto e trabalho para todos. Disse e repito, são um direito sagrado. Vale a pena lutar por eles. Que o clamor se escute na América latina e em todo o mundo... Vocês, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podem fazê-lo e fazem muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, em suas mãos, em sua capacidade de organizar-se e promover alternativas criativas na busca cotidiana dos três “t” (trabalho, teto e terra) e também em sua participação protagônica nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se intimidem!... O destino universal dos bens não é um adorno discursivo na doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada.”
Elogiou a união dos governos da Ibero-América, elogio que não pode ser interpretado, no contexto de seu discurso, senão como um reconhecimento ao bloco neomarxista do qual participam, com distinta intensidade, Cuba, Venezuela, Nicarágua, Honduras, Equador, Bolívia, Argentina, El Salvador, Uruguai e Brasil: “Os governos da região uniram esforços para fazer respeitar sua soberania, a do conjunto regional, que tão belamente, como nossos pais de antanho, chamam a “Pátria Grande”... (contra) o novo colonialismo (que se esconde) “por trás do poder econômico do dinheiro”, que chamou de “esterco do diabo” e condenou o sistema econômico atual como algo “que degrada e mata”.
Insolitamente, este discurso não improvisou, senão que o leu das seis páginas que levava preparadas, de tal maneira que cada palavra foi premeditada e deliberada. Para culminar, foi precedido por outro longo discurso do tirano comunista boliviano Morales que atacou o “imperialismo castrador”, referindo-se claramente aos EUA. Nunca um Papa pode ser acompanhado e precedido em sua tribuna por um político e muito menos por um de ideologia marxista (todas estas citações estão em “La Nación” de 10/07/2015, págs. 1 e 2).
A exortação aos “explorados” a “organizar-se” indica a necessidade, segundo o Papa, de armar uma estrutura revolucionária que dirija a luta de classes rumo à comunhão de bens, ou seja, à abolição ou subordinação extrema da propriedade privada até torná-la praticamente inoperante. Ou seja, uma vez mais coincide com o Manifesto comunista que diz: “A teoria dos comunistas pode ser resumida nesta única proposição: abolição da propriedade privada.”
Essa luta organizada e até a morte para acabar com os exploradores e seu sistema econômico atual (não há outra maneira de que os explorados deixem de sê-lo) é a velha luta de classes proposta pelo Manifesto comunista em sua antepenúltima frase:
“Os comunistas desdenham ocultar sua visão e seus objetivos. Declaram abertamente que seu propósito só pode ser alcançado pela violenta derrubada de todos os condicionamentos sociais. Os proletários não têm nada a perder, a não ser suas correntes. Têm um mundo todo para ganhar.” E termina com a já citada frase clássica: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”
Não deixou de atacar também a gloriosa Conquista da América, como se tivesse sido uma agressão injusta aos “povos originários”, quando qualquer historiador sabe que aquela gloriosa gesta, mais que uma Conquista foi uma evangelização e um ensinamento de uma cultura mil vezes superior ao canibalismo das grandes tribos indígenas (os astecas, por exemplo), pagãos todos eles e, como tais, “sentados à sombra da morte”.
Todo o discurso está tingido de ódio, de um ódio intenso e excitante, capaz de contagiar seus ouvintes e o mundo inteiro; de um ódio a todos aqueles que têm algo obtido com seu trabalho, por modesto que seja, e que, por direito natural, como ensina a verdadeira Doutrina social da Igreja, têm direito a guardá-lo como próprio. Todo o discurso está muito longe do amor misericordioso do divino Redentor que morreu na Cruz por pobres e ricos e nunca incitou à luta de classes mas a nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou. É um discurso que não tem nada de católico.
Para simbolizar ainda mais a horrenda submissão de Nosso Senhor e de Sua Igreja ao comunismo, recebeu de Morales um Cristo cravado sobre o signo comunista da foice e do martelo. “La Nación” publica uma foto do momento em que o recebe e parece estar observando indiferente e friamente o aborto, mas na capa do “Clarín” se o vê tomando o objeto com as duas mãos e um sorriso, enquanto de seu pescoço pende um colar com a réplica do mesmo que o tirano da Bolívia acaba de lhe colocar, sem que se veja de sua parte intenção alguma de tirá-la. Como sempre, “La Nación” trata de insinuar falsamente um desgosto papal que não existiu, enquanto o “Clarín” põe em evidência sua complacência. Esse é o sistema da “imprensa séria”: jogar com as insinuações e as imagens.
Vi tudo isso na televisão e ao vivo e posso confirmar, como testemunha quase presencial, que em nenhum momento o Papa mostrou rejeição nem disse algo que denotasse incômodo com a situação.
Para mais dados, o porta-voz do Vaticano, Padre Federico Lombardi, “destacou que Francisco não teve uma particular reação negativa” ao crucifixo (“La Nación”, 10/07/2015, pág. 2, 6ª col.).
Deus meu! Até quando estaremos submersos nesta perversa confusão? O pior é que à pobre gente humilde que o ouve, aos “explorados” segundo os define, é difícil pensar que o Papa os está enganando e provocando ao ódio. Para eles, é o Papa e, sem querer nem dar-se conta, voltam para casa com a alma manchada por esse ódio que, de alguma maneira, nela deixou o Sumo Pontífice.
Peçamos à Santíssima Virgem, Mãe de Misericórdia, que se apiede de nós e nos dê luzes para resistir às incitações ao mal que nos vêm da própria Cátedra de Pedro, que nos faça amar cada dia mais a Nosso Senhor, Fundador da Santa Igreja, e à instituição do papado, por mais que hoje uma escura nuvem a cubra até torná-la quase irreconhecível.”
(Cosme Beccar Varela, “¡Proletarios del mundo, uníos!”)