terça-feira, 3 de maio de 2011

Efeitos da democracia sobre as famílias

“Não é preciso dizer que a família sofreu cruelmente nas mãos da democracia. Depois que todos os homens foram declarados iguais, a família deixou de existir juridicamente como a unidade política básica de governo e foi substituída pelo indivíduo, o que pulverizou a sociedade como um todo ao privá-la de seu princípio natural de coesão. Hoje uma família extensa de parentes e serviçais é uma raridade. A democracia desferiu um golpe particularmente certeiro na família ao igualar os sexos como indivíduos, sem levar em conta sua complementaridade natural como “uma só carne” diante da lei, onde um sexo funcionava como a cabeça da família e o outro como seu coração. O casamento se tornou uma parceria entre iguais, e os homens passaram a usar alianças de casamento, como suas esposas.
Em virtude do sufrágio universal, das classes mistas, do feminismo e do unissexismo, os sexos que Deus projetou para cooperação íntima foram não apenas configurados para operar independentemente um do outro, mas transformados em rivais amargos tanto no mundo em geral quanto no lar, onde sob a lei civil as esposas não estão mais sujeitas à autoridade de seus maridos. Em nome da liberdade individual, o divórcio e a contracepção rapidamente foram aceitos como componentes normais da vida conjugal, e sob o pretexto da defesa dos “direitos das crianças”, os pais já podem até perder o que restava da autoridade dada por Deus que tinham sobre sua descendência. Hoje em dia um pai não tem poder para evitar o aborto de seu filho ainda não nascido caso sua esposa decida matá-lo.
Os católicos há muito tempo deixaram de considerar a família uma unidade política, mas até sua estrutura sacramental foi afetada depois que o Concílio e a encíclica de Paulo VI Humanae vitae igualaram as duas finalidades do casamento – a unitiva e a procriativa – colocando o amor conjugal mútuo no mesmo nível da geração de filhos, que até então havia sido seu principal propósito. Isso não apenas abriu caminho ao “divórcio Católico” sob o disfarce de anulações facilmente concedidas por motivos psicológicos, mas levou a uma verdadeira promoção do controle de natalidade disfarçado daquele velho método de prevenção de nascimentos maniqueu-malthusiano hoje vendido como “planejamento familiar natural”. Até então considerado lícito apenas em casos excepcionais, esse método pecaminoso e psicologicamente nocivo, já denunciado por Santo Agostinho, hoje é obrigatório nas instruções pré-nupciais da maioria das dioceses, a fim de que, nas palavras da Humanae vitae, os casais que não desejem filhos por quaisquer motivos sérios possam ser capazes de “manifestar sua afeição e garantir sua fidelidade mútua” durante os períodos inférteis da mulher.
Isso estava inteiramente de acordo com a restrição do Concílio de que “segundo o inalienável direito ao casamento e à procriação da prole, a decisão acerca do número de filhos depende do reto juízo dos pais,” que “devem ser judiciosamente informados acerca dos progressos científicos alcançados na investigação dos métodos que ajudam os esposos na determinação do número de filhos.” Assim, a ciência moderna e a democracia trabalham em conjunto, e permanecendo proibido apenas o controle de natalidade “artificial”, o prazer sem descendência foi introduzido no próprio seio da família Católica, uma abominação a favor da qual não pode ser citado nenhum santo, nenhum doutor da Igreja ou qualquer outra autoridade canonizada anteriormente a Pio XII.
No mundo secular até mesmo a básica estrutura trinitária da família está dando lugar à democracia, pois a família está sendo redefinida como qualquer grupo de indivíduos, de qualquer orientação sexual, que escolham viver juntos sob o mesmo teto. Já se permite que homossexuais ativos adotem crianças ou as produzam sozinhos, com o auxílio do laboratório, fora da relação heterossexual normal. Não é preciso dizer que o casamento há muito deixou de constituir uma união sacramental dentro do Corpo Místico que se contrai primeiramente entre famílias. De acordo com os princípios democráticos, o casamento tornou-se simplesmente um negócio privado entre dois indivíduos agindo inteiramente sozinhos e servindo a seus próprios fins e preferências pessoais. Com bastante freqüência as famílias assim unidas são completamente estranhas umas às outras, encontrando-se pela primeira vez, se é que se encontram, somente depois do casamento.”
(Solange Strong Hertz, The Sixth Trumpet)