“Prega-se a democracia como um valor que transcende a pessoa e a sociedade em todas as suas dimensões, como uma marca que imprime caráter não só à política, mas a todas as manifestações do espírito humano: à educação, à cultura, à ciência, à economia, à arte, à moda. Trata-se, em uma palavra, de criar algo sagrado, intocável, dogmático, em escala universal, de tal maneira que chegue a substituir a Deus como explicação última do sentido da vida. Por isso dizia acertadamente Donoso Cortés que a democracia é o eco humano da rebelião do anjo caído. Esse eco se reflete na antítese que formula a doutrina liberal contra a palavra de Deus no Evangelho de São João, capítulo 8, versículo 32: "a verdade vos fará livres." Quer dizer, a verdade gera a liberdade, palavras que o liberalismo vira pelo avesso com estas outras: a liberdade gera a verdade. E como os efeitos participam da natureza de suas causas, e a liberdade é pessoal, subjetiva, variável, a verdade que ela fabrica e elabora terá seus mesmos caracteres. Não será portanto objetiva, mas subjetiva, não será absoluta, mas relativa, não será imutável, mas variável, não será "a verdade", mas "minha verdade", "tua verdade", "sua verdade". Dessa maneira, a faculdade intelectiva fica subordinada à volitiva, o entendimento à vontade, a luz às trevas, a ordem objetiva à ordem subjetiva. Alcançamos o relativismo, e com o relativismo o ceticismo. Essa é a origem corrosiva e devastadora do liberalismo, cuja expressão polifacética é a democracia.
Seus efeitos são denunciados pelo mesmo Donoso Cortés nestes termos: “Assim como a palavra de Deus retamente interpretada é a única capaz de dar a vida, assim também essa mesma palavra desfigurada, mal interpretada, é capaz de produzir a morte.” Recordar, por exemplo, a transformação de conceitos sagrados que opera o progressismo eclesiástico: o Salvador se transforma em libertador do proletariado, a salvação da alma em salvação de servidões econômicas, a caridade, virtude teologal, em amor humano e filantropia, o reino espiritual de Cristo em reino temporal e terreno, a dimensão vertical até Deus em dimensão horizontal até a humanidade, o teocentrismo em antropocentrismo. Pois bem, o liberalismo, igualmente, ao desfigurar, ao inverter o sentido das palavras de Jesus Cristo, ao fundar a verdade na liberdade e não a liberdade na verdade, produz a morte da ordem real objetiva e, como conseqüência, a morte da ordem política, social e econômica.”
(Julián Gil de Sagredo,
La Democracia como Fuente de Subversión)
http://www.istoecatolico.com.br/index.php/Artigos/Diversos/Por-Julian-Gil-Sagredo.html
Texto magnífico. Essencial para separar o católico do não-católico. Já linkei.
ResponderExcluirUm abraço do lado de cá do Atlântico.