quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O conde de Egmont


"No ano de mil e quinhentos e setenta e oito, quando mais se desaforou a rebeldia herética nos estados de Flandres, profanados os templos e os altares, afrontadas e quebradas as cruzes e imagens sagradas, e fundidos os sinos em artilharia, como se tem feito em Pernambuco, os hereges da populosíssima cidade de Gante formaram um exército de vinte mil combatentes, com que talavam os campos, saqueavam as vilas e destruíam todos os lugares abertos e sem defensa dos católicos. No meio, porém, deste lastimoso desamparo excitou Deus o espírito do conde de Egmont, e de outros senhores tão fiéis e obedientes à Igreja Romana como a seu rei, os quais se quiseram opor à fúria dos hereges; mas não puderam ajuntar mais que um pé do exército de sete mil soldados, inferior em dois terços ao dos inimigos. E que fariam com tão desigual poder? Pintaram nas bandeiras a Virgem, Senhora nossa, e todos, assim soldados como capitães, lançaram a tiracolo os seus rosários, e deste modo armados se puseram na campanha. Os hereges, vendo o pequeno número, e as novas e desusadas bandas dos que saíam a contender com eles, chamavam-lhes, por desprezo, o exército do Padre-nosso; mas os Padre-nossos e as Ave-Marias esforçaram de maneira o seu pequeno exército, que mortos cinco mil dos inimigos, os demais, fugindo, se acolheram à cidade, donde nunca mais se atreveram a sair, e ficou toda a campanha pelos católicos. Isto fez então a Senhora do Rosário, e o mesmo fará em todas as ocasiões, se os nossos soldados, posto que menos em número, seguirem nas bandeiras a mesma insígnia, e se armarem das mesmas armas."
(Pe. Antônio Vieira, S.J, Sermão XII)

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