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sexta-feira, 30 de junho de 2023

A crise moderna se chama revolução


“Todas as crises se resumem em uma: a crise do homem. As muitas crises que abalam o mundo hodierno — do Estado, da família, da economia, da cultura, etc. — não constituem senão múltiplos aspectos de uma só crise fundamental, que tem como campo de ação o próprio homem.
Em outros termos, essas crises têm sua raiz nos problemas de alma mais profundos, de onde se estendem - para todos os aspectos da personalidade do homem contemporâneo e todas as suas atividades.
Essa crise é universal. Não há hoje povo que não esteja atingido por ela, em grau maior ou menor. Essa crise é una. Isto é, não se trata de um conjunto de crises que se desenvolvem paralela e autonomamente em cada país, ligadas entre si por algumas analogias mais ou menos irrelevantes.
Essa crise é total. Considerada em dado país, essa crise se desenvolve numa zona de problemas tão profunda, que ela se prolonga ou se desdobra, pela própria ordem das coisas, em todas as potências da alma, em todos os campos da cultura, em todos os domínios, enfim, da ação do homem.
É dominante. Essa crise é como uma rainha a que todas as forças do caos servem como instrumentos eficientes e dóceis. É sucessiva. Essa crise não é um fato espetacular e isolado. Ela constitui, pelo contrário, um processo crítico já cinco vezes secular, um longo sistema de causas e efeitos que, tendo nascido, em momento dado, com grande intensidade, nas zonas mais profundas da alma e da cultura do homem ocidental, vem produzindo, desde o século XV até nossos dias, sucessivas convulsões.
A causa principal de nossa presente situação é impalpável, sutil, penetrante como se fosse uma poderosa e temível radioatividade. Todos lhe sentem os efeitos, mas poucos saberiam dizer-lhe o nome e a essência.
Este inimigo terrível tem um nome: ele se chama Revolução.
Sua causa profunda é uma explosão de orgulho e sensualidade que inspirou, não diríamos um sistema, mas toda uma cadeia de sistemas ideológicos.
Entre as paixões desordenadas, o orgulho e a sensualidade ocupam um lugar proeminente. Eles marcam o utopista com duas notas principais: o desejo de ser supremo em sua esfera, não aceitando sequer um Deus transcendente, e a tendência a uma plena liberdade na satisfação de todos os instintos e apetências desregradas.
A Revolução é a desordem e a ilegitimidade por excelência. Os agentes do caos e da subversão fazem como o cientista, que em vez de agir por si só, estuda e põe em ação as forças, mil vezes mais poderosas, da natureza.
Da larga aceitação dada a estes no mundo inteiro, decorreram as três grandes revoluções da História do Ocidente: a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa e o Comunismo.
O orgulho leva ao ódio a toda superioridade, e, pois, à afirmação de que a desigualdade é em si mesma, em todos os planos, inclusive e principalmente nos planos metafísico e religioso, um mal. É o aspecto igualitário da Revolução.
A sensualidade, de si, tende a derrubar todas as barreiras. Ela não aceita freios e leva à revolta contra toda autoridade e toda lei, seja divina ou humana, eclesiástica ou civil. É o aspecto liberal da Revolução.
Ambos os aspectos, que têm em última análise um caráter metafísico, parecem contraditórios em muitas ocasiões, mas se conciliam na utopia marxista de um paraíso anárquico em que uma humanidade altamente evoluída e “emancipada” de qualquer religião vivesse em ordem profunda sem autoridade política, e em uma liberdade total da qual entretanto não decorresse qualquer desigualdade.
A Pseudo-Reforma foi uma primeira Revolução. Ela implantou o espírito de dúvida, o liberalismo religioso e o igualitarismo eclesiástico, em medida variável aliás nas várias seitas a que deu origem.
Seguiu-se-lhe a Revolução Francesa, que foi o triunfo do igualitarismo em dois campos. No campo religioso, sob a forma do ateísmo, especiosamente rotulado de laicismo. E na esfera política, pela falsa máxima de que toda a desigualdade é uma injustiça, toda autoridade um perigo, e a liberdade o bem supremo.
O Comunismo é a transposição destas máximas para o campo social e econômico.”
(Plínio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução)

terça-feira, 18 de junho de 2019

A nacionalidade de Lênin


“Em Os Governantes da Rússia (3ª edição, pp. 28, 30), mencionei várias opiniões a respeito da nacionalidade de Lênin sem examiná-las criticamente. A principal razão foi que eu não tinha sido capaz de rastrear a origem da “lenda” de que Lênin foi casado com uma judia e que seus filhos falavam ídiche. Desde então, descobri o que parece ser a origem da história em O Judeu Internacional de Henry Ford, vol. I, p. 214. Lá lemos, junto com muitas informações úteis sobre o Bolchevismo e a Revolução Russa, as seguintes frases: “Talvez ele (Lênin) seja um gentio, mas por que seus filhos falam ídiche? ... A explicação para tudo isso parece ser que ele se casou com uma judia. Isso é um fato. Mas outra explicação pode ser que ele mesmo era judeu.” Nenhuma autoridade para tais alegações é citada em O Judeu Internacional. Ora, é certo que a esposa de Lênin era russa. Lênin pode ter aprendido ídiche, pois estava sempre em companhia de judeus que falavam essa língua, mas com sua esposa teria falado russo. Jamais houve qualquer menção a filhos desse casamento.
Os pesquisadores parecem concordar em que a aparência facial de Lênin não era a de um russo. “Astrakan, na costa noroeste do Cáspio”, escreve o Pe. E. A. Walsh, S.J, “foi o local de nascimento do pai de Lênin, Ilia Ulianov, que vinha de uma respeitável linhagem de classe média que tinha de algum modo cruzado com sangue mongol: a miscigenação era claramente visível no semblante do futuro ditador. Foi em Simbirsk sobre o Volga que Vladimir nasceu, em 10 de abril de 1870, enquanto seu pai trabalhava como Inspetor das Escolas Rurais, uma posição que lhe dava direito a ser chamado “Sua Excelência”. Na mesma cidade vivia a família de Alexander Kerensky.”
Por sua vez, o Inspetor Fitch da Scotland Yard, cuja tarefa era observar Lênin e Trotsky na Grã-Bretanha, testemunha a mesma aparência não-russa. “Foi a primeira vez que o havia visto,” escreve o ex-detetive, “um típico judeu de cabeça lisa, de forma oval, olhos apertados, com uma segurança demoníaca em cada linha de sua poderosa face magnética. A seu lado estava um diferente tipo de judeu, do tipo que se pode ver em qualquer loja do Soho, de nariz forte, rosto pálido, bigodes longos, com um pequeno tufo de barba balançando de seu queixo e uma grande massa de cabelo desgrenhado – Leiba Bronstein, depois conhecido como Lev Trotsky.”
O Pe. Walsh atribui a aparência não-russa nos traços de Lênin a uma mistura com sangue mongol. O Inspetor Fitch menospreza-o como judeu. M. de Poncins, que examina todas essas questões cuidadosamente, diz que “a origem de Lênin não é clara nem bem definida. Do lado de seu pai, há uma mistura de russo e tártaro, tão comum na Rússia. Do lado de sua mãe, há suspeita de algum sangue judeu. Sua mãe foi Maria Alexandrovna Blank, filha de um médico, Alexander Dimitrievitch Blank. Segundo Pierre Chasle (Vida de Lênin, Paris, 1929, p. 3), Alexander Blank veio da Volínia e era médico militar. Sua esposa, avó de Lênin, é tratada como alemã na publicação A Família Oulianoff em Simbirsk (Instituto Lênin, Moscou e Leningrado, 1925, p. 20). Alexander Blank era considerado em círculos judaico-soviéticos como sendo um judeu batizado. O nome Blank é muito comum na Alemanha e é um nome alemão, mas também é encontrado entre os judeus.” O relato desse autor parece ser um excelente resumo do presente estado da questão.”
(Pe. Denis Fahey, C.S.Sp., The Mystical Body of Christ and The Reorganization of Society)

sábado, 29 de dezembro de 2012

O papel dos judeus na revolução bolchevique e no início do regime soviético da Rússia (II)

“Em seu livro de 1920, o veterano jornalista Robert Wilton faz uma avaliação igualmente dura:
Toda a história do Bolchevismo na Rússia está indelevelmente marcada com o selo da invasão estrangeira. O assassinato do Czar, deliberadamente planejado pelo judeu Sverdlov (que veio à Rússia como um agente pago da Alemanha) e executado pelos judeus Goloshchekin, Syromolotov, Safarov, Voikov e Yurovsky, é um ato não do povo russo, mas desse invasor hostil.
Na luta pelo poder que se seguiu à morte de Lênin em 1924, Stalin surgiu vitorioso sobre seus rivais, conseguindo depois condenar à morte quase todos os mais destacados e antigos líderes bolcheviques – inclusive Trotsky, Zinoviev, Radek e Kamenev. Com o passar do tempo, e particularmente depois de 1928, o papel dos judeus na liderança máxima do estado soviético e do partido comunista diminuiu acentuadamente.
Condenado à morte sem julgamento
Poucos meses depois de tomarem o poder, os líderes bolcheviques consideraram trazer “Nicolau Romanov” diante de um “Tribunal Revolucionário” que tornaria públicos seus “crimes contra o povo” antes de sentenciá-lo à morte. Existia precedente histórico para isso. Dois monarcas europeus tinham perdido suas vidas como conseqüência de insurreição revolucionária: Carlos I da Inglaterra foi decapitado em 1649, e Luís XVI da França foi guilhotinado em 1793. Nesses casos, o rei foi condenado à morte após um longo julgamento público, durante o qual foi-lhe permitido apresentar argumentos em defesa própria. Nicolau II, contudo, nem foi acusado, nem julgado. Ele foi secretamente condenado à morte – junto com sua família e criadagem – na calada da noite, em um ato que se parece mais com um massacre feito por bandidos do que uma execução formal.
Por que Lênin e Sverdlov abandonaram seus planos de um julgamento-espetáculo do ex-Czar? Na opinião de Wilton, Nicolau e sua família foram assassinados porque os chefes bolcheviques sabiam muito bem que lhes faltava genuíno apoio popular, e com razão temiam que o povo russo jamais aprovaria o assassinato do Czar, mesmo com pretextos e fomalidades legalistas.
Por sua vez, Trotsky defendeu o massacre como uma medida útil e até necessária. Ele escreveu:
A decisão [de matar a família imperial] foi não só conveniente, como necessária. A severidade dessa punição mostrou a todos que nós continuaríamos a lutar sem misericórdia, sem nos determos em nada. A execução da família do Czar foi necessária não apenas para abalar nossas próprias fileiras, mas para mostrar que não havia retorno, que à frente se encontrava ou a vitória total ou a total ruína. Isso Lênin percebeu muito bem.
Contexto histórico
Nos anos anteriores à revolução de 1917, os judeus encontravam-se desproporcionalmente representados em todos os partidos subversivos de esquerda da Rússia. O ódio dos judeus ao regime czarista tinha base em condições objetivas. Entre as principais potências européias da época, a Rússia imperial era a mais institucionalmente conservadora e anti-semita. Por exemplo, aos judeus normalmente não se permitia residir fora de uma grande área no oeste do Império conhecida como “Fronteira de Colonização”.
Por mais compreensível, e talvez até defensável, que possa ter sido a hostilidade dos judeus ao regime imperial, o notável papel dos judeus no muito mais despótico regime soviético é menos fácil de justificar. Em livro recentemente publicado sobre os judeus na Rússia durante o século XX, Sonya Margolina, uma escritora judia nascida na Rússia, chega mesmo a chamar o papel dos judeus que apoiaram o regime bolchevique de “pecado histórico dos judeus”. Ela chama a atenção, por exemplo, para o papel proeminente dos judeus como comandantes dos campos de trabalho e concentração do Gulag soviético, e o papel dos judeus comunistas na sistemática destruição das igrejas russas. Além disso, ela continua, “os judeus do mundo inteiro apoiavam o poder soviético e permaneciam em silêncio diante de qualquer crítica da oposição.” À luz desses fatos, Margolina apresenta uma previsão sombria:
A participação exageradamente entusiasta dos judeus bolcheviques na subjugação e destruição da Rússia é um pecado que será vingado. O poder soviético será considerado poder judeu e o ódio furioso aos bolcheviques se transformará em ódio aos judeus.
Se o passado serve de exemplo, é improvável que muitos russos irão buscar a vingança que Margolina profetiza. Seja como for, culpar “os judeus” pelos horrores do Comunismo não parece ser mais justificável do que culpar “os brancos” pela escravidão negra, ou “os alemães” pela Segunda Guerra Mundial e o “Holocausto”.
Palavras de sombrio presságio
Nicolau e sua família são apenas as mais conhecidas das inúmeras vítimas de um regime que abertamente proclamava seu propósito implacável. Poucas semanas após o massacre de Ekaterinburg, o jornal do incipiente Exército Vermelho declarava:
Sem misericórdia, sem poupar ninguém, nós mataremos todos os nossos inimigos às centenas, aos milhares; que eles se afoguem em seu próprio sangue. Pelo sangue de Lênin e Uritsky haja dilúvios do sangue da burguesia – mais sangue, tanto quanto possível.
Grigori Zinoviev, falando em um encontro de comunistas em setembro de 1918, efetivamente pronunciou a sentença de morte de dez milhões de seres humanos: “Devemos levar conosco 90 milhões dos 100 milhões de habitantes da Rússia soviética. Quanto aos demais, nada temos a lhes dizer. Eles devem ser aniquilados.”
'Os vinte milhões'
O pesado tributo soviético, cobrado em vidas humanas e sofrimentos, acabou sendo muito maior do que o previsto pela retórica assassina de Zinoviev. Raramente, ou jamais, um regime exterminou as vidas de tantas pessoas de seu próprio povo.
Citando documentos recentemente disponíveis dos arquivos da KGB soviética, o historiador Dmitri Volkogonov, chefe de uma comissão parlamentar especial do parlamento russo, recentemente concluiu que “de 1929 a 1952, 21,5 milhões de soviéticos foram reprimidos. Um terço deles foi fuzilado, os demais foram condenados à prisão, onde muitos também morreram.”
Olga Shatunovskaya, membro da Comissão Soviética de Controle do Partido, e chefe de uma comissão especial durante os anos 60 nomeada pelo premier Khrushchev, chegou a conclusões semelhantes: “De 1º de janeiro de 1935 a 22 de junho de 1941, 19.840.000 inimigos do povo foram presos. Desses, sete milhões foram fuzilados na prisão, e a maioria dos demais morreram nos campos.” Esses números também se encontram nos papéis do membro do Politburo Anastas Mikoyan.
Robert Conquest, um famoso especialista em história soviética, resumiu recentemente os dados sombrios da “repressão” soviética de seu próprio povo:
É difícil fugir da conclusão de que o número de mortes pós-1934 esteve bem acima dos dez milhões. Devem ser ainda somadas as vítimas da fome de 1930-1933, as deportações dos kulaks e outras campanhas anticamponesas, totalizando outros dez milhões. Desta forma, o total é da ordem do que os russos chamam hoje de 'Os Vinte Milhões'.
Outros especialistas deram estimativas ainda maiores.
A era czarista em retrospecto
Com o colapso dramático do governo soviético, muitos russos estão lançando um olhar novo e mais respeitoso à história pré-comunista de seu país, inclusive à era do último imperador Romanov. Embora os sovietes – junto com muitos no Ocidente – tenham-na retratado de forma estereotipada como uma época de despotismo arbitrário, opressão cruel e pobreza em massa, a realidade é, de certo modo, diferente. Embora seja verdade que o poder do Czar era absoluto, que apenas uma pequena minoria tinha alguma voz política significativa e que a massa dos cidadãos do império era de camponeses, é digno de nota que os russos durante o reinado de Nicolau II tinham liberdade de imprensa, religião, reunião e associação, proteção da propriedade privada, e sindicatos livres. Inimigos jurados do regime, como Lênin, eram tratados com notável leniência.
Nas décadas anteriores à deflagração da Primeira Guerra Mundial, a economia russa estava prosperando. De fato, entre 1890 e 1913, era a economia de mais rápido crescimento no mundo. Novas linhas de trem eram abertas a um ritmo anual duas vezes maior que nos anos soviéticos. Entre 1900 e 1913, a produção de ferro aumentou 58%, enquanto a produção de carvão mais do que dobrou. Os grãos exportados da Rússia alimentavam toda a Europa. Por fim, as últimas décadas da Rússia czarista testemunharam um magnífico florescimento da vida cultural.
Tudo mudou com a Primeira Guerra Mundial, uma catástrofe não apenas para a Rússia, mas para todo o Ocidente.
Sentimento monárquico
Apesar (ou talvez por causa) da implacável campanha oficial durante a era soviética para erradicar toda memória acrítica dos Romanov e da Rússia imperial, um verdadeiro culto de veneração popular por Nicolau II varreu a Rússia nos últimos anos.
As pessoas têm gastado avidamente o salário de muitas horas trabalhadas para comprar retratos de Nicolau dos vendedores de rua em Moscou, São Petersburgo e outras cidades russas. Seu retrato agora pende de inúmeros lares e apartamentos russos. No final de 1990, todas as 200.000 cópias da primeira edição de um panfleto de 30 páginas sobre os Romanov esgotaram-se rapidamente. Disse um vendedor de rua: “Eu pessoalmente vendi quatro mil cópias num piscar de olhos. É como uma explosão nuclear. As pessoas realmente querem saber sobre o Czar e sua família.” Organizações monárquicas e pró-czaristas de base têm brotado em muitas cidades do país.
Uma pesquisa de opinião pública conduzida em 1990 descobriu que três dentre quatro cidadãos soviéticos consideravam o assassinato do Czar e sua família como um crime imperdoável. Muitos fiéis da Igreja Ortodoxa Russa consideram Nicolau um mártir. A independente “Igreja Ortodoxa no Exterior” canonizou a família imperial em 1991, e a Igreja Ortodoxa Russa de Moscou está sendo pressionada a seguir o mesmo caminho, apesar de sua relutância tradicional em tocar nesse tabu oficial. O Arcebispo Ortodoxo Russo de Ekaterinburg anunciou em 1990 que havia planos de se construir uma grande igreja no local dos assassinatos. “O povo amava o Imperador Nicolau”, disse. “Sua memória vive com o povo, não como um santo, mas como alguém executado sem veredito de tribunal, injustamente, como um sofredor por sua fé e pela ortodoxia.”
No 75º aniversário do massacre (em julho de 1993), os russos lembraram sua vida, morte e legado como seu último imperador. Em Ekaterinburg, onde uma enorme cruz branca engrinaldada de flores marca o local onde a família foi morta, pessoas em luto choravam, enquanto hinos eram cantados e preces recitadas para as vítimas.
Refletindo tanto o sentimento do povo como as novas realidades sócio-políticas, a bandeira tricolor branca, azul e vermelha da Rússia czarista foi oficialmente adotada em 1991, substituindo a bandeira vermelha soviética. E em 1993, a águia imperial de duas cabeças voltou a ser o emblema oficial da nação, substituindo a foice e o martelo soviéticos. Cidades que haviam sido renomeadas para honrar figuras comunistas – tais como Leningrado, Kuibyshev, Frunze, Kalinin e Gorky – readquiriram seus nomes da época czarista. Ekaterinburg, que havia sido nomeada como Sverdlovsk pelos soviéticos em 1924 para homenagear o chefe soviético judeu, em 1991 voltou a ter seu nome pré-comunista, que homenageia a Imperatriz Catarina I.
Significado simbólico
Considerando os milhões que seriam condenados à morte pelos líderes soviéticos nos anos seguintes, o assassinato da família Romanov poderia não parecer de extraordinária importância. E, no entanto, o evento tem um profundo significado simbólico. Nas pertinentes palavras de Richard Pipes, historiador da Universidade de Harvard:
A maneira como o massacre foi preparado e executado, de início negado e depois justificado, revela em si algo de extremamente odioso, algo que o distingue radicalmente dos regicídios passados e o identifica como um prelúdio para os assassinatos em massa do século XX.
Outro historiador, Ivor Benson, caracterizou o assassinato da família Romanov como símbolo do trágico destino da Rússia e, com efeito, do Ocidente inteiro, neste século de inauditos agonia e conflito.
O assassinato do Czar e sua família ainda é mais deplorável porque, quaisquer que tenham sido suas deficiências como monarca, Nicolau II foi, sob todos os aspectos, um homem pessoalmente generoso, decente, humano e honrado.
O lugar do massacre na História
A carnificina em massa e o caos da Primeira Guerra Mundial, e as insurreições que varreram a Europa em 1917-1918, puseram um fim não só à antiga dinastia Romanov na Rússia, mas a uma ordem social continental inteira. Também varrida foi a dinastia Hohenzollern na Alemanha, com sua estável monarquia constitucional, e a antiga dinastia Habsburgo da Áustria-Hungria, com seu império central europeu multinacional. Os principais estados da Europa compartilhavam não só as mesmas fundações cristãs e ocidentais, mas a maioria dos monarcas reinantes do continente eram parentes de sangue. O Rei George da Inglaterra era, por sua mãe, primo em primeiro grau do Czar Nicolau e, por seu pai, primo em primeiro grau da Imperatriz Alexandra. O Kaiser Guilherme da Alemanha era primo em primeiro grau de Alexandra, que nasceu na Alemanha, e primo distante de Nicolau.
Mais do que nas monarquias da Europa ocidental, o Czar da Rússia pessoalmente simbolizava sua terra e nação. Deste modo, o assassinato do último imperador de uma dinastia que governou a Rússia por três séculos não só pressagiou em termos simbólicos a carnificina em massa do Comunismo que tirou a vida de tantos russos nas décadas que se seguiram, mas também simbolizou a tentativa comunista de matar a alma e o espírito da própria Rússia.”
(Mark Weber, The Jewish Role in the Bolshevik Revolution and Russia's Early Soviet Regime - Assessing the Grim Legacy of Soviet Communism)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O papel dos judeus na revolução bolchevique e no início do regime soviético da Rússia (I)

“Na noite de 16-17 de julho de 1918, um esquadrão da polícia secreta bolchevique assassinou o último imperador da Rússia, Czar Nicolau II, junto com sua esposa, Czarina Tsaritsa Alexandra, seu filho de 14 anos, Tsarevich Alexis, e suas quatro filhas. Eles foram executados com uma saraivada de tiros em um quarto de meia-cave da casa em Ekaterinburg, cidade na região dos Montes Urais, onde eram mantidos prisioneiros. A execução das filhas foi consumada com baionetas. De modo a evitar um culto ao Czar morto, os corpos foram levados em uma carroça até a zona rural e apressadamente enterrados em uma cova secreta.
As autoridades bolcheviques inicialmente informaram que o imperador Romanov tinha sido morto após a descoberta de um complô para libertá-lo. Durante algum tempo as mortes da imperatriz e das crianças foram mantidas em segredo. Os historiadores soviéticos afirmaram por muitos anos que os bolcheviques locais tinham agido por conta própria na realização dos assassinatos, e que Lênin, fundador do estado soviético, não tinha nada a ver com o crime.
Em 1990, Edvard Radzinsky, um historiador e teatrólogo de Moscou, anunciou o resultado de sua investigação detalhada dos assassinatos. Ele trouxe à luz as memórias do guarda-costas de Lênin, Alexei Akimov, que contou como ele tinha pessoalmente entregado na estação de telégrafos a ordem de Lênin para a execução. O telegrama também estava assinado pelo chefe de governo soviético Yakov Sverdlov. Akimov guardou a fita do telégrafo original como registro da ordem secreta.
A pesquisa de Radzinsky confirmou o que provas anteriores já tinham indicado. Leon Trotsky – um dos colegas mais próximos de Lênin – há anos já tinha revelado que Lênin e Sverdlov haviam tomado juntos a decisão de condenar à morte o Czar e sua família. Lembrando-se de uma conversa em 1918, Trotsky escreveu:
Minha visita seguinte a Moscou aconteceu depois da queda [temporária] de Ekaterinburg [para as forças anticomunistas]. Falando com Sverdlov, perguntei de passagem: “Oh sim, e onde está o Czar?”
“Morto,” respondeu. “Ele foi fuzilado.”
“E onde está a família?”
“A família foi junto com ele.”
“Todos eles?”, perguntei, aparentemente um pouco surpreso.
“Todos eles,” respondeu Sverdlov. “E daí?” Ele estava esperando para ver minha reação. Não respondi nada.
“E quem tomou a decisão?”, perguntei.
“Nós decidimos aqui. Ilych [Lênin] achou que não deveríamos deixar para os Brancos uma bandeira viva junto à qual eles pudessem se reunir, principalmente sob as atuais e difíceis circunstâncias.”
Não fiz mais perguntas e considerei o caso encerrado.

Pesquisas e investigações recentes levadas a cabo por Radzinsky e outros também corroboram o relato fornecido anos antes por Robert Wilton, correspondente do London Times na Rússia por 17 anos. Seu relato, Os Últimos Dias dos Romanov – originalmente publicado em 1920, e republicado em 1993 pelo Institute for Historical Review – baseia-se em grande parte nas descobertas de uma investigação detalhada realizada em 1919 por Nicolai Sokolov sob a autoridade do líder “Branco” (anticomunista) Alexander Kolchak. O livro de Wilton ainda é um dos mais acurados e completos relatos do assassinato da família imperial da Rússia.
Um entendimento bem fundamentado da história sempre foi o melhor guia para a compreensão do presente e a antecipação do futuro. É por essa razão que as pessoas estão mais interessadas nas questões históricas em épocas de crise, quando o futuro parece mais incerto. Com o colapso do regime comunista na União Soviética, entre 1989-1991, quando os russos lutavam para construir uma nova ordem sobre as ruínas da antiga, as questões históricas tornaram-se assunto do dia. Por exemplo, muitos se perguntam como é que os bolcheviques, um movimento pequeno guiado pelos ensinamentos do filósofo social teuto-judeu Karl Marx, puderam tomar o poder na Rússia e impor um regime cruel e despótico a seu povo?
Nos últimos anos, os judeus de todo o mundo têm manifestado sua preocupação sobre o espectro de anti-semitismo nas terras da ex-União Soviética. Nesta época nova e incerta, há notícias de que sentimentos antes reprimidos de raiva e ódio aos judeus estão reaparecendo. Segundo uma pesquisa de opinião pública conduzida em 1991, por exemplo, a maioria dos russos queria que todos os judeus deixassem o país. Mas precisamente por que razão o sentimento antijudeu é tão disseminado entre os povos da ex-União Soviética? Por que tantos russos, ucranianos, lituanos e outros põem a culpa nos judeus por tanta desgraça?
Um assunto tabu
Embora oficialmente os judeus jamais tenham constituído mais do que cinco por cento da população total do país, eles tiveram um papel altamente desproporcional e provavelmente decisivo na infância do regime bolchevique, dominando efetivamente o governo soviético em seus anos iniciais. Os historiadores soviéticos, junto com a maioria de seus colegas no Ocidente, preferiram por décadas ignorar esse assunto. Esses fatos, contudo, não podem ser negados.
Com a notável exceção de Lênin (Vladimir Ulyanov), a maioria dos líderes comunistas que tomaram o poder na Rússsia em 1917-20 eram judeus. Leon Trotsky (Lev Bronstein) comandava o Exército Vermelho e, por algum tempo, foi chefe das relações exteriores soviéticas. Yakov Sverdlov (Solomon) foi secretário-executivo do partido bolchevique e – como presidente do Comitê Executivo Central – líder do governo soviético. Grigori Zinoviev (Radomyslsky) liderava a Internacional Comunista (Comintern), a agência central para a disseminação da revolução em países estrangeiros. Outros judeus eminentes incluíam o comissário de imprensa Karl Radek (Sobelsohn), o comissário de relações exteriores Maxim Litvinov (Wallach), Lev Kamenev (Rosenfeld) e Moisei Uritsky.
O próprio Lênin era de ascendência principalmente russa e calmuque, mas também um quarto judeu. Seu avô materno, Israel (Alexander) Blank, foi um judeu ucraniano que depois se batizou na Igreja Ortodoxa Russa.
Um consumado internacionalista, Lênin desprezava as lealdades étnicas ou culturais. Tinha pouco respeito por seus próprios conterrâneos. “Um russo inteligente,” disse certa vez, “é quase sempre um judeu ou alguém com sangue judeu nas veias.”
Encontros decisivos
Na tomada de poder na Rússia, o papel dos judeus foi talvez decisivo.
Duas semanas antes da “Revolução de Outubro” bolchevique de 1917, Lênin convocou um encontro secreto em São Petersburgo (Petrogrado) no qual os principais líderes do Comitê Central do partido bolchevique tomaram a fatídica decisão de tomar o poder de forma violenta. Das doze pessoas que participaram desse decisivo encontro, havia quatro russos (inclusive Lênin), um georgiano (Stalin), um polonês (Dzerzhinsky) e seis judeus.
Para a direção do golpe, foi escolhido um “Gabinete Político” de sete homens, que consistia de dois russos (Lênin e Bubnov), um georgiano (Stalin) e quatro judeus (Trotsky, Sokolnikov, Zinoviev e Kamenev). Enquanto isso, o Soviete de Petersburgo (Petrogrado) – cujo presidente era Trotsky – estabeleceu um “Comitê Revolucionário Militar” de 18 membros para realizar a efetiva tomada de poder, que incluía oito (ou nove) russos, um ucraniano, um polonês, um caucasiano e seis judeus. Finalmente, para supervisionar a organização da revolução, o Comitê Central Bolchevique estabeleceu um “Centro Militar Revolucionário” como comando das operações do partido, que consistia de um russo (Bubnov), um georgiano (Stalin), um polonês (Dzerzhinsky) e dois judeus (Sverdlov e Uritsky).
Vozes de alarme contemporâneas
Observadores bem informados, tanto dentro como fora da Rússia, perceberam à época o papel crucial dos judeus no Bolchevismo. Winston Churchill, por exemplo, em artigo publicado em 8 de fevereiro de 1920 no Illustrated Sunday Herald de Londres, alertou para o fato de que o Bolchevismo era uma “conspiração mundial para a derrubada da civilização e reconstituição da sociedade com base no desenvolvimento interrompido, na malevolência invejosa e na igualdade impossível.” O eminente líder político e historiador britânico disse ainda:
Não é preciso exagerar a parte que tiveram esses judeus internacionais e em sua maioria ateus na criação do Bolchevismo e no suscitamento da Revolução Russa. É parte muito grande com certeza; e provavelmente supera as demais. Com a notável exceção de Lênin, a maioria das principais figuras é de judeus. Além disso, a maior inspiração e força motora vem dos líderes judeus. Assim é que Tchitcherin, um russo puro, foi eclipsado por seu subordinado nominal, Litvinoff, e a influência de russos como Bukharin ou Lunacharski não pode se comparar ao poder de Trotsky, ou de Zinoviev, o Ditador da Citadela Vermelha (Petrogrado), ou de Krassin ou Radek – todos judeus. Nas instituições soviéticas a predominância dos judeus é ainda mais impressionante. E a parte proeminente, se não a principal, no sistema de terrorismo aplicado pelas Comissões Extraordinárias para o Combate à Contra-Revolução [a Cheka] foi tomada pelos judeus, e em alguns casos notáveis por judias.
Desnecessário dizer que as paixões mais intensas de vingança foram excitadas no coração do povo russo.

David R. Francis, embaixador dos Estados Unidos na Rússia, avisou em despacho de janeiro de 1918 a Washington: “Os líderes bolcheviques aqui, a maioria dos quais são judeus e 90 por cento dos quais são exilados que retornaram, pouco se importam pela Rússia ou qualquer outro país mas são internacionalistas e estão tentando começar uma revolução social universal.”
O embaixador da Holanda na Rússia, Oudendyke, fez quase a mesma observação alguns meses depois: “Se o Bolchevismo não for imediatamente cortado pela raiz, ele vai se espalhar de uma forma ou de outra por toda a Europa e pelo mundo inteiro, pois foi organizado e executado por judeus que não têm nacionalidade e cujo único objetivo é destruir para seus próprios fins a ordem existente das coisas.”
“A Revolução Bolchevique,” declarou um dos principais jornais da comunidade judia americana em 1920, “foi em grande parte o produto do pensamento judeu, do descontentamento judeu, do esforço judeu de reconstruir.”
Como mostra de seu caráter radicalmente antinacionalista, o incipiente governo soviético emitiu um decreto poucos meses após tomar o poder que tornou o anti-semitismo um crime na Rússia. O novo regime comunista tornou-se assim o primeiro no mundo a punir severamente todas as manifestações de sentimento anti-semita. Os oficiais soviéticos aparentemente consideravam indispensáveis essas medidas. Baseado em minuciosa observação durante longa estada na Rússia, o erudito judeu-americano Frank Golder disse em 1925 que “devido ao fato de que muitos dos líderes soviéticos são judeus, o anti-semitismo está crescendo [na Rússia], principalmente no exército [e] entre a antiga e a nova intelligentsia cujas posições estão sendo ocupadas pelos filhos de Israel.”
As perspectivas dos historiadores
Resumindo a situação à época, o historiador israelense Louis Rapoport escreveu:
Imediatamente após a Revolução [Bolchevique], muitos judeus ficaram eufóricos com sua alta representação no novo governo. O primeiro Politburo de Lênin era dominado por homens de origem judia.
Sob Lênin, os judeus se envolveram em todos os aspectos da Revolução, inclusive seu trabalho mais sujo. Apesar das promessas dos comunistas de erradicar o anti-semitismo, ele se espalhou rapidamente após a Revolução – em parte por causa da proeminência de tantos judeus na administração soviética, assim como nos movimentos de sovietização traumáticos e inumanos que se seguiram. O historiador Salo Baron ressaltou que um número imensamente desproporcional de judeus entrou na nova polícia secreta bolchevique, a Cheka, e muitos dos que a Cheka considerava culpados eram fuzilados por investigadores judeus.
A liderança coletiva que emergiu nos dias finais de Lênin era encabeçada pelo judeu Zinoviev, um Adônis loquaz, mesquinho e de cabelos ondulados cuja vaidade não tinha fim.

“Aquele que tinha o azar de cair nas mãos da Cheka,” escreveu o historiador judeu Leonard Shapiro, “tinha grande chance de encontrar-se diante de e ser provavelmente fuzilado por um investigador judeu. Na Ucrânia, “os judeus eram mais de 80 por cento dos agentes de baixo escalão da Cheka,” relata W. Bruce Lincoln, professor americano de história russa. (Começando como Cheka, ou Vecheka, a polícia secreta soviética mais tarde ficou conhecida como GPU, OGPU, NKVD, MVD e KGB.)
À luz disso tudo, não surpreende que Yakov M. Yurovksy, o líder do esquadrão bolchevique que realizou o assassinato do Czar e sua família, fosse judeu, como o era Sverdlov, o chefe soviético que assinou conjuntamente a ordem de Lênin para a execução.
Igor Shafarevich, um matemático russo de fama mundial, tem criticado severamente o papel dos judeus na derrubada da monarquia Romanov e no estabelecimento do governo comunista em seu país. Shafarevich foi um dos principais dissidentes durante as décadas finais do governo soviético. Um destacado ativista pelos direitos humanos, ele foi um membro fundador do Comitê em Defesa dos Direitos Humanos na URSS.
Em Russofobia, um livro escrito dez anos antes do colapso do governo comunista, ele notou que os judeus eram “surpreendentemente” numerosos entre o pessoal da polícia secreta bolchevique. A característica judeidade dos carrascos bolcheviques, continua Shafarevich, fica bem evidente na execução de Nicolau II:
Esta ação ritual simbolizou o fim de séculos de história russa, podendo ser comparada apenas à execução de Carlos I na Inglaterra ou Luís XVI na França. Poder-se-ia pensar que os representantes de uma insignificante minoria étnica prefeririam ficar o mais longe possível dessa dolorosa ação, que iria reverberar em toda a história. No entanto, com que nomes nos deparamos? A execução foi pessoalmente supervisionada por Yakov Yurovsky, que fuzilou o Czar; o presidente do Soviete local era Beloborodov (Vaisbart); a pessoa responsável pela administração geral em Ekaterinburg era Shaya Goloshchekin. Para completar o quadro, na parede do quarto onde a execução aconteceu achava-se um dístico de um poema de Heine (escrito em alemão) sobre o Rei Baltasar, que ofendeu Jeová e foi morto pela ofensa.
(Mark Weber, The Jewish Role in the Bolshevik Revolution and Russia's Early Soviet Regime - Assessing the Grim Legacy of Soviet Communism)