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terça-feira, 25 de agosto de 2015

As causas profundas dos males do homem moderno

“As causas profundas dos males do homem de hoje são justamente esses disfarces niilistas dos valores supremos que caíram (como tais) no esquecimento. A meu ver, tais males e os vários disfarces niilistas dos valores perdidos a eles vinculados podem ser resumidos nos dez itens apresentados a seguir:
1- o cientificismo e o redimensionamento da razão do homem em sentido tecnológico;
2- o ideologismo absolutizado e o esquecimento do ideal do verdadeiro;
3- o praxismo, com a exaltação da ação pela ação e o esquecimento do ideal da contemplação;
4- a proclamação do bem-estar material como sucedâneo da felicidade;
5- a difusão da violência;
6- a perda do sentido da forma;
7- a redução do Eros à dimensão do físico e o esquecimento da ‘escala do amor’ platônica (e do verdadeiro amor);
8- a redução do homem a uma única dimensão e o individualismo levado ao extremo;
9- a perda do sentido do cosmos e da finalidade de todas as coisas;
10- o materialismo em todas as suas formas e o esquecimento do ser, a ele vinculado”.
(Giovanni Reale, O Saber dos Antigos)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A verdade não admite contestação

“Como princípio primeiro e supremo, o princípio de não-contradição não pode ser demonstrado, porque, para poder sê-lo, deveria ser deduzido de princípios ulteriores, que não podem existir. Pode, contudo, ser defendido mediante o elenchos, ou seja, mediante a refutação de quem o nega, e sua validade pode ser confirmada, assim, exibindo a contradição em que cai aquele que deseja refutá-lo.
Basta que alguém fale e pretenda que aquilo que diz tenha um sentido, para ter que admitir o princípio de não-contradição: de fato, as próprias palavras empregadas em cada caso pelos que desejam negar o princípio de não-contradição só terão sentido para quem as pronuncia e para quem as ouve se tomarem como válido justamente o princípio que teriam que refutar. Aliás, qualquer discurso só pode ter sentido se se admite que as palavras pronunciadas significam determinada coisa e não, ao mesmo tempo e do mesmo ponto de vista, também seu oposto.
Quem nega a verdade do princípio de não-contradição não poderia fugir a ele nem sequer se renunciasse ao emprego de palavras, limitando-se a comunicar seu pensamento com gestos indicativos. Com efeito, tais gestos só são comunicantes quando expressam algo determinado e não, ao mesmo tempo, seu contrário. Quem nega o princípio de contradição condena-se assim a um isolamento quase total. Poderíamos até dizer que esta seria a forma mais extrema do solipsismo tanto “lógico” quanto “ético”. Lógico, porque nasce da violação daquele princípio que Aristóteles considerava o princípio regulador de todo discurso; ético em suas conseqüências, porque, no nível da práxis, a ruptura da comunicação e o completo voltar-se para si mesmos abrem caminho para a ampliação da violência. E o melhor remédio para a violência é, como ensinava Sócrates, começar a discutir – portanto, voltar a comunicar – de uma maneira que também o outro possa expressar as próprias opiniões e cesse assim a (não) lógica da opressão como única resposta à opressão.
Portanto, quem deseja refutar a verdade é refutado por ela justamente no momento em que procura refutá-la.
Como dizia Platão, a verdade não admite contestação.”
(Giovanni Reale, Saggezza Antica)

Tradução de Silvana Cobucci Leite