“As causas profundas dos males do homem de hoje são justamente esses disfarces niilistas dos valores supremos que caíram (como tais) no esquecimento. A meu ver, tais males e os vários disfarces niilistas dos valores perdidos a eles vinculados podem ser resumidos nos dez itens apresentados a seguir:
1- o cientificismo e o redimensionamento da razão do homem em sentido tecnológico;
2- o ideologismo absolutizado e o esquecimento do ideal do verdadeiro;
3- o praxismo, com a exaltação da ação pela ação e o esquecimento do ideal da contemplação;
4- a proclamação do bem-estar material como sucedâneo da felicidade;
5- a difusão da violência;
6- a perda do sentido da forma;
7- a redução do Eros à dimensão do físico e o esquecimento da ‘escala do amor’ platônica (e do verdadeiro amor);
8- a redução do homem a uma única dimensão e o individualismo levado ao extremo;
9- a perda do sentido do cosmos e da finalidade de todas as coisas;
10- o materialismo em todas as suas formas e o esquecimento do ser, a ele vinculado”.
(Giovanni Reale, O Saber dos Antigos)
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terça-feira, 25 de agosto de 2015
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
A verdade não admite contestação
“Como princípio primeiro e supremo, o princípio de não-contradição não pode ser demonstrado, porque, para poder sê-lo, deveria ser deduzido de princípios ulteriores, que não podem existir. Pode, contudo, ser defendido mediante o elenchos, ou seja, mediante a refutação de quem o nega, e sua validade pode ser confirmada, assim, exibindo a contradição em que cai aquele que deseja refutá-lo.
Basta que alguém fale e pretenda que aquilo que diz tenha um sentido, para ter que admitir o princípio de não-contradição: de fato, as próprias palavras empregadas em cada caso pelos que desejam negar o princípio de não-contradição só terão sentido para quem as pronuncia e para quem as ouve se tomarem como válido justamente o princípio que teriam que refutar. Aliás, qualquer discurso só pode ter sentido se se admite que as palavras pronunciadas significam determinada coisa e não, ao mesmo tempo e do mesmo ponto de vista, também seu oposto.
Quem nega a verdade do princípio de não-contradição não poderia fugir a ele nem sequer se renunciasse ao emprego de palavras, limitando-se a comunicar seu pensamento com gestos indicativos. Com efeito, tais gestos só são comunicantes quando expressam algo determinado e não, ao mesmo tempo, seu contrário. Quem nega o princípio de contradição condena-se assim a um isolamento quase total. Poderíamos até dizer que esta seria a forma mais extrema do solipsismo tanto “lógico” quanto “ético”. Lógico, porque nasce da violação daquele princípio que Aristóteles considerava o princípio regulador de todo discurso; ético em suas conseqüências, porque, no nível da práxis, a ruptura da comunicação e o completo voltar-se para si mesmos abrem caminho para a ampliação da violência. E o melhor remédio para a violência é, como ensinava Sócrates, começar a discutir – portanto, voltar a comunicar – de uma maneira que também o outro possa expressar as próprias opiniões e cesse assim a (não) lógica da opressão como única resposta à opressão.
Portanto, quem deseja refutar a verdade é refutado por ela justamente no momento em que procura refutá-la.
Como dizia Platão, a verdade não admite contestação.”
(Giovanni Reale, Saggezza Antica)
Tradução de Silvana Cobucci Leite
Basta que alguém fale e pretenda que aquilo que diz tenha um sentido, para ter que admitir o princípio de não-contradição: de fato, as próprias palavras empregadas em cada caso pelos que desejam negar o princípio de não-contradição só terão sentido para quem as pronuncia e para quem as ouve se tomarem como válido justamente o princípio que teriam que refutar. Aliás, qualquer discurso só pode ter sentido se se admite que as palavras pronunciadas significam determinada coisa e não, ao mesmo tempo e do mesmo ponto de vista, também seu oposto.
Quem nega a verdade do princípio de não-contradição não poderia fugir a ele nem sequer se renunciasse ao emprego de palavras, limitando-se a comunicar seu pensamento com gestos indicativos. Com efeito, tais gestos só são comunicantes quando expressam algo determinado e não, ao mesmo tempo, seu contrário. Quem nega o princípio de contradição condena-se assim a um isolamento quase total. Poderíamos até dizer que esta seria a forma mais extrema do solipsismo tanto “lógico” quanto “ético”. Lógico, porque nasce da violação daquele princípio que Aristóteles considerava o princípio regulador de todo discurso; ético em suas conseqüências, porque, no nível da práxis, a ruptura da comunicação e o completo voltar-se para si mesmos abrem caminho para a ampliação da violência. E o melhor remédio para a violência é, como ensinava Sócrates, começar a discutir – portanto, voltar a comunicar – de uma maneira que também o outro possa expressar as próprias opiniões e cesse assim a (não) lógica da opressão como única resposta à opressão.
Portanto, quem deseja refutar a verdade é refutado por ela justamente no momento em que procura refutá-la.
Como dizia Platão, a verdade não admite contestação.”
(Giovanni Reale, Saggezza Antica)
Tradução de Silvana Cobucci Leite
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