“As aparições de Nossa Senhora trazem em si muitos elementos simbólicos, até incompreensíveis e quase nunca interpretados devidamente.
Por que Nossa Senhora em Fátima apareceu em uma árvore? Não poderia ter escolhido uma igreja, capela para se revelar? Poderia sim, mas não o quis. Por quê? Porque a árvore traz toda uma simbologia que nos remete à Bíblia e aos acontecimentos da salvação. Portanto, a mensagem da Aparição é sempre com conotação bíblica.
A mariologia das mariofanias de Fátima sempre se limitou às suas palavras e poucos estudaram seus gestos e o aspecto físico da mesma. Isto tem alguma importância? Sim, pois todas as mariofanias carregam não só uma mensagem falada, quando esta é uma visão ou locução interior, como também seu modo de aparecer, suas palavras, seus gestos etc., possuem uma mensagem. É dever da Igreja DECODIFICÁ-LAS à luz da doutrina.
Em Fátima, a Mãe de Deus escolhe para aparecer sobre uma árvore chamada Azinheira/Carrasqueira. Ora, as características desta árvore são: folhas espinhosas (Sacrifício e Penitência), tronco robusto de difícil decomposição (Assunção de Maria). Pode ser frondosa e de grandes proporções ou ser pequena. Seus frutos são ovóides.
Dois aspectos bíblicos sobre a árvore aplicados a Nossa Senhora foram aplicados pelos Santos Padres. A Sarça-ardente (cf. Ex 3,1-5) e o Cedro do Líbano (cf. Sir 24,13-14).
Tomamos da tradição oriental o melhor modo para se poder entender uma possível relação teológica com o modo como a Virgem Maria se apresenta na Serra d’Aire em 1917. É de tradição a veneração no Oriente de um famoso ícone datado do séc. XII no mosteiro de Santa Catarina, justamente ao pé do Monte Sinai. Este ícone tem como como título «Mãe de Deus como Sarça-ardente». Este ícone se inspira no texto de Ex 3,1-5. Mas, como a Igreja chegou a aplicar a Nossa Senhora o título de Sarça-ardente? Venerandos autores deixaram testemunhos, citamos de início o patriarca Severo de Antioquia (séc. VI). Ele diz: “O ventre de Maria é como uma Sarça na qual desceu o Fogo teofânico, no qual Javé se torna presente e visível a Moisés. Quando volto meu olhar à Virgem Mãe de Deus e tento esboçar uma simples reflexão sobre ela, daí me vem como que uma voz vinda de Deus e que me grita aos ouvidos: Não te aproximes! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é terra santa!… Aproximar-se d'Ela é como aproximar-se de uma terra santa, chegar ao Céu.”
Do mesmo modo, os louvores dirigidos a Maria na liturgia por João Eucaita († 1079), onde aplica a Ela símbolos que mostram a sua participação na obra da redenção como Mãe de Deus. Ele canta: “Alegra-te, Virgem e Mãe Imaculada, sublime cipreste perfumado, que se levanta reto em direção à sumidade da divina contemplação; cedro vindo do Líbano (cf. Ct 4, 8), robusto e sensível aos humanos pensamentos, oliveira florida cujos frutos derramam a graça do Espírito Santo; vinha florida que produziu para o mundo a uva madura que alegra o coração de quantos te louvam justamente como Mãe de Deus”.
Tais exemplos iluminam perfeitamente a aparição da Virgem sobre a árvore da Azinheira que vai além de um simples pousar os pés em um arbusto. Contudo, também nos lembra a árvore do bem e do mau no jardim do Éden (cf. Gn 3,22), onde nossos primeiros pais fizeram sua escolha livre. Assim também em Fátima através do convite da Virgem, os videntes são convidados a aceitarem os sofrimentos para colaborarem na redenção de muitos que se perdem. Ora, aos pés da cruz do Redentor, que é o “fruto bendito” de Maria pendente no patíbulo, temos um outro aspecto da árvore da Vida. Esta árvore é associada a Maria pela sua escolha livre de estar “de pé junto à cruz” (Jo 19,25) e continuação do seu serviço (cf. Lc 1,26).
A Azinheira escolhida como a árvore da Aparição entra neste cenário de simbologia e teologia que nos indica todo o conteúdo da mensagem de Fátima. Fazer uma escolha de vida, entre o bem e mal… a árvore da Azinheira nos remete à árvore da Cruz de Cristo pela mediação de Maria, que por sua vez é a Sarça-ardente, pura e sem mancha na sua Imaculada Conceição e na sua Virgindade perpétua. Ela, o Cedro do Líbano, frondoso nas suas graças e perfumado com o odor da santidade, tão agradável Deus.
As aparições da Virgem em Fátima nos convidam a olhar a “Árvore da Vida”, a Cruz como sinal de vitória, mas também nos fazem um convite ardoroso de sermos frutos saborosos com a nossa perseverança nos Mandamentos do Senhor.”
(Dom Rafael Maria, O.S.B, A Virgem da Árvore do Bem e do Mal)
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El martirio según el martirologio
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