quarta-feira, 6 de julho de 2016

O sentimentalismo moderno leva à barbárie

"Uma das tendências de nossa época é usar o sofrimento das crianças para desacreditar a bondade de Deus e, depois que você desacreditou sua bondade, não quer mais saber dele... Ocupados ceifando a imperfeição humana, estão avançando também na matéria-prima do bem.
Ivan Karamazov não pode acreditar, enquanto uma única criança estiver em tormento; o herói de Camus não pode aceitar a divindade de Cristo, por causa do massacre dos inocentes.
Nesta piedade popular, marcamos nosso ganho em sensibilidade e nossa perda em visão. Se outras épocas sentiram menos, elas viram mais, ainda que tenham visto com o olho cego, profético e não-sentimental da aceitação, ou seja, da fé. Na ausência hodierna desta fé, governamos pela ternura.
É uma ternura que, há muito separada da pessoa de Cristo, é envolta em teoria. Quando a ternura se desconecta da fonte de ternura, seu resultado lógico é o terror. Termina nos campos de trabalhos forçados e nas fumaças da câmara de gás."
(Flannery O'Connor, Introduction to a Memoir of Mary Ann)