sábado, 23 de janeiro de 2016

A última mensagem dos mártires de Mosul

“O jornal italiano Corriere della Sera publicou em 9 de agosto uma declaração do Arqueparca caldeu de Mosul no exílio, Amel Nona. Essa declaração é curta, mas de um poder tremendo. Os cristãos têm estado em Mosul por 1.700 anos. Eles foram expulsos ou mortos pelo novo Estado Islâmico que segue os princípios de sua própria fundação.
Pensamos que esses eventos trágicos não nos afetam. O Arcebispo Nona não entende assim. “Nossos sofrimentos são o prelúdio dos que vocês, europeus e cristãos ocidentais, também sofrerão no futuro próximo. Eu perdi minha diocese. O local físico de meu apostolado foi ocupado por radicais islâmicos que nos querem convertidos ou mortos. Mas minha comunidade ainda está viva.” Esse trecho em sua franqueza não difere do que disse o Arcebispo de Chicago quando previu que seus sucessores seriam encarcerados ou mortos.
Tais eventos nos fazem perceber como é difícil entendermos os assassinatos de cristãos em Mosul e outros lugares muçulmanos. Agrada-nos pensar que podemos nos dar bem com todo mundo, que esses são feitos de “fanáticos”. Isso não pode acontecer aqui. Mas já não podemos ter tanta certeza disso. O fato é que nossas perspectivas constitucionais e sentimentais nos cegam não para o evento, mas para suas causas.
“Tentem nos entender”, pede o Arcebispo Nona. “Seus princípios liberais e democráticos não valem nada aqui.” Na verdade, podemos até dizer que esses princípios nos paralisam e nos cegam para a realidade de perseguição nos domínios islâmicos. “Vocês devem repensar nossa realidade no Oriente Médio porque vocês estão recebendo em seus países um número cada vez maior de muçulmanos.” Acreditamos que esses imigrantes estão vindo para encontrar emprego ou escapar da violência. Mas de fato muitos estão vindo com propósitos missionários, para converter de uma maneira ou de outra todos ao Islã. Aos cristãos de Mosul foi dada a escolha padrão muçulmana – conversão ou morte. Alguns conseguiram fugir. O Estado Islâmico não está para brincadeira.
“Também vocês estão em perigo. Vocês devem tomar decisões firmes e corajosas mesmo ao custo de contradizer seus princípios.” Nós não entendemos: De que é que esse homem está falando? “Contradizer nossos princípios?” Não são esses princípios o que nos faz livres? O Arcebispo os vê como as alamedas pelas quais o Islã que está agora destruindo sua diocese e cidade virá destruir as cidades européias e americanas. Achamos isso despropositado. Por isso, não vamos considerar que talvez o Arcebispo tenha razão. Isso é só uma aberração religiosa em um lugar muito distante daqui.
Somos em grande medida utopistas que pensam que as coisas são como queremos que sejam. Não somos realistas como um homem se torna quando vê seu povo sendo morto e as habitações de seu povo destruídas ou tomadas. Está errado o Arcebispo em universalizar sua experiência? Isso não é somente um caso local que vai passar? “Vocês pensam que todos os homens são iguais, mas isso não é verdade. O Islã não diz que todos os homens são iguais. Os valores de vocês não são os valores deles. Se vocês não entenderem isso logo, tornar-se-ão as vítimas do inimigo que receberam em seus lares.”
Os muçulmanos que imigram para a Europa ou a América não se integram. Eles logo formam seus próprios enclaves onde podem praticar sua própria religião sob sua própria lei. O Arcebispo estava chamando a atenção para esse fenômeno. O choque de valores é momentoso, mas é um choque de valores, um entendimento completamente diferente do que sejam o homem, Deus e o mundo.
A mensagem do Arcebispo para nós é um aviso. Mas não será acreditada. Ele parece ter consciência disso. Seu testemunho é perturbador porque traz à nossa atenção o sofrimento de seu povo. Mas é ainda mais perturbador como um entendimento de nossa cultura e valores a partir de fora. Não é que o Islã seja ininteligível. Contudo, ele é ininteligível se persistimos em vê-lo através dos princípios que não são universalmente aceitos quando assumimos que eles o são. “Tentem entender” este fato. Essa é a última mensagem dos mártires cristãos de Mosul.”
(James V. Schall, S.J, A Chilling Warning to the West from the Archeparch of Mosul)