domingo, 30 de agosto de 2015

O clericalismo moderno

“No sentido geralmente aceito, o clericalismo é o abuso do poder pelos clérigos. (...) Com efeito, o clericalismo tal qual foi conhecido no passado consistiu em abusar da autoridade para defender uma situação, uma ordem de coisas que favorecia – ou ao menos aparentava favorecer – a manutenção ou o progresso dos valores religiosos. (...) O clericalismo atual difere sensivelmente do antes descrito. (...) No entanto, o clericalismo subsiste em seu afã de domínio. Sua diferença essencial com o passado consiste em que enquanto o clericalismo “clássico” abusava de seus atributos para a sustentação da fé, o clericalismo “progressista” abusa de sua autoridade para propiciar uma ordem de coisas contrária à fé e à moral cristãs. (...) O paradoxal – na aparência – é que a prepotência do clericalismo progressista se exerce para fazer com que os fiéis abandonem sua fé, sua vida sacramental, sua oração, suas responsabilidades temporais de cristianização do mundo, em virtude de sua autoridade sacerdotal. O mesmo clero que faz ostentação de seu desprezo pela batina, pelo latim, pelo celibato, por tudo tradicional, é o mesmo clero que afirma que o sacerdócio deve ser secularizado e transformado em uma espécie de pai de família que parte o pão entre os seus, é o mesmo clero que utiliza sua condição sacerdotal para submeter por coação moral os fiéis, obrigando-os a aceitar por via de autoridade espiritual suas aberrantes teses. Tudo isso não faz senão colocar de manifesto a comunidade de métodos entre o modernismo denunciado por São Pio X no começo do século e os atuais progressistas. Em nome da fé, impõe-se a destruição da fé. Em nome da autoridade espiritual exige-se o abandono das práticas religiosas, em nome da competência teológica proíbe-se a difusão da doutrina social da Igreja, em nome do Evangelho proíbe-se cristianizar a economia, a política, a cultura.”
(Carlos Alberto Sacheri, La Iglesia Clandestina)