quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Controle populacional e Nova Ordem Mundial (II)

“Planejamento familiar”: A linguagem do inimigo
A família numerosa era sinônimo de família cristã durante o pontificado de Pio XII e antes dele. Mas os anos 60 trouxeram uma mudança. As profundas mudanças sociais representadas pela revolução sexual foram tão profundas que nem a Igreja Católica as evitou. A propósito, a nova orientação eclesiástica depois do Concílio Vaticano II não será também definida pelas mudanças e novidades? Até na Igreja, tudo deve ser apresentado de uma maneira nova — temos a Nova Missa (o novo rito da Missa), a nova evangelização, o novo Código de Direito Canônico, temos mudanças na maneira como a Igreja encara as falsas religiões e o mundo moderno, etc., etc.
Neste contexto, não surpreende que também com respeito à procriação encontremos uma linguagem e uma metodologia semelhantes às que são usadas pelos nossos inimigos. Embora a famosa encíclica Humanae Vitae mantivesse os ensinamentos tradicionais contra a contracepção artificial, neste importante documento papal encontramos as palavras seguintes:
As mudanças que se têm verificado são de importância considerável e variadas na sua natureza. Em primeiro lugar, há um rápido aumento da população, que fez com que muitos receiem que a população mundial irá crescer mais depressa do que os recursos disponíveis.
O fato de poder ter havido um crescimento demográfico com resultados potencialmente desastrosos não é posto em causa na encíclica. Desde então, continuamos a ler ou a ouvir dos púlpitos comentários sobre a “paternidade responsável”, sobre como é sinal de responsabilidade limitar o número dos filhos, mesmo não havendo razões sérias para evitar a gravidez e ter mais um filho. Nos círculos católicos conservadores, que não aprovam o uso da contracepção, popularizam uma prática largamente aceite pelos jovens católicos de hoje, os programas de “planejamento familiar natural” (PFN).
Pela minha experiência pessoal de há alguns anos, posso atestar o fato de que nunca me disseram nada sobre as condições em que é legítimo limitar as relações maritais aos dias de infertilidade. Quando li a literatura do PFN, vi que tratava sobretudo de como evitar a gravidez, em vez de ajudar a compreender melhor o ciclo da mulher para facilitar a concepção. O que é perturbador é que encontrei a mesma linha de pensamento do PFN numa literatura, escrita em tcheco, a favor de contracepção. O PFN é ali apresentado como um meio de os casais de mentalidade religiosa ou ecológica evitarem a gravidez!
Não estou a dizer que o PFN é idêntico à contracepção artificial; estou a dizer que pode ser mal usado com grande facilidade para fins condenáveis.
Como se conseguiu esta mudança de mentalidade, uma mudança da abertura perante a vida para evitar o nascimento sem haver uma razão séria para tal? Devemos compreender que a Igreja Católica era o maior obstáculo aos programas de controle da população e ao seu sucesso em todo o mundo. A Igreja e os seus ensinamentos sobre a procriação tinham, portanto, de ser atacados, e atacados de dentro, pelos próprios católicos. Os revolucionários precisavam desesperadamente de alguns católicos bem conhecidos que trabalhassem a favor da mudança de mentalidade a partir do interior das estruturas católicas.
John Rock e a Pílula
Por detrás do projeto de eugenia da população encontram-se nomes famosos pelo que eles chamam “filantropia”: os Rockefellers, a Fundação Ford, e outros financeiros bem conhecidos da revolução moderna. Isto certamente já saberão. Mas sabiam que foram estas bolsas que alimentaram um obstetra católico, o Dr. John Rock, no seu trabalho, coroado de sucesso, de fabricar a Pílula? Sim, a Pílula foi inventada por um católico!
Rock estudou a função, o tempo e o desencadeamento químico da ovulação e da concepção. O seu trabalho levou a uma compreensão mais clara dos ciclos de fertilidade, o que forneceu um ponto de partida para o desenvolvimento do método do “ritmo” do controle da natalidade. Em 1939, fundou a primeira “clínica de ritmo” nos Estados Unidos, para pacientes do Hospital Livre de Boston para Mulheres. Rock sublinhou que a sua “clínica de ritmo” tinha por fim ajudar as mulheres não-férteis, permitindo-lhes que identificassem a melhor altura para a concepção. A sua intenção — no tempo em que era jovem — era auxiliar os casais a atingirem a gravidez, não a evitá-la.
O seu trabalho sobrepunha-se ao de Gregory Pincus, outro investigador de Boston, que estava a experimentar o efeito da progesterona em coelhos. Nesta altura, porém, Pincus e Rock tinham objetivos diferentes. Pincus não desejava aumentar a possibilidade da gravidez, mas evitá-la. Queria desenvolver uma pílula que detivesse a ovulação nos seres humanos.
Em 1951, Margaret Sanger, que há muito fazia uma campanha a favor do controle da natalidade, apresentou Gregory Pincus a Katharine McCormick, uma viúva rica que se tinha dedicado à causa do controle da natalidade. Katharine McCormick deu a Pincus um cheque de 40.000 dólares para desenvolver o seu trabalho. Acabaria por contribuir com mais de um milhão de dólares para ajudar uma investigação que era demasiado controversa para ser subsidiada por fontes convencionais. Mas Pincus tinha um problema. Como não era médico acreditado, não podia fazer legalmente experiências com fármacos. Lembrou-se de colaborar com o seu conterrâneo de Boston, John Rock. Sabia que Rock tinha tido algum sucesso com um tratamento hormonal para controlar os tempos e frequências da ovulação nas mulheres não-férteis.
Em 1952 Gregory Pincus pediu a John Rock que trabalhasse com ele para fazer com que o tratamento fosse eficaz como contraceptivo oral. O Dr. Rock já tinha mais de 60 anos e estava a aproximar-se da aposentadoria quando Pincus lhe fez a sua proposta controversa. Como acreditava tão firmemente na necessidade do controle mundial da população e de as mulheres casadas poderem evitar gravidezes indesejadas, John Rock concordou. Esta história trágica não tem um fim feliz. Não foi só o caso de um católico ter ajudado a espalhar a praga da mentalidade contraceptiva; Rock acabou por abandonar a religião e morreu apóstata.
Mesmo assim, o seu envolvimento direto na produção da pílula contraceptiva teve um grave impacto mental na população católica. A revolução sexual dos anos 60 foi, podemos afirmá-lo, um ataque demográfico, não só contra outras nações em todo o mundo, mas também contra os católicos. E teve tal sucesso que, numa década ou duas, neutralizou efetivamente a única oposição eficaz ao regime eugênico demo-liberal, a Igreja Católica.
Há gente a mais? Ratos a mais?
Como nós todos já sabemos, o cenário da bomba da população era falso. Não só não há um verdadeiro problema de crescimento da população, mas o que se tem tornado um problema grave, pelo menos nos países do Ocidente, é a falta de nascimentos e não o excesso. Recentemente, a União Européia deu o alarme sobre a taxa de natalidade, que está perigosamente baixa, e que terá como resultado uma quebra de 20 milhões de trabalhadores em 2030. Não havia países europeus com uma taxa de fertilidade inferior a 1,3 filhos por mulher em 1990. Em 2002, havia 15 países, e mais seis estavam abaixo de 1,4. Atualmente, nenhum país europeu está a manter a sua população através da natalidade, e só a França — com uma taxa de 1,8 — ainda tem potencial para tal. Os países do antigo bloco soviético tiveram grandes reduções nas taxas de natalidade durante a última época, com uma média alarmante de 1,2 filhos por mulher na República Tcheca, Eslovênia, Letônia e Polônia — ainda mais baixa do que nos países recordistas da Europa Ocidental, a Espanha, Grécia e Itália, todos eles mantendo uma taxa de 1,3 partos por mulher há pelo menos uma década. Nunca nos últimos 650 anos, desde o tempo da Peste Negra, as taxas de natalidade e fertilidade caíram tanto, tão depressa, para tão baixo, por tanto tempo, em tantos países.
Uma pessoa verdadeiramente católica é incapaz de dizer que há “gente a mais”. Isso quereria dizer que há alguém, um grupo, ou toda uma nação, que é supérfluo, e que seria melhor se não vivessem. Isto é produto de uma mentalidade materialista. Os seres humanos afetam as vidas uns dos outros, às vezes ajudando, outras vezes prejudicando, e não podemos debruçar-nos sobre os nossos números com um tal distanciamento. Contam para alguma coisa. Mas e os ratos? Há ratos a mais quando incomodam o bem- estar dos humanos, não é? Poderemos usar a mesma frase se se tratar de gente? Isso fazia com que houvesse pessoas que afirmassem a sua primazia sobre outras pessoas, da mesma maneira como os homens afirmam a sua primazia sobre os animais. Mas é este, precisamente, o espírito das conferências sobre o crescimento da população: que há algumas nações que se multiplicam como ratos e que incomodam o bem-estar destas elites ricas, sem filhos e hedonistas do regime do Iluminismo.
A ideologia do controle da população reduz o valor da vida humana à produtividade material e à eficiência. É assim que se mede a qualidade de vida, pelo grau de utilidade que possa ter para a sociedade. Esta citação do famoso livro de Dennis Meadows Limites do Crescimento fala claramente: “O ponto da questão não é apenas se a raça humana irá sobreviver, mas ainda mais se poderá sobreviver sem cair num estado de existência sem préstimo.” Ah, e nós somos tão humanistas que, em vez de deixar que uma pessoa viva nesse estado, fazemos todo o possível para que não chegue a viver. O fato de não existir é melhor para ela. O nada é, portanto, melhor do que o Ser, no mundo pervertido da modernidade maniquéia.
Mas Deus não pode ter “gente a mais”. A única atitude totalmente cristã em relação à maternidade é esta: “O Senhor poderá dar ou não; o Senhor poderá tirar ou não; bendito seja o Nome do Senhor.” Esta conversa de “gente a mais” usurpa uma prerrogativa divina.
Contra-Contracepção
Os pecados e as más ações têm conseqüências. A carência populacional e os problemas econômicos que vamos todos sofrer num futuro próximo são uma delas. Mas o que é muito pior é o preço espiritual que estamos a pagar. A falta de crianças nas nossas sociedades reflete a falta de confiança na Providência de Deus e, por conseguinte, um afastamento cada vez maior do nosso Criador e Redentor e da ordem da salvação.
Até o Cardeal Ratzinger, no livro da sua entrevista com Vittorio Messori, atestou o fato de que o período que se seguiu ao Concílio Vaticano II não trouxe a revivificação da Igreja que se esperava, mas, em vez disso, trouxe o caos. Assim, em vez de multiplicarmos as graças que correm, enfrentamos uma situação em que este fluxo de graças foi bloqueado. Há obstáculos que são colocados a obstruir o fluxo de graças — falta de oração, falta de formação religiosa como deve ser, e os pecados contra os Mandamentos (entre eles o Sexto, de que estamos a tratar nesta palestra), tudo isto leva à desorientação diabólica de que falou a Irmã Lúcia de Fátima. Isto significa que há menos graças a penetrar nos corações do rebanho dos batizados. E porque é que eu falo disto numa palestra sobre o controle da população?
Há uma relação entre o grau ou intensidade da vida sobrenatural da alma e a perfeição ou virtudes da vida natural — a graça desenvolve-se a partir da natureza. Quando não se segue a lei natural, as graças deixam de ter um efeito positivo. As mudanças liberalizantes trazidas pelas “reformas” do Concílio Vaticano II são para a vida sobrenatural e para o elemento humano da Igreja o que a contracepção é para a vida natural de uma família.
O que nós, católicos, devemos fazer é declarar guerra à mentalidade contraceptiva que é uma praga do nosso tempo. Separemo-nos do “espírito da época”, sejamos contra- revolucionários ao abrirmo-nos à vida, confiando em Deus e em Nossa Senhora, Que amam todos e cada um dos Seus filhos, e para Quem não há uma só alma imortal que não seja desejada.”
(Michal Semin, Para Onde Foram Todos os Católicos?)