segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Controle populacional e Nova Ordem Mundial (I)

“Na minha palestra anterior, na sexta-feira, falei dos aspectos diabólicos da mentalidade moderna, o espírito do Iluminismo, a Revolução moderna e os desafios que representam para os católicos em todo o mundo. Hoje quero concentrar-me num aspecto particular da Revolução, que tem a ver com a sexualidade humana e a sua regulação social — o controle da população. Não podemos compreender o fenômeno do controle da população sem termos em conta a revolução sexual do Século XX.
No número de maio de 2006 de Chronicles, Thomas Fleming apresentou um ensaio sobre os resultados da revolução sexual, chamado Vinho Novo em Odres Velhos. Escreveu que “A revolução que nos fez o que somos começou durante a grande revolta contra o Cristianismo que se chama o Renascimento, e entrou numa fase aguda com a Revolução Francesa. Embora tenha assumido muitas formas e tenha sido apontada a uma variedade de alvos... quase não se desviou do seu objetivo mais básico: a libertação do que um dos revolucionários mais virulentos chamou a libido...”
Quando Nossa Senhora nos avisou em Fátima sobre os erros da Rússia, estaria também a falar dos erros relativos ao campo da sexualidade humana? Provavelmente, porque foi a União Soviética comunista o primeiro país a legalizar o aborto e promover abertamente a contracepção e outros pecados contra o Sexto Mandamento. A Europa Ocidental, influenciada pelas idéias do Iluminismo e do Liberalismo, trouxe também um grande ataque contra os ensinamentos da Moral Cristã, com a legalização do divórcio e a luta para separar o Estado da Igreja. Hoje estamos a observar uma disseminação em escala mundial destes mesmos erros da Rússia e há muito pouca oposição a eles.
Mas a liberalização da libido será apenas um assunto pessoal, um fruto natural da ética hedonista, ou haverá algo de mais sinistro nos bastidores? Claro que o hedonismo é parte de todo o cenário, porque o hedonismo é um produto natural da rejeição da metafísica no pensamento ético. Quando o comportamento humano não é regulado por normas morais objetivas, que possam ser descobertas e conhecidas pelos seres humanos, os apetites acabam por dominar a razão e a vontade.
A ética hedonista é um dos muitos frutos envenenados do Iluminismo, com a sua noção pervertida de “liberdade”, no sentido de licença, que é o direito de fazer tudo o que se quer. A libertação sexual não começou na década de 1960; aquela década só representa o clímax de forças desencadeadas muitas décadas antes. E. Michael Jones, no seu livro Libido Dominandi: Libertação Sexual e Controle Político, apresenta de forma sólida e bem documentada o seguinte cenário: a liberalização da sexualidade humana durante e depois da queda da Cristandade é um ato consciente e orquestrado da parte de quem o quer usar como meio para controlar as massas. A filosofia materialista e mecanicista da modernidade fez nascer a vontade nua, emancipada das normas morais fundamentadas transcendentalmente. Mas o materialismo não pode inspirar, e o problema de como controlar o homem e dirigir a sociedade na ausência das restrições morais tradicionais manteve-se.
Libido Dominandi é, em grande parte, uma denúncia da desonestidade intelectual da modernidade, começando com a idéia de que libertação sexual é igual a liberdade. Pelo contrário, a libertação sexual significou, e continua a significar, um aumento enorme do poder dos governos, dirigidos pelas elites do dinheiro, assim como um aumento cada vez maior do controle subliminal.
“Só há duas opções,” escreveu Jones:
“Ou nos controlamos segundo a lei moral, ou as nossas paixões passam a controlar-nos — ou alguém passa a controlar-nos através da manipulação das nossas paixões. Ou há o governo da razão e do auto-controle, ou há a revolução sexual e a tirania. O regime moderno sabe isto, e explora esta situação para seu proveito. Por outras palavras, a ‘liberdade sexual’ é, de fato, uma forma de controle social, uma maneira de manter o regime no poder através da exploração das paixões de pessoas que, em seguida, se identificam com o regime que ostensivamente lhes permite gratificar essas mesmas paixões.
“Assim sendo, não nos deve surpreender que o proponente mais importante da libertação sexual no Iluminismo tivesse sido também o primeiro a descrever o sexo como uma forma de controle político. Estou a referir-me ao Marquês de Sade, que estava preso na Bastilha no verão de 1789, a escrever novelas pornográficas e a engordar com a comida que ele pagava para lhe ser trazida do exterior. A partir de julho, construiu um megafone primitivo a partir de uma folha de papel, e incitou a multidão que rodeava a prisão a assaltá-la e a libertá-lo e a mais seis outros presos. As suas novelas posteriores, escritas durante o período da Revolução, explicam que, se a república revolucionária quiser vencer a Cristandade, as paixões humanas devem ser totalmente libertadas, para que possam derrubar a ordem social.
“O potencial para o controle e a insurreição sofre uma mudança quântica quando a sexualidade deixa de ser regulada e tem liberdade para atuar como estimulante de perpétua agitação. De fato, como o regime revolucionário se baseia na subversão da moral, só pode existir se explorar a sexualidade desta maneira. O que propõe às massas como se fosse a liberdade é, na realidade, apenas uma forma de controle social e político. É a partir deste ângulo que devemos ver a legalização da pornografia. Não é só uma espécie de efeito secundário infeliz do regime revolucionário, que deve ser tolerado se quisermos todos gozar de liberdade, o que é o argumento dos liberais em todo o mundo.
“A pornografia é a essência de um regime político revolucionário, porque só controlando as paixões dos cidadãos consegue manter o seu controle sobre eles. Gratificando os desejos ilícitos, evoca a gratidão dos escravos e cria o controle político a partir dessa gratidão.”
Mas o que tem isto a ver com o controle da população, que é o foco principal da minha palestra? O controle da população é um programa de regulação dos nascimentos, orquestrado pelo regime, por meio da libertação sexual. O controle do número dos nascimentos só é possível se se subverter e perverter o objetivo da sexualidade humana, que é a procriação, fazendo das paixões o rei do corpo e alma de cada um.
O controle da população é, portanto, o sine qua non da Nova Ordem Mundial, sobre a qual Marylin Ferguson, luminária da Nova Era, disse:
“Pela primeira vez na história, a humanidade tem acesso ao painel de controle da mudança, à compreensão da maneira como se produzem as transformações … O paradigma da Conspiração do Aquário concebe a humanidade como enraizada na natureza e encoraja o indivíduo autônomo numa sociedade descentralizada, considerando-nos como feitores de todos os nossos recursos, interiores e exteriores. Vê- nos como herdeiros das riquezas da evolução, capazes de imaginação, invenção e experiências que temos mas ainda mal lobrigamos.”
Mudança, novidade, transformação, evolução — são tudo palavras de código do regime liberal moderno. Baseado nos dogmas da filosofia moderna, não há uma natureza humana fixa, nada que defina a humanidade e a finalidade da vida humana, independentemente do tempo, cultura e costumes locais. A vida humana, o homem, é apenas um elemento no continuum panteísta do processo evolutivo. Esta é a fonte ideológica da “cultura da morte” — aborto, contracepção, experimentação com embriões, fertilização in vitro, mas também as políticas dos gêneros ou a roupa unisexo, e, claro, o controle da população de inspiração eugênica.
As Nações Unidas e o controle da população
Desde a sua criação em 1945, altura em que substituiu o Vaticano como árbitro internacional de influência, as Nações Unidas tornaram-se a sede de um futuro governo mundial. E o sine qua non deste estado coletivista mundial é, como já indiquei, o controle total da população mundial. Não foi por coincidência que, um mês depois da criação do Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC) na primavera de 1945, as Nações Unidas estabeleceram uma Comissão da População para recolher dados demográficos e estudar as relações demográficas com os fatores econômicos e sociais. Semearam influências poderosas da Nova Era em todas as agências especializadas e interligadas da ONU, incluindo a Organização Internacional do Trabalho (ILO), a Organização Alimentar e Agrícola (FAO), a Organização Econômica, Científica e Cultural das Nações Unidas (UNESCO), a Organização Mundial da Saúde (WHO), o Fundo Internacional de Emergência das Crianças das Nações Unidas (UNICEF), e o Banco Mundial, todos eles subscrevendo institucionalmente a ideologia da sobrepopulação.
Este “novo paradigma” não se limita, de modo nenhum, a estas organizações supra-nacionais, elas também dominam os centros de poder de muitas nações-estados; trabalham lado a lado para fazer do “novo paradigma” a estrutura política e legal de toda a humanidade. A razão para imporem programas de controle da população, como condição para a ajuda humanitária e de desenvolvimento aos países mais pobres, não é apenas para limitar o número dos menos ricos ou alegadamente mais atrasados (os programas eugênicos de controle da população foram, desde o princípio, inspirados por um racismo declarado), mas sobretudo como meio de controle político e social. Os poderes estabelecidos sabem que, no fim de contas, o crescimento da população é um fato positivo, e não um embaraço, e sentem-se ameaçados, tanto política como militarmente, devido à confrontação crescente entre o Ocidente rico mas moribundo e os chamados países subdesenvolvidos, com taxas de natalidade muito mais altas.
Assim, depois de ter causado a quebra da população nos países do Ocidente através do movimento da libertação sexual, o regime do Iluminismo precisa minar o crescimento populacional noutros países, para manter em equilíbrio as estruturas globais do poder. Foi do receio de que estas nações ou culturas, que não seguem o plano ideológico do Iluminismo, pudessem sobrepovoar as nações que sucumbiram à mentalidade darwiniana, que nasceu a idéia do controle da população.
Na sua fase inicial, chamava-se movimento eugênico, mas, como Hitler deu má fama ao nome, depois da 2ª Guerra Mundial a Sociedade de Eugenia mudou o nome para Planejamento Familiar. Mas os objetivos continuam a ser os mesmos; só os meios é que mudaram. As mesmas pessoas que apoiavam e financiavam o programa da eugenia capturaram os meios de comunicação e começaram a apresentar o controle demográfico como uma preocupação com a “saúde” e a libertação.
Até que ponto, devíamos perguntar a nós próprios, foram os católicos de hoje seduzidos por esta sereia falsa e perigosa da necessidade de “limitar o crescimento demográfico”? Como todos sabemos, a Igreja lutou sempre contra a relutância maniquéia em relação à procriação, apelando aos católicos para que fossem generosos a dar vida a novos seres humanos. Como disse Pio XII na sua alocução de 1958:
Onde quer que se encontrem famílias numerosas em grande número, elas apontam para: a saúde física e moral de um povo cristão; uma fé viva em Deus e confiança na Sua Providência; a santidade fecunda e feliz do casamento católico.
(Michal Semin, Para Onde Foram Todos os Católicos?)