domingo, 17 de novembro de 2013

O sonho mágico da modernidade

“A expansão da vontade de poder do reino dos fenômenos para o da substância ou a tentativa de operar no reino da substância pragmaticamente como se fosse o reino dos fenômenos – essa é a definição de mágica. A inter-relação de ciência e poder e o conseqüente crescimento do segmento utilitário da existência injetaram um forte elemento de cultura mágica na civilização moderna. A tendência a limitar o campo da experiência humana à área da razão, ciência e ação pragmática, a tendência a sobrevalorizar essa área em relação ao bios theoretikos e à vida do espírito, a tendência a torná-la a única preocupação do homem, a tendência a torná-la socialmente preponderante por meio da pressão econômica nas chamadas sociedades livres e por meio da violência nos estados totalitários – todas essas tendências são parte de um processo cultural que é dominado pela idéia de operar na substância do homem por meio da instrumentalidade da vontade pragmaticamente planejadora. O ápice disso é o sonho mágico de criar o Super-Homem, o Ser feito pelo homem que sucederá à triste criatura feita por Deus. Esse é o grande sonho que primeiro apareceu imaginativamente nas obras de Condorcet, Comte, Marx e Nietzsche e mais tarde pragmaticamente nos movimentos Comunista e Nacional-Socialista.”
(Eric Voegelin, From Enlightenment to Revolution)