“Entre outras preocupações, existem três aspectos perturbadores da renúncia de Bento XVI.
1) Ela contradiz o aspecto de paternidade que é a natureza do cargo. Nos anos 80, os bispos dos Ritos Orientais não ficaram felizes quando o Vaticano os forçou a adotarem a aposentadoria compulsória aos 75 anos. Como um deles me explicou, “um pai de família não se aposenta”.
2) Ela se parece com o afastamento para se aposentar de um diretor executivo de uma empresa, dando a impressão de que mais uma característica secular foi adotada pela Igreja.
3) Ela abre a porta ao abuso. Mesmo que acreditemos nas palavras de Bento XVI de que ele renuncia por acreditar realmente que não tem mais forças para continuar, o precedente foi estabelecido para que um bom Papa seja pressionado a se aposentar sob o pretexto de saúde precária.
A Preocupação de de Mattei
Parece claro que o Papa Bento já estava pensando em se aposentar faz algum tempo. Em 29 de abril de 2009, ele parou para visitar o túmulo do Papa São Celestino V, o Papa que abdicou do cargo em 1296. Bento orou junto ao túmulo e deixou seu palium, símbolo de sua autoridade como Bispo de Roma, sobre o túmulo de Celestino. Em 4 de julho de 2010, ele visitou a Catedral de Sulmona, perto de Roma, e orou diante das relíquias de Celestino V.
A página de Chiesa na internet relata que o historiador da Igreja Roberto de Mattei expressa seu profundo incômodo com a renúncia de Bento XVI. Embora aceite sua “legalidade”, de Mattei ressalta que de um ponto de vista histórico a renúncia do Papa Bento “parece estar em absoluta descontinuidade com a tradição e a práxis da Igreja”.
“Não se pode comparar nem com Celestino V, que desistiu depois de ser arrastado para longe de sua cela de eremita à força, nem com Gregório XII, que foi forçado a renunciar a fim de resolver a questão gravíssima do Grande Cisma do Ocidente. Esses foram casos excepcionais. Mas qual é a exceção no ato de Bento XVI? A razão oficial, gravada em suas palavras de 11 de fevereiro, expressa, mais do que a exceção, a regra.”
É a “regra” que coincidiria simplesmente com “vigor tanto de corpo, como de alma”. Mas então “surge a pergunta”:
“Por mais de dois mil anos de história, quantos Papas reinaram em boa saúde e não testemunharam o declínio de suas faculdades e não sofreram de doenças e provações morais de todo tipo? O bem-estar físico jamais foi um critério de governança da Igreja. Tornar-se-á a partir de Bento XVI?”
Se tal for o caso, escreve de Mattei, o ato de Bento XVI causa um impacto “não apenas inovador, mas revolucionário”.
“A imagem da instituição pontifícia, aos olhos da opinião pública no mundo inteiro, seria de fato despida de sua sacralidade para ser entregue aos critérios de julgamento da modernidade.”
De Mattei ressalta que isso atingiria o objetivo repetidamente proposto por Hans Küng e outros teólogos progressistas: o de reduzir o Papa a “presidente de um conselho de administração, a um papel apenas arbitral, acompanhado de um sínodo permanente de bispos com poderes deliberativos.””
(John Vennari, Three Troubling Aspects of Benedict's Resignation)