terça-feira, 22 de maio de 2012

Os ataques de Satanás na hora da morte

“Embora a morte seja em si mesma amaríssima, sua amargura não é pouco realçada pela vívida lembrança dos pecados de nossa vida passada, pelo pensamento do julgamento iminente, da eternidade diante de nós e pelos ataques de Satanás. Essas quatro coisas enchem a alma de um tal terror, que ela sem dúvida entraria em desespero se não fosse fortalecida pela ajuda de Deus. Iremos nos deter um pouco na explicação de cada uma dessas quatro coisas e também indicaremos alguns modos de combater os medos que elas inspiram.
Com relação aos ataques de Satanás, saiba que o Deus de toda justiça permite que ele tenha grande poder para nos atacar na hora da morte; não para nossa perdição, mas para nossa provação. Antes de expirar, o cristão ainda tem que provar que nada pode fazê-lo trair seu Deus. Por essa razão o inimigo maligno emprega todo o poder que recebeu e junta todas suas forças para usar contra o homem que está morrendo, na esperança de provocá-lo a pecar e arrastá-lo ao inferno. Durante nossa vida inteira ele nos ataca intensamente, sem desprezar nenhum meio de nos enganar. Mas todas essas perseguições não se comparam ao assalto final com o qual ele pretende finalmente nos vencer. Ele então se agita e se enfurece como um leão que ruge, procurando a quem devorar.
Tal nos é dito na seguinte passagem do Apocalipse (xii, 12): “Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o Diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo.” Essas palavras aplicam-se especialmente aos moribundos, contra quem o demônio nutre uma grande ira e despende grandes esforços para seduzir. Pois ele sabe muito bem que se ele não os conseguir em seu poder agora, jamais terá de novo a oportunidade de fazê-lo. Ouça o que São Gregório diz sobre esse ponto: “Considere bem quão terrível é a hora da morte e quão apavorante será a lembrança de nossas más ações naquele momento. Pois os espíritos das trevas recordarão todo o mal que nos fizeram e nos lembrarão dos pecados que cometemos sob sua instigação. Eles não irão somente ao leito de morte dos ímpios, mas estarão presentes junto aos eleitos, lutando para descobrir algo pecaminoso com que os acusar. Ai! Como é que nós, infelizes mortais, nos sairemos nessa hora e que poderemos dizer em nosso favor, vendo como são inumeráveis os pecados dos quais nos acusam? Que poderemos responder a nossos adversários, quando colocarem nossos pecados diante de nós, com o intuito de reduzir-nos ao desespero?”
Os espíritos malignos tentarão sua infeliz vítima no momento da morte em vários pontos, mas especialmente em relação aos pecados nos quais ela mais caiu. Se durante a vida ela nutriu ódio a alguém, eles trarão diante de seus olhos moribundos a imagem daquela pessoa, mostrando tudo que ela fez para feri-la, a fim de reavivar ou reacender a chama do ódio voltado àquele inimigo. Ou se alguém transgrediu a pureza, eles lhe mostrarão o cúmplice de seu pecado e lutarão para despertar na pessoa culpada os sentimentos que tinha por aquele indivíduo. Se ele foi perturbado com dúvidas sobre a fé, eles lhe recordarão o artigo de crença que ele tinha mais dificuldade de aceitar, representando-o como falso. Se um homem tem uma tendência à pusilanimidade, os espíritos malignos a reforçarão, para talvez roubar-lhe a esperança de salvação. O homem que pecou por orgulho e vangloriou-se de suas boas obras, eles procuram enredar pelo elogio, garantindo-lhe que ele goza do mais alto favor de Deus e que tudo que ele fez não pode deixar de assegurar-lhe um lugar no céu. Se em vida um homem era dado à impaciência, permitindo-se raiva e irritação por qualquer ninharia, eles farão com que sua doença lhe pareça ainda mais incômoda, para que fique impaciente e se revolte contra Deus por ter-lhe enviado uma moléstia tão dolorosa. Ou se foi tépido e não devoto, sem fervor na oração ou assiduidade em seus exercícios religiosos, eles tentarão manter em sua alma esse estado de apatia, sugerindo-lhe que sua fraqueza física é tamanha que não lhe permite juntar-se às orações que seus amigos lêem para ele. Por fim, eles tentam os que levaram uma vida ímpia e repetidamente caíram em pecado mortal ao desespero, representando suas transgressões como tão grandes que já ultrapassaram toda possibilidade de perdão. Numa palavra, os espíritos do mal atacam os mortais no momento da morte mais furiosamente em seu ponto mais vulnerável, tal como um general experiente investirá contra uma fortaleza pelo lado onde percebe que as muralhas são mais fracas.
Mas os demônios nem sempre se limitam a tentar um homem em suas principais fraquezas e faltas predominantes; eles freqüentemente o tentam em pecados dos quais até então ele não tinha culpa alguma. Pois esses inimigos ardilosos não poupam esforços para enganar os moribundos e se fracassam de um modo, tentam ter sucesso de outro. Tais tentações não são de caráter ordinário. Elas são às vezes tão violentas que para fracos mortais a resistência é impossível sem a assistência sobrenatural. Se o máximo que alguém em boa saúde consegue é resistir aos ataques do demônio e assim mesmo muitas vezes sem sucesso, quão difícil deve ser para quem se acha enfraquecido pela doença lutar contra inimigos tão formidáveis! Nesse ponto um escritor pio disse: “A menos que o moribundo já tenha, antes de sua derradeira enfermidade, se armado contra esses ataques e se acostumado à batalha contra seus adversários espirituais, ele terá poucas chances de vencê-los no momento da morte. Se o fizer, terá sido apenas pela assistência de Deus todo-poderoso e da santa Virgem, de seu anjo da guarda ou de algum dos santos. Pois nosso Deus misericordioso e Seus anjos e santos abençoados não abandonam o cristão na hora de sua maior necessidade; eles correm em seu socorro, quer dizer, contanto que ele mereça seu auxílio.” A fim de que todos se preparem para combater essas tentações antes da última enfermidade, será aconselhável recitar com a devida devoção a seguinte oração:
Ó Jesus, compassivo Redentor da humanidade, eu me recordo das três tentações que sofreste do inimigo maligno e rezo a Ti, pela gloriosa vitória que obtiveste contra ele, para que estejas comigo em meu derradeiro conflito e me fortaleças contra todas suas tentações. Sei que por minhas próprias forças sou incapaz de resistir a tão poderoso inimigo e certamente serei subjugado a não ser que Tu, ou Teus santos abençoados, me dês assistência oportuna. Dessa forma, instantemente imploro Tua ajuda e a de Teus santos e proponho armar-me o melhor que puder com Tua graça, para enfrentar as tentações que me esperam. Prometo agora, diante de Ti e dos santos anjos e dos santos abençoados, que jamais me exporei voluntariamente a qualquer tentação, de qualquer natureza, mas com o auxílio de Tua graça combatê-la-ei vigorosamente. Amém.”
(Pe. Martin von Cochem, O.S.F.C, The Four Last Things)