sábado, 19 de maio de 2012

Francisco de Quevedo y Villegas: Soneto III

Foi sonho ontem; amanhã já será terra!
Pouco antes nada; e pouco depois, fumo!
E destino ambições, e pois presumo
Apenas ponto o cerco que me encerra.
Breve combate de importuna guerra,
defendendo-me sou perigo sumo;
e, enquanto com estas armas me consumo,
menos me hospeda o corpo que me enterra.
Já não é ontem; o amanhã não é chegado;
hoje passa, e é, e foi com movimento
que pra morte me leva despenhado.
Enxadas são a hora e o momento,
que, à jorna de sofrer e de cuidado,
cavam em meu viver meu monumento.


Tradução de Carlos Nougué