sexta-feira, 25 de maio de 2012

As mortes míticas dos grandes compositores

“A morte ocupa um lugar de destaque na mitologia dos grandes compositores. A rebeldia existencial foi um tema favorito dos compositores que morreram no século XIX. Beethoven morreu aos 56 anos de idade, supostamente elevando o punho cerrado ao ribombar do trovão como se o elevasse a Deus. Schumann ficou louco e pulou no Reno tentando se afogar; a tentativa falhou. Investigações recentes e controversas parecem apoiar a idéia de que Tchaikovsky, que por muito tempo se acreditou ter morrido de cólera contraído acidentalmente, teria cometido suicídio ao descobrir a própria homossexualidade. A verdade sobre sua morte ainda precisa ser esclarecida acima de qualquer dúvida.
O número de compositores que morreram jovens é ainda maior do que o dos poetas. Além disso, os modos como morreram foram diversos e muitas vezes inquietantemente coloridos ou misteriosos. O caso mais famoso é o de Mozart. As teorias sobre a morte de Mozart, cada vez mais numerosas, tornaram-se parte da identidade do compositor. A mais famosa delas, de que Mozart foi assassinado pelo rival Antonio Salieri, serviu de enredo para uma peça de Alexander Pushkin e uma ópera de Nikolai Rimsky-Korsakov, quase um século antes de tornar-se o enredo da peça de Peter Shaffer (que mais tarde deu origem a um filme de grande sucesso), Amadeus.
Mozart tinha trinta e cinco anos quando morreu em 1791. Franz Schubert tinha trinta e um anos quando morreu em 1828, provavelmente de sífilis. Tanto Chopin quanto Mendelssohn morreram antes de completar quarenta anos. O prêmio duvidoso de mais jovem compositor a morrer deixando obras que ainda hoje são tocadas vai para o belga do século dezoito Guillaume Lekeu, que sucumbiu na idade de vinte e cinco anos a uma infecção intestinal causada por uma sobremesa contaminada. Charles Valentin-Alkan, um compositor francês do século dezenove que escreveu música exorbitantemente difícil para o piano, foi também um estudioso do Talmude que morreu quando suas prateleiras caíram e os pesados volumes de sua biblioteca o esmagaram. A Segunda Escola Vienense de Arnold Schoenberg e seus estudantes era obcecada por números. Quando o grande aluno de Schoenberg, Alban Berg, sofreu a picada de um inseto que o infectou, Berg calculou suas chances baseado numa numerologia pessoal e morreu no dia que havia previsto.
Em 1937 o musicólogo Alfred Einstein propôs a teoria de que os grandes compositores morrem com uma “canção do cisne”, uma obra-prima final antes da morte. Ele defendeu essa idéia com numerosos exemplos, inclusive Bach, cuja magistral Arte da Fuga foi deixada inacabada quando de sua morte, e Mozart, que deixou para trás o torso de um Réquiem começado pouco antes de morrer. A teoria não tem aplicação universal, contudo, e é irônico notar que a única obra terminal realmente intitulada “Canção do Cisne” foi uma compilação de canções de Schubert reunidas desleixada e postumamente por um editor que buscava fazer dinheiro com o sensacionalismo.
Embora Frideric Handel, Franz Josef Haydn, Franz Liszt e Giuseppe Verdi tenham todos vivido e trabalhado além dos setenta, compositores que passaram dessa idade são raros antes de 1900. Compositores do século vinte que viveram e prosperaram até os oitenta anos incluem Igor Stravinsky, Aaron Copland, Leos Janacek, Ralph Vaughan Williams e Elliott Carter.”
(Kenneth Lafave, Death Myths of the Great Composers)