“É digno de nota que Beethoven chamava sua própria surdez de “singular”. Freqüentemente, mesmo nos seus últimos anos de vida, ele era capaz de ouvir um pouco e por algum tempo. Poder-se-ia quase falar de uma visita periódica de seu “demônio”. Em sua biografia, Marx descreve da seguinte forma a doença: “Já em 1816 se sabe que ele é incapaz de reger suas próprias obras; em 1824 não podia ouvir o barulho do aplauso de uma grande audiência; mas em 1822 ainda improvisa maravilhosamente em rodas sociais; em 1824 estuda com Sontag e Ungher as partes destes na Nona Sinfonia e na Missa Solene, e em 1825 ouve criticamente uma apresentação do quarteto em lá menor op. 132.” Supõe-se que em tais casos urgentes sua força de vontade dava temporariamente nova tensão aos nervos auditivos que gradualmente atrofiavam (diz-se que ele era ainda capaz de ouvir uma ou algumas poucas vozes com seu ouvido esquerdo, mas não as podia perceber se eram muitas), mas tal não era o caso em momentos de menor importância, como o atestam os livros de conversação. Nesses livros, algumas respostas também estão escritas, naturalmente quando não eram para ouvidos de estranhos.”
(Friedrich Kerst & Henry Edward Krehbiel, Beethoven: the Man and the Artist, as Revealed in His Own Words)