quinta-feira, 26 de abril de 2012

A religião do amor e o Credo Atanasiano

“Podemos colocar o caso da seguinte forma: se há uma questão que os liberais e esclarecidos costumam ridicularizar e exibir como exemplo de dogma estéril e briga sectária sem sentido algum, essa questão é a idéia atanasiana da coeternidade do Filho de Deus. Em contrapartida, se há alguma coisa que os mesmos liberais sempre nos apresentam como um fragmento do cristianismo puro e simples, não perturbado por disputas doutrinais, essa coisa é a frase singular “Deus é amor”. E no entanto as duas afirmações são quase idênticas: pelo menos uma é quase absurda sem a outra. O estéril dogma é apenas a maneira lógica de declarar o belo sentimento. Pois se existe um ser sem um começo, existente antes de todas as coisas, estava ele amando quando nada havia para ser amado? Se através dessa inimaginável eternidade ele está só, qual o significado de dizer que ele é amor? A única justificativa de um mistério como esse é a concepção mística de que em sua própria natureza havia algo análogo à auto-expressão, algo daquilo que gera e contempla o que foi gerado. Sem alguma idéia semelhante, é de fato ilógico complicar a última essência da deidade com uma idéia de amor. Se os modernos de fato quiserem uma simples religião do amor, eles precisam ir procurá-la no Credo Atanasiano.”
(Gilbert Keith Chesterton, The Everlasting Man)

Tradução de Almiro Pisetta