quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A FSSPX e as comunidades Ecclesia Dei

Quais são as chamadas "comunidades Ecclesia Dei"?
Após a consagração de quatro bispos pelo Arcebispo Lefebvre em Écône, em 30 de junho de 1988, as autoridades do Vaticano permitiram que algumas comunidades celebrassem a liturgia antiga. São elas, particularmente, a Fraternidade São Pedro (fundada por ex-padres da Fraternidade São Pio X em 1988), o Instituto de Cristo Rei (criado pelo Padre Wach em Griciliano, perto de Florença, na Itália), a abadia beneditina de Le Barroux (sob Dom Gérard), a Fraternidade São Vicente Ferrer, em Chéméré, na França (que de repente passou do sedevacantismo para o realinhamento conciliar, no momento em que o Arcebispo Lefebvre fazia negociações com Roma em 1987), o instituto de Opus Mariae (Padre Wladimir), as irmãs educadoras dominicanas de Pontcallec (fundada pelo Padre Berto) e, mais recentemente, a Fraternidade São João Maria Vianney, de Campos, no Brasil (sob o Bispo Rifan) e o Instituto do Bom Pastor, fundado em 2006 por ex-padres da Fraternidade São Pio X.
De onde vem esse nome?
Essas comunidades têm o nome genérico de "comunidades Ecclesia Dei" porque a maioria delas depende da comissão (um pequeno grupo de bispos e padres designados pelo Papa para assumir o comando de um assunto específico) de mesmo nome fundada em Roma depois das consagrações episcopais de 1988 a fim de receber os sacerdotes e seminaristas que deixaram a Fraternidade São Pio X.
As palavras "Ecclesia Dei" são o título de um documento de João Paulo II que excomungou o Arcebispo Lefebvre em 2 de julho de 1988: assim, podemos dizer que todas essas comunidades são estabelecidas nessa excomunhão e, portanto, beneficiam-se do ato heróico realizado pelo Arcebispo Lefebvre em 30 de junho de 1988. Se o fundador de Écône não tivesse anunciado (29 de maio de 1987) e, em seguida, realizado (30 de junho de 1988) a consagração de bispos, as autoridades romanas jamais teriam concedido a liturgia tradicional a todas essas comunidades.
O Vaticano exige dessas comunidades garantias para conceder-lhes o direito de celebrar a liturgia antiga?
Elas devem de fato reconhecer a Missa Nova como um rito plenamente legítimo; porque a liturgia dita tradicional é considerada pelas autoridades romanas apenas como um "rito extraordinário" da Missa, em comparação com a Missa Nova, que é o rito "ordinário", ou seja, a forma habitual de celebrar a Missa. Aliás, em 2000, isso foi lembrado pelo Cardeal Castrillón Hoyos aos superiores da Fraternidade de São Pedro que se opunham a um grupo de sacerdotes seus que também desejavam celebrar a Missa Nova.
Os membros dessas comunidades devem, portanto, abster-se de qualquer crítica ao Vaticano II; devem principalmente aceitar - ou, pelo menos, não criticar - a liberdade religiosa e o ecumenismo. É por isso que eles ficam tão perturbados pelas cerimônias inter-religiosas como as praticadas em Assis: elas os deixam desolados, sem dúvida, mas eles não podem protestar publicamente.
Por que a Fraternidade São Pio X não faz parte dessas comunidades?
As consagrações de 1988 ajudaram a salvar a Tradição Católica, não só garantindo a transmissão do sacramento da Ordem - e, portanto, da Missa Tradicional e dos sacramentos -, mas também protegendo uma pequena parte do rebanho da Igreja dos erros do Concílio Vaticano II. Infelizmente, esses erros conciliares ainda devastam a Igreja e imperam até mesmo em Roma. A fim de proteger-se eficazmente, é necessário manter distância das autoridades romanas.
Pode fazer uma analogia?
Em tempos de epidemia, a prudência mais básica exige separar os doentes das pessoas saudáveis. Algum contato continua sendo indispensável a fim de se cuidar dos doentes, mas é limitado ao mínimo possível e cercado de grandes cuidados. O mesmo vale para a situação atual: não se pode visitar de forma habitual as autoridades conciliares sem se expor à contaminação de seus erros. O exemplo das comunidades Ecclesia Dei manifestamente o comprova.
Os membros das comunidades Ecclesia Dei verdadeiramente aceitaram os erros conciliares ou eles estão satisfeitos com manter silêncio sobre eles?
Sem a intenção de julgar as disposições internas ou possíveis exceções, parece que a maioria de seus membros acabou, infelizmente, por aderir aos erros conciliares. Eles começaram com um silêncio que consideraram prudente. Eles tiveram que cada vez mais mostrar sinais de boa vontade em relação às autoridades romanas. Eles foram submetidos, sem sequer se darem conta, à pressão do liberalismo - que é mais eficaz quando menos parece se impor. Eles acabaram se proibindo a si mesmos de pensar diferentemente do que diziam e faziam. Em suma, eles foram completamente engolidos pela máquina na qual imprudentemente colocaram o dedo.
Essa aceitação dos erros conciliares é comum a todas as comunidades Ecclesia Dei?
Há nuances, certamente, mas de um modo geral todas essas comunidades atualmente aceitam os erros conciliares. No momento do ralliement de julho de 1988, Le Barroux tinha publicamente colocado como condição “que nada litúrgico ou doutrinário seja exigido de nós em troca e que nenhum silêncio seja imposto à nossa pregação antimodernista". No entanto, no mês seguinte de outubro um monge notou "uma certa relativização da crítica da liberdade religiosa e da reunião de Assis" dentro da abadia. De fato, Le Barroux tentará até mesmo justificar publicamente os erros do Concílio Vaticano II. A Fraternidade São Pedro, que pretendia, de início, continuar exatamente no interior da Igreja o que fazia a Fraternidade São Pio X, sofreu a mesma queda.
Essas comunidades não se mantiveram firmes sequer em relação à liturgia?
Longe de resistir com firmeza, elas todas aceitaram mais ou menos a nova liturgia, que em todo caso evitam atacar abertamente: Dom Gérard, o ex-abade de Le Barroux, teve que concelebrar a Missa Nova com o Papa em 27 de abril de 1995. O Padre Wach, superior do Instituto de Cristo Rei, já teve que fazer o mesmo em 21 de dezembro de 1991. O Bispo Rifan concelebrou também a Missa Nova em 8 de setembro de 2004. A Fraternidade São Pedro teve que aceitar o princípio da concelebração da Missa Crismal de Quinta-Feira Santa com o bispo diocesano.
Em troca dessas concessões, tais comunidades pelo menos recebem grandes possibilidades de apostolado?
A situação varia muito consoante os países e as dioceses, mas a maioria dos bispos continua a ser muito restritiva em relação a essas comunidades. Mesmo aqueles que não lhes são hostis hesitam em recebê-las, com medo das reações de seu clero ou dos leigos engajados. Roma, por sua vez, teme as reações dos bispos. A situação dessas comunidades seria de uma extrema fragilidade sem o contrapeso da Fraternidade São Pio X.”
(La Foi de Toujours, novembro de 2011)