terça-feira, 23 de agosto de 2011

A salvação dos "bons protestantes"

“Um leitor faz uma pergunta vital: “Se um bom protestante viveu uma boa vida mas ainda acredita firmemente que a Fé Católica está errada, de tal modo que ele sequer considera entrar para a Igreja Católica, então ele ainda pode se salvar?” A pergunta é vital (do latim “vita”, que significa “vida”), porque é uma questão de vida ou morte eterna para inúmeras almas.
Como resposta, a primeira coisa a ser dita é que toda alma que após a morte aparece instantaneamente diante do tribunal de Deus será julgada por Ele com perfeita justiça e com perfeita misericórdia. Só Deus conhece as profundezas do coração de um homem, que ele pode bem esconder de si mesmo e melhor ainda dos outros homens. Os homens podem julgar errado, mas Deus jamais. Portanto, o “bom protestante” será condenado por seus próprios atos ou será salvo por Deus, exatamente como Deus sabe que ele mereceu.
Apesar disso, é lógico que se Deus quer que todos sejamos salvos (1 Tm II, 4), e exige de nós que acreditemos sob pena de condenação (Mc XVI, 16), Ele nos permitirá a nós homens sabermos em que devemos crer e o que devemos fazer para salvar nossas almas. Em que deverá acreditar então o “bom protestante”?
No mínimo, toda alma, para salvar-se, deve acreditar que Deus existe e que Ele recompensa os bons e pune os maus (Heb XI, 6). Se um “bom protestante” que viveu uma “boa vida” não acredita nisso, ele não pode ser salvo. Mas muitos teólogos católicos vão mesmo além e dizem que para alguém se salvar deve também crer na Santíssima Trindade e em Cristo como Redentor. Se esses teólogos estão certos, então o número de “bons protestantes” que não salvarão suas próprias almas poderá ser bem maior.
E Deus pode exigir deles que acreditem além dos fundamentos essenciais, dependendo de quantas oportunidades eles tiveram em vida de aprender a Fé que dEle procede. Se são ignorantes de todo o restante da Fé Católica, não é porventura porque jamais chegaram a encontrá-la? Pode ser, mas pode também não ser. Lembro-me de que minha mãe me contava, com admiração, como certa vez um sacerdote católico respondeu a todas as perguntas sérias feitas por seu pai, um “bom protestante”; mas isso, que eu saiba, não o converteu. Se os “bons protestantes” pelo menos uma vez na vida deparam-se com a verdade católica, por qual motivo então não a seguem? A menos que ela lhes tenha sido apresentada de modo incorreto, eles estavam de fato rejeitando a verdade. Poderiam tê-la rejeitado sem culpa alguma? Então eles a rejeitaram inocente ou deliberadamente? Os “bons protestantes” facilmente consideram-se inocentes, como todos nos consideramos, mas nenhum de nós pode enganar a Deus.
Contudo, há também aquilo que um “bom protestante” deve fazer para ser salvo. Ele pode não conhecer tudo que a Igreja Católica infalivelmente exige de nós em termos de moral, mas tem pelo menos a luz natural de sua consciência inata. Ora, pode parecer realmente difícil com o pecado original e sem o auxílio dos sacramentos católicos seguir a luz natural da própria consciência, mas se ela é violada ou deformada é fácil viver e morrer em pecado mortal, um estado no qual alma nenhuma pode ser salva. Novamente o “bom protestante” poderá se declarar ignorante da totalidade das leis de Deus como os católicos as conhecemos, mas é verdadeiramente “invencível”, i.e inocente, sua ignorância? Por exemplo, ele realmente não sabia, ou na verdade não quis saber, que os métodos artificiais de controle de natalidade desagradam seriamente a Deus?
Deus sabe. Deus julga. Que Ele tenha misericórdia de todos os “bons protestantes” e de todos nós.”
(Mons. Richard Williamson, F.S.S.P.X, Innocent Ignorance?)