segunda-feira, 25 de julho de 2011

União Européia, a nova URSS

“Em 1992 eu tive acesso inaudito a documentos secretos do Politburo e do Comitê Central que haviam sido classificados como confidenciais, e ainda continuam sendo, durante trinta anos. Esses documentos mostram muito claramente que toda a idéia de transformar o mercado comum europeu em um estado federativo foi objeto de acordo entre os partidos de esquerda da Europa e de Moscou como um projeto conjunto que [o líder soviético Mikhail] Gorbachev chamou em 1988-89 de “nosso lar comum europeu”.
A idéia era bem simples. Ela apareceu primeiro em 1985-86, quando os comunistas italianos visitaram Gorbachev, seguidos pelos social-democratas alemães. Todos eles reclamavam que as mudanças do mundo, particularmente depois que [a primeira-ministra Margaret] Thatcher introduziu a privatização e a liberalização econômica, estavam ameaçando aniquilar as conquistas (como eles as chamavam) de gerações de socialistas e social-democratas – ameaçando revertê-las completamente. Dessa forma, o único modo de deter a investida do capitalismo selvagem (como eles o chamavam) era tentar introduzir as mesmas metas socialistas em todos os países ao mesmo tempo. Antes disso, os partidos de esquerda e a União Soviética tinham resistido bastante à integração européia porque eles a entendiam como uma maneira de bloquear seus objetivos socialistas. De 1985 em diante eles mudaram completamente de idéia. Os soviéticos chegaram a uma conclusão e um acordo com os partidos de esquerda de que se eles trabalhassem juntos poderiam seqüestrar o projeto europeu inteiro e virá-lo de ponta-cabeça. Ao invés de um mercado aberto eles o tornariam um estado federativo.
De acordo com os documentos secretos soviéticos, 1985-86 foi o momento da mudança. Eu publiquei a maior parte desses documentos. Você os pode até encontrar na internet. Mas as conversas que eles tiveram são realmente reveladoras. Pela primeira vez você entende que existe uma conspiração – que eles compreendiam muito bem, pois estavam tentando salvar-se politicamente. A Leste, os soviéticos precisavam mudar suas relações com a Europa porque estavam entrando em uma crise estrutural prolongada e deveras profunda; a Oeste, os partidos de esquerda estavam com medo de ser aniquilados e perder sua influência e prestígio. Foi realmente uma conspiração, abertamente planejada, aprovada e posta em prática por eles.
Em janeiro de 1989, por exemplo, uma delegação da Comissão Trilateral veio ver Gorbachev. Ela incluía [o ex-primeiro ministro japonês] Nakasone, [o ex-presidente francês Valéry] Giscard d'Estaing, [o banqueiro americano David] Rockefeller e [o ex-secretário de estado Henry] Kissinger. Eles tiveram uma conversa bastante agradável onde tentaram explicar a Gorbachev que a Rússia Soviética tinha de se integrar às instituições financeiras do mundo, tais como o Gatt, o FMI e o Banco Mundial.
No meio do encontro, Giscard d’Estaing subitamente toma a palavra e diz: “Sr. presidente, eu não posso lhe dizer exatamente o que vai ocorrer – provavelmente dentro de 15 anos – mas a Europa vai se tornar um estado federativo e o senhor deve se preparar. Deve resolver conosco e com os líderes europeus como vai reagir, como irá permitir que outros países do leste europeu interajam com esse estado ou dele façam parte. O senhor deve estar preparado.”
Isso aconteceu em janeiro de 1989, quando o tratado de Maastricht [1992] não tinha ainda sequer sido esboçado. Como é que Giscard d'Estaing sabia o que iria acontecer dentro de 15 anos? E surpresa, surpresa, como ele se tornou o autor da constituição européia [em 2002-03]? Uma boa pergunta. Isso cheira a conspiração, não é mesmo?
Para sorte nossa, a parte soviética dessa conspiração entrou em colapso mais cedo e não atingiu o ponto em que Moscou poderia influenciar o curso dos acontecimentos. Mas a idéia original era chegar ao que eles chamavam de convergência, onde a União Soviética iria de certa forma amadurecer e se tornar mais social-democrata, enquanto a Europa Ocidental se tornaria social-democrata e socialista. Então haveria a convergência. As estruturas se encaixariam uma na outra. Essa é a razão por que a estrutura da União Européia foi inicialmente construída com o propósito de encaixar-se à estrutura soviética. E isso também explica por que elas são tão parecidas no funcionamento e na organização.
Não é mera coincidência que o Parlamento Europeu, por exemplo, faz lembrar o Soviete Supremo. Ele se parece porque foi projetado como o Soviete Supremo. Da mesma forma, quando se olha para a Comissão Européia ela se parece com o Politburo. Quero dizer que ela se parece exatamente, exceto pelo fato de que a Comissão agora tem 25 membros e o Politburo tinha geralmente 13 ou 15 membros. Fora isso, eles são exatamente o mesmo, sem prestar contas a ninguém e não sendo eleitos por ninguém. Quando se olha para toda essa bizarra atividade da União Européia com suas 80.000 páginas de regulamentos, ela se parece com a Gosplan. Nós tínhamos uma organização que planejava tudo na economia, até os menores detalhes, com cinco anos de antecedência. Exatamente a mesma coisa está acontecendo na União Européia. Quando se olha para o tipo de corrupção na União Européia, é exatamente o tipo soviético de corrupção, indo de cima para baixo e não de baixo para cima.
Se você perscrutar todas as estruturas e características desse monstro europeu emergente, vai perceber que ele se parece cada vez mais com a União Soviética. Claro, é uma versão mais branda da União Soviética. Por favor, entendam-me bem. Não estou dizendo que ela tem um Gulag. Ela não tem uma KGB – não ainda – mas estou observando atentamente estruturas tais como a Europol, por exemplo. Isso realmente me preocupa porque essa organização provavelmente terá poderes maiores do que a KGB. Eles terão imunidade diplomática. Você consegue imaginar uma KGB com imunidade diplomática? Eles nos terão que policiar em 32 tipos de crimes – dois dos quais são particularmente preocupantes, um se chama racismo, o outro, xenofobia. Nenhum tribunal penal do mundo define algo assim como crime [à exceção da Bélgica]. Assim, trata-se de uma nova espécie de crime, e já fomos avisados. Um funcionário do governo britânico nos disse que aqueles que forem contra a imigração descontrolada do Terceiro Mundo serão considerados racistas e os que se opuserem a uma maior integração européia serão tidos por xenófobos. Acho que Patricia Hewitt disse isso publicamente.
Já fomos, portanto, avisados. Nesse ínterim, eles estão introduzindo mais e mais ideologia. A União Soviética era um estado controlado por uma ideologia. A ideologia hodierna da União Européia é social-democrática, estatista, e grande parte dela é também do politicamente correto. Eu observo com muita atenção como o politicamente correto se dissemina e se torna uma ideologia opressora, sem falar no fato de que agora estão proibindo fumar em todo lugar. Veja a perseguição de pessoas como aquele pastor sueco que foi perseguido vários meses por dizer que a Bíblia não aprova o homossexualismo. A França promulgou a mesma lei de discurso de ódio a respeito dos gays. A Inglaterra está promulgando leis de discurso de ódio para relações raciais e agora para o discurso religioso, e assim por diante. O que se observa, em perspectiva, é a introdução sistemática de ideologia que poderá mais tarde ser imposta com medidas opressoras. Aparentemente esse é o único propósito da Europol. Do contrário, por que precisaríamos dela? Para mim a Europol parece muito suspeita. Eu observo atentamente quem é perseguido por qual motivo e o que está acontecendo, porque esse é um assunto no qual sou especialista. Eu sei como desabrocham os Gulags.
Parece-me que estamos vivendo um período de desmantelamento rápido, sistemático e bastante consistente da democracia. Veja essa Lei da Reforma Legislativa e Regulatória. Ela faz de ministros legisladores que podem introduzir novas leis sem mais se preocupar em comunicar ao Parlamento ou a qualquer pessoa. Minha reação imediata foi perguntar por que precisamos disso. A Grã-Bretanha sobreviveu a duas guerras mundiais, à guerra contra Napoleão, à Armada Espanhola, sem mencionar a Guerra Fria, quando nos diziam que a qualquer momento podíamos ter uma guerra nuclear mundial, sem qualquer necessidade de introduzir esse tipo de legislação, sem a necessidade de suspender nossas liberdades civis e introduzir poderes emergenciais. Por que precisamos dela justo agora? Isso pode transformar nosso país numa ditadura a qualquer momento.
A situação atual é muito grave. Os principais partidos políticos foram completamente tomados pelo novo projeto de união européia. Nenhum deles chega realmente a se lhe opor. Eles tornaram-se muito corruptos. Quem vai defender nossas liberdades? É como se estivéssemos marchando para uma espécie de colapso, para uma crise. A inabilidade de criar um ambiente competitivo, a regulamentação em excesso da economia, a burocratização, tudo isso está levando ao colapso econômico. A introdução do euro, em particular, foi uma idéia maluca. A moeda não deve ser política.
Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Haverá um colapso da União Européia muito parecido com o da União Soviética. Mas não se esqueça de que quando essas coisas entram em colapso elas deixam uma tal devastação que leva uma geração para recuperar. Pense apenas no que acontecerá se uma crise econômica ocorrer. A recriminação entre nações será gigantesca. Pode levar à guerra. Veja a quantidade enorme de imigrantes do Terceiro Mundo que hoje vivem na Europa. Isso foi promovido pela União Européia. Que acontecerá com eles se houver um colapso econômico? Provavelmente teremos, tal como no final da União Soviética, tantos conflitos étnicos que é difícil imaginar. Em nenhum outro país houve tais tensões étnicas como na União Soviética, com exceção talvez da Iugoslávia. Isso é o que vai exatamente acontecer aqui também. Temos de estar preparados para isso. Esse enorme edifício de burocracia vai desabar sobre nossas cabeças.
Eis porque, e sou bastante franco a respeito, quanto mais cedo terminarmos com a União Européia melhor. Quanto mais cedo ela desabar, menos dano causará em nós e em outros países. Mas temos de ser rápidos, porque os eurocratas estão se movimentando rápido. Será difícil derrotá-los. Hoje ainda seria simples. Se hoje um milhão de pessoas marcharem em Bruxelas, esses sujeitos fugirão para as Bahamas. Se amanhã metade da população inglesa recusar-se a pagar impostos, nada acontecerá e ninguém irá para a cadeia. Hoje ainda é possível fazer isso. Mas eu não sei como vai ser a situação amanhã com uma Europol completamente aparelhada e plena de funcionários vindos da Stasi ou da Securitate. Tudo pode acontecer.
Estamos perdendo tempo. Temos de derrotá-los. Temos de sentar e pensar, imaginar uma estratégia de curtíssimo prazo para alcançar o máximo efeito. Do contrário será tarde demais. Então que devo dizer? Minha conclusão não é otimista. Até agora, embora tenhamos algumas forças anti-União Européia em quase todos os países, isso ainda não basta. Estamos perdendo, e desperdiçando nosso tempo.”
(Vladimir Bukovsky, transcrição de Paul Belien de um discurso proferido em Bruxelas em 2006)