Magnard não sabe para onde ir com o brucknerismo que adotou. É o caso em que um atavismo coletivo se choca com o gosto individual. Parece colocar os tutti nos lugares mais errados, seus pianíssimos não convencem e não tem o senso dramático que o mestre austríaco expressa em suas obras com tanta solidez. Seu espírito francês prefere ficar rodopiando ao redor de idéias desinteressantes até que passado tempo suficiente ele cria uma coda fácil e fecha o que já devia há muito ter terminado. Não sente que deva haver uma teleologia na obra musical, como há em todo discurso humano. Deve haver uma orientação em direção a um fim, um encadeamento lógico rumo a uma peroração. Magnard gira em torvelinhos falsamente agônicos: sua escrita clama aos céus por uma resolução que nem a coda é capaz de dar. O resultado é muita atividade sem propósito, muito cromatismo gasto em vão. Os contrastes não contrastam, as passagens supostamente líricas não encantam e os trechos rítmicos não chamam a atenção porque há um problema fundamental escondido por trás de toda essa movimentação inútil. O maestro e compositor austríaco Karl Rankl dizia que, quando compunha, ele procurava ter sempre uma idéia definida de para onde se dirigia sua obra, e só colocava as notas no papel quando essa imagem de totalidade já estivesse bastante clara diante de seus olhos; um exemplo que infelizmente parece ter escapado totalmente ao espírito de Magnard e que explica em parte porque os franceses preferiram, em seu modernismo, adotar as meditações extáticas e descritivas do impressionismo.