sexta-feira, 16 de julho de 2010

O papel escatológico de Israel


“Todas as páginas do Novo Testamento mostram uma intensa reflexão sobre a segunda vinda de Cristo. É um afresco descrevendo a peregrinação da Igreja por esta última fase da história e os sofrimentos com que ela se defronta no momento conclusivo destes tempos derradeiros que lançam seu último e mais intenso ataque. Graças a Paulo e sua meditação teológica de profundo significado, podemos, de certo modo, captar da história os sinais que indicarão quando a segunda vinda estiver prestes a acontecer. Segundo o Apóstolo, a vinda do Messias em glória detém-se a cada momento da história até Seu reconhecimento por todo Israel.
O capítulo onze da Epístola aos Romanos é uma profunda reflexão sobre o papel de Israel na história da salvação. Segundo São Paulo, o povo eleito de Israel tem um papel a cumprir precisamente com relação ao fim dos tempos: “Porque, se de sua rejeição resultou a reconciliação do mundo, qual será o efeito de sua reintegração, senão uma ressurreição dentre os mortos?” (Rom 11:15) Paulo lamenta que parte do povo eleito tenha se endurecido em sua descrença quanto a Jesus. No plano misericordioso de Deus, contudo, a rejeição deles obteve a graça da redenção. Se sua rejeição resulta na salvação do mundo, que significado terá sua aceitação, senão a admissão do mundo na glória do Cristo ressuscitado? Em outras palavras, o reconhecimento de Jesus como Messias e Senhor pelo povo judeu significará que a história humana terá chegado ao fim.
Essa certeza de fé já estava bem estabelecida na primeira comunidade cristã. Pedro, já antes de Paulo, alude à mesma em sua pregação aos judeus de Jerusalém depois de Pentecostes: “Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para serem apagados os vossos pecados. Virão assim da parte do Senhor os tempos de refrigério, e ele enviará aquele que vos é destinado: Cristo Jesus. É necessário, porém, que o céu o receba até os tempos da restauração universal, da qual falou Deus, outrora, pela boca de seus santos profetas” (At 3:19-21).
Qual é a origem da certeza de fé da Igreja Apostólica que liga intimamente a segunda vinda de Cristo à conversão de todo Israel? Os Evangelhos bem refletem essa idéia quando Jesus, meditando sobre a rejeição de Jerusalém, prevê a destruição do Templo, que é, por sua vez, um sinal profético dos sofrimentos no fim dos tempos: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne seus pintinhos debaixo de suas asas...e tu não quiseste! Pois bem, a vossa casa vos é deixada deserta. Porque eu vos digo: já não me vereis de hoje em diante, até que digais: Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor” (Mt 23:37-39).
Podemos concluir que, na perspectiva católica do fim dos tempos, a vinda de Cristo em glória está intimamente ligada à sua aceitação pelo povo eleito de Israel. Isso implica que só haverá o fim do mundo após a conversão dos judeus? Sobre esse ponto afirma o Catecismo da Igreja Católica: “A entrada da "plenitude dos judeus" na salvação messiânica, depois da "plenitude dos pagãos”, dará ao Povo de Deus a possibilidade de "realizar a plenitude de Cristo" (Ef 4, 13), na qual "Deus será tudo em todos" (1Cor 15,28).” Isso significa que não é possível supor que o fim dos tempos e a vinda de Cristo como juiz podem acontecer sem Sua aceitação por todo Israel. O “fiat” de Maria tornou possível Sua primeira vinda na humildade da carne. A aceitação de Israel tornará possível Sua segunda vinda em poder e glória.”
(Pe. Livio Fanzaga, Wrath of God)

Nenhum comentário:

Postar um comentário