“A língua grega é muito mais rica e sutil que o inglês para as distinções filosóficas, e o grego tem duas palavras para tempo, não apenas uma.
Kronos significa o tempo medido objetiva, impessoal e matematicamente pelo movimento da matéria inconsciente através do espaço. Por exemplo, um dia de
kronos dura sempre exatamente 24 horas, o tempo que leva para a terra girar em torno do próprio eixo.
Kairos, por sua vez, é tempo humano, tempo vivido, tempo experimentado, o tempo teleológico, medido pela consciência humana, que se lança para um futuro que ainda não é, mas que se planeja. Somente
kairos sabe algo de metas e valores.
(...) A razão por que creio que somente o espírito pode progredir é porque apenas o espírito vive em
kairos. Pois somente
kairos toca a eternidade, conhece a eternidade, busca a eternidade. Progresso não significa mera mudança, mas mudança em direção a um objetivo. A mudança é relativa e instável, mas o objetivo é absoluto e permanente. Caso contrário, se o objetivo mudasse com o movimento para alcançá-lo, não poderíamos mais falar de progresso, mas somente de mudança.
(...) Pense em um círculo, por exemplo uma torta, com um segmento, um pedaço de torta, nele. O segmento é
kairos, tempo vivido, tempo de vida. A circunferência é
kronos.
Kronos limita quanto de
kairos existe (e. g. 80 anos), mas não determina a outra dimensão de
kairos, a dimensão do progresso. Progresso significa chegar mais perto da meta, que em minha imagem geométrica é simbolizada pelo centro do círculo, que poderia ser a eternidade, a permanência. Somente na dimensão de
kairos, i.e. na dimensão espiritual, podemos falar significativamente de progresso. A única coisa que
kronos pode fazer é circular infinitamente ao redor do centro e limitar a quantidade de qualquer segmento de
kairos, mas a circunferência é eqüidistante do centro. Isso simboliza o fato de que nosso tempo vivido, nosso tempo de vida, pode-se mover em direção à eternidade, mas tempo puramente material não pode. Você se aproxima de Deus com santidade, não com idade. O mundo se aproxima de Deus com espiritualidade melhorada, não com materialidade melhorada. E Deus é a meta, a medida de progresso.
(...) Quando falamos de progresso moderno, não queremos dizer progresso em felicidade, em contentamento, em paz de espírito. Nem queremos dizer progresso em santidade e perfeição moral ou sabedoria. Falamos prontamente do “conhecimento moderno”, mas nunca da “sabedoria moderna”. Ao invés, nós falamos de “sabedoria ancestral”. Pois a sabedoria é para o conhecimento o que
kairos é para
kronos: a dimensão espiritual, intencional, teleológica e moral.
Incidentalmente, esse ponto a respeito de
kairos e
kronos nos liberta não apenas do culto ignorante ao não-existente deus “Progresso”, mas também do desejo ignorante de estar “atualizado”. Uma data, sendo simplesmente
kronos, não tem caráter. É quase nada. É uma linha unidimensional, a circunferência. Uma linha não pode ter cor. Somente
kairos, somente um segmento bidimensional do círculo, pode ter caráter e cor. Como uma data é apenas um ponto na circunferência, ela não tem caráter. Nada pode jamais ser realmente “atualizado”. Que fútil perseguição ao inalcançável é nosso desejo de estarmos “atualizados” ou sermos “contemporâneos”! Que desperdício de paixão e amor e energia!”
(Peter Kreeft,
C. S. Lewis for the Third Millennium)
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