“Na hora de responder às perguntas das pessoas sobre religião, a lábia é o grande perigo. Não responderei às tuas, porque a elas tu mesma podes responder; mas dar-te-ei, se te interessares, minha própria visão delas. Toda tua insatisfação com a Igreja me parece que procede de uma insuficiente compreensão do pecado. Isso talvez te surpreenda, porque és muito consciente dos pecados dos católicos; no entanto, parece que o que pedes é que a Igreja traga o reino dos céus à terra agora mesmo, que o Espírito Santo se encarne imediatamente. O Espírito Santo raramente se mostra na superfície de algo. Estás pedindo que o homem volte imediatamente ao estado em que Deus o criou, estás deixando de lado o terrível orgulho que está na raiz do homem e que causa a morte. Cristo foi crucificado na terra e a Igreja é crucificada no tempo, e crucificada por nós mesmos, mais particularmente por seus membros, porque a Igreja é uma Igreja de pecadores.
Cristo nunca disse que a Igreja iria agir de forma inteligente ou imaculada, e sim que não ensinaria algo errôneo. Isso não quer dizer que um sacerdote não possa ensinar algo errôneo, e sim que a Igreja toda, falando através do Papa, não ensinará nada errôneo em matéria de fé. A Igreja está fundada sobre Pedro, que negou Cristo três vezes e não pôde caminhar sobre a água sozinho. Tu esperas que seus sucessores caminhem sobre a água. Toda a natureza humana resiste vigorosamente à graça, porque a graça nos transforma e a mudança é dolorosa. Os sacerdotes resistem tanto quanto os outros. Para que a Igreja fosse o que tu queres, deveria haver uma contínua intervenção de Deus nos assuntos humanos, enquanto nossa dignidade consiste em que se nos permite avançar em maior ou menor grau com essas graças que nos chegam mediante a fé e os sacramentos, e que agem através de nossa natureza humana. Deus escolheu agir dessa maneira. Não podemos entendê-lo, mas não podemos rejeitá-lo sem rejeitar a vida.”
(Flannery O’Connor, The Habit of Being)
Padre ¿por qué me has abandonado? (II)
Há 6 horas
Brilhante como escritora, brilhante como cristã. Não tenho dúvidas em considerar Flanery O'Connor a maior escritora de ficção do século XX. Quanto à sua dimensão de católica, infelizmente, pouco conheço, mas se estiver ao nível da obra ficcional é qualquer coisa de absoluto.
ResponderExcluirNão tenho lido nada de sua biografia que desmereça Flannery enquanto católica. Pelo que sei, foi exemplar, mas tal julgamento cabe a Deus somente, e espero sinceramente que ela tenha alcançado o que todos nós católicos mais desejamos, que é estar junto a Deus depois deste exílio.
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