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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Pe. Jean de Morgon: Não ao acordo canônico antes de um acordo doutrinal

“Se Monsenhor Freppel assinalava com razão que o abandono dos princípios conduz inevitavelmente à catástrofe, o cardeal Pie nos deixa uma esperança ao afirmar que um pequeno número de reclamantes é suficiente para salvar sua integridade e manter a oportunidade de um restabelecimento da ordem. Desde o mês de julho de 2012, o capítulo dos superiores da FSSPX parece haver repudiado um princípio que havia mantido firmemente até então, a saber, que não é possível contemplar um acordo prático com o Vaticano, antes que a questão doutrinal se resolva.
No 13 de outubro seguinte, Mosenhor de Galarreta teve por bem nos explicar que:
O que se fez foi voltar a tomar toda a questão doutrinal e litúrgica para fazê-la uma questão prática.
A ordem já não se respeita e não podemos senão temer a advertência de São Pio X:
Se a regra parece um obstáculo para a ação, diz-se que dissimular e transigir facilitam o êxito: então se esquecem as regras seguras, se obscurecem os princípios sob o pretexto de um bem que não é senão aparente. Que restará desta construção sem fundamentos, construída sobre a areia?
O objetivo de nosso estudo é então demonstrar, baseando-nos na Revelação, na Tradição e nas declarações concordantes dos quatro bispos consagrados por Monsenhor Lefebvre junto com este, que o princípio mencionado é absolutamente católico, e não pode sofrer nem o abandono, nem a exceção, sendo querido por Deus mesmo, e não forjado por algum pensador tradicionalista alérgico a qualquer acordo.
I – A Revelação
Tanto no Antigo como no Novo Testamento, é a vontade firmíssima e explícita de Deus que os homens aos quais se digna gratificar com sua doutrina pura e verdadeira se abstenham absolutamente de associar-se com os que professam uma diferente, com risco de prevaricar.
É a primeira recomendação que Ele quer fazer a Moisés, quando conclui a aliança com ele:
Guarda-te de fazer algum pacto com os habitantes da terra em que vais entrar, para que sua presença no meio de vós não se torne um laço. Derrubareis os seus altares, quebrareis suas estelas...” (Êxodo, 34, 12)
Nosso Senhor, por sua vez, freqüentemente advertirá seus discípulos contra o fermento da doutrina dos fariseus e dos saduceus (MT 16,6; Mc 8, 15), contra os profetas falsos vestidos de pele de ovelha (MT 7, 15) que induzirão muitas pessoas ao erro (MT 24, 11) e até os eleitos se isso fosse possível (Mt 24, 24).
Os Apóstolos estarão tão marcados por estas advertências do divino Mestre, que as transmitem com força a seus próprios discípulos:
-“Rogo-vos, irmãos, que desconfieis daqueles que causam divisões e escândalos, apartando-se da doutrina que recebestes. Evitai-os! Esses tais não servem a Cristo nosso Senhor”. (Rom, 16, 17-18)
-“Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado!” (Gal. 1, 9)
-“Se alguém vier a vós sem trazer esta doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis. Porque quem o saúda toma parte em suas obras más”. (2 João 10)
Poderíamos acrescentar outras passagens da Escritura, mas essas são bastante suficientes, estando ditadas pelo Espírito Santo, para convencer-nos que o dever de evitar os fautores da heresia é de direito divino.
II – A Tradição
Os primeiros Padres da Igreja não podiam esquecer estes anátemas doutrinais, e não podem senão repetir em todas as cores a exortação de São Paulo:
Fugi do herege!” (Tito 3, 10)
Fugi dos hereges, eles são os sucessores do diabo que conseguiu seduzir a primeira mulher.” (Santo Inácio de Antioquia)
Fugi de todos os hereges!” (Santo Irineu)
Fugi do veneno dos hereges!” (Santo Antão do deserto)
Não te sentes com hereges!” (Santo Efrém)
E São Vicente de Lérins nos diz:
O Apóstolo ordena esta intransigência a todas as gerações: sempre haverá que anatemizar aqueles que têm uma doutrina contrária à recebida”. É por isso, que no século XIX, Dom Guéranger escreverá a Monsenhor de Astros:
Um dos meios de conservar a fé, uma das primeiras marcas de unidade, é fugir dos hereges”.
Efetivamente, esta “primeira marca da unidade” concerne evidentemente à unidade de fé, a primeira nota característica da Igreja católica, que não pode ter senão “Um só Senhor e uma só fé” (Efésios 4, 5). Esta mesma Igreja adverte solenemente aos futuros subdiáconos assim:
Permanecei firmes na verdadeira fé católica, pois segundo o Apóstolo, tudo aquilo que não provém da fé é pecado (Rom. 14, 23), cisma, estranho à unidade da Igreja”.
Também para melhor compreender não somente a antiguidade, mas sobretudo o caráter absoluto de nosso princípio, deve-se conservar bem gravado em nosso espírito que durante mais de dois mil anos de cisma entre os bizantinos e Roma, jamais, sem exceção, se concluiu um só acordo canônico com as Uniatas antes que houvessem reconhecido a doutrina católica sobre os dogmas controversos (Filioque, Primado do Papa etc).
Isto é o que recordou o Cardeal Ottaviani, Prefeito do Santo Ofício, na véspera do Concílio:
Uma vez reconhecida a verdade, esta verdade sobre a qual a Igreja não pode transigir, todos os filhos que regressem a ela encontrarão esta Mãe disposta a todas as generosidades que Ela pode acordar em matéria de liturgia, de tradições, de disciplina e de humanidade” (Itinéraires nº 70, pág. 6).
III – As declarações de nossos bispos
MONSENHOR LEFEBVRE: “Supondo que Roma nos chamasse, que nos quisesse receber, voltar a falar, então seria eu quem poria as condições. Já não me aceitaria encontrar na situação em que nos deixaram os colóquios. Isso já terminou. Eu colocaria a questão no plano doutrinal. “Estão de acordo com as grandes encíclicas de todos os Papas que lhes precederam? (...) Se não aceitam a doutrina de seus predecessores, então é inútil falar. Enquanto não aceitem uma reforma do Concílio tendo em conta a doutrina desses Papas que lhes precederam, não há diálogo possível. É inútil. As posturas seriam mais claras”. (Fideliter nº 66, nov-dez de 1988)
MONSENHOR WILLIAMSON: “O maior desafio para a Fraternidade nos próximos anos será compreender a primazia da doutrina, de tomar a medida de todas as coisas e de orar em conseqüência. Em nosso mundo sentimental, a tentação constante é a de seguir os sentimentos. Não seguir os sentimentos é o que caracterizou Monsenhor Lefebvre, e sim, neste respeito, nós não o imitamos, a Fraternidade seguirá o caminho da carne, quer dizer, nos braços dos destruidores (objetivos) da Igreja. (...) Doutrina, doutrina, doutrina!” (Angelus Press, 21 de junho de 2008)
MONSENHOR FELLAY: “A clara percepção da questão chave que acabamos de descrever nos proíbe de pôr em um mesmo plano as duas questões. É tão claro para nós que a questão da fé e do espírito de fé é tão primordial, que não podemos contemplar uma solução prática enquanto a primeira questão não encontrar uma segura solução” (...)
“Cada dia nos traz provas suplementares da necessidade de clarificar ao máximo as questões subjacentes (de doutrina) antes de ir mais além em uma solução canônica, que no entanto não nos é desagradável. Mas há uma ordem na natureza, e inverter as coisas nos colocaria inevitavelmente em uma situação insuportável; temos a prova disso todos os dias. O que está em jogo é nada mais nada menos que nossa existência futura
” (LAB nº 73 do 23 de outubro de 2008).
MONSENHOR DE GAGARRETA: “Há evidentemente uma vontade de nos comover, de nos atemorizar exercendo pressão no sentido de um acordo meramente prático, que foi sempre a proposta de Sua Eminência (o cardeal Hoyos). Evidentemente, vocês já conhecem nossa forma de pensar. Este caminho é um caminho morto; para nós, é o caminho da morte. Portanto para nós não é questão de segui-lo. Não podemos nos comprometer a trair a confissão pública da fé. Isto não está em questão. É impossível” (Sermão do 27 de junho de 2008 em Ecône).
Não chegou o momento de mudar a decisão do Capítulo de 2006: Não ao acordo prático sem solução da questão doutrinal” (Informe lido no Capítulo de Albano, 7 de outubro de 2011, difundido por Tradinews).
MONSENHOR TISSIER DE MALLERAIS: “Recusamo-nos a um acordo meramente prático porque a questão doutrinal é primordial. A fé vem antes da legalidade. Não podemos aceitar uma legalização sem que o problema da fé seja resolvido. (...) Trata-se de uma nova religião que não é a religião católica. Com esta religião, nós não queremos nenhum compromisso, nenhum risco de corrupção, inclusive nenhuma aparência de conciliação, e é esta aparência que daria nossa suposta ‘regularização’” (Entrevista a Rivarol do 1º de junho de 2012).
Conclusão
O princípio: “Não ao acordo canônico antes de um acordo doutrinal” é um princípio:
- fundado na Palavra de Deus que nos proíbe formalmente nos associarmos com os que professam uma doutrina diferente da transmitida pela Igreja, “coluna e fundamento da verdade” (1 Tim. 3, 15), em particular por mais de dois mil anos em suas discussões com os cismáticos orientais;
-absoluto, sem sofrer rodeios, redução ou exceção, porque concerne à “ordem da natureza” como justamente escreveu Monsenhor Fellay em outro tempo, e não a um processo convencional.
Em conseqüência. Se é verdade que ninguém se recupera do abandono dos princípios, sobretudo os mais graves porque relacionados à fé, devemos hoje em dia mais do que nunca não somente manter este princípio, mas cuidar para que não seja esquecido, alterado ou evitado, e proclamá-lo, faça chuva ou faça sol, a todas as almas de boa vontade.
Que os Santíssimos Corações de Jesus e de Maria venham em nosso auxílio no verdadeiro combate da fé, e nos guardem sempre em Seu amor!”

http://nonpossumus-vcr.blogspot.com.br

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Padre Jean de Morgon: A Resistência é uma questão de princípios

“São Paulo nos disse, na Epístola aos Gálatas, que Se alguém pregar um evangelho diferente do que haveis recebido, seja anátema. Portanto, não é possível estar em paz com alguém que tem outra doutrina, outro Evangelho. Permitam-me então partir desta palavra de Deus para tratar de aplicá-la à situação atual, de hoje.
Devemos ter a preocupação de pregar a palavra de Deus, a Verdade, e aplicá-la ao tempo presente. Creio que vocês estejam a par dos acontecimentos que abalam o mundo da Tradição. Se não estão, comunico-lhes rapidamente. Alguns sacerdotes deixaram a Fraternidade e também comunidades amigas, as quais tomaram distância das autoridades da Fraternidade.
Tenho a permissão de meu superior de pregar hoje sobre este tema, de explicar-lhes por que esta divisão. É muito importante compreender, pois esta divisão visível, sensível, é resultado de uma divisão muito mais profunda, mais grave, sobre a qual quero falar. É uma divisão dos princípios. É muito importante compreendê-lo, não é uma divisão de pessoas, é uma questão de princípios.
À saída da Missa, vocês encontrarão cópias de um texto que escrevi há algum tempo. Não está assinado, mas fui eu quem o redigiu e assumo a responsabilidade.
Na primeira parte quero demonstrar que nós devemos ser pessoas de princípios. Na segunda parte, quero demonstrar-lhes que se depois de cinqüenta anos nós estamos na Resistência, no combate pela Fé e a Tradição, é porque somos homens de princípios; e em terceiro lugar quero aplicar isto ao que ocorre atualmente; há um problema de princípios na Tradição.
Primeiro ponto: Devemos ser pessoas de princípios.
Baseamo-nos nos ensinamentos do Papa Pio IX, em 1871 disse aos franceses que, desde a Revolução, já não têm a bênção de Deus pois alteraram os princípios. Depois São Pio X em sua encíclica Pascendi que disse que quando se alteram os princípios por menos que seja, as conseqüências são enormes. Depois o Papa Pio XII, recebendo os franceses, disse-lhes que a França não se levantará até que os católicos sejam homens de princípios, homens de doutrina, homens com formação.
Depois citarei o grande Cardeal Pie, que fez um sermão para explicar a seus diocesanos que a Igreja sempre foi intransigente com os princípios, e tolerante na prática com as pessoas. E o mundo, os liberais, são totalmente o contrário: São tolerantes com os princípios e intolerantes na prática. Isto é o que explica o Cardeal Pie.
E Monsenhor Freppel diz que quando abandonamos os princípios, é a ruína. Eles também nos dizem que todas as revoluções não se fazem pelas pessoas, mas que são batalhas pelos princípios.
Portanto, devemos ser homens de princípios, os Papas dizem, a Igreja diz. Se somos homens de interesse, se colocamos os princípios embaixo de nós, de nossos interesses, então vamos à catástrofe, não estamos fazendo a vontade de Deus.
Os princípios não são obrigatoriamente dogmas de fé. Mas se não os respeitamos, há graves conseqüências. Na França e na Inglaterra há um princípio para conduzir em um mesmo sentido pela rua. Embora na Inglaterra conduzam pela esquerda e nós, pela direita. Mas o princípio é o mesmo. E se não queremos respeitar esse princípio, vamos à catástrofe. Assim são os princípios, não necessariamente são dogmas de fé, mas é um princípio que se não respeitamos, vamos à catástrofe, ao acidente.
Segundo ponto: Quero demonstrar que na Tradição, na Resistência que levamos a cabo apesar de nós, resistência ao Papa, aos bispos, é porque é uma questão de princípios. Não estamos contra o Papa, não estamos contra os bispos, pelo contrário, estamos contra seus falsos princípios. Sim. E dou-lhes um exemplo para compreender rapidamente: O Concílio Vaticano I impôs um princípio: Tudo aqui embaixo está ordenado para a glória de Deus. Princípio que é dogmático, está na Sagrada Escritura. O Vaticano I não inventou nada declarando isto. O Vaticano I só recorda o princípio de que tudo aqui embaixo está ordenado e foi criado para a glória de Deus. Mas o Vaticano II colocou outro princípio: Tudo aqui embaixo está ordenado para o homem. Impuseram outro princípio. E Monsenhor Lefebvre, o Padre Calmel, e outros, não aceitaram este novo princípio. Queridos fiéis, dirijo-me aos mais antigos na Tradição dentre vocês, vocês não aceitaram o novo princípio tampouco, pois a nova religião que ordena tudo ao homem ocasionou que vocês se surpreendessem quando, chegando à sua igreja, já não viram o Sacrifício da Missa, e seu sentido católico, inclusive sem conhecer o princípio, fez com que não quisessem voltar à nova missa. Foi graças a estes pioneiros na Tradição que estamos no bom combate pela Fé; se não fosse por Monsenhor Lefebvre e tantos outros, não estaríamos aqui. E eles foram homens de princípios, que não quiseram transigir. Vocês devem saber que Monsenhor Lefebvre não quis nenhuma vez em sua vida celebrar a nova missa. Foi pressionado por alguns, mas Monsenhor era um homem de princípios e se essa missa é má, ele sempre disse: “Não, eu não a vou celebrar!”, nem uma só vez o fez. Se Monsenhor Lefebvre tivesse sido um homem de interesse, teria dito: podemos resolver as coisas, estas pessoas são muito amáveis, elas me darão uma capela, vamos poder resolver as coisas. Outro exemplo: quando o rei da Inglaterra quis se divorciar, o Papa lhe disse que não, não podia se divorciar. O Papa teria podido dizer que sim, é um rei católico, a Inglaterra continuará sendo católica etc. Mas não, não era possível, e como resultado o rei se separou da Igreja e deu-se o cisma. Mas é uma questão de princípios, não podemos fazer um mal para conseguir um bem, disse São Paulo. Não podemos deixar de lado um princípio querido por Deus por um interesse passageiro ou particular contra o bem comum.
Podemos citar muitos outros exemplos. Agora resumo o segundo ponto: Os antigos foram fiéis aos princípios e graças a eles estamos aqui, lutando o bom combate.
Terceiro ponto: Sua aplicação na atualidade.
Onde se situa o problema? Onde se situa a divisão? Não é uma questão de sacerdotes ou de comunidades religiosas amigas. A divisão está nos espíritos em nosso mundo da Tradição. Nos priorados, nos conventos, está nos espíritos, os quais professam um princípio que mantiveram por muitos anos, que Monsenhor Lefebvre nos legou, e agora este princípio já não está mais, e este é o problema. Agora, qual é este princípio? É o princípio de que não podemos firmar um acordo prático com as autoridades romanas se antes não estamos de acordo sobre a doutrina, se não professamos a mesma Verdade. E este é um princípio católico. Vejam as cópias que coloquei à sua disposição, leiam-nas, ali demonstro que é um princípio católico fundado na Sagrada Escritura, nos Padres da Igreja, fundado também na prática da Igreja, a qual é a atitude do Papa diante, por exemplo, dos ortodoxos que, depois do grande cisma, discutiram com Roma para voltarem a se reunir com um acordo prático, mas a Igreja sempre insistiu na questão da doutrina. Sempre. O Primado do Papa e o Filioque. E os acordos que houve com alguns ortodoxos gregos ou russos, eles se tornaram católicos, Roma nunca transigiu com a doutrina. Nunca. Roma sempre foi muito firme na doutrina. Primeiro a doutrina e depois as questões práticas, a questão litúrgica, por exemplo. Mas na Fé não se transige. A Igreja é de fato intolerante com a doutrina, é a Fé, ela não nos pertence, é um depósito que recebemos e não temos direito de tocá-lo. Nem sequer o Papa.
Então, nosso problema atual. Durante anos, e até as consagrações episcopais, Monsenhor Lefebvre buscou as discussões com Roma. Desde 1975, depois da condenação injusta – e nula – de Roma à FSSPX, até 1988, Monsenhor Lefebvre era chamado a Roma e discutia – sobre doutrina. Depois quis um acordo prático cuja assinatura retirou no dia seguinte. Então por isso se pode citar Monsenhor no sentido de ir a Roma, de fazer a experiência da Tradição etc. Mas deu-se conta – inclusive o disse – que havia ido demasiadamente longe com o Protocolo de acordo de 1988, foi muito longe pois transigiu na doutrina, colocou a prática primeiro, ele reconheceu. E depois afirmou que se fosse ter novos colóquios com Roma, era ele quem colocaria as condições (Fideliter 66). Portanto, a posição de Monsenhor Lefebvre desde as consagrações até sua morte é que por princípio diria a Roma se concordava com as encíclicas dos Papas. Dir-lhes-ia: “Está de acordo com esta encíclica? Quanta Cura, Mortalium Animos, etc. etc. etc. Está de acordo com as encíclicas de seus predecessores? E a segunda condição que é muito importante: Está de acordo com reformar o Vaticano II com base nestas encíclicas? Porque o Vaticano II diz o contrário de Mortalium Animos, por exemplo. Está de acordo não somente com a doutrina de seus predecessores, mas também mudar ou fazer retornar o Vaticano II sobre esses pontos principais? Eu não invento nada, está em Fideliter 66. E outras declarações de Monsenhor Lefebvre, por exemplo em Flavigny: Não podemos nos entender até que tenham recoroado Nosso Senhor, que afirmem que Ele deve reinar na sociedade.
Retenhamos então, queridos irmãos, que Monsenhor Lefebvre – depois das consagrações – até sua morte se manteve firmemente neste princípio: Eu colocaria minhas condições – a doutrina. Os ensinamentos dos papas: estão de acordo ou não? Se não estão, inútil dialogar. Isto está escrito em Fideliter 66. Inútil discutir. Inútil! Se não estamos de acordo sobre a doutrina, inútil falar da questão prática. Isto é o que Monsenhor Lefebvre nos legou. E nosso mundo da Tradição sempre esteve perfeitamente unido enquanto este princípio se manteve.
Nas cópias que lhes ofereço se encontram as declarações dos cinco bispos que defendem este princípio. Claramente, Monsenhor Fellay em uma carta aos amigos e benfeitores, em outubro de 2008, afirma este princípio na ordem da natureza: “Mas há uma ordem da natureza, e inverter as coisas nos colocaria inevitavelmente em uma situação insuportável; temos a prova disso todos os dias. O que está em jogo é nada mais nada menos que nossa existência futura.”
Desgraçadamente, depois de algum tempo, depois de terminar com as discussões romanas, vemos, constatamos como pouco a pouco as autoridades da Fraternidade abandonaram este princípio. Digo-o sem zelo amargo, digo-o pacificamente, estou disposto a assumir as conseqüências do que digo, e não podem discutir comigo pois isto é público. Primeiro começou Monsenhor Fellay pouco a pouco. No Canadá colocou como exemplo os ortodoxos, que fizeram acordos sobre a questão do matrimônio etc. Então para Monsenhor Fellay há exceções aos princípios e pode-se transigir. Mas o assunto do matrimônio dos ortodoxos não é questão de fé, é questão de disciplina, completamente diferente. E Monsenhor de Galarreta, nessa conferência que deu em 13 de outubro de 2012 em Villepreux. Ele disse que era uma questão prática, que todos deveriam estar juntos e que podemos sim contribuir com algo, continuaremos o bom combate no interior, como uma ponta de lança no interior, combateremos do interior. E Monsenhor Tissier em uma conferência recente em Toulon disse que Monsenhor Lefebvre sempre buscou um acordo prático. Eu lhe escrevi dizendo-lhe que é certo que antes das consagrações, há citações de Monsenhor Lefebvre neste sentido, mas depois das consagrações deixou bem claro o princípio que se encontra em Fideliter 66: Serei eu quem colocará as condições, etc. Em setembro de 2013, me respondeu, tenho a carta, e me disse: Monsenhor Lefebvre não era perfeito.
Eu não estou contra ninguém. Não estou contra Monsenhor Fellay, nem contra Monsenhor de Galarreta ou Tissier, são bispos, eles me ordenaram sacerdote, mas o que eu digo são coisas públicas, estão publicadas, o do Canadá, de Villepreux, de Toulon, é público. O que quero é que vocês compreendam o problema que há neste momento. Há uma divisão nos espíritos. Este princípio, que se manteve durante muitos anos, agora foi abandonado. Em 2006, a Fraternidade fez um Capítulo geral onde reafirmou solenemente este princípio. E em 2012, o abandonou. Colocou suas condições nas quais se contempla o acordo prático. E Monsenhor Fellay escreveu a Bento XVI em 16 de junho de 2012 onde deixa de lado os problemas doutrinais que não se resolveram, façamos um acordo prático e depois veremos os problemas doutrinais. E Monsenhor Fellay disse a Bento XVI que tinha a intenção de continuar neste caminho. No 2 de julho seguinte há uma reunião de superiores de religiosos em Paris com Monsenhor Fellay e Monsenhor de Galarreta e os padres dominicanos perguntaram a Monsenhor Fellay: Monsenhor, não pode retornar ao princípio do capítulo de 2006? E respondeu: Não, não. Isso já é passado. Quatro anos antes havia dito que era da ordem da natureza, para a qual não há exceção possível.
Este é então, estimados irmãos, o problema atual. Quis que o compreendessem, não procurei tomar partido nem atacar as pessoas, dei nomes, mas são coisas públicas. Peço que meditem sobre estas coisas para que cada um de nós, em consciência, veja qual é a vontade de Deus neste assunto. Isto é o mais importante: Qual é a vontade de Deus neste assunto.
Estamos em uma guerra de princípios, e o mais importante, o primordial é que se dêem conta que todas as revoluções se fizeram sobre os princípios.
Então os sacerdotes estamos diante de um grave problema de consciência, como disse Monsenhor de Galarreta no Capítulo de Albano em 2011: se abandonarmos este princípio, haverá um grande problema de consciência para os sacerdotes. Ele avisou. Desgraçadamente o que vemos hoje, esta separação dos sacerdotes, é porque estes sacerdotes têm um grave problema de consciência e não são os únicos. Que devo fazer neste momento?
Convido-os a rezarem muito, para que sejamos fiéis a este princípio, o qual estou convencido que vem da vontade de Deus, nesta crise da Igreja quanto a nossas relações com Roma.
A condenação do livro do Padre Pivert é porque ele defende o antigo princípio. Não há que buscar outras causas, é porque defende o princípio que tivemos durante 25 anos e que agora foi abandonado.
Estimados fiéis, espero ter falado em conformidade com Deus. Espero não ter causado nenhuma inquietação em nenhuma alma, ao contrário, deve haver paz. Se estamos convencidos da vontade de Deus, só podemos estar em paz. Inclusive se estamos nas piores situações. Pensemos na Santíssima Virgem ao pé da Cruz, Stabat Mater. Ela não entrou em pânico, estava tranqüila apesar da tortura de seu Filho, seu Coração de Mãe Imaculada, que terá sentido? Ela estava em paz. Não soframos com esta situação na Tradição. Peçamos à Santíssima Virgem estar como Ela ao pé da Cruz, tranqüilos e fazendo a vontade de Deus. Ela esteve tranqüila na Cruz pois sabia que essa era a vontade de Deus. E isso foi suficiente para que Ela estivesse em paz. Peçamos essa graça a Nossa Senhora.”

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