“A completa ausência de personalidades viris na sociedade contemporânea é um fenômeno espantoso. A ojeriza contra virtudes como força e coragem impregnou-se tanto nos espíritos, que se tornou quase um pecado portar-se de maneira mais masculina. A própria opinião pública faz pressão sobre os jovens para que vivam mais o seu "lado feminino". E o resultado disso se reflete não somente no seu vestuário — cada vez mais fresco —, mas também — e mais gravemente — na sua maneira de lidar com conflitos e decisões sérias.
Vejam, por exemplo, o comportamento dos líderes políticos. Com raríssimas exceções, é praticamente impossível encontrar um que inspire segurança e paternidade. Ao contrário, a esmagadora maioria deles parece mais preocupada com a estética diante das câmeras, com o discurso ambíguo e a imagem de bom mocinho, do que com tomadas de decisões objetivas, ainda que estas venham a desagradar a algum grupo.
É claro que todo esse afrouxamento de caráter não se desenvolveu espontaneamente. Tratou-se de um grave equívoco filosófico e teológico, de cujos resultados muitos grupos sedentos por poder têm se aproveitado.
Em sua Análise sobre o homem, o psicólogo Erich Fromm explica que, no século XVIII, a filosofia de Immanuel Kant desenvolveu uma espécie de "consciência culpada". Esse filósofo alemão, piedoso e escrupuloso que era, retirou a moralidade da ordem do amor para colocá-la na ordem da justiça. E, nessa visão, toda ação humana deve ser absolutamente desinteressada; a moral torna-se um "imperativo categórico", ou seja, um dever social que está acima de qualquer direito: mesmo sob uma ditadura, nenhuma pessoa pode reivindicar algo para si. O que Kant conseguiu produzir, por conseguinte, foi "a mais glacial atmosfera ética jamais proposta ao homem".
Notem: o que rege a coragem de um homem para defender sua vida e a de sua família é o amor e a ordem com que ele ama essas mesmas coisas. Mas Kant condenou o amor, chamando-o de interesseiro. Para ele, os homens devem defender suas famílias não porque as amam, mas porque é seu dever. O homem que defende sua família por amor é entendido pela filosofia kantiana como alguém egoísta. Enfim, Kant separou as virtudes da caridade e da fortaleza. E, como dizia Chesterton, as virtudes separadas umas das outras ficam loucas. Sem o motor do amor, na verdade, todas as demais virtudes, como a fortaleza e a justiça, perdem o seu elã e a covardia toma conta do espaço.
Em sua análise, Fromm adverte que essa condenação do amor em nome do puro dever foi assumida pela cultura ocidental, de modo que as pessoas facilmente deixaram de lutar para se submeterem a uma falsa autoridade superior. A cultura contemporânea criou homens passivos e incapazes de qualquer reação viril, porque suas personalidades foram tomadas pelo "amolecimento", pela "docilidade sem virtude", pela "mansidão sem brio", pela "resignação sem mérito". Em poucas palavras: eles deixaram de ser homens.
"Sê enérgico. — Sê viril. — Sê homem. — E depois... sê anjo". Talvez nunca esse conselho de São Josemaria Escrivá tenha valido tanto como nos dias de hoje.”
(Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, Uma Lição de Masculinidade para o Nosso Tempo)
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La Iglesia y su historia
Há 3 dias