quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Don Curzio Nitoglia: Io Non Sono Charlie

“O homem, segundo Aristóteles, é um “animal racional”, feito para conhecer a verdade (princípio especulativo, por si evidente, de identidade e não contradição: “sim=sim, não=não; sim≠não”), e “livre”, feito para amar o bem (princípio prático da sindérese: “faz o bem e evita o mal”). Hoje, os intelectualóides pós-iluministas são todos “Charlie”, quer dizer, intelectualmente sofistas (negação da contradição: “bem=mal”) e moralmente degenerados (perda da sindérese: “malum faciendum, bonum vitandum”), como os caricaturistas parisienses de Charlie Hebdo (“parce defunctis”).
Milhões de pós-europeus finalmente americanizados saem às ruas, arrastados pela sinarquia globalista, para continuar insultando implicitamente a Santíssima Trindade, Jesus, a Virgem Maria, o Papa. Quanto a nós, tratemos de ser homens verazes, que conhecem a verdade e amam o bem, sem ofender e profanar a Divindade.
A ironia* e a sátira são boas, mas devem ser educadas; a vulgaridade, a blasfêmia, o insulto são objetivamente um mal (segundo o oitavo mandamento).
O Ocidente americanista é capaz de matar pela bola, pelo concerto de rock, pela discoteca, pela transgressão, pelas gravidezes não desejadas, pelas enfermidades não suportadas, para importar a democracia, e tudo isso não surpreende a ninguém. Só Deus pode – e mais, deve – ser insultado. A única “religião” que não admite dúvidas, perguntas, demonstrações é a “Shoá”. Certamente, devem-se evitar os excessos da legítima defesa, mas tampouco cumpre animar os que maldizem a Deus e às coisas sagradas.
O iluminismo idealista nos levou a estes paradoxos: 1) a acolhida de etnias e religiões diametralmente opostas à européia (mediterrânea, greco-romana e católica); 2) o insulto que fere e ofende ao que se quis acolher para depois feri-lo, o qual, não havendo perdido sua identidade, responde de maneira agressiva e desproporcional, embora não completamente desprovida de fundamento: “não mistures o sagrado com o profano”.
É mister sermos realistas. O atual estado de degradação do homem (e os fatos parisienses de janeiro de 2015 nos permitem apalpá-lo com as mãos), finalizado pelo niilismo em troca do Deus que o Super-homem havia querido matar – como teorizou Nietzsche – não pode curar-se com remédios naturais. Só a ajuda da Onipotência divina pode remediar tanta ruína. Nem muito menos com as vinhetas, as rajadas de metralhadora e as marchas iluministas e iluminadas. “Esse tipo de demônios só se expulsa com o jejum e a oração”.
Conclusão: sê tu mesmo, animal racional e livre. Faz o bem e evita o mal, isso é todo o homem. Não sejas Charlie ou Charlot, mas um filho de Deus criado à sua imagem e – se vives na graça – à sua semelhança. “Agnosce christiane dignitatem tuam!” Do contrário, “passeia e ri, ó palhaço, e todos aplaudirão”. Cada um escolha o seu caminho.
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*Ironia vem do grego èiròn: aquele que interroga os demais fingindo socraticamente não saber para fazer com que descubram a verdade. Sátira vem do latim sátura e alude a uma composição poética que critica com agudeza as debilidades humanas. Agudeza vem do latim arguere, indicar, demonstrar, e significa espírito sutil, pronto, inteligente, delicado, agradavelmente mordaz. Pelo que, em rigor de lógica, Charlie não é irônico, nem satírico, nem sequer agudo. É ofensivo e insultante, vulgar e desagradável.”

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