quarta-feira, 5 de junho de 2019

Locke nunca teve filhos


“Locke nunca teve filhos. Nem os teve Descartes, Hobbes, Spinoza ou Kant. Rousseau teve filhos mas os deu para adoção. Em outras palavras, o racionalismo iluminista foi uma construção de homens que não tinham experiência de vida familiar ou do que é necessário para fazê-la funcionar.
A maior parte do pensamento político ocidental de hoje gira em torno da teoria de indivíduos livres e atomizados que só assumem obrigações quando consentem.
Esta teoria foi inventada por homens que viveram mais ou menos desta maneira. Mas qualquer um que eduque filhos sabe que esta teoria não é verdadeira. Não sou livre para escolher meus filhos e eles não são livres para me escolherem. Muito frequentemente a obrigação tem pouco ou nada a ver com consentimento.
O mesmo é verdade para a sociedade política de um modo mais geral. Se meus país é atacado, minha obrigação de defendê-lo não surge do consentimento, mas das ligações de lealdade a família e vizinhos e ao modo de vida que herdei. Isto não é verdadeiro para todos, mas é verdadeiro para a maioria.
Até quando estas verdades simples e óbvias serão suprimidas? O racionalismo iluminista ensina uma teoria política feita à imagem de indivíduos solteiros e sem filhos.
Quanto mais as pessoas repetirem os princípios desta teoria política, mais elas vão agir como indivíduos solteiros e sem filhos.
Mas nenhuma nação consegue sobreviver deste jeito. A liberdade dos filósofos solteiros e sem filhos não é algo que as pessoas de uma nação verdadeira possam realmente ter.
Será que não merecemos uma teoria política que se baseie na vida real? Nas coisas de que realmente precisamos, e nas obrigações que realmente temos? Até quando nossas universidades e escolas não terão algo mais inteligente para ensinar que as fantasias dos eternos solteirões do Iluminismo?”
(Yoram Hazony, em postagem no Twitter de 20/05/2019)