segunda-feira, 26 de julho de 2021

Me ne frego

“É uma velha expressão italiana fascista (ouvem as sirenes?) que Mussolini apontou como definindo em grande medida o tipo de atitude que tinha de ser abraçada. Veio-lhe à ideia ao ver a fotografia de um soldado italiano da 1ª guerra mundial que escrevera “me ne frego” (“pouco me importa”…) nas ligaduras das suas feridas com o seu próprio sangue. Canções foram feitas… insígnias, crachás e pins foram desde então arrojadamente marcados com as palavras “me ne frego” sob uma caveira com uma faca (ou uma rosa) entre os dentes.
Independentemente do que se pense sobre as suas origens, é uma expressão inspiradora – estas três palavras resumem o espírito de vitória, a tenacidade do guerreiro. É uma atitude com a qual mais pessoas deveriam crescer. Não permanecer caído. Simplesmente levantar-se, avançar, enfrentando a desesperante noite consciente do fim que se aproxima e, mesmo assim, seguir em frente intrepidamente.
Lembro-me que todas as circunstâncias difíceis que o meu pai conheceu na sua luta por um emprego decente foram enfrentadas com essa atitude – algumas coisas estão fora do nosso controlo, às vezes caímos com a cara no chão… me ne frego!
A hipersensibilidade e a vitimização que as pessoas cultivam põem-me doente.
Em tempos difíceis por que nos voltamos para o Estado? Por que é que procuramos uma esmola? Por que desejamos histórias de compaixão? Não há dignidade em atitudes inativas e de auto-comiseração. Não há dignidade na passividade.
Se nós, humanos, somos também animais, germinados a partir do caos e brutalidade do “Reino da Besta”, como é que chegamos a um ponto tal em que ficamos desprovidos do nosso espírito de luta?
A vida deve ser doce por vezes, mas há também a hora do sangue, a luta pela sobrevivência, a força de seguir em frente na cara da oposição e de sentir a coragem do nosso próprio desespero.
É como Henrik Ibsen escreveu na sua peça “Inimigo do Povo”: o homem mais forte é aquele que permanece mais sozinho e não se importa com o apoio dos outros mas sim com a certeza da sua própria razão e legitimidade para enfrentar as massas indolentes.
Nenhum respeito pelo conformista silencioso que segue a linha dominante de pensamento, aconchegado em segurança no meio de um grupo de que não faz realmente parte. Nenhum respeito pelas massas silenciosas que se deslocam lentamente, como gado, para as tumbas a que todas as nossas vidas conduzem.
Então nasceste gay, então tens uma deficiência, então estás pobre, ou cansado ou vencido. O que importa? Por que vitimizares-te e acusares outros pela tua situação? – Por que não lutar pelo que queres, ignorando as tuas feridas? Por que não lembrá-lo tatuando-o nos teus pulsos, usá-lo numa insígnia da tua manga – por que não seres “Tu” frente aos “Normais”, o coração cheio de orgulho, os olhos cheios de raiva?
Estou farto de histórias de compaixão e farto de pessoas que fingem que a humanidade foi feita para caminhar em bicos de pés sobre cascas de ovo, mimando todas as partes da nossa sociedade.
Estou farto de paz. Estou farto de pessoas que capitulam perante as forças do mal – um bom homem sem coluna vertebral é tão útil como um cavalo coxo. Como é que alguém pode aceitar resignadamente limitações e fraquezas na sua vida pessoal – serão tão patéticos e desprovidos de orgulho ao ponto de viverem de favores, de pão e circo?
As nações morrem quando aceitam a servidão silenciosa e prendas.
Devemos ser prestáveis e solidários para com os outros…mas a noção de sentir pena de si mesmo é desprezível. A pessoa que ajuda e é solidária torna-se o vencedor, o poderoso…aqueles que recebem, parados, sendo ajudados, esses são as criaturas patéticas que precisam de reajustar os seus objetivos e reacender a sua chama.
Deveria existir no ser humano um desejo inato de enfrentar a oposição impossível apenas para provar-se a si mesmo, para se auto-superar, para alcançar o sentimento de triunfo. Acharia difícil acordar sem ver esta vida como uma guerra contra forças desconhecidas e uma longa campanha contra a natureza do próprio mundo…
É triste pensar que estamos numa sociedade que vive de condolências piedosas, oferecendo esmolas de simpatia e subsídios estatais.
Não estou feliz a não ser quando sofro o meu triunfo ou enfrento a minha batalha.
Ganha a tua parte, não peças por nada mais; permanece desafiador na face da derrota. Não peças por nada mais.
Desdenho os pedintes cegos, percorrendo o metro de alto a baixo, à procura de esmolas… há outros, que são cegos, que forjam os seus futuros desafiando as suas deficiências. Entrego-te os meus trocos mas espero que entendas que isso não é forma de viveres a tua vida. Quando recebes a minha simpatia e a minha esmola, deverias sentir vergonha e não satisfação.
Fico enojado por legislação destinada a acriançar e proteger, destinada a criar um terno sentimento de “tolerância” porque tu te sentes isolado ou alienado.
Alguns de nós procuram a alienação social e a fraternidade tribalista porque sentimos que é isso que constrói as nossas identidades e a nossa força, que alimenta o animal dentro de nós e nos garante, na nossa juventude, o nosso espírito fogoso e determinação.
Esta é a tua vida e ao perseguires objetivos tão patéticos provas a tua própria natureza patética.
Me ne frego!
Não consigo respeitar nenhuma pessoa que não me consiga olhar nos olhos e falar com honestidade sobre si mesma, que esconde factos e evita situações desagradáveis preferindo desistir.
Todos deveriam ambicionar ser tão duros quanto possível.
Queixas é o que tu ouves de crianças pré-adolescentes. Olhares duros e obstinada recusa em ser ajudado, determinação estóica e olhares gélidos é o que recebes de pessoas que valorizam as suas vidas e os seus esforços ao ponto de não procurarem a tua ajuda.
Respeito criminosos e gangsters mais do que respeito beneficiários da assistência social.
Quando a vida te dá limões… compra tequilla, esfrega algum sal nas tuas feridas e aperta o teu capacete.
Chega de gerações agarradas às saias das mães, a chorar por leite derramado e a queixarem-se de alienação social.
Não te pedirei que lutes as minhas lutas – mas posso pedir que me emprestes a tua faca.
Desde a mais tenra idade que não receio trocar murros e procurar o conflito com os que me rodeiam. Não preciso de nenhuma lei para me proteger, não preciso de qualquer consideração de burocratas de gravata, não preciso de ser salvo de nada que tenha origem humana.
Me ne frego!”

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