"A partir desta passagem Ário insultou a fé dizendo ser o Pai maior do que o Filho, erro que é refutado, todavia, pelas próprias palavras do Senhor. A afirmação 'o Pai é maior do que eu' só pode ser entendida, de fato, a partir do que Ele disse antes: 'vou para o Pai' . Ora, o Filho não vai ao Pai nem vem a nós enquanto Filho de Deus, porque, como tal, sempre existiu com o Pai desde toda a eternidade: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus' (
Jo 1, 1). Assim, Ele só pode dizer que vai para o Pai segundo a Sua natureza humana. Quando Ele declara, portanto, 'o Pai é maior do que eu', não o diz enquanto Filho de Deus, mas enquanto filho do homem, segundo o qual não só é menor que o Pai e o Espírito Santo, mas que os próprios anjos: 'Jesus, a quem Deus tornou pouco inferior aos anjos, nós o vemos coroado de glória e honra, por ter sofrido a morte' (
Hb 2, 9). Do mesmo modo Ele estava sujeito também aos homens, sabidamente aos Seus pais, como se lê em Lc 2, 51. Assim, portanto, Ele é menor que o Pai segundo a humanidade, mas igual a Ele segundo a divindade: 'Ele, existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo' (
Fl 2, 6-7).
É possível dizer ainda, com Santo Hilário, que também segundo a divindade o Pai é maior que o Filho, ainda que o Filho lhe seja igual, não menor. Porque o Pai é maior do que o Filho não em potestade, eternidade ou magnitude, mas em autoridade de doador ou de princípio. Porque o Pai nada recebeu de outro, mas o Filho, como se disse, recebeu do Pai a natureza por uma geração eterna. O Pai é maior, portanto, porque dá; e o Filho não é menor, mas igual, porque tudo o que o Pai possui, Ele também o recebeu: 'Deu-lhe o nome que está acima de todo nome' (
Fl 2, 9)."
(Santo Tomás de Aquino,
Comentário ao Evangelho de São João)
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