sexta-feira, 13 de outubro de 2017

A peste separatista


"Assim como o demônio faz as panelas mas esquece as tampas, os organizadores da nauseabunda intentona secessionista na Catalunha devem ter omitido o caráter da data escolhida para iniciar a marcha até a ruptura: o 1º de outubro, desde os tempos do papa Leão XII e por petição do infausto rei dom Fernando VII já livre do cativeiro napoleônico, tem sido o da comemoração do Anjo Custódio da Espanha.
Que haja anjos protetores das nações como os há dos indivíduos é coisa que está em nosso acervo religioso, com suficiente fundamento escriturístico no capítulo X de Daniel, onde se fala de Miguel como protetor da nação israelense, e onde se faz também alusão ao anjo da Pérsia. A partir deste dado revelado e das posteriores e fecundas indicações paulinas, a angeologia tributária do Aeropagita situará no sétimo coro angélico os principados como guardiães das nações. Que esta lição tenha sido esquecida, soterrada sob múltiplos estratos de indiferença, ignorância, estupidez e vacuidade, é consequência mais que apropriada a tempos como os que correm, de consumada idolatria das paixões e de um transbordamento da superbia vitae que ignora o governo providencial do universo, do qual os anjos são agentes os mais eficazes. Não menos providencial (fazemos votos) pode tornar-se a amnésia que a este respeito têm demonstrado os demolidores da unidade da Espanha, com o anjo instigado a lidar, envolto em pele de touro, contra o antigo inimigo e seus atuais representantes. E embora nos pareça bem pouca coisa apelar à constituição e à democracia para opor-se adequadamente à Revolução, e embora dissone não pouco a presença de um Vargas Llosa como orador da salutífera reação, a convocação a 'recobrar a sensatez' torna-se pouco menos que balsâmica nestes dias que são os da colheita dos frutos do solipsismo cultivado ao longo de toda uma época histórica, dias do nec plus ultra da atomização das sociedades, nos quais a autoafirmação conflui com a autodestruição em paradoxo mais aparente que real.
Pressagia-se um 'efeito de contágio' em muitas outras regiões do globo afetadas por semelhante morbo secessionista, justamente no tempo em que os mísseis intercontinentais se tornaram objeto de exibição. As 'guerras e rumores de guerras' em todas as esferas, desde a doméstica até a supranacional, tornaram-se o sinal invariável da demência antropolátrica. Aquém de toda remissão fácil do caso à natureza humana, resta claríssimo, a quem escrute a história com um mínimo de acuidade, que as guerras se têm multiplicado extraordinariamente desde que as elites no poder decidiram o mesmo que os judeus há dois mil anos: 'não queremos que Este reine sobre nós'. Não é utópico afirmá-lo, porque terá lugar com a Parusia: deste horror se sai instaurando tudo em Cristo."

https://in-exspectatione.blogspot.com.br