terça-feira, 10 de novembro de 2015

Sobre o preconceito

“Preconceito é uma das palavrinhas-talismãs mais utilizadas na atualidade. O preconceito é importante, pois sem ele não haveria pré-visões nem qualquer outro tipo de reflexão antes de uma tomada de ação. E o valor do preconceito não se pode medir teoricamente, mas só se pode medir na prática. O valor de um preconceito SOMENTE tem ordem prática. Ele não é ruim nem bom em si mesmo. Ele pode ser certo ou errado, conforme ele venha a se tornar ou não um conceito, ou algo muito próximo. Assim, mesmo que sem querer, todos temos preconceitos porque faz parte de nosso instinto de autodefesa.
Assim, a ausência de preconceitos torna a sociedade inerte, sem espírito inovador e criador, uma vez que tende a minar a reflexão crítica, tornando-a uma massa passiva que só aceita imposições, não raciocinando, mas aceitando normas passivamente. Uma pessoa sem preconceitos é uma pessoa artificial, pois procura alienar algo natural em si: o seu instinto de autodefesa. Não foi à toa que Aristóteles afirmou na "Política" que "se o homem, chegado à sua perfeição, é o mais excelente dos animais, também é o pior quando vive isolado, sem leis e sem preconceitos".
O discurso contra o preconceito não passa de verborragia politicamente correta, extremamente adocicada pela grande mídia, repetida sistematicamente para fins de adestramento coletivo, ou seja, ditar uma cartilha de idéias e vocabulários para minar o instinto de autodefesa que é garantido pelos próprios preconceitos. Denomino isso de ‘culto à fraqueza’. A ausência de preconceitos definitivamente mina o instinto de autodefesa social.
Por detrás desse discurso de ‘fim ao preconceito’ há uma agenda que tenciona a ‘igualdade’, pois a ausência de preconceitos conduz à ausência de distinções e vislumbra uma sociedade comunista. Assim, induz-se promiscuidades de toda ordem para fins de quebra da identidade, socialização, massificação e controle. É preciso padronizar os costumes e gostos para fins de indução ao consumo e ao controle. A demonização do preconceito responde pela ruptura com qualquer idéia de hierarquia, seja social, cultural ou moral, com vistas à produção de uma diabólica sociedade sem classes; igualitária, onde o trabalhador é igualado ao vagabundo; o virtuoso é igualado ao criminoso; onde o belo é igualado ao feio e por aí vai. Aliena-se o instinto de autodefesa e passa-se artificialmente a cultuar o feio, o mórbido, o imoral, pois a igualdade entre bem e o mal, entre a verdade e a mentira e entre a beleza e a feiúra destrói o bem, a verdade e a beleza.
A própria ciência é preconceituosa. A seguir, algumas das teses de Kuhn sobre a sociologia do conhecimento:
‘a) Evidências empíricas são insuficientes para resolver impasses relativos à aceitação de teorias porque escolhas de teorias dependem mais dos modos pelos quais os cientistas são socializados do que da adequação empírica das teorias em competição.
b) Os cientistas resistem a teorias que contrariam crenças e interesses dos grupos aos quais pertencem sem se preocupar em saber se estas teorias exibem ou não um poder explicativo comparativamente elevado.
c) Os cientistas adaptam suas concepções às exigências de seu ambiente sócio-político.
d) Fatores que não são de origem cognitiva podem ajudar a derrubar uma teoria’.”
(Roberto Cavalcanti, Prejudice: the Fashion Watchword)

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