sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Bergoglio bifronte


“Fiquei desconcertado e escandalizado pelo que escreveu Maurizio Blondet em um recente artigo seu, a propósito das palavras que Bergoglio dirigiu aos frades Franciscanos da Imaculada no passado 10 de junho.
Blondet recorda que o discurso que fez ficou registrado, pelo que me sinto levado a considerar, conhecendo a honestidade intelectual desse jornalista católico, que não tem motivo para mentir.
Disse Bergoglio:
A mim se me explicou a [vossa] situação tranqüilamente, suavemente; orei com benevolência por vós e concluí que devia tomar essas decisões [do comissariado] depois de haver recebido conselho […] O princípio que me guiou foi o da obediência, porque é justamente esse o princípio da catolicidade. Quando pensamos na reforma protestante, dizemos que esta começou com a revolta: separar-se do bispo, separar-se de Roma não é a catolicidade.
E aqui já não podemos deixar de perceber uma dissonância: a invocação à obediência (mas sobre isso voltarei mais tarde) e aquela à Pseudo-reforma protestante, que começou com a revolta, com separar-se de Roma. Mas como? E onde vai parar o diálogo ecumênico, com o qual enche a boca o Bispo de Roma a cada passo? Quer dizer que os protestantes são rebeldes? Com os Franciscanos da Imaculada Bergoglio emprega termos que estão em franca oposição com aqueles melífluos de seus numerosos encontros com os hereges, antes e depois da farsa do Conclave.
E prossegue nosso sujeito:
Santo Inácio nos disse que a regra “para sentir com a Igreja” é que se eu vejo uma coisa negra que é negra e a Igreja diz que é branca, tenho que dizer que é branca.
Nas barbas da liberdade dos filhos de Deus tão decantada pelo Conciliábulo! São Paulo nos diz rationabile sit obsequium vestrum. O paradoxo de Santo Inácio soa pelo menos inapropriado na boca de um filho da revolução conciliar que não tem escrúpulos em contrariar a doutrina católica cada vez que tem a ocasião. Posto a Igreja não poder dizer que o branco é negro, que a verdade é erro e vice-versa: do contrário menosprezaria o mandato divino recebido da parte de seu Fundador. E ainda quando se quisesse aceitar a advertência inaciana, gostaríamos de entender por que razão, quando a Igreja diz que o matrimônio é indissolúvel e que os adúlteros estão fora da comunhão, Bergoglio toma o telefone e chama seu porta-voz Scalfari para tranqüilizá-lo de que os divorciados poderão receber os Sacramentos. Por que quando a Igreja manda pregar o Evangelho a todas as gentes, ele defende que o proselitismo é uma solene tolice.
Com o estilo diamantino que o caracteriza, acrescenta:
E sem o Papa, a ti quem te garantiria tua ortodoxia, longe do Papa?
Na verdade, essa proposição também range, especialmente com respeito às já proferidas acerca da conversão do papado feitas aos cismáticos do Oriente. Sem contar que os cismáticos, os hereges e os idólatras com os quais gosta de aparecer parecem prescindir tranqüilamente do Papa, e isso não parece constituir um problema para a igreja conciliar.
Depois retoma:
Mas quando há uma hermenêutica ideológica, eu tenho medo, tenho medo.
Mas como? Não acabava de dizer que é mister obedecer cegamente à Igreja, inclusive se o que ela afirma estiver em contradição com a realidade, ou ao menos com aquilo que a nós se parece como tal? Que há de mais ideológico que uma obediência irracional a qualquer ordem do Papa? E no entanto Bergoglio tem medo: é de se perguntar a esta altura se ele teme a si mesmo.
E depois a habitual estocada genérica, sem nomes, brandida para deslegitimar uma coisa em si boa em nome de um caso limite. O típico estratagema capcioso: legitimar o divórcio porque um marido alcoolizado bate na pobre esposa; autorizar o aborto porque um delinqüente violou uma jovem deixando-a grávida etc. Ou, descendo aos discursos de bar: melhor um bom leigo que um mau cura. Por fim, o derrotismo e o engano ideológico erigidos em pastoral.
Eu recordo... é certo que todos devemos ser ortodoxos, mas tantas vezes se usa [a palavra “ortodoxia”, NdR] para justificar procedimentos que finalmente não resultam tão claros. Recordo-me de um bispo da América Latina, que nos espancava a todos: “a ortodoxia! A ortodoxia!”, mas era um especulador, fazia negócios com dinheiro... Deste modo uns acusam os outros para encobrir outros interesses.
Depois, o elogio hipócrita da Ordem:
Vosso carisma é um carisma singular: é o espírito de São Maximiliano Kolbe, um mártir, e é o espírito de São Francisco, o amor à pobreza, a Jesus despojado...
Notemos que foi precisamente por estes dias que Bergoglio ordenou aos franciscanos, através de seus emissários de púrpura, que não levassem a Medalha milagrosa, que suprimissem o voto mariano, que não mencionassem mais São Maximiliano Kolbe.
Mas, como justamente afirma Blondet, vem logo depois uma frase que soa – para dizer o mínimo – aterrorizante:
Há outra coisa que me faz entender por que o demônio está tão enojado convosco todos: a Virgem. Há algo que o demônio não tolera... não tolera a Virgem, não tolera e não tolera mais essa palavra de vosso nome: Imaculada, porque tem sido a única pessoa somente humana na qual ele encontrou sempre a porta fechada, desde o primeiro momento; ele não [a] tolera.
O nexo de conseqüência que se deduz das palavras do Bispo de Roma se nos escapa. Ou melhor: a única interpretação possível dessas palavras, à luz das disposições tomadas por ele contra os Franciscanos da Imaculada, encontra-se somente na casuística dos exorcismos. Não é raro, de fato, que Satanás seja forçado por Deus a obedecer ao exorcista, afirmando verdades que lhe repugnam e que revelam seus enganos.
Não pensava que chegaria a teorizar uma enormidade semelhante, mas me parece que somente se podem hipotetizar dois casos que justifiquem essas palavras: a possessão diabólica ou uma forma de bipolarismo, de patológico desdobramento da personalidade.
Pensai no momento que agora viveis como uma perseguição diabólica, pensai assim...
Uma perseguição diabólica, sem dúvida, mas pela qual se confessou responsável e único mandante nada menos que o Pontífice Romano, o Vigário de Cristo, o Príncipe dos Apóstolos.
Ou acaso, com implicações menos desastrosas mas não por isso menos horripilantes, um usurpador foi eleito com a fraude de um Conclave viciado. Um usurpador que pretende obediência cega, imediata, absoluta, para além da razão e pisoteando a própria Fé. Um tirano que persegue os bons explorando seu sentido de fidelidade à Igreja e que ao mesmo tempo prostitui a Igreja com o mundo, adultera o ensinamento, perverte a moral, viola a espiritualidade e o impulso apostólico, humilha o Fundador.
Um tirano que pretende com arrogância uma obediência delirante, inclusive se tivesse que afirmar algo contra a evidência. Que não fosse parrésia. Por outro lado, até a farsa do Sínodo serviu para demonstrar que a verdadeira Relatio Synodi foi publicada por Scalfari depois da enésima chamada telefônica de Bergoglio.
Que continuem, pois, os mediadores buscando justificativas para a obra desse personagem vestido de branco. Eu considero extremamente difícil, com toda a boa vontade, não extrair as conseqüências lógicas dos atos infames pelos quais ele todos os dias se faz responsável.
Que a Virgem Imaculada, terribilis ut castrorum acies ordinata, ilumine as mentes escurecidas dos Prelados e lhes dê a coragem de opor-se a esse Anticristo.”

Original em http://opportuneimportune.blogspot.com.ar