quarta-feira, 13 de maio de 2015

Pe. Nicholas Gruner sobre o sedevacantismo

A teoria “sedevacantista” é falsa
Já há muitos anos que tenho ouvido falar do movimento ou teoria do sedevacantismo: a falsa crença de que não tivemos um Papa verdadeiro desde que o Papa Pio XII morreu em Outubro de 1958, porque os Papas do Vaticano II caíram na heresia e são todos “anti-Papas”.
Compreendo que muitas pessoas sejam tentadas a concordar com esta teoria, devido aos graves escândalos que todos os dias se vêem, não só ao nível das paróquias e dioceses como também, e pior ainda, em Roma e no próprio Vaticano.
Tendo vivido na atmosfera ferventemente católica da Província do Quebec nas décadas de 1940 e 1950, vejo como éramos abençoados ao saber o que um Católico devia ser e devia fazer, em comparação com o que as crianças e os jovens hoje vêem com os seus próprios olhos.
Por outras palavras, às vezes é difícil as pessoas compreenderem como um jovem terá oportunidade de saber o que a Igreja Católica é, porque muitos responsáveis da Igreja parecem ter-se esquecido disso. Por exemplo, o Santíssimo Sacramento é calcado aos pés nas Missas papais, e as pessoas são convidadas para os barulhentos festivais de rock que são os Dias Mundiais da Juventude, e que são mais escandalosos do que os concertos de rock. Estes pobres jovens desorientados assistem a Missas, sim, Missas papais, vestidos de forma desmazelada ou com grande falta de modéstia. Os responsáveis da Igreja não cumprem o seu dever de lembrar a estes jovens que devem vestir-se devidamente e com modéstia para a Santa Missa. E isto é só um exemplo dos muitos ultrajes que nunca tinham sido vistos antes do Concílio Vaticano II.
Ainda me recordo de ver um velho filme caseiro que o meu pai fez nos anos 40, em que as mulheres estavam todas vestidas modestamente, com as saias bem abaixo dos joelhos. Toda a gente aceitava isto. Ninguém pensava que isto ficava mal, ou que custava a usar estas roupas modestas. Como pioramos nestes últimos 60 anos!
Há-de haver escândalos
É compreensível que as pessoas se escandalizassem quando o Papa João Paulo II foi fotografado a beijar o Corão, o livro sagrado dos Muçulmanos, o livro que contém blasfêmias terríveis contra a nossa santa religião católica. Porque se o Papa pode beijar o Corão, parece que tudo pode acontecer.
Para nos conservarmos equilibrados, temos que nos ater à Fé Católica imutável. Precisamos também de nos lembrarmos que Nosso Senhor disse que viriam escândalos nos últimos tempos; mas ai daqueles por quem viessem os escândalos. Algumas pessoas, vendo estes escândalos — como mulheres de seios descobertos a lerem a Epístola e a levarem os dons do Ofertório, numa Missa do Papa João Paulo II, coisa que nenhum Papa tinha alguma vez autorizado — saltam para a conclusão de que ele, portanto, não pode ser o Papa.
Infelizmente, estes Católicos não compreenderam que o Papa, mesmo que seja infalível — não pode ensinar um erro quando define solenemente uma coisa com a sua autoridade apostólica — não quer dizer que não possa pecar, que não possa dar escândalo, que não possa dar mau exemplo.
Devemos ter presente que não é o que os nossos superiores fazem que lhes dá direito ao cargo que ocupam, mas antes a autoridade que lhes é conferida por Deus.
Isto não garante que eles se mantenham fiéis às graças do seu cargo. Tal como todos nós, podem resolver pecar, seguir o caminho fácil, fazer o que o mundo quer que eles façam, fazer o que o demônio quer que eles façam — em vez de fazer o que Jesus quer que eles façam.
Mas como tem havido escândalos há tanto tempo e durante vários pontificados, houve diversas reações perante esta situação:
(1) Fingir que não aconteceu nada.
(2) Dizer que, se o Papa fez isso, é porque está bem, porque ele é o Papa.
(3) Declarar que o Papa e os Bispos não são realmente o Papa e os Bispos, e rejeitar tudo o que eles fazem porque permitem ou fazem escândalo.
(4) Ser fiel a Deus, aos Seus ensinamentos e à Bíblia, que nos dizem que não podemos chamar mal ao bem nem bem ao mal, e que, portanto, devemos resistir ao mal e denunciá-lo, mas sem usurpar para nós o poder de depor os culpados.
Esta reação final, segundo os ensinamentos dos Santos e Doutores da Igreja, é a que está correta.
É como se fosse assim: se alguém rouba um banco, por exemplo, dizemos que está errado. Mas se o assaltante do banco é o nosso pai, ou o presidente, ou um padre, um Bispo, ou até o Papa? É sempre errado.
E se alguém negar a Fé? Nosso Senhor disse-nos: “Se Me negardes perante os homens, também Eu vos negarei perante o Pai”. Mas se o nosso pai, ou o pároco, ou o Papa negarem a Fé? É sempre errado. Seremos julgados pelo que fizermos, e se seguirmos alguém, mesmo que seja o Papa, e negarmos a Jesus Cristo de qualquer maneira, então Jesus também nos negará perante o Seu Pai.
Devemos ser fiéis a Jesus e a Maria e a Deus, e fiéis à Fé Católica e à lei moral da Fé Católica — mesmo se houver pessoas em altos cargos que façam o contrário.
Um julgamento que não podemos fazer
Como Cristo fundou a Sua Igreja sobre Pedro — isto é, sobre o Papado — não podemos, só por nossa conta ou por nossa própria decisão, determinar e declarar que, por o Papa ter beijado o Corão ou feito outras coisas escandalosas, ele não é o Papa, ou mesmo que nunca foi Papa.
Isto está explicado em grande pormenor no artigo de Christopher Ferrara, “Defender o Papado”. Até agora, não tratei deste assunto porque compreendo que estes pobres Católicos estejam escandalizados, e não compreendia até que ponto esta doutrina e movimento se tornaram perigosos.
Mas veio agora à minha atenção que este movimento está a crescer e a dificultar o triunfo de Nossa Senhora. Criou uma grande distração para pessoas que, sem isso, apoiariam a Mensagem de Fátima, e levou-as a não fazer nada. Porque dizem: “Não podemos fazer nada sobre a Consagração da Rússia até se decidir quem é o Papa ou se temos um Papa.” Várias pessoas já dizem isto há mais de 20 anos.
Segundo elas, os escândalos são tão graves que chegaram à certeza, na sua opinião particular, de que não há um Papa. A sua posição não é sustentável. A sua posição decorre de uma incompreensão de certos aspectos da Fé Católica.
Há homens sábios, e alguns deles inteligentes e bondosos, neste movimento que estão enganados em certos pontos fundamentais desta questão. Também há alguns homens arrogantes, muitas vezes os mais novos, que quase não têm instrução teológica formal, e que fazem descuidada e impetuosamente tais declarações, como se Deus lhes tivesse dado uma jurisdição especial para decidir estes problemas e impor as suas opiniões ao mundo católico.
Até os padres sedevacantistas e os seus Bispos auto-escolhidos estão enganados e, infelizmente, isto está a causar um grande cisma na Igreja Católica.
Isto não quer dizer que seja o único cisma; há muitos outros cismas que hoje dividem a Igreja Católica. Mas o que é mais para lamentar, e que é o crime particular deste cisma, é que os sedevacantistas estão a separar-se por sua própria vontade em reação a estes escândalos e pecados evidentes e terríveis contra a Igreja Católica.
Temos, porém, que conceder que ao menos os sedevacantistas compreendem que certas ações papais dos últimos 45 anos são verdadeiramente escandalosas, enquanto que muitos Católicos são tão despreocupados, tão mornos, que nem sequer notam que há um escândalo.
Quem dera que os sedevacantistas viessem a compreender que há realmente um problema, que há escândalos, que devemos fazer alguma coisa a esse respeito, mas que não nos compete depor particularmente o Papa, como se fôssemos superiores ao Papa. Não nos compete tomar, em particular, decisões judiciais como se tivéssemos esse poder e autoridade, quando Deus não nos conferiu tal autoridade.
Mas Deus deu-nos meios, tanto pela nossa Fé como pelas nossas circunstâncias na vida, para resistir a estes escândalos e insistir num plano que libertará a Igreja destes escândalos, e esse plano é a Mensagem de Fátima.
Fátima ignorada
O que está mal nos nossos dias é que há demasiadas pessoas na Igreja que pensam que sabem mais do que a Santíssima Virgem. Muitos sedevacantistas parecem também pensar que sabem mais do que a Santíssima Virgem Maria sobre o que se deve fazer para salvar a Igreja. Mas em regra são certos funcionários do Vaticano que pensam que, para a Igreja poder sobreviver no Século XXI, devem adaptar-se e não fazer ondas, e aceitar o plano dos Illuminati, Maçons e Comunistas para a Nova Ordem Mundial.
Estes funcionários modernistas no Vaticano pensam que devem aceitar a falsidade moderna de que a Igreja Católica não tem o direito, que Deus lhe concedeu, à sua própria voz moral na praça pública. Pensam antes que se devem juntar ao coro de milhares e dezenas de milhares de falsas religiões, na esperança de os governos e os poderosos deste mundo lhes darem umas migalhas de reconhecimento ou prestígio ou poder.
Vão com os outros, recusando-se a obedecer a Nossa Senhora de Fátima. Vão com os outros, tendo o cuidado de não incomodar ninguém, porque, segundo os proponentes desta Nova Ordem Mundial maçônica, uma religião vale tanto como outra qualquer. Na realidade, até esta gente da Nova Ordem Mundial tem a sua religião, mas tem também o cuidado de a esconder a quem não faz parte do seu círculo.
A Maçonaria já foi definida em tribunal como sendo uma religião. É a religião dos deuses cananitas do Velho Testamento. Os Maçons afirmam ser imparciais em matéria de religião, mas, de fato, usam isto como um escudo para poderem propagar os seus rituais pagãos, para propagar as suas crenças e adorar satanás como o seu deus, como o Papa Leão XIII sublinhou. Foi o Papa Pio VIII que escreveu o seguinte sobre os Maçons: “A sua lei é a mentira, o seu deus é o demônio, e o seu culto é torpeza.”
Muitas autoridades atuais no Vaticano, devido à sua ignorância, não vêem que, aceitando o “diálogo,” o “ecumenismo” e a “abertura ao mundo”, já traíram a Nosso Senhor, porque concordaram em aceitar o programa dos Maçons e a Nova Ordem Mundial, que nega de fato que haja só uma Igreja verdadeira, fundada por Jesus Cristo, Que lhes mandou fazerem discípulos de todas as nações. Quer compreendam, quer não, estas autoridades da Igreja venderam Nosso Senhor por trinta moedas de prata, moedas de tributo aos poderes do mundo, tal como Judas fez. Assim como Judas compreendeu, mas tarde demais, que tinha traído o sangue inocente, é possível que estes Judas venham a compreender o seu erro, mas tarde demais para eles.
E quando chegar o momento, as forças do Anticristo ativarão a armadilha e obrigarão a Igreja Católica a ir para a clandestinidade, devido à feroz perseguição que está para cair sobre todos nós, porque os responsáveis foram cegos e guias de cegos.
Ora bem, os sedevacantistas compreendem isto. Mas, infelizmente, apresentaram uma solução falsa. Em vez de rezarem pelo Papa; em vez de promoverem as petições de Fátima, as Cruzadas do Rosário de Fátima, e de divulgarem informações sobre esta grande apostasia predita no Terceiro Segredo; em vez de rezarem pelos cegos e guias de cegos; em vez de fazerem penitência por eles; simplesmente determinaram ver-se livres deles, apenas pelo seu ipse dixit, declarando, por sua conta, que o Papa não é Papa e os Bispos não são Bispos.
O seu “raciocínio teológico” teoriza, por conseguinte, que os Bispos não são Bispos, que os Cardeais não são Cardeais, que a maior parte dos padres não são padres, e que só nos resta um vestígio de um por cento de mil milhões de Católicos — todo o resto se perdeu. Só eles, os sedevacantistas, é que são os verdadeiros Católicos. Alguns deles nem assistem a uma Missa Tridentina se o padre rezar pelo Papa no Cânone.
Reduziram-se, pois, ao que se chama movimento da pequena Igreja, em que dizem: “Ninguém se vai salvar, a não ser tu e eu — e não tenho bem a certeza no teu caso.”
Claro que isto é apresentado em termos muito mais elevados, e por isso engana muito mais gente. Está a impedir bons Católicos de se juntarem ao único plano que salvará a Igreja da crise em que está, salvará a sociedade civil do aniquilamento de nações e todo o mundo da escravidão do Anticristo e dos movimentos anticristãos da Maçonaria, Illuminati, Comunismo, Fascismo — e quaisquer outros “ismos” e frentes que o demônio tenha.”
(Pe. Nicholas Gruner, Defenda a SUA Salvação)