sábado, 25 de abril de 2015

Dinheiro e democracia

“Para entender o mal-estar que prostra as sociedades democráticas – expresso às vezes como desalento e ceticismo, às vezes como ira e indignação – deveríamos começar por esclarecer que a democracia, tal como nos foi pintada, é uma quimera irrealizável. Existe uma realidade histórica irrefutável: todas as sociedades humanas, com independência da forma de governo que impere nelas, estão regidas de fato por minorias. Sempre tem sido assim e sempre será. E são estas minorias as que realmente decidem, de forma efetiva direta ou indiretamente, sem reservas ou com disfarces, o destino das nações.
Ilusoriamente, às pessoas se fez crer que a democracia acabava para sempre com esta idéia hierárquica subjacente em toda ordem política; quando, na verdade, só se fez esconder, escamotear este elemento (e já se sabe que, quando algo se oculta, é porque não convém mostrá-lo). Assim, apresentou-se uma sociedade regida pela mais absoluta igualdade política, na qual os governantes não o eram em virtude de um princípio hierárquico, mas representativo; e deste modo se conseguiu encobrir um fato gigantesco e inquestionável, que é a rebelião da economia contra a política. Fato que começou a forjar-se no Renascimento, para desencadear-se na Revolução Francesa e alcançar o paroxismo em nossa época, na qual o poder político não só deixou de ser aguerrido defensor do povo contra essas forças econômicas desatadas, mas se tornou serviçal de tais forças, organizado em oligarquias encarregadas de pauperizar o povo, seguindo as ordens da plutocracia internacional (...).
Este poder oculto de uma minoria plutocrática é o que decide no destino das nações, de maneira sempre impiedosa e às vezes em sua desmedida voracidade sem incomodar-se sequer em dissimular a natureza monstruosa de seus desígnios. Assim se explica, por exemplo, como o Fundo Monetário Internacional (apenas um dia depois das eleições européias nas quais as oligarquias que mais servilmente trabalharam a serviço do poder econômico foram arrasadas!) teve a calma de reclamar condições ainda mais inclementes nas demissões, e também subidas nas taxas impositivas; reclamações que as oligarquias acabarão atendendo. Todo este latrocínio institucionalizado conseguiu dissimular-se nos anos anteriores mediante a instauração de um reinado das delícias universais (a busca da felicidade!) que aspirava a conseguir uma sociedade humana animalizada, passiva e covarde, “cidadania” submetida mediante o hipnotismo ideológico à mais depravada servidão espiritual, agarrada ao desfrute frenético dos benefícios democráticos, que podem resumir-se em alegrias paras as braguilhas e enxurrada de subvenções. As alegrias para as braguilhas nos deixaram em um par de gerações sem contribuintes que paguem nossas pensões; e à enxurrada de subvenções sucedeu uma pertinaz estiagem que, ademais, nos pega com as reservas exaustas."
(Juan Manuel de Prada, Dinero y Democracia)