quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Paciência e fortaleza

"A paciência é para Tomás um ingrediente necessário da fortaleza. A causa de que esta coordenação de paciência e fortaleza nos pareça absurda não reside somente no fato de que hoje tendamos a entender mal em um sentido facilmente ativista a essência da fortaleza, mas sobretudo na circunstância de que aos olhos de nossa imaginação a virtude da paciência veio a significar – como antítese do que foi para a teologia clássica – um padecer incapaz de levar a cabo uma discriminação sensata, ávido de desempenhar seu papel de "vítima" consumido pela aflição, desprovido de alegria e de medula e de braços abertos, sem distinção, a todo tipo de mal que encontre pelo caminho, quando não se lança a buscá-lo de iniciativa própria. Mas a paciência é algo radicalmente diverso da irreflexiva aceitação de toda sorte de mal: "paciente não é quem não foge de um mal, mas quem não se deixa arrastar por sua presença a um estado desordenado de tristeza" (2-2,136,4 ad.2).
Ser paciente significa não deixar que sejam levadas nem a serenidade, nem a clarividência da alma pelas feridas que se recebe enquanto se faz o bem. A virtude da paciência não é incompatível com uma atividade que de forma enérgica permanece ligada ao bem, mas justa, expressa e unicamente com a tristeza e desordem do coração" (1-2,66,a ad.2;2-2,128,1). A paciência protege o homem do perigo de que seu espírito seja quebrantado pela tristeza e perca sua grandeza: ne frangatur animus per tristitiam et decidat a sua magnitude (2-2,128). Daí que não seja a paciência o espelho embaçado das lágrimas de uma vida "quebrada" (como talvez possa sugerir a inspeção do que, sob múltiplos aspectos, se mostra e elogia com este nome), mas o rutilante emblema de uma invulnerabilidade última. A paciência é, como disse Hildegarda de Bingen, "a coluna que não se curva diante de nada" (Scivias,III,22). E Tomás, baseando-se na Sagrada Escritura (Lc,21,19) resume a essência com a infalibilidade de sua pontaria: "pela paciência se mantém o homem em posse de sua alma" (2-2,136,2 ad.2)."
(Josef Pieper, as Virtudes Fundamentais)