segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Reconhecer os tempos do Anticristo

“Minha inquietude, minha preocupação quase exclusiva – minha “obsessão” pelos “temas apocalípticos” me foi criticada por alguns, estranhos e mais chegados. Não me dou ao trabalho de justificar-me diante dos que desprezam ocupar-se de tudo o que se refere à consumação dos tempos, e que nadam no nirvana de uma despreocupação beatífica. Mas me parece bastante digna de consideração a objeção dos que, talvez tão “parusíacos” ou mais que eu, rejeitam, no entanto, minha insistência em destacar as características negativas – aterradoras, na realidade – do mundo em que vivemos. Tanto como a mim, a eles também lhes parecem tremendamente negativas e prenúncio de acontecimentos “apocalípticos”. Só se afastam de minha atitude por uma questão de prioridades, de “ênfase”. Pensam que ficar tão atentos aos horrores do mundo acorvadaria os fiéis receptivos ao nosso ensinamento. Que isso privaria sobretudo os jovens da esperança necessária para viver de maneira cristã...
A atenção preferencial aos aspectos negativos do mundo atual se justifica, a meu ver, pelo fato de que eles são precisamente o prenúncio e ante-sala da Glória a que aspiramos. Sua extrema negatividade realça a extrema positividade dAquilo por que esperamos. Aviva em nós a consciência do Triunfo vindouro, por oposição. Por Contraste.
Esse efeito, por assim dizer, “dialético”, que a suma perversidade de nosso mundo engendra em nós, não teria lugar se não fosse porque sabemos que o desenlace é dialético.
Por que o sabemos? Não por algum cálculo de análise política ou histórica. Sabemo-lo pela Fé. Sabemo-lo porque nos foi revelado taxativamente:
Quando começarem, pois, a suceder estas coisas, erguei-vos e levantai as vossas cabeças, porque está próxima a vossa libertação. (Lc. XXI, 28)
“As coisas” a que se refere o texto não são, precisamente, fáceis e prazerosas. São terrivelmente duras e tenebrosas. Mas são prenúncio e ante-sala do Triunfo definitivo do Bem. “Está próxima a vossa libertação”, disse. Ou seja, esse triunfo é definitivo, permanente. É eterno, não há retorno. Portanto, se alguma vez existiu, aqui se acaba a “dialética da história”.
Mas nessa “dialética” anterior ao final, de que Bem e de que Mal se trata? De Cristo e do Anticristo: o Bem histórico. Então, se isso é assim, se isso é como Nosso Senhor nos anuncia, se o Mal, chegado à sua plenitude no Anticristo, anuncia o triunfo definitivo de Cristo e de nossa libertação, então quase, quase deveríamos querer que o Mal se intensificasse. “Politique de pire”: quanto pior, melhor. E dizia, e volto a dizê-lo agora, que isso que sabemos pela fé devemos desejar com a esperança fundada na fé. Porque Cristo nos ordenou, imperativamente: “Quando começarem, pois, a suceder estas coisas, levantai vossas cabeças”. Devemos desejá-lo, supondo – que creio esteja vigente – que nada nos falte humanamente por fazer; porque, caso contrário, é claro, deveríamos tentar corrigir o Mal. Esperemos, portanto, confiantes na palavra de Cristo, que também disse:
Eu disse-vos essas coisas para que, quando chegar esse tempo, vos lembreis de que eu vo-las disse. (Jo. XVI, 4)
Ou seja, estava escrito. Estava escrito que essas coisas haviam de acontecer, e acontecem. O Senhor as tem previstas, o Senhor mantém em suas mãos as rédeas. E quando ao discípulo de Cristo não falta mais nada que fazer, senão padecer – como era o caso para aqueles a quem foi dito, e como creio que seja o caso para nós –, só resta... olhar. Olhar para manter a esperança. “Quando virdes que tudo isso acontece...”
E por isso digo eu, agora, que se deve olhar para o Anticristo. Olhá-lo não por masoquismo – já está dito – mas para ver como se cumpre nele o anunciado: a intensificação do Mal, que precede o triunfo definitivo de Cristo.”
(Federico Mihura Seeber, El Anticristo)