quinta-feira, 25 de julho de 2013

A desintegração da América

““Somente quando fui às igrejas da América e ouvi seus púlpitos abrasados de justiça foi que entendi o segredo de seu gênio e poder. A América é grande porque é boa, e se a América algum dia deixar de ser boa, também deixará de ser grande.”
Assim escreveu Alexis de Tocqueville.
Contudo, a julgar pelos padrões daqueles antigos “púlpitos abrasados de justiça”, a América ainda é um bom país?
Considere os casos julgados esta semana pela Suprema Corte.
Em um deles, pediu-se que a Corte julgasse a Proposição 8 da Califórnia, onde os eleitores declararam que o casamento é somente entre um homem e uma mulher. No segundo, pediu-se à Corte que derrubasse a Lei de Defesa do Casamento, que proíbe apoio federal aos casamentos de mesmo sexo.
Quaisquer que sejam suas crenças, os juízes, acredita-se, deixarão isso para os estados e o povo. Pois Roe vs. Wade, onde sete juízes encontraram o direito ao aborto espreitando nas penumbras da Nona Emenda, envenena nossa política até o dia de hoje. Não precisamos de uma reencenação daquela guerra civil. No entanto, o que a América decidir sobre o casamento de mesmo sexo revelará muito sobre o que esta geração acredita ser uma sociedade moral.
A América tradicionalista sempre considerou a homossexualidade como não-natural e imoral, prejudicial tanto ao corpo quanto à alma, e que onde ela prevalecia – como na Alemanha de Weimar – era o sintoma de uma sociedade doente.
Essa crença ofende milhões. No entanto, ela é tão antiga quanto a humanidade e foi universalmente aceita no Ocidente cristão até este século. Além disso, está fundamentada na verdade bíblica, na lei natural e na doutrina católica.
Antes de 1973, a Associação Psiquiátrica Americana considerava a homossexualidade como uma desordem mental. A maioria dos estados a tratavam como um crime.
A nova moralidade argumenta da seguinte maneira:
Para uma grande parcela da população, a homossexualidade é natural e normal. Eles nasceram desse jeito. E negar aos homossexuais a liberdade de terem relações sexuais consentidas, ou o direito de se casarem, é um fanatismo tão odioso quanto o era a discriminação contra os negros americanos.
Contudo, ainda que seja um evangelho para muitos, essa crença tem as raízes religiosas, morais e filosóficas mais superficiais. Parece fundada em uma ideologia pós-anos 60 que defende serem iguais todos os estilos de vida livremente escolhidos e que discriminar contra qualquer um deles é o verdadeiro pecado social.
Nem é preciso dizer que a moralidade tradicional e a nova moralidade são irreconciliáveis.
Mas se a nova moralidade – de que a homossexualidade é normal e o casamento de mesmo sexo é moralmente igual ao casamento tradicional – for verdadeira e válida, Frank Kameny foi um profeta e o Cristianismo é indiciável por 2.000 anos de ostracismo, perseguição e sofrimento impostos aos homossexuais. Ou talvez acreditemos que a verdade moral evolui – que, por exemplo, o adultério possa ser imoral para uma geração, mas não para a seguinte.
A questão aqui vai além do que a Corte decidir.
Pois mesmo que os advogados do casamento de mesmo sexo prevaleçam, sua vitória não será aceita pelos crentes no casamento tradicional, mas simplesmente vista como mais um passo na descida gradual da América rumo ao inferno.
De fato, para milhões de americanos, esta sociedade – que erradicou o Cristianismo de suas instituições públicas e consagrou o secularismo em seu lugar, que considera o aborto um direito das mulheres, que é indiferente a 53 milhões de crianças destruídas desde Roe, que põe os relacionamentos homossexuais no mesmo patamar que o matrimônio – é uma sociedade que perdeu seu sentido moral e está rapidamente perdendo sua razão.
O que levanta uma séria questão à parte.
Se os americanos não podemos nem mesmo concordar sobre o que é certo ou errado e moral ou imoral, como é que podemos permanecer unidos em uma família nacional? Se metade da nação vê a outra como moralmente depravada, enquanto esta vê aquela saturada de fanatismo, sexismo e homofobia, como é que iremos permanecer uma nação unida e um só povo?
Hoje, metade da América pensa que o país onde alguns de nós crescemos era fanático, racista, homofóbico e sexista, enquanto a outra metade vê esta nação que “evolui” moralmente como uma sociedade que abertamente convida o destino de Sodoma e Gomorra e que mal vale a pena preservar.
Uma fé e um código moral comuns já mantiveram coesa esta nação. Mas se já não compartilhamos os mesmos valores morais, depois de termos tomado a decisão de nos transformarmos no povo mais diversificado racial, étnica e culturalmente sobre a terra, que é que nos vai manter unidos?
A Constituição, a Carta de Direitos?
Como o fariam, se discordamos amargamente sobre o que elas afirmam?
Descartando a antiga moralidade e abraçando a nova moralidade sobre o aborto e o casamento de mesmo sexo, a América lançou sua âncora ao mar. E das águas turbulentas que adentramos – nossa taxa de nascimentos fora do casamento está acima de 40 por cento, e nenhuma nação ocidental que tenha esses números manterá viva sua população nativa – a América e o Ocidente podem ter zarpado numa viagem sem volta.”
(Patrick J. Buchanan, Is America Still a Good Country?)