domingo, 9 de junho de 2013

O misterioso reino de Cazar

“A tradição independentista que haviam demonstrado várias vezes os judeus ao longo de sua acidentada história, como no insólito e heróico reino dos Macabeus dentro da própria Palestina, tem outras manifestações quase desconhecidas, mas que não podemos desprezar, porque são fragmentos significativos da história de Israel. Assim, no ano 513 d.C o guerreiro judeu Mar Zutra livrou-se do domínio persa e fundou à margem esquerda do Tigre, a noroeste de Susa, o reino judeu independente de Mahoza, que durou somente sete anos até que os persas o aniquilaram. Quando um famoso mercador judeu espanhol, Benjamín de Tudela, realizou uma viagem inacreditável pela Europa, África e Oriente Médio nos anos centrais do século XII, ele investigou a situação dos judeus em todo lugar; encontrou os judeus negros estabelecidos na Índia, relatou como os judeus do Golfo Pérsico controlavam as pescas de pérolas e comprovou a existência de dois enclaves judeus independentes e belicosos: um em torno das cidades fortificadas de Teima e Kaibar, no interior do noroeste da península arábica, perto das cidades sagradas do Islã; outro, igualmente autônomo e arrojado, nas montanhas do Iêmen, sobre a saída norte do Mar Vermelho. Mas nenhum desses redutos judeus pode se comparar ao reino de Cazar, ao qual o mestre judeu da Espanha islâmica, Yehuda Ha-Levi, dedicou seu diálogo fundamental Kuzari, e com o qual trataram de estabelecer relações os judeus da Espanha.
Cazária era uma região da Ásia Central, abrangendo a metade norte dos mares Negro (incluindo a Criméia) e Cáspio, que incluía as bacias menores do Dniéper, o Don e o Volga, e abrigava um povo nômade cujo rei, Bulan, se converteu ao judaísmo ao redor do ano 700 d.C, seguido pela maioria de seu povo, em que conviviam membros da religião muçulmana, cristãos, bárbaros sem religião conhecida e a nova massa judia. Um de seus sucessores, Obadia, atraiu numerosos rabinos que consolidaram a nova religião e construíram numerosas sinagogas. O reino judeu de Cazar se manteve durante trezentos anos e a influência judia intensificou o processo de urbanização e promoveu a economia baseada na pesca, na pecuária e na agricultura. Os cazares receberam numerosos emigrantes judeus perseguidos na Grécia, ajudaram militarmente os bizantinos contra a Pérsia e os magiares em sua conquista da Hungria, conseguiram uma importante expansão na bacia do Danúbio até a Panônia e comerciaram por todo o Mediterrâneo e Europa Central com seu mel, suas peles e seus couros. A suprema instituição de governo contava com dois juízes judeus, dois cristãos, dois muçulmanos e um bárbaro. O nascente poder da Rússia começou seu ataque a Cazar no final do século X e os foi encurralando em direção à Criméia até que em 1016 uma expedição conjunta russo-bizantina acabou com tão interessante experiência asiática, carente de fronteiras naturais aptas para a defesa. Ainda assim parece que uma sombra do reino judeu se manteve até a invasão dos mongóis; muitos sobreviventes contribuíram para a formação das grandes judiarias da Polônia e da Rússia após o desaparecimento de Cazar.”
(Ricardo de la Cierva, El Tercer Templo)