“4. A ilusão de fazer um “bem maior”
Então, a fim de encontrar uma justificação “positiva” para negociar com a Roma conciliar, as autoridades da SSPX afirmam que esse acordo meramente prático vai-nos permitir fazer um bem maior, pois estando “dentro da igreja visível” converteremos a igreja conciliar à Tradição... Esse é exatamente o mesmo argumento invocado por Dom Gérard e pelos padres de Campos para justificar sua reintegração à Roma conciliar! Nosso Fundador respondeu a essa perspectiva enganosamente “otimista” com grande realismo em uma entrevista, dizendo, “Entrar na Igreja, o que isso significa? E antes de tudo de que Igreja é que estamos falando? Se é da igreja conciliar, será que devemos, nós que lutamos contra ela há vinte anos por querermos a Igreja Católica, retornar à igreja conciliar supostamente para fazê-la católica? Isso é uma total ilusão! Os inferiores não mudam os superiores, mas são os superiores que mudam os inferiores.” (Fideliter n° 70, julho-agosto de 1989)
E os fatos nos mostram que o pouco de bem que os que se juntaram a Roma desde 1988 fizeram não justifica o maior mal de terem abandonado seus fiéis aos erros conciliares, à nova Missa, a justificações das ações dos Papas pós-conciliares etc.
5. São suficientes as novas condições preliminares?
Novamente, com o intuito de justificar esse acordo, eles afirmam que as condições preliminares estabelecidas pelo último Capítulo Geral em julho de 2012 seriam suficientes para evitar cair nas mesmas “armadilhas” que apanharam as comunidades acordistas. Mas fora o fato de que essas condições são insuficientes e irrealistas para nos protegerem de sermos “assimilados” e “neutralizados” pela igreja conciliar, o Capítulo Geral esqueceu as duas condições mais importantes, claramente requeridas pelo Arcebispo Lefebvre: a conversão das autoridades oficiais da igreja, ou seja, sua explícita condenação dos erros conciliares, e isenção do novo Código de Direito Canônico.
O Arcebispo Lefebvre disse que mesmo se a Roma modernista cumprisse algumas condições preliminares, tais condições seriam insuficientes para fazer um acordo com eles. Eis o que ele disse ao Cardeal Ratzinger: “Vossa Eminência, perceba que, mesmo se nos der um bispo, mesmo se nos der alguma autonomia dos bispos, mesmo se nos der toda a liturgia de 1962, mesmo se nos der a continuação dos seminários e da Sociedade como hoje fazemos, não podemos trabalhar juntos, é impossível, impossível, porque trabalhamos em sentidos diametralmente opostos: vós trabalhais pela descristianização da sociedade, da pessoa humana e da Igreja e nós, nós trabalhamos pela cristianização. Não podemos concordar.” (Retiro em Écône, 4.9.1987)
Além disso, o Arcebispo Lefebvre colocou a conversão de Roma como pré-requisito a um acordo quando escreveu as seguintes palavras aos quatro futuros bispos: “... tenham confiança de que sem demora a Sé de Pedro estará ocupada por um sucessor de Pedro perfeitamente católico, em cujas mãos vocês depositarão a graça de seu episcopado para que ele a confirme.” (29.8.1987)
E quanto ao Código de Direito Canônico, como poderíamos manter nossa identidade e continuar nosso combate, se estivéssemos sob a lei comum da igreja conciliar, que é o novo Código de Direito Canônico? Eles não percebem que o novo código foi feito especificamente para implementar as reformas conciliares, mas não para preservar a Tradição?
6. O Vaticano II seria aceitável
E a fim de superar o impasse doutrinal que resulta do Segundo Concílio do Vaticano e do “magistério” pós-conciliar, temos visto esses líderes da SSPX em suas últimas conferências, sermões e entrevistas mostrarem uma determinação explícita e reiterada de minimizar os erros conciliares de modo a preparar as mentes dos fiéis para a reconciliação com a Roma conciliar.
Não foi com estupefação que ouvimos o Bispo Fellay, em entrevista ao Catholic News Service, afirmar que “O concílio estava apresentando uma liberdade religiosa que era de fato muito, muito limitada, muito limitada,” e também que a conclusão das discussões doutrinais com Roma foi que “... nós vemos que muitas coisas que teríamos condenado como sendo do concílio não são de fato do concílio, mas do entendimento comum deste”? E: “o concílio deve ser posto dentro da grande tradição da Igreja, deve ser entendido dentro dela, e em correlação com ela. Nós concordamos com essas afirmações total e absolutamente.” (11.5.2012)
E o único (incompleto) texto revelado a respeito de seu último preâmbulo doutrinal apresentado em Roma em abril, e de que tratou o Pe. Pfluger em uma conferência, não apenas trai o mesmo desejo de minimizar os erros conciliares, mas até de aceitá-los: “a Tradição inteira da fé católica deve ser o critério e o guia de entendimento dos ensinamentos do Vaticano II, que por sua vez ilumina alguns aspectos da vida e da doutrina da Igreja, implicitamente presentes nela, não formulados ainda.” (St. Joseph des Carmes, 5.6.2012)
Não foi o fato de que eles passivamente observaram o terceiro encontro inter-religioso de Assis sem vigorosamente condená-lo, até mesmo pedindo a alguns membros da Sociedade que não o fizessem, também um sinal revelador?
E o que é mais preocupante é que a minimização dos erros do concílio parece vir já de algum tempo atrás... porque o Bispo Fellay afirmava, já em 2001 (!), em uma entrevista, que “Não temos problema em aceitar o concílio,” “Isso dá a impressão de que rejeitamos tudo do Vaticano II. No entanto, conservamos 95% dele.” (Jornal suíço La Liberté, 11.5.2001)
Em vez de ouvirem os alertas reiterados que pediam que não se assinasse um acordo prático, eles desdenhosamente responderam à carta dos três bispos com palavras duras... insinuando que esses três bispos companheiros eram “sedevacantistas”, “cismáticos” e estavam transformando os erros do Vaticano II em “super-heresias”.
Seria muito longa a lista que enumerasse as demais afirmações de Menzingen que se movem na direção de um enfraquecimento de suas posições doutrinais; o mesmo enfraquecimento se encontra em outros membros da Sociedade que apóiam o acordo. Pude constatar como alguns confrades, que conhecia firmes em sua condenação do concílio e dos Papas pós-conciliares, passaram agora a posições mais “suaves” e dão forte apoio a um acordo com a Roma modernista...
7. Graves erros contra a prudência
Além dos erros em seus princípios, podemos também perceber sérios erros de julgamento, que foram também a causa da divisão interna mais séria, em profundidade e extensão, que a Sociedade já conheceu.
Com suas ações imprudentes, eles preferiram sacrificar a unidade e o bem comum da Sociedade para seguir a agenda da Roma modernista, como eles mesmos afirmaram em resposta à carta dos três outros bispos da Sociedade: “Para o bem comum da Sociedade preferiríamos muito mais a presente solução do status quo, mas manifestamente Roma não a tolera mais.” (14.4.2012)
O Bispo Fellay também disse que era quase “inevitável” que uma parte da Sociedade não o seguiria em caso de um acordo com Roma: “Não posso excluir que haja uma divisão [dentro da Sociedade]” (Entrevista ao Catholic News Service), assumindo, assim, o risco de dividir seriamente a Sociedade.
Desta forma, eles preferiram ignorar todos os avisos vindos dos três outros bispos, de alguns superiores e membros da Sociedade e até de nossas comunidades tradicionais companheiras que lhes pediram que não assinassem um acordo meramente prático.
Essa atitude chocou profundamente muitos membros da Sociedade e criou uma divisão interna que tem minado a credibilidade da liderança em governá-la, e entre as comunidades amigas minou uma confiança que não foi restaurada.
8. Quem enganou quem?
Quando ouvimos suas explicações (desculpas?) durante os últimos meses a respeito das supostas “razões verdadeiras” que os levaram tão longe nas concessões à Roma modernista, vemos que não foram tanto as autoridades romanas que os enganaram, mas que eles próprios enganaram a si mesmos! Pois se decidiram, imprudentemente, pôr de lado as respostas recebidas dos canais oficiais do Vaticano sobre o verdadeiro pensamento do Papa, e favoreceram outros canais, os chamados “informais”, uma tal decisão não melhora sua reputação como superiores prudentes...
Desta forma, recusaram ver que tudo que esses canais “não-oficiais” lhes diziam era ou fofoca ou manipulação, porque seu desejo de alcançar um acordo tornou-se uma “obsessão” tão grande que eles terminaram acreditando em tudo! Quem é culpado? Somente eles!
Como é possível que tenham agido tão negligentemente em matéria tão grave? Em qualquer instituição, mesmo secular, um tal ato leva inevitavelmente à resignação da pessoa responsável, porque muita confiança foi perdida. “Assumiremos nossas responsabilidades”, ameaçava o Pe. Pfluger, se os acordos fracassassem.
Na verdade, se não resignaram é porque continuam a acreditar num acordo. Ainda não aprenderam a lição de suas ações! É óbvio que apesar de alguns obstáculos, Menzingen e o Vaticano farão tudo para “ressuscitar” as conversas. A expulsão do Bispo Williamson parece claramente ser um “sinal revelador” de que as conversas recomeçarão, porque a expulsão foi, pelo menos para o Vaticano, condição sine qua non a favor de um acordo.
Além do mais, encontramos no Bispo Fellay uma grave falta de julgamento prático a respeito das falsas idéias do Papa. Como é que ele pôde achar que Bento XVI estava pronto para nos reconhecer “pondo de lado nossa aceitação do Concílio”, como escreveu ao Papa em junho de 2012? Será que ele não sabia que o concílio é “inegociável” para a Roma modernista? Isso é ingenuidade de sua parte, ou ele está simplesmente acreditando que seus desejos são a realidade? Em todo caso, é uma falta grave de prudência em questões doutrinais.
9. Perseguições injustas
Finalmente, para completar sua cegueira e teimosia no caminho da “reconciliação” com a Roma modernista, eles executaram perseguições com o intuito de suprimir qualquer oposição, tanto dentro como fora da Sociedade. Desde então temos visto uma série de intimidações, admoestações, mutações, demoras nas ordenações, expulsões de padres e até mesmo de um dos nossos bispos!
Perseguem implacavelmente e expulsam pessoas que se opõem a sua reconciliação com a Roma modernista, e ao mesmo tempo dizem cinicamente que pretendem continuar com sua oposição... dentro da igreja oficial, quando forem reconhecidos!
Em última análise, estabeleceram um governo autoritário, uma verdadeira ditadura, na Sociedade, a fim de removerem qualquer obstáculo que se oponha a seus planos de reintegração à Roma modernista.
Desta forma, o Bispo Fellay e seus dois assistentes mudaram radicalmente os objetivos e princípios fundamentais da Sociedade estabelecidos por nosso Fundador. Também ignoraram as principais decisões do Capítulo Geral de 2006, que proibiu um acordo prático com a igreja oficial sem prévio acordo doutrinal. Ignoraram deliberadamente os alertas de pessoas prudentes que os aconselharam a não assinarem nenhum acordo prático com a Roma modernista. Puseram em risco a unidade e o bem comum da Sociedade, expondo-a ao perigo de um compromisso com os inimigos da Igreja. E finalmente, contradisseram-se a si mesmos dizendo o oposto do que afirmaram apenas alguns anos antes!
Portanto, traíram o legado do Arcebispo Lefebvre, as responsabilidades de suas posições, a confiança de milhares e mesmo daqueles que, por eles enganados, continuam a neles confiar.
Mostraram uma firme determinação de levar a Sociedade, a todo custo, a pactuar com nossos inimigos.
Pouco importa que o acordo com a igreja conciliar não tenha sido feito, ou não o seja imediatamente, ou talvez nunca... um grave perigo persiste na Sociedade enquanto eles não se retratem dos falsos princípios que guiaram suas ações destruidoras.
Vejo agora com tristeza que eles, querendo de algum modo identificar abusivamente seus julgamentos e suas decisões com a própria Sociedade, terminaram por confiscá-la como se fosse sua propriedade particular, esquecendo que só foram nomeados para servir durante um determinado tempo.
Essa constatação é ainda mais dolorosa e inquietante quando se considera que da fidelidade da Sociedade à sua missão depende a salvação de tantas almas e também a restauração de toda a Igreja.
Que Deus tenha misericórdia da Sociedade!”
(Pe. Juan Carlos Ortiz, F.S.S.P.X, La Nueva “Hermenéutica” de Monseñor Fellay - ¿Ha Cambiado La Fraternidad su Posición?)